quarta-feira, março 18, 2015

“EUA promovem desestabilização de democracias na América Latina”



Em 2015, o Prof. Moniz Bandeira é nosso indicado ao Prêmio Nobel de Literatura,
pela União Brasileira de Escritores (UBE).
Seu livro de 2005 - Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque), acaba de ser publicado em chinês.

Luis Nassif o entrevistou, há um ano, excelente entrevista

O Prof. Moniz Bandeira é grande amigo da Vila Vudu e muito nos ajuda! Força aí, professor! Grande abraço!
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“As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas”, disse o cientista político. “ Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados’’, disse Moniz Bandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil-EUA.

Eis a entrevista:

1)O líder do PT na Câmara, Sibá Machado, comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina . Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?

Prof. Moniz Bandeira –  Washington há muito tempo está a criar ONGs com o fito de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundations (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador John McCain, etc. Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos Estados Unidos. Assim o fizeram nos países da Eurásia, onde de 1989 ao ano de 2000 foram criadas mais de 500.000, a maioria das quais na Ucrânia. Outras foram organizadas no Oriente Médio para fazer a Primavera Árabe.

A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim de agravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares. Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos Estados Unidos, então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, estavam a preparar, desde pelo menos 2012, especialistas, profissionais em guerra de informação e descrédito das instituições do Estado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensa escrita e falada, TVs e sites na Internet - para a manipulação da opinião pública, e organização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país e derrubar o presidente Viktor Yanukovych as demonstrações contra o presidente Yanukovych, em fevereiro de 2014.

Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political defiance, i. e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar  um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos). Essa estratégia pautou em larga medida a política de regime change, a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou a pesquisar e escrever outra obra – A desordem mundial - onde aprofundo o estudo o que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.

2)Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina.

Prof. Moniz Bandeira – Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os Estados Unidos, é mais perigosa quando está a perder a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a II Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está a ser desafiado pela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc. Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões - caça dos Estados Unidos, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.

3) O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em  tentativas de golpe.  O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?

Prof. Moniz Bandeira – Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos. O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados. 

4) Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?

Prof. Moniz Bandeira – Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a Operação Lava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, sem que documentos comprobatórios aparecessem. O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. (...) Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.

5) Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?

Prof. Moniz Bandeira – Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa. E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos  EUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.

6) Há, entre os organizadores dos protestos, gente fracamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira?De novo o nacionalismo versus entreguismo?

Prof. Moniz Bandeira – Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las. Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA patrocinam. [Equipe PT na Câmara]

domingo, março 15, 2015

Feijão com arroz da mais sustança


Existe uma parte da classe média que só vai para a rua quando tem certeza que não vai apanhar da polícia e que vai aparecer na TV.
É constituída por um grande número de funcionários públicos com maiores salários e mordomias, pequenos é médios empresários, profissionais liberais como: médicos, advogados, engenheiros...
Essa gente tem reais motivos para apoiar governos liberais e suas políticas regressivas de direitos e conquistas dos trabalhadores.
Não é só uma questão de terem a cabeça feita pela mídia, eles realmente se dão bem com governos liberais.
FHC acabou daquela forma desgraçada porque errou na dose. Fez tanta trapalhada que acabou acertando até essa gente. Apagão, arrocho, Tarifaço geral, inflação, privatizações escandalosas, desorganização geral do estado. É como o Paraná do tucano Richa hoje.
Assim nem coxinha aguenta.
Mas hoje o governo petista também incomoda essa gente. Cada medida que beneficia os trabalhadores e os mais pobres, que corta ou diminui privilégios, que expande oportunidades e diminui a possibilidade do clientelismo nas relações sociais aumenta esse atrito.
A mídia sabe que isso acontece, ela mesma está nesse grupo que vem perdendo privilégios e importância política e social. Estão endividados e alguns quase falidos. Mas do que nunca precisam de um governo amigo e manobrável.
A Globo também foi para a rua hoje. Faz a propaganda descarada do impeachment que é o golpe contra a presidenta Dilma.
As maiores passeatas estão em São Paulo, Rio e Brasília. Exatamente onde aquela classe média que mencionei lá em cima é mais numerosa. Mesmo assim, não foi essa coisa toda. Ainda mais considerando toda a mídia que tiveram.
A passeata Feijão com Arroz, dos Movimentos Sociais e Centrais Sindicais em São Paulo, foi muito maior que a dos coxinhas. Mesmo sem mídia e com chuva. E foi muito mais abrangente no resto do Brasil.
Nunca foi e nunca vai ser fácil.
Tem muita coisa em jogo.
A luta continua!




sábado, março 14, 2015

DIA 13, AS FOTOS QUE A MÍDIA ESCONDEU

As fotos da manifestação que você não viu na grande imprensa

13 de março de 2015 | 20:45 Autor: Fernando Brito
http://tijolaco.com.br/blog/?p=25412 
foto2
As imagens que você quase não viu na grande imprensa estão no siteFotos Públicas.
Algumas delas, reproduzo aqui.
Depende de você compartilhar com seus amigos para que elas saiam do gueto em que foram colocadas.
Posto também, para ser justo, uma do site do Estadão, enviada por um leitor, que mostra o tamanho  do pessoal do “we want our Brazil back”.
Existe uma coisa, caro leitor e estimada leitora, chamada poder do foco.
No jornalismo,  é o escolher entre imagens “abertas” ou “fechadas”.
Você pode ver a massa, debaixo de temporal, sem arredar pé.
E os gatos pingados dos “Revoltados”, a quem nossa mídia empresta tantos espaços.
Vai ter gente na Paulista, domingo?
Sim.
Mas lembre do “poder do foco”.
E de quem o exerce.
Não é quem está no Governo.
Mas é quem detém o poder.





quinta-feira, março 12, 2015

Obama solta o Reagan que vive nele


Venezuela: como inventar uma “Extraordinária Ameaça à Segurança Nacional”


2ª-feira, a Casa Branca deu mais um passo rumo ao teatro do absurdo, ao declarar “emergência nacional com respeito à inusual e extraordinária ameaça à segurança nacional e à política exterior dos EUA que se manifesta na situação na Venezuela” – como o presidente Obama escreveu em carta que enviou ao presidente do Congresso, John Boehner.

Falta ver se alguém, do valente corpo de jornalistas que cobre a Casa Branca, terá coragem de perguntar o quê, afinal, diabos, o chefe do executivo da nação mais poderosa do universo pensou que estivesse dizendo na tal carta. O quê?! Estará a Venezuela financiando iminente ataque de terroristas contra o território dos EUA? Planeja invadir território norte-americano? Está construindo bomba atômica?

A quem essa gente pensa que engana? Alguns alegaram que o linguajar tinha de ser esse, porque é o que a lei dos EUA exige, para impor a mais recente rodada de sanções contra a Venezuela. Mas não melhora coisa alguma alegar, como se fosse defesa, que a lei norte-americana é negócio em cujo processo de manipular e fraudar o presidente pode dizer mentiras à vontade, para contornar o que não queira confessar.

Foi precisamente o que fez o presidente Ronald Reagan em 1985, quando fez declaração semelhante para impor sanções – inclusive um embargo econômico – contra a Nicarágua.

Como Obama em 2015, Reagan também tentava derrubar governo eleito que não agradava a Washington. Conseguiu usar violência paramilitar e terrorista, além de um embargo, no esforço bem-sucedido para destruir a economia da Nicarágua e, afinal, derrubar o governo do país. (Em 2007, os sandinistas voltaram ao poder e são hoje o partido governante.) O mundo andou adiante. Washington, não.

A Venezuela hoje conta com o forte apoio dos países vizinhos contra o que praticamente todos os governos na América Latina veem como tentativa do governo Obama para desestabilizar o país.

“A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribe (CELAC) reitera seu forte repúdio à aplicação de medidas unilaterais coercitivas que violentam a lei internacional” – como se lia na declaração assinada por todos os países do hemisfério, exceto EUA e Canadá, dia 11/2. Respondiam às sanções que os EUA haviam imposto à Venezuela, sancionadas por Obama em dezembro passado.

Alguém leu alguma coisa sobre isso na imprensa-empresa em língua inglesa? Então, você provavelmente não leu tampouco sobre a imediata reação ao golpe da Casa Branca, ontem, do presidente da União de Nações Sul-americanas: “A UNASUL rejeita qualquer tentativa externa ou interna de interferência que busque qualquer violência contra o processo democrático na Venezuela.”

Washington já esteve envolvida na tentativa de golpe militar, rapidamente derrotada em 2002, na Venezuela; deu “treinamento, construção de instituição e outros apoios a indivíduos e organizações que se sabia que estavam ativamente envolvidos no golpe” contra o presidente Hugo Chávez (golpe que durou apenas algumas horas) – segundo o Departamento de Estado dos EUA.

Os EUA não mudaram sua política para a Venezuela depois daquilo e continuaram a financiar grupos de oposição naquele país. Assim sendo, nada mais normal do que todos que conheçam essa história recente e conheçam o conflito entre EUA e América Latina também no golpe militar de 2009 em Honduras, sabendo agora das atuais sanções contra a Venezuela, imediatamente concluam que, sim, Washington está novamente envolvida em golpismos para derrubar governo democraticamente eleito que está na mira dos EUA, para ‘mudança de regime’, já há mais de uma década.

O governo da Venezuela já exibiu provas perfeitamente aceitáveis de que há um golpe em marcha no país: a gravação de um ex-vice-ministro do interior lendo o que obviamente é um comunicado a ser lançado depois que (se) os militares derrubarem o atual governo; confissões de oficiais militares acusados; e uma conversa telefônica gravada entre chefes da oposição que admitem que há um golpe em preparação.

Independente de que se considerem suficientes essas provas (a imprensa-empresa norte-americana não noticiou praticamente coisa alguma), não surpreende que os governos regionais tenham-se dado por convencidos.  Praticamente há 15 anos, sem interrupção, veem-se esforços para derrubar o governo democraticamente eleito da Venezuela.  Por que seria diferente agora, quando a economia está em recessão e houve tentativa para derrubar o governo venezuelano ainda no ano passado?

Aliás... alguém alguma vez ouviu falar de tentativa de golpe para derrubar governo democrático, independente e progressista na América Latina, na qual Washington não estivesse metida? Pergunto, porque eu, nunca.

A grande imprensa-empresa norte-americana e internacional fez grande alarde em torno do começo da normalização de relações entre EUA e Cuba. Mas entre os governos latino-americanos, qualquer traço de credibilidade que aquele movimento do governo de Obama talvez tivesse, acaba de ser radicalmente desmentido pela violenta agressão contra a Venezuela.

Duvido que alguém encontre um presidente, presidenta, ministro ou ministra de Relações Exteriores na região, que acredite que as sanções impostas à Venezuela teriam algo a ver com direitos humanos ou democracia.  Absolutamente não têm.

Considerem por exemplo o México, onde trabalhadores de direitos humanos e jornalistas são regularmente assassinados ; ou a Colômbia, estado líder há anos no número de sindicalistas assassinados. Nada sequer comparável a esses pesadelos de violação a direitos humanos jamais aconteceu na Venezuela em 16 anos de governos do presidente Chávez e do presidente Nicolás Maduro. E apesar disso México e Colômbia são os principais recebedores de ajuda dos EUA na região, incluindo financiamento para militares e policiais e para comprar armas.

O governo Obama está mais isolado hoje, na América Latina, que, até, o governo de George W. Bush. Por causa da ravina profunda que separa a grande imprensa-empresa internacional e o pensamento de governos regionais, nada disso é óbvio para os que não sejam dedicados estudiosos das relações hemisféricas.

Veja-se, por exemplo, quem são os autores da legislação que impôs sanções contra a Venezuela, em dezembro: os senadores Robert Menendez (que está prestes a ser indiciado criminalmente por corrupção ativa de funcionário público) e o Republicano da Flórida senador Marco Rubio, ambos ardentes defensores do embargo contra Cuba. Pois e o governo Obama anunciou, com orgulho – e sem vergonha – que as novas sanções “vão além do que essa legislação exige”.

Washington mostra, frente à América Latina, a face do extremismo. Apesar de algumas mudanças em algumas áreas da política exterior (por exemplo, a abertura de Obama em relação ao Irã), a face do extremismo norte-americano não mudou em nada, desde os dias em que Reagan ‘alertava’ o país de que os sandinistas nicaraguenses estavam “a apenas dois dias de viagem, de carro, de Harlingen, Texas.” Foi ridicularizado por Garry Trudeau em “Doonesbury” e por outros chargistas.

A Casa Branca de Obama, Regan redux, merece o mesmo tratamento. *****

terça-feira, março 10, 2015

Como criar um estado de insegurança


O cientista político como serviçal da imprensa-empresa
para dar formato racional às sandices


Entreouvido na Vila Vudu:

O artigo original levava o título de “The Intellectual as Servant of the State” [O cientista político como serviçal do Estado].
Mudamos, porque nós aqui somos comunistas e acreditamos no Estado.
Nós NÃO SOMOS ‘liberais-democráticos-fascistas-de-mercado’!

Nós acreditamos em Estado e NÃO ACREDITAMOS em jornais e jornalistas e jornalismos & marketagens, entidades bifrontes do tipo Cantanhede & Rampazzo e/ou Lavareda & Tucanaria Privateira Ltda e/ou jornalões & Consultoria Tendêncy e/ou e tal e tal e a lista é looooooooooooooooonga.

Entendemos portanto que um dos mais graves problemas no Brasil 2015
são os falso-intelectuais, falso-inteligentíssimos, falso-bem-informados JORNALISTAS e comentaristas empregados da imprensa-empresa.

Quem não conheça essa cambada, basta dedicar-se a ouvir, por cinco minutos, o opinionismo tosco de qualquer Boechat, Neubarth, Cantanhede, LoPrete, Sardembergh, Mirian Leitão et canalha ‘jornalística’ ‘adjunta – repetido incansavelmente, o dia inteeeeeeeeeeiro, sempre a mesma ‘notícia’ & ‘comentário’, dez vezes por dia, nas rádios FM Estadão, CNN e Band FM.

Então o artigo aí vai, porque é excelente informação histórica.

Mas, para nosso real proveito, o artigo deve ser lido não como comentário ao trabalho de acanalhamento do Brasil que faz a canalha metida a ‘cientista social dominante’. Essa cambada nós JÁ DERRUBAMOS DO PODER, quando derrotamos nas urnas
a República USP-Chicago-Pindamonhangaba & TFP plus Aécin.

O artigo que aí vai deve ser lido como comentário à canalha golpista metida a cientista-social & economista & historiador à moda Villa, porque é a canalha metida a ‘intelectual’ que foi incorporada – depois de derrotada nas urnas –, à canalha golpista metida a ‘jornalística’.

Essa cambada é paga para trabalhar diariamente contra o voto da maioria democrática.
Por sorte, são incompetentes, são mal informados e alguns, inclusivemente,
são cornos politológicos sociológicos histÓÓricos! :-D)))))))
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Cientistas políticos e comentaristas políticos, – gente de ar snob que vive de ‘assessorar’ os reles mortais que recebem votos dos eleitores – são uma praga da república. Como espécies invasivas, eles infestam a Washington de hoje, onde sua presença sufoca o bom-senso e já levou à beira da extinção a simples capacidade de perceber a realidade. Sempre em ternos ou tailleurs & colarzinhos caros – aquel@s almofadinhas dão aulas ao Congresso, pontificam na imprensa-empresa escrita e falada, e até já esquentam cadeira em posições chaves no Executivo, sempre com impacto maléfico. São como a carpa asiática jogada nos Grandes Lagos.

E dizer que tudo começou tão inocentemente! Nos idos de 1933, com o país nas garras da Grande Depressão, o presidente Franklin Delano Roosevelt foi o primeiro a atrair para o estado um punhado de cientistas sociais e políticos, ansiosos para incorporarem-se às fileiras de seu Novo Negócio [orig. New Deal]. Crise econômica sem precedentes exigia algum pensamento novo – pensou FDR. Se as contribuições desse “Brains Trust” [alguma coisa como ‘poupança em cérebros’, ou ‘Fundo Cérebros’] tiveram qualquer impacto positivo ou se só ajudaram a retardar a recuperação econômica (e foram total desperdício de tempo e dinheiro) é tema que ainda se discute até hoje. No mínimo, contudo, a chegada de Adolph Berle, Raymond Moley, Rexford Tugwell e outros elevaram o cenário de uísque e charutos de Washington. Como membros beneméritos da intelligentsia, recebiam então uma espécie de cachê artístico, como pianistas de boate.

Então, veio a 2ª Guerra Mundial, seguida imediatamente pela implantação da Guerra Fria. Esses eventos trouxeram a Washington uma segunda leva de pensadores profundíssimos, cuja agenda cerebral estava agora integralmente dedicada à “segurança nacional”. Esse conceito elástico pela própria natureza – melhor seria identificar logo o problema e chamar a coisa, para sempre, de “insegurança nacional” – reunia simplesmente qualquer coisa que tivesse a ver com prontidão para fazer guerras, ou sobreviver a elas, incluindo economia, tecnologia, desenho de armas, tomada de decisões, estrutura das Forças Armadas e outros temas ditos de vital importância para a sobrevivência da nação.

A insegurança nacional tornou-se então – e assim permanece até hoje – a política mundial que é como um maná, presente que nunca para de cair dos céus.

Gente que se especializou em pensar sobre a insegurança nacional veio a ser conhecida como “intelectuais da defesa” [mais ou menos como, na imprensa-empresa brasileira, um tal de “Godoy” d’O Estadão é o único ‘especialista em armas’ que há no Brasil inteiro!].

Os ‘especialistas’ pioneiros nessa empreitada, lá nos anos 1950s, recebiam o cheque de pagamento semanal de think tanks como a prototípica Corporação RAND, e de instituições acadêmicas mais tradicionais. Entre essa gente havia figuras muito sinistras, como Herman Kahn, que se vangloriava por “pensar o impensável”; e Albert Wohlstetter, que distribuía tutorials em Washington sobre as complexidades de manter-se “o delicado equilíbrio do terror”.

Nesse ensandecido mundo, a moeda em circulação foi então, como continua a ser até hoje, “relevância política”. Significa inventar produtos que sugiram alguma impressão de novidade, ao mesmo tempo em que só sirvam, mesmo, para perpetuar a empreitada ‘oficial’ que esteja em andamento. Exemplo radical de insight  de alta relevância política é a descoberta, pelo Dr. Fantástico (Dr. Strangelove) , de um “mineshaft gap” [aprox. “atraso no escavamento do buraco de mina”] – sucessor do “bomber gap” [aprox.. “atraso na construção do bombardeiro”] e do “missile gap” [aprox.. “atraso na construção do míssil”] os quais, nos anos 1950s, deixaram os EUA supostamente atrasados em relação aos soviéticos na corrida armamentista e precisando alucinadamente se igualarem a eles. Naquele momento, com uma troca de tiros de bombas termonucleares a um passo de destruir o planeta, os EUA mais uma vez estavam atrasados – diz o Dr. Fantástico. – Daquela vez, porque não cavaram suficientes abrigos subterrâneos para salvar pelo menos uma pequena parte da humanidade, que fosse.

Num único brilhante meneio frasal, o Dr. Fantástico postula uma nova raison d'être para todo o aparelho de insegurança nacional, assegurando assim que o jogo possa prosseguir mais ou menos eternamente. Sequência do filme de Stanley Kubrick estaria mostrando o general “Buck” Turgidson e outros emedalhados na Sala de Guerra, hoje, desenvolvendo planos para vedar o mineshaft gap, como se nada no mundo tivesse acontecido de lá até hoje.

Nasce o Estado de Insegurança Nacional

Mas foi nos anos 1960s, bem quando o Dr. Strangelove foi visto pela primeira vez nos cinemas, que os intelectuais-na-mídia, cientistas sociais e politólogos (no Brasil, o politólogo mais importante é o Prof. Bolívar Lamounier, o que pouco informa que realmente interesse ao avanço do Brasil, mas ajuda, pelo menos, a avaliar todos os demais politólogos pátrios ativos nos jornalões idem [NTs]) realmente ganharam palancão só deles. A imprensa-empresa nos EUA passou a chamá-los de “intelectuais da ação” (?) sugerindo energia e atividade importante.

Os “intelectuais da ação” eram pensadores, mas também fazedores, membros de um “corpo amplo e em crescimento, de homens que escolheram sair dos seus nichos silenciosos e tranquilos nas universidades e envolver-se nos problema complexíssimos que a nação enfrenta” [é vêêê o Villa!, que não olha no olho NEM DA CÂMERA
 :-D)))))))] – como definiu-os a revista LIFE, em 1967. Dentre os tais complexíssimos problemas, o mais complexíssimo era o que fazer sobre o Vietnã – problema complexíssimo que vinha como de encomenda para que os intelectuais da ação partissem logo prá cima dele e o cobrissem de tabefes.

Ao longo de um século e meio antes, os EUA haviam feito guerras por muitas razões, dentre as quais ganância, medo, pânico, ira arrogante e legítima autodefesa. Em diferentes ocasiões, cada uma dessas causas, isoladas ou em diferentes combinações, empurrara os norte-americanos à luta. O Vietnã marcou a primeira vez que os EUA foram à guerra, pelo menos em grande parte, em resposta a um punhado de ideias perfeitamente imbecis, postas em circulação por gente metida a super mega over inteligentíssima que ocupava postos de influência.

Ainda mais surpreendente, os intelectuais da ação continuaram a falar a favor de continuar em guerra, mesmo já muito depois de ser perfeitamente evidente, até para membros do Congresso, que a causa era causa mal concebida, mal pensada, mal propagandeada e mal dita, condenada a terminar em fracasso.

Em seu excelente livro American Reckoning: The Vietnã War and Our National Identity, Christian Appy, historiador que leciona na University of Massachusetts, nos lembra de o quanto aquelas ideias eram perfeitamente imbecis.

Como “Prova 1”, o professor Appy apresenta McGeorge Bundy, conselheiro para segurança nacional, primeiro do presidente John F. Kennedy, depois de Lyndon Johnson. Bundy é produto de estufa de Groton e Yale, e ganharia fama como o mais jovem reitor da Faculdade de Artes e Ciências de Harvard, premiado com o posto, mesmo sem ter nem diploma de graduação.

Como “Prova 2”, lá estava Walt Whitman Rostow, que sucedeu Bundy no cargo de conselheiro de segurança nacional. Rostow também era de Yale, e formou-se no mesmo ano no curso colegial e como PhD. Adiante, passou dois anos em Oxford, na cátedra Rhodes. Como professor de história econômica no MIT, Rostow chamou a atenção de Kennedy com seu livro de 1960, título modesto, The Stages of Economic Growth: A Non-Communist Manifesto, no qual oferece uma grandiloquente teoria do desenvolvimento, de aplicabilidade ostensivamente universal. Kennedy trouxe Rostow para Washington, para testar suas teorias de “modernização” em locais como o Sudeste Asiático.

Por fim, como “Prova 3”, Appy discute rapidamente a contribuição do professor Samuel P. Huntington para a Guerra do Vietnã. Huntington frequentou também Yale, antes de obter seu PhD em Harvard, e depois voltou para lecionar, tornando-se dos mais afamados cientistas políticos do pós 2ª Guerra Mundial.

Traço que se observa nos três, além da suspeita ‘formação’ adquirida em New Haven: rendição e comprometimento inabaláveis com as supostas verdades da Guerra Fria. A principal dessas supostas verdades era a seguinte: um monólito denominado “Comunismo”, controlado por um pequeno grupo de ideólogos fanáticos escondidos dentro do Kremlin, era ameaça existencial, não só contra os EUA e seus aliados, mas contra a própria liberdade considerada em si. A ideia veio com o corolário essencial: a única esperança de se evitar esse resultado cataclísmico seria os EUA resistirem vigorosamente contra a ameaça comunista onde quer que ela erguesse a cabeçorra.

Compre essas hipóteses gêmeas, e você aceita o imperativo de que os EUA tinham de impedir a qualquer custo que a República Democrática do Vietnã, também chamada Vietnã do Norte, viesse a absorver a República do Vietnã, também chamada Vietnã do Sul, criando um país unificado; em outras palavras: o imperativo de que o Vietnã seria causa pela qual valia a pena matar e morrer. Bundy, Rostow e Huntington não só engoliram a hipótese com anzol, linha e carretel, como, além disso, passaram a dedicar-se a conseguir que outros em Washington também fossem igualmente fisgados.

Mas já em 1965, quando clamava pela “americanização” da Guerra do Vietnã, Bundy começava a duvidar de que se fosse possível vencer aquela guerra. Mas... ninguém precisa se preocupar: ainda que o esforço termine em fracasso, como disse ele, aconselhando, ao presidente Johnson, “a política faz valer a pena.”

Como assim?! “No mínimo” – Bundy escreveu –, “esvaziaremos as críticas de que não fizemos tudo que poderíamos ter feito, e o que fizemos será importante em muitos países, inclusive no nosso.” Se os EUA acabaram por perder o Vietnã do Sul, pelo menos os norte-americanos morreram tentando impedir que perdessem – e essa, graças a uma lógica pervertida e na avaliação do mais jovem reitor de Harvard em todos os tempos, seria a garantia da salvação. Bundy acreditava que o ponto essencial seria impedir que outros vissem os EUA como “tigre de papel”. Negar-se à guerra, mesmo que guerra perdida, implica(ria) perder credibilidade. Tinham de se dedicar, isso sim, a qualquer custo, a “Não deixar que pensem que quando nos envolvemos, esquecemos de considerar algum grande perigo”. Esse o problema do qual tinham de fugir!

Rostow até superou Bundy em linha-durismo. Além de defender incansavelmente os bombardeios coercitivos para influenciar os políticos do Vietnã do Norte, Rostow foi também o arquiteto-chefe de algo que ficou conhecido como Strategic Hamlet Program. A ideia era acelerar o processo Rostoviano de modernização, realocando à força os camponeses vietnamitas, de suas vilas ancestrais, para campos montados pelo governo de Saigon, onde encontrariam segurança, educação, assistência médica e para plantar. Assim se conquistariam corações-e-mentes. Os camponeses nunca mais teriam qualquer contato com os comunistas, e a derrota do levante comunista decorreria automaticamente, com o pessoal do Vietnã do Sul já introduzido na “era do alto consumo de massas”, à qual toda a humanidade ascenderia como destino final.

Assim rezava a teoria. A realidade foi um pouco diferente. Os Hamlets Estratégicos que chegaram a ser tentados eram exatamente iguais a qualquer campo de concentração dos nazistas. O governo de Saigon revelou-se fraco demais, incompetente demais e corrupto demais para cumprir sua parte do trato. Em vez de ganhar corações-e-mentes, o programa gerou alienação em níveis altíssimos e, de fato, só conseguiu desestabilizar a sociedade camponesa nas áreas onde chegou a ser iniciado. Outro resultado da ‘ideia’ foi que número crescente de camponeses arrancados de suas terras e casas afluiu para as cidades do Vietnã do Sul onde praticamente não havia trabalho além do serviço doméstico para a crescente população militar dos EUA – atividade que muito dificilmente levaria a algum tipo de desenvolvimento sustentável.

Fato é que mesmo depois de a Guerra do Vietnã já ter acabado em derrota total, completa, avassaladora para os EUA, Rostow ainda insistia que sua teoria teria sido ‘confirmada’. “Nós e os asiáticos de sudeste”, escreveu ele, usamos os anos de guerra “tão bem que nem houve pânico [quando Saigon caiu], que fatalmente teria havido se não tivéssemos intervindo.” Por incrível que pareça, contado hoje, fato é que Rostow ‘comprovou’ inúmeras boas notícias, todas atribuíveis à guerra norte-americana.

“Desde 1975, houve expansão geral do comércio de outros países daquela mesma região com o Japão e o Ocidente. Na Tailândia, vimos surgir uma nova classes de empresários. Malaysia e Singapore tornaram-se países de bens manufaturados diversificados para exportação. E vê-se hoje a emergência de uma classe muito mais densa de tecnocratas na Indonésia.

Pronto. Aí está. Você queria saber por que 58 mil norte-americanos (e número vergonhosamente muito maior de vietnamitas) morreram na Guerra Americana [que é como se conhece, no Vietnã, o que nos EUA chama-se Guerra do Vietnã (NTs)]? Morreram para estimular o surgimento de empresários, aumentar as exportações e fazer emergir muitos tecnocratas por todo o sudeste da Ásia.

Appy descreve o professor Huntington como outro intelectual da ação com grande facilidade para ver ‘o bom’ de todas as catástrofes. Na visão de Huntington, o deslocamento interno de sul-vietnamitas causado pelo uso desproporcional do poder de fogo dos EUA, e o fracasso dos Hamlets Estratégicos de Rostow, foram notícias realmente muito boas. Estava agora muito facilitado o processo de garantir aos norte-americanos, pleno domínio sobre os insurgentes.

A chave para a vitória final, Huntington escreveu, foi “urbanização e modernização por alistamento forçado, que rapidamente tirou o país em questão da fase na qual um movimento revolucionário rural pode esperar gerar força suficiente para chegar ao poder.” Ao esvaziar o país rural, os EUA poderiam vencer a guerra nas cidades. “A favela urbana, que parece tão horrível aos olhos dos norte-americanos de classe média, muitas vezes se converte, para o camponês pobre, em portal para vida nova e muito melhor.” O fraseado pode ter recebido gotas de desinfetante, mas a ideia continua clara e bem suja: os desafios da vida na cidade, em estado de miséria indescritível, transformariam como por milagre aqueles mesmos camponeses, em gente bem mais interessada em fazer um pé de meia, do que em se alistar em revoluções sociais.

Revisitadas décadas depois, essas ideias defendidas de modo descaradamente público pelos Bundy-Rostow-Huntingtons – ação de primeira qualidade de intelectuais da ação! – parecem piores que obscenas e escandalosas. Elas insultam qualquer inteligência mediana e nos fazem pensar como é possível que alguém, algum dia, tenha levado a sério quantidade tão absoluta de imbecilidades.

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[Para ter experiência direta dessa emoção, basta reler, hoje, o ‘artigo’ do polítólogo-em-chefe do Estadão & Tucanaria Privateira, o tal ‘professor’ [só rindo] Bolívar Lamounier, publicado em 2010, e que leva o IMPRESSIONANTE título de
“A mexicanização em marcha”].
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Como aconteceu que, durante a Guerra do Vietnã, ideias tão ruins tenham tido tanta influência, tão perversa? Por que essas ideias foram tão impermeáveis a qualquer crítica? Por que não se as pôde desconstruir devidamente? Por que, em resumo, foi tão difícil para os norte-americanos, naquele momento, farejar a merda que lhe era impingida como ‘pensamento’?

Criar um Vietnã em câmera lenta, para o século 21

Essas perguntas absolutamente não interessam só por terem algum valor histórico. Elas são muitíssimo importantes ainda hoje, aplicadas ao trabalho de tecelagem da versão ‘século 21’, dos cientistas sociais e politólogos que operam HOJE, todos especializados em insegurança nacional, cuja CONVERSA TOTALMENTE FIADA serve de ‘fundamento’ HOJE para políticas que absolutamente NÃO SÃO mais coerentes que as políticas usadas para justificar o início e a continuação da Guerra do Vietnã.

Os sucessores dos Bundy-Rostow-Huntingtons subscrevem hoje as suas próprias pressupostas ‘verdades’. Dentre elas, a principal suposta ‘verdade’ é que um fenômeno chamado “Terrorismo” ou “Radicalismo Islamista”, inspirado por um pequeno grupo de fanáticos controlado por um pequeno grupo de ideólogos fanáticos escondidos em diferentes pontos no Oriente Médio Expandido é ameaça existencial, não só contra os EUA e seus aliados, mas – sim, sim, a coisa ainda vive entre nós! – contra a própria liberdade considerada em si.

E a ideia veio com o corolário essencial empoeirado e importado da Guerra Fria: a única esperança de se evitar esse resultado cataclísmico é os EUA resistirem vigorosamente contra a ameaça terrorista/islamista, onde quer que ela erga a cabeçorra.

Pelo menos desde o 11/9/2001, e pode-se dizer que pelo menos ao longo das duas últimas décadas, sem faltar um dia, os políticos norte-americanos tomaram essas ‘ideias’ como teorias fartamente confirmadas e sem erro possível. Acontece assim em parte porque pouquíssimos dos intelectuais especializados em insegurança nacional deram-se o trabalho de questionar as tais ‘ideiazinhas’.

A verdade é que esses especialistas impediram o estado de ter o DEVER de tratar dessas questões e problemas. Pense nessa canalha toda como ‘intelectuais’ devotados a fugir e renegar toda e qualquer atividade intelectual genuína. Mais ou menos como Herman Kahn e Albert Wohlstetter (ou o Dr. Fantástico), a função deles é perpetuar a empreitada em curso.

O fato de já ninguém ver com clareza de que empreitada afinal se trata, realmente facilita a vida deles. Antes se falava sempre de Guerra Global ao Terror, era uma Global War on Terror, GWOT. Hoje, já é Guerra Sem Nome. É mais ou menos como aquela famosa sentença da Suprema Corte sobre pornografia: não sabemos definir; só sabemos que é quando vemos ‘a coisa’. É assim, também, com o ISIL a mais recente manifestação etérea a capturar todas as atenções de Washington.

A única coisa que se pode dizer com certeza sobre a empreitada Sem Nome é que ela continua e não há fim à vista. Já está convertida numa espécie de Vietnã em câmera lenta, favorecendo reflexão espantosamente rarefeita sobre o curso até agora e sobre rumos futuros. Se ainda há “Brains Trust” funcionando em Washington, foi esquecido lá, no piloto automático. Hoje, a segunda e terceira gerações bastardas da RAND que ocupam vastos andares na zona noroeste de Washington – Centro isso, Instituto aquilo –  concentram-se dia e noite em discussões sobre os equivalentes atualizados para HOJE dos Strategic Hamlets, sem nem um instante de dedicação a qualquer pensamento mais fundamental, mais aproveitável.

O que me empurrou para essas maltraçadas linhas foi a notícia de que Ashton Carter está de volta ao Pentágono, como 4º secretário de Defesa do presidente Obama. O próprio Carter foi intelectual da ação do jeitão dos Bundy-Rostow-Huntingtons e fez carreira alternando períodos de ‘serviço’ em Harvard com idem ‘lá’ (no Pentágono). Carter também é ‘de Yale’ e também foi ‘professor da cátedra Rhodes, com um PhD de Oxford.

