Mário Augusto Jakobskind
http://www.fazendomedia.com/jakobskind.htm
O Brasil continua sob o impacto das denúncias relacionadas com atos de corrupção, mas, de um modo geral, na cobertura midiática, lamentavelmente, predomina o espírito moralista e golpista da velha UDN, um partido que, antes de 64, sensibilizava a classe média e vivia nos quartéis conspirando. Depois de algumas tentativas frustradas - 54 (suicídio de Vargas), 55 (tentativa de evitar a posse de Juscelino Kubitschek) e 61 (renúncia de Jânio Quadros e tentativa de impedimento de Jango) - a UDN, finalmente, chegou ao poder em abril de 64. Muitos dos golpistas se arrependeram, mas aí Inês era morta. O povo brasileiro teve de suportar 21 anos de ditadura.
Alguém deve estar se perguntando: mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Tem, sim! Claro, os tempos mudaram, a direita que quer preservar seus interesses, em detrimento da maioria do povo brasileiro, também se adaptou aos novos tempos. Não necessita mais dos militares para “manter a ordem” e prefere fazer cabeças através de lavagem cerebral mídiática do pensamento único.
Colunistas amestrados estão sempre atentos e são acionados para denunciar “jurássicos” contrários aos desejos da direita. Ou seja, para se renovar de fato, o Brasil ainda precisa realizar as reformas de base, adaptadas aos tempos modernos, semelhantes às defendidas antes de 64 e que resultaram na queda do presidente constitucional João Goulart. O tema, querendo ou não os udenistas de hoje, agrupados no PSDB e PFL, continua na ordem do dia.
Em termos de Congresso, não é de agora que se escondem falcatruas para favorecer as elites dominantes há séculos, responsáveis pela situação de desigualdade social. É neste contexto que devem ser lembrados alguns fatos que caíram totalmente no esquecido baú da história. Alguns colunistas amestrados tentam convencer a opinião pública que o tal “mensalão” teve início no governo do PT. Outros preferem apontar o início, em 1998, com o então candidato a governador de Minas Gerais e hoje senador, Eduardo Azeredo. Nem uma coisa, nem outra.
O velho esquema de dinheiro suspeito destinado às campanhas políticas ou mesmo para a compra de parlamentares remonta décadas passadas.
Nos tempos da ditadura, parlamentares que não se enquadrassem para manter a farsa do funcionamento do Congresso eram simplesmente cassados por 10 anos.
O que havia nos bastidores em matéria de falcatrua, por exemplo, para atender os lobistas em atuação, não era divulgado. O jornal que ousasse romper o silêncio sofria punições. Por isso, a opinião pública não era informada, muito pelo contrário, os órgãos de imprensa, os mesmos que hoje fazem denúncias, comprovadas ou não, compactuavam com o regime ditatorial.
Falcatruas no Parlamento aconteciam antes mesmo de 64. Um dos fatos mais marcantes em matéria de corrupção e que caiu totalmente no esquecimento, até mesmo das teses dos senhores(as) acadêmicos(as), diz respeito a “doação” de milhões de dólares, em 1962, feitos através do denominado Instituto Brasileiro de Ação Democrático (IBAD), que de democrático só tinha o nome para iludir incautos.
A ação nefasta do IBAD está documentada de forma magistral no livro “1964: A Conquista do Estado”, de autoria do professor René Dreifuss. Em 1962, às vésperas da renovação do Congresso e dos governos estaduais, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, mandava uma circular ao Departamento de Estado chamando a atenção para "o alto interesse das eleições brasileiras".
Pois bem, depois do alerta do golpista Gordon, como comprova o livro de Dreifuss, empresas como a Esso, Texaco, Shell, Bank of America, a Reader´s Digest, o próprio Departamento de Estado norte-americano e numerosos banqueiros como Olavo Setúbal, Válter Moreira Sales, Magalhães Pinto (então candidato ao governo de Minas, para o qual seria eleito), Ângelo Calmon de Sá e Herbert Levy, para não falar de empresários, nacionais e estrangeiros, que temiam as reformas de base, soltaram a grana para eleger uma bancada conservadora, que tinha por objetivo manter os privilégios dos de sempre.
Um jovem economista despontava no rol dos ideólogos do IBAD, nada mais nada menos que Pedro Malan, que mais tarde, em plena democracia, veio a ser Ministro da Fazenda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, levando adiante tudo o que a direita de antes de 64 almejava, ou seja, liquidar o Estado brasileiro, entregar de mão beijada as estatais. Um coronel entreguista, uma figura sinistra, também teve grande destaque no período: Golbery do Couto e Silva.
Entre os parlamentares que se elegeram com a ajuda do IBAD encontram-se figuras cultuadas até por setores da “inteligenzia” brasileira, como Mário Covas, posteriormente, também em plena democracia, um dos fundadores do PSDB e governador de São Paulo. Covas chegou a ser cassado em 68, por discordar dos rumos do regime ditatorial, mas nos anos 80 e 90 acabou voltando ao leito de origem do IBAD, defendendo com unhas e dentes um “choque de capitalismo” no país, ou seja, o programa posto em prática pelo delinqüente (quem entrega de mão beijada o país deve ser considerado como tal) Fernando Henrique Cardoso.
Covas morreu e Geraldo Alckmin acabou se transformando no seu herdeiro político e almeja ser o Presidente da República. Alckmin quer dar um “banho de ética” no Brasil e para isso conta com a Opus Dei, o grupo extremista da Igreja Católica vinculado ao capital financeiro, o qual ele pertence, para não falar das recentes denúncias de favorecimento a correligionários de verbas publicitárias da Nossa Caixa.
Está ou não de volta a velha UDN, golpista e moralista, hoje travestida de moderna? A mesma UDN que sempre fez das suas, mas contava com o silêncio da mídia conservadora e, nos anos de chumbo, com a ajuda da censura.
O que dizer quando um ex-Presidente se refere aos pobres de forma preconceituosa, como fez o delinqüente que posa de cidadão acima de qualquer suspeita chamado Fernando Henrique Cardoso? Alguém ainda divida que a UDN está mesmo de volta sob a égide do PSDB?