domingo, março 30, 2014

Para criticar a ‘mídia’, é preciso dar nomes aos bois!

Tommy Vietor em casa (Bloomberg TV)
Entreouvido na Vila Vudu:

Esse artigo não é nenhuma Brastemp, não tem novidade, ainda não é propaganda política de democratização, mas já é jornalismo de democratização E É MUITO BOM, como exemplo disso. Greenwald é jornalista liberal e ainda crê no jornalismo liberal. Além disso, trabalha em ambiente de (muuuuuuuuuuuuito) melhor jornalismo, que nós, cá no Brasil, condenados todos ao monopólio e à mediocridade quase INACREDITÁVEL do 'jornalismo' do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão). Mas até Greenwald, por jornalista liberal que seja, JÁ SABE que se pôr a criticar ‘a mídia’, sem dar nomes aos bois, é perder tempo e energia.

Criticar ‘a mídia’ só faz algum sentido e tem alguma serventia no mundo real, se a crítica inclui nome, RG, CPF, profissão e residência , bem divulgados, dos agentes da tal de ‘mídia’, os próprios jornalistas (editores e repórteres, todos, agentes discursivos MUITO MAIS DIRETAMENTE ATIVOS de fascistização da opinião pública, até, que os patrões deles), caso a caso: é indispensável dar nomes aos bois.

Ou só se critica uma palavra (a tal de ‘mídia’) e não se critica nem o pensamento (sujo) nem o serviço (ainda mais sujo) que OS JORNALISTAS, alguns políticos que sabem servir-se da tal de 'mídia' e seus marketeiros são pagos para fazer e fazem (e alguns, jornalistas empregados fascistas sinceros, fascistas convictos, fariam também, igualzinho, mesmo que tivessem de PAGAR pra fazer).

Vejam aí que a crítica é personalizada, dirigida, nome, história, profissão e endereço e tuuuuuuuuudo.
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Tommy Vietor foi porta-voz do Conselho de Segurança Nacional do presidente Obama, no primeiro mandato. Deixou o posto para criar uma empresa de consultoria (associado a Jon Favreau, que escrevia discursos para Obama), a serviço da qual pôs seus contatos na Casa Branca,[1] para construírem estratégias de ação nas redes sociais e na mídia em geral[2] para empresas que negociam (grandes negócios) com o governo. Sua sala de trabalho, hoje, é adornada com pôsteres do presidente Obama (como se vê nesse vídeo[3]).

A função de Vietor [não são INCRÍVEIS esses jovens empreendedores?! 8-))))))) [NTs]), que ele cumpre aplicadamente é simples: expressar e incorporar as ideias mais definitivas, mais convencionais, do que a Washington imperial pensa sobre ela mesma.

Na 2ª-feira, Vietor foi ao Twitter,[4] para atacar publicamente Oliver Stone, por ter manifestado seu apoio ao governo de Maduro na Venezuela:
[no tuíto:]
@Oliver Stone: Como você pode apoiar Maduro, quando ele mantém ilegalmente presos líderes da oposição como #LeopoldoLopez?

Aí, claro, nada se vê além da velha tática preferida da Washington oficial: fingir cinicamente que se preocupa com direitos humanos, ao mesmo tempo que trabalha para minar governos que não obedeçam às ordens dos EUA.

Para os Tommy Vietors do mundo, o governo de Maduro não é ruim porque “mantém ilegalmente presos líderes da oposição”; é ruim porque se opõe a políticas dos EUA, recusa-se a obedecer ordens dos EUA e derrota,[5] em eleições livres e populares, os candidatos neoliberais subservientes preferidos dos EUA. Até aí, nada de novo.
Tommy Vietor, vestindo trajes patrióticos

A coisa para de me parecer cômica, contudo, quando vejo a habilidade dos Tommy Vietors do mundo para convencerem, em primeiro lugar eles mesmos e, na sequência, também outros, de que conseguem distribuir esse tipo de ‘comentário’, sem serem imediatamente arrastados para praça pública, em desgraça. A mesma pessoa que invoca preocupações com direitos humanos a ponto de condenar publicamente Stone por apoiar governo democraticamente eleito na Venezuela passou anos apoiando tiranias – essas sim! – brutais e viciosas, que jamais foram eleitas para governar coisa alguma.