“Ash” – porque em Washington, quando acontece de você ser identificado só pelo primeiro nome (“Henry,” “Zbig,” “Hillary”) é sinal de que você REALMENTE-REALMENTE chegou-lá – é autor de quaquilhões de livros e artigos, inclusive uma coluna co-assinada com o ex-secretário da Defesa William Perry em 2006 na qual a dupla ‘exige’ guerra preventiva contra a Coreia do Norte. “Não há ação militar sem perigos” – reconheceu ele, valentemente, naquele momento. “Mas o perigo da inação continuada ante a corrida da Coreia do Norte para ameaçar nosso país é muito maior” – exatamente o mesmo tipo de lógica à qual periodicamente recorrem todos os Herman Kahn e Albert Wohlstetter.

Agora que Carter retomou as rédeas do Pentágono, está tendo muito trabalho, dia e noite, para dar a impressão de que é um verdadeiro neo-Aristóteles em matéria de pensamento. Como anunciava (ameaçava?) uma manchete do Wall Street Journal, “Ash Carter Quer Novos Olhos Contra as Ameaças Globais”. Claro que há uma pilha de ameaças globais. Claro também que o secretário de Defesa dos EUA tem mandado divino para enfrentá-las todas, claro, todo mundo sabe! Seu predecessor, Chuck Hagel (sem título de Yale) era dado a andar com cautela. Carter, não. Carter é o contrário. Já chegou mostrando que vem para agitar o pedaço.

Com esse objetivo em mente, logo no segundo dia de trabalho no Pentágono, já jantou com Kenneth Pollack, Michael O’Hanlon e Robert Kagan, todos intelectuais de alta patente na insegurança nacional, e velhos paus para toda obra em Washington. À parte o fato de os três prestarem serviços à Brookings Institution, os três orgulham-se de ter apoiado a Guerra do Iraque nos idos de 2003. Hoje, eles ‘exigem’ redobrados esforços contra o ISIL. Para termos certeza, nós todos, de que a orientação fundamental da política exterior dos EUA é firme, sólida, confiável (só temos de tentar mais, com mais empenho, mais empenho), onde encontrar melhores conselheiros que Pollack, O’Hanlon e Kagan (qualquer Kagan)?

Será que Carter contava com receber novos insights dos seus parceiros de jantar? Ou estaria ‘sinalizando’ para as redes de professores-adjuntos, professores-convidados, professores-doutores, professores-em-chefe e sociólogos-politólogos-comunicólogos que as verdades vigentes da insegurança nacional permanecerão sacrossantas? Decida você, amigo leitor.

Logo depois, a primeira viagem internacional de Carter ofereceu mais uma oportunidade para sinalizar suas intenções. No Kuwait, reuniu um conselho de guerra, de altos funcionários militares e civis para que o atualizassem sobre a guerra contra o ISIL. Em ousado movimento que o separou crucialmente das práticas padrão, o senhor do Pentágono PROIBIU RELATÓRIOS EM POWER POINT. Um dos participantes descreveu o evento como “seminário escolar de cinco horas” – todos puderam falar de coração aberto, lavar a alma. “Isso é revirar todos os paradigmas”, comentou, ainda tomado de assombro, um oficial sênior do Pentágono. Todos confirmaram que, sim, Carter desafiou seus subordinados a “olhar com outros olhos para esse problema”.

É claro que Carter pode ter dito “Vamos olhar a coisa como se fosse outro problema”. Mas essa seria postura radical demais para ser levada a sério – seria o equivalente de ele sugerir, lá nos idos dos anos 1960s que os pressupostos dos EUA para o Vietnã deveriam ser reexaminados.

Seja como for – e para surpresa de ninguém – o ‘olhar novo’ não levou a qualquer conclusão diferente da velha. Em vez de revirar algum paradigma, Carter reafirmou a existência do mesmo velho paradigma: a atual abordagem que os EUA têm implantado para enfrentar o ISIL é confiável e ótima. Só precisa de uns beliscões – a ‘deixa’ para os Pollacks, O’Hanlons e Kagans escreverem qualquer bobagem, só para manter o conversê fiado que tomou o lugar de debate sério.

E alguém precisa desse conversê fiado ‘jornalístico’ ‘intelectual’ ‘sociológico-politológico-histórico’ de araque sem fim? Ele melhora de algum modo a qualidade das políticas norte-americanas? Se os intelectuais da ação/da politologia/da defesa calassem o bico, de vez, os EUA seriam menos seguros?

Permitam-me propor um experimento. Ponham TODO esse pessoal em quarentena. Nada radical. Não é para sempre. Só até que a última neve do inverno degele na Nova Inglaterra. Mandem essa gente de volta para Yale para reeducação. E vamos ver se conseguimos sobreviver sem eles, por um mês, dois meses.

Enquanto isso, convidemos veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão, para que ensinem ao país o melhor meio de enfrentar o ISIL. (...) Entrevistem, no horário nobre, domingo à noite, diretores de escolas públicas. Sabe-se lá... Quanta sabedoria pode haver, escondida por aí?! **********