segunda-feira, junho 26, 2006

Lula oficializa candidatura e é aclamado por 4,5 mil petistas



Um plenário lotado por mais de 4.500 delegados petistas de todo o país aclamou neste sábado (24), durante a Convenção Nacional do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato oficial do partido à reeleição. O evento, que aconteceu em Brasília, também homologou o nome de José Alencar (PRB) para vice, repetindo a chapa vencedora de 2002.

Lula fez um discurso de uma hora e meia, boa parte dele dedicado a um amplo balanço das ações de seu governo em várias áreas. Falando pela primeira vez como candidato, prometeu aprofundar diversos projetos bem-sucedidos e apontou a educação como “prioridade absoluta” do segundo mandato.

“Se tivesse que destacar uma área de prioridade máxima, eu citaria a educação. Quero ser o presidente que mais fez pela educação no Brasil”, afirmou, voltando a afirmar que cada centavo aplicado no setor representa um centavo a menos na construção de cadeias. “Não existe país desenvolvido com povo analfabeto”, ressaltou.

Segundo ele, a história mostra que o desenvolvimento não se mede pelo “grau de ignorância de um povo”, mas pelo “grau de conhecimento”.

Prestígio
Centenas de autoridades da República participaram da Convenção, que teve como mestre de cerimônia o ator Celso Frateschi e foi marcada pelo slogan “Lula de novo, com a força do povo”. Todos dividiram o palco com o presidente.

Estavam presentes os candidatos petistas aos governos nos Estados, senadores, deputados, prefeitos, governadores e parlamentares de várias regiões do Brasil, além de ministros, dirigentes petistas e presidentes de partidos aliados.

Também prestigiaram o evento o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP).

Lula iniciou seu discurso elogiando “o mérito, a lealdade, o companheirismo e a competência” do vice José Alencar, afirmando que a parceria entre um metalúrgico e um empresário foi fundamental para que seu governo obtivesse bons resultados.

Ele previu que, nos próximos meses, os dois deverão enfrentar muito “ódio, preconceito e inveja”, mas ressaltou que o PT não vai entrar nesse jogo. “Vamos dar paz, humildade e muito amor ao povo brasileiro”.

O presidente destacou que, em sua história de vida, muitas vezes teve de enfrentar o ódio e a intolerância. “Quanta batalha foi preciso vencer, quanto preconceito, quanta armadilha”, disse, arrematando: “O sonho não acabou e a esperança não morreu”.

Avanço
Durante o discurso, Lula elencou as razões pelas quais decidiu candidatar-se à reeleição. “Sou candidato porque o projeto de mudanças tem de continuar, porque o Brasil está melhor e precisa melhorar muito mais, porque os pobres estão menos pobres...”.

Disse ainda estar mais maduro e preparado para aprofundar projetos e corrigir o que está errado. “Se reeleito presidente, pretendo modificar por completo o que não funciona e, com muita ênfase, ampliar o que deu certo”.

Segundo o presidente, apenas dois grupos se frustraram com sua administração: os que torceram para que o governo fosse “um caos” e os que, “com paixão e ingenuidade”, imaginaram ser possível resolver todos os problemas do país em apenas quatro anos.

“Fizemos muito mais do que certa gente imagina. Temos um saldo muito positivo, porque favorecemos a todos brasileiros e a todas as brasileiras sem distinção”. Segundo ele, o próximo mandato irá manter a base do projeto atual, que é a integração da economia com área social. “Nosso objetivo nunca foi fazer o superávit econômico, mas o superávit social”, ressaltou.

Vozes do atraso
Por mais de uma vez, Lula criticou as “vozes do atraso” que fazem da “agressão e da calúnia suas principais armas”.

“Eles pensam que o povo esquece o tamanho do buraco que eles cavaram. O povo agora está dizendo que não os quer de volta. Mas eles nunca escutaram a voz do povo”, afirmou, dando início a uma série de comparações entre o seu governo e o anterior.

Falou da estabilidade econômica, dos aumentos do salário mínimo, da “revolução” no crédito, da redução das desigualdades, dos programas de transferência de renda, da queda no desemprego, na geração recorde de postos com carteira assinada, da auto-suficiência em petróleo, da diminuição do desmatamento na Amazônia, do ProUni e do Luz para Todos, entre outros temas, concluindo que seu governo mudou o modelo de desenvolvimento do país.

“Pela primeira vez, o Brasil tem crescimento econômico com geração de empregos e distribuição de renda”, lembrou.

Crise e reforma política
Lula também tocou numa questão considerada por ele “difícil e delicada”, que é a reforma política.“Nossa reforma política não pode mais ser adiada. Deve ser nossa prioridade institucional”, disse.

Segundo ele, muitas das crises vividas pelo Brasil ao longo de sua história não teriam ocorrido se o país já tivesse modernizado seu processo eleitoral e partidário. “E isso precisa ser feito nos próximos quatro anos, sob pena de comprometermos seriamente nosso sistema político”.

Referindo-se à crise do ano passado, o presidente afirmou que o PT, ao longo de sua história, tem enfrentado muitas lutas e dificuldades. “Mas o importante é que não perdemos nosso rumo nem nossos ideais”, ressalvou.

Segundo Lula, muitos das denúncias e irregularidades surgidas durante a crise política só vieram à tona justamente pelo esforço do governo no combate à toda ilegalidade. “Este foi o governo que mais combateu e puniu a corrupção na História do Brasil”, afirmou.

Numa crítica velada aos seus opositores mais raivosos, Lula elogiou políticos do passado, que sabiam “combater o bom combate”, como Leonel Brizola, Miguel Arraes e Ulisses Guimarães. “Os tempos que vivemos hoje são muito diferentes. Isso para mim é muito triste”, comparou.

Referindo-se às pesquisas eleitorais, que o colocam à frente na disputa presidencial, Lula pediu à militância petista que evite o clima de já ganhou. “Humildade, serenidade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Com eleição e mineração, só se conhece o resultado depois da apuração”, ponderou.

No final, voltou a falar em tolerância e compreensão como tom de campanha. “Um candidato ou presidente que tem vocês como salva-guarda, não tem que ter medo de quem quer que seja”.

E conclui: “Se uma parte da elite brasileira, se algum saudosista do período militar nos odeia, o povo pobre desse país precisa de nós. E nós vamos atendê-lo mais uma vez”.

Leia a íntegra do discurso de Lula.


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