O governo Obama, do qual Vietor foi porta-voz, várias vezes forneceu armas ao governo do Bahrain[6] para esmagar brutalmente manifestações democráticas de opositores do ditador. O mesmo governo Obama apoiou vigorosamente[7] o repelente regime de Mubarak, aliado dos EUA por muito tempo, até que a queda tornou-se inevitável;[8] Hillary Clinton, logo depois de nomeada secretária de Estado, não teve pejo:[9] “Realmente considero o Sr. e a Sra. Mubarak amigos de minha família”. Obama várias vezes abraçou os monarcas do Qatar,[10] dos Emirados Árabes Unidos[11] e do Kuwait.[12] E tudo isso, independente do apoio político, financeiro, diplomático e militar inigualável que os EUA dão com prodigalidade a Israel, mesmo depois de décadas ininterruptas de ocupação, repressão e agressão. 

E há também o mais íntimo dos aliados dos EUA, o principal, que é também uma das ditaduras mais brutalmente repressivas do mundo: a Casa de Saud. Durante o mandato de Vietor, o governo Obama revelou planos[13] para entregar aviões de guerra à Arábia Saudita, negócio de mais de $60 bilhões, o maior negócio de vendas de armas nos EUA em toda a história, e “conversações com o reino saudita sobre upgrades nos sistemas naval e de mísseis de defesa que poderiam chegar a mais dezenas de bilhões de dólares.” Há cinco meses, o Pentágono anunciou[14] “planos para vender à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos $10,8 bilhões em armamento avançado, incluindo mísseis cruzadores ar-terra e munição de precisão”, um pacote que “inclui as primeiras vendas dos EUA a aliados no Oriente Médio das novas armas fabricadas por Raytheon e Boeing que podem ser lançadas à distância pelos aviões F-15 da Arábia Saudita, e F-16 dos Emirados Árabes Unidos.”

A Casa Branca de Obama repetidas vezes afirmou[15] sua “forte parceria”[16] com a tirania saudita.

Hoje [anteontem], Obama chega a Riad, para garantir aos monarcas sauditas que os EUA continuam tão firmes como sempre na íntima parceria entre os dois governos, e tentar acalmar as ansiedades sauditas. Vai-se encontrar com o rei Abdullah, “terceiro encontro entre Obama e o rei, em seis anos.”

O objetivo da visita:[17] “tentar suavizar as relações com a Arábia Saudita, mostrando ao antigo aliado dos EUA que não está esquecido.” De fato “altos conselheiros do presidente dizem que a visita é um ‘investimento’ numa das mais importantes relações dos EUA no Oriente Médio.”

Se você quer justificar tudo isso e argumentar cinicamente que seria benéfico para os EUA apoiar tiranias brutais e repressoras, ok, vá em frente. Pelo menos, será falar conforme age, postura honesta. Mas não se ponha a falar como se os EUA fossem alguma espécie de bastião contra a repressão política e a violação de direitos humanos, quando já se sabe que a verdade é, tão dolorosamente, o contrário disso.

E se você já trabalhou tanto, por tanto tempo, para garantir todos os tipos do mais irrestrito apoio vital a todos os regimes mais brutais do mundo, não se meta, agora, a fazer pose de líder da gangue, a criticar os que defendem governos mais democráticos e benignos. *******



Propaganda SÓ SE COMBATE COM PROPAGANDA

Artigo didático, excelente, muito claro.

Falta dizer, porém, duas coisas, as duas DIFÍCEIS, COMPLEXAS, NUNCA EXPLORADAS e importantíssimas:



(1) O agente dessa manipulação é, sim, no geral, a tal de 'mídia'. Mas dizer só "mídia" é dizer praticamente nada.

É preciso identificar OS NOMES DOS JORNALISTAS autores dos discursos PESSOAIS pelos quais a manipulação opera. E é preciso descontstruí-los, desmontá-los, esvaziá-los um a um, pessoalmente. O melhor meio de fazer isso não é discutir com eles (não adianta argumentar com fascistas sinceros convictos).

O melhor meio de fazer isso é ou RIR DELES; ou falar MAIS ALTO e MAIS FREQUENTEMENTE que eles; ou calá-los (o que se faz com campanhas de boicote: Desligue a TV Globo,por exemplo) 

A propaganda opera pela quantidade, mas, também, pela impressão de 'credibilidade' das fontes e emissores dos discursos 'jornalísticos'.

Então, as empresas da imprensa-empresa têm, antes, de criar caras, olhares, vozes e trejeitos discursivos que dêem verossimilhança ao que dizem como se fossem 'notícias' e 'fatos' e implantar essas caras como 'especialistas' confiáveis. 

Uma das marcas da PÉSSIMA qualidade informacional do jornalismo brasileiro é a perenidade dos colunistas e âncoras. Alexandre Machado -- por exemplo -- já fazia o mesmíssimo jornalismo que faz hoje, há quase 50 anos, sempre golpista. Os âncoras dos telejornais são perenes, em todas as redes da propaganda do capital, e as redes constróem suas próprias caras-vozes, que são propagandeadