O deputado Roberto Jefferson criou o termo mensalão, que a imprensa, escrita e falada, adotou. Ele se referia aos deputados que, segundo ele, recebiam mensalmente uma importância para votar com o governo. As investigações do Conselho de Ética da Câmara Federal não comprovaram essa denúncia do deputado petebista. O que se descobriu é que alguns deputados receberam dinheiro do valerioduto, ou seja, do Caixa Dois, para o financiamento de suas campanhas. A verdade é que o mensalão, tão explorado pela mídia, inclusive pela imprensa do Interior, e pela oposição, nunca existiu, como veremos a seguir. Bernardo Kucinski, no artigo "Confusão na crise do mensalão", analisou o assunto. O jornalista constatou: "Boa parte da população acha mesmo que houve corrupção, mas não está claro como aconteceu. A confusão foi produzida pela própria mídia, ávida por denúncias e mais empenhada em incriminar do que em investigar. A começar pelo próprio nome - "mensalão" - que se impôs pela repetição, como uma marca, e acabou virando seção fixa de jornal. Deputados passaram a ser chamados genericamente de "mensaleiros". Ocorre que nunca foi provada uma relação entre pagamentos regulares e votações de deputados a favor do governo. (...) Jornalista e oposição ignoraram até mesmo as questões do senso comum: 1) Por que pagar "mensalão" a sete deputados do PT que já votam com o governo? 2) Por que deputados foram ao Banco Rural apenas uma ou no máximo três vezes, se era um "mensalão"? 3) Por que o governo teve dificuldade em aprovar projetos se estava pagando "mensalão" para que fossem aprovados? 4) Por que pagar "mensalão" a um deputado como Roberto Brant, do PFL, opositor ferrenho do governo?" Roberto Brant recebeu dinheiro do valerioduto para financiar campanha de seu partido, o PFL de Minas. Por isso foi incluído junto aos outros 18 para ser cassado, mas a Câmara o absolveu, com votos, comentou-se, de pefelistas e também de seus aliados tucanos, os que mais falam em "mensalão" e "mensaleiros". Ao responder a uma pergunta da revista CartaCapital (O senhor chegou a ser classificado de mensaleiro), afirmou: "Pois é, um absurdo. O que seria o mensalão? Recursos que o Executivo teria repassado a integrantes da base aliada em troca de votos no Congresso. Sou do PFL, o partido que mais faz oposição ao governo. Muito mais até do que o PSDB. Como posso ser chamado de mensaleiro? Há falta de apreço pela exatidão e pela verdade". Para se ter uma idéia da falsa acusação, o jornal O GLOBO, na primeira página, publicou assim a absolvição de Brant: "Câmara absolve pefelista do mensalão". A Folha noticiou em manchete também de primeira página: "Câmara absolve 2 do "mensalão". O jornal se referia a absolvição dele e do deputado Professor Luizinho (PT-SP). À respeito, o deputado Brant declarou: "No fim, estavam discutindo a minha cassação, que sou da oposição, e de deputados do PT. Pergunto: qual a razão que o governo teria para pagar mesada a parlamentares do PT? O (Professor) Luizinho, líder do governo na Câmara, precisava receber dinheiro para defender o Executivo? No meio da crise misturou-se tudo, até porque não se podia separar. Se começa a separar, fica racional. Se ela for racional, AQUILO DEIXAR DE SER UM INSTRUMENTO POLÍTICO (destaque meu). Não tem como administrar um esquema que paga mensalmente a deputados, ISSO NÃO EXISTE (destaque meu). Só pegou pelo inusitado, pela diversão. Virou algo caricato. A caricatura marca mais do que o retrato". Um fato que ninguém ainda comentou: se o mensalão era para pagar parlamentares, visando aprovação de propostas do governo, por que não se pagou o SUPOSTO mensalão aos senadores? Por que só aos deputados e assim mesmo apenas 19?O mensalão não existiu. Na verdade, houve o valerioduto (Caixa Dois). Mas isso aconteceu com todos os partidos. Aliás, o primeiro a receber dinheiro de Marcos Valério foi o senador Azeredo, do PSDB e ex-presidente nacional deste partido. Por esse motivo, na Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um bispo disse: "Ao falar de escândalos como o caixa 2, é preciso observar que uns (políticos) denunciam os outros, quando também eles fizeram a mesma coisa" (CNBB critica pseudomoralismo na política, Estadão de 13/5). Brant, na citada entrevista, também focaliza o problema: "Como tachar de corrupto um partido inteiro, o sistema de forças inteiro? Há políticos que desviam de conduta no PT, no PFL, no PSDB".A mídia sabe que o mensalão não existiu, mas continua designando os deputados de mensaleiros. É que o termo pegou e, por esse motivo, não importa a mentira!
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu