O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, disse em entrevista coletiva, na tarde desta terça-feira, que não deixará a invasão do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) servir de pretexto para que a Casa se transforme em uma instituição afastada das lutas sociais e populares. Segundo Aldo, a Câmara permanece aberta a movimentos sociais. "Porém, não será admitida qualquer forma de violência e intimidação. A ordem e a disciplina também são necessárias na vida democrática", afirmou. "Como defensor das instituições democráticas e da democracia, não posso admitir o uso da coerção, da ameaça e da violência para reivindicações que sequer conhecíamos."A Câmara, destacou Aldo, é uma instituição voltada para a sociedade, que empresta suas dependências para os movimentos sociais legítimos apresentarem suas reivindicações. Ele afirmou, portanto, que a segurança da instituição precisa ser compatível com o espírito democrático da Casa. "Não vou sacrificar a vocação democrática da Câmara por causa desse acontecimento."Aldo Rebelo ressaltou sua convicção de que as entidades precisam ter fácil acesso e circulação. "A equipe de segurança é formada por pessoas capazes e com grande espírito público", exaltou.
Polícia preventiva
O presidente da Câmara afirmou também que, apesar do episódio desta terça-feira, a Polícia Legislativa continuará a agir de forma preventiva. "Esse é um campo doutrinário que corresponde a uma instituição como a nossa", disse. Aldo ressaltou ainda que possíveis responsabilidades dos policiais serão apuradas, apesar de não acreditar no argumento dos manifestantes de que agiram em resposta à repressão da polícia da Câmara. "Esta Casa recebe semanalmente milhares de integrantes de movimentos sociais, que circulam livremente, inclusive pelo gabinete da Presidência."O presidente lembrou que o 1º secretário da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE), chamou a Polícia Militar assim que começaram os atos de violência. Aldo determinou, no entanto, que os policiais se mantivessem fora das dependências da Casa. A prisão dos manifestantes foi decretada pelo próprio presidente, que pediu que fossem detidos todos os que estivessem dentro da Câmara, pois não havia como saber quais dos manifestantes estavam envolvidos na confusão.
Segurança eficiente
Aldo Rebelo também negou, na coletiva, que tenha havido falha na ação da segurança da Casa. Segundo o presidente, a segurança é preventiva para pequenos tumultos, portanto não pode ser comparada a um batalhão da Polícia Militar. Ele afirmou que os seguranças da Câmara são orientados para agir primeiramente com o emprego do diálogo e da negociação. Para ele, isso faz com que, em determinadas circunstâncias, os problemas sejam resolvidos por meios civilizados.O deputado também afirmou que, como os manifestantes desceram dos ônibus diretamente para invadir as dependências da Casa, não houve tempo para deslocar todos os seguranças para o local. "Não creio que houve falha. Os seguranças agiram com presteza e rigor."
Militante conhecido
Aldo Rebelo disse ainda que conhecia o líder do MLST Bruno Maranhão, militante pernambucano que também é secretário de Movimentos Populares do PT. Segundo o deputado, Maranhão foi conduzido por um grupo de parlamentares até o gabinete da Presidência, onde negou ter planejado a invasão da Câmara.O manifestante afirmou que apenas queria um encontro para levar reivindicações do movimento. Maranhão garantiu a Aldo que as manifestações foram espontâneas. Aldo Rebelo lembrou que os equipamentos do sistema de vigilância da Câmara ajudarão a identificar os responsáveis. O líder do MLST já foi preso pelo Departamento de Polícia do Legislativo (Depol).
Prejuízos e feridos
Ainda não há um levantamento dos prejuízos que foram causados à Câmara durante a invasão. Aldo Rebelo, no entanto, pretende usar todos os instrumentos que a lei permitir para cobrar responsabilidades. Segundo informações do Depol, 24 pessoas foram atendidas pelo Departamento Médico (Demed) da Câmara. O coordenador de Apoio Logístico do Departamento de Polícia do Legislativo, Normando Fernandes, permanecia até a noite desta terça-feira na UTI do hospital Santa Lúcia por causa de afundamento craniano frontal esquerdo e edema cerebral. Cerca de 400 a 500 suspeitos de participação nos atos de vandalismo seriam interrogados e autuados no ginásio de esportes Nilson Nelson, na área central de Brasília, durante a madrugada desta quarta-feira.Nove militantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) ficaram detidos no Departamento de Polícia do Legislativo (Depol), na Câmara, e depois foram transferidos para uma delegacia especializada.