sexta-feira, junho 09, 2006

Fontana anuncia processo contra ACM

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), rebateu com veemência, ontem, declarações "mentirosas e irresponsáveis" feitas pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que atribuiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade pelos atos de violência ocorridos na Câmara dos Deputados na terça-feira (6).
"O senador ACM está quebrando todas as regras de convivência democrática de um país, além do decoro parlamentar. E ele será processado por esse desrespeito, calúnia e difamação contra o presidente da República", afirmou Fontana. "O truculento, autoritário e desrespeitoso senador ACM não sabe fazer política na democracia".
O senador pefelista, em sua irada reação à invasão da Câmara promovida pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), chegou a fazer a apologia do regime de 1964 e, ao criticar o presidente Lula, pediu uma ação dos militares: "Onde estão as Forças Armadas? Quero dizer aos comandantes militares: reajam enquanto é tempo, antes que o Brasil caia na desgraça de se tornar uma ditadura sindical", declarou ACM.
O senador baiano ainda atacou o ministro da Defesa, Waldir Pires, seu adversário político na Bahia, qualificado como "subversivo", e o próprio presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a quem chamou de "covarde" pela suposta reação tímida ao MLST.
Em pronunciamento no plenário, Fontana ressaltou que ACM "não é democrata", e por isso também não concordou com a atitude "de firmeza e serenidade" do presidente Aldo Rebelo, que "agiu como um democrata e não permitiu que forças policiais entrassem no Parlamento".
Sem moral - Fontana destacou que ACM "não tem moral" para fazer as críticas, lembrando o episódio da violação do painel do Senado, em 2001, quando o senador baiano protagonizou o escândalo e renunciou ao mandato.
"Será que um homem que saiu pela porta dos fundos do Senado Federal, por que foi capaz de violar um painel numa votação secreta dentro do Parlamento brasileiro tem alguma moral para fazer críticas?", indagou o líder do PT. " Ele (ACM) agiu com truculência e desrespeito contra o Parlamento brasileiro da mesma forma ou até pior do que fizeram os vândalos na última terça-feira na Câmara, ação que teve o nosso total repúdio", completou o líder.
Para o líder petista, o senador ACM sente "saudade" dos tempos em que a ditadura militar fechou o Congresso Nacional, porque é acostumado ao "desprezo à democracia" e não tem "moral" para acusar o presidente Lula de corrupto, porque se serviu do governo ao longo dos últimos 40 anos, até a chegada do atual governo.
"O senador fica contrariado e não se conforma por que o Brasil de hoje é bem melhor dirigido do que nos tempos em que ele era da copa e da cozinha do poder, e estava acostumado com as benesses do governo e com o tráfico de influência, que sempre exerceu", disse
Na avaliação de Henrique Fontana, o senador ACM "não sabe fazer política com dignidade e honradez, e trabalha com base "na técnica nazista" de repetir muitas vezes uma mentira para tentar convencer a sociedade brasileira.
"Mesmo que o desrespeitoso senador ACM fique contrariado com a realidade, a verdade é que o Brasil hoje é uma democracia e o povo, soberanamente, elegeu o presidente Lula. Um líder sindical, um grande brasileiro e uma das grandes lideranças políticas deste país", disse o líder do PT.

Militares e parlamentares apóiam Rebelo no conflito da Câmara

Os três comandantes das Forças Armadas, o vice-presidente da República, José Alencar, e o ministro da Defesa, Waldir Pires, parabenizaram o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) pela atitude firme durante os tumultos ocorridos na última terça-feira (6), na Câmara.
Eles elogiaram "a maneira firme e serena" com que Aldo Rebelo enfrentou os atos de vandalismo de centenas de integrantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) que ocuparam e depredaram parte do prédio da Câmara. O grupo, dissidente do MST, arremessou pedaços de pau e pedras em portas de vidro, destruiu terminais de informações e ocupou o Salão Verde. Cerca de trinta servidores foram feridos, um deles com gravidade.
Na contramão da aprovação dos comandantes das Forças Armadas, de parlamentares e de representantes de vários setores, no entanto, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) criticou a atitude de Rebelo e, em meio a apologias ao regime de 1964, chegou a afirmar, no plenário do Senado, que teria sido necessário "uma ação militar" no conflito.
Disse ainda que a depredação da Câmara era de "responsabilidade" do presidente Lula. O tom do discurso resvalou também para críticas ao ministro da Defesa, Waldir Pires, seu adversário político na Bahia.
Jurista, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) confirmou que a atitude de Rebelo foi correta e criticou ACM . "É evidente que pessoas que ainda vivem no clima do autoritarismo tendem a ter uma impressão diferente desta, mas o respeito ao estado de direito e à democracia exigem postura como essa tomada pelo presidente Aldo Rebelo, conseguir contornar o problema e uma situação complicada sem uso de violência".
Para o deputado Paulo Delgado (PT-MG), "a democracia estável se faz com moderação e firmeza, com o cumprimento da lei. Na marra se constrói o autoritarismo e amplia-se a circulação da desordem".


Aplausos - Segundo o vice-presidente da República, a atitude de Aldo Rebelo merece aplausos. José Alencar ressaltou que o vandalismo poderia ter provocado inclusive a perda de vidas e que Aldo teve uma atitude exemplar. "Com a sua atitude firme, responsável, demonstrando uma autoridade que, obviamente cabe ao presidente de uma Casa como a Câmara, ele deu uma prova de que é um brasileiro capaz, à altura para assumir qualquer missão neste país", afirmou.
Aldo Rebelo disse acreditar que o protesto teve características de algo preparado para conseguir publicidade. No entanto, destacou que o episódio não deve desmoralizar os movimentos sociais legítimos do país. "Há movimentos sociais que lutam por direitos, por igualdade. O que está desacreditado é o método da violência e da depredação do patrimônio", ressaltou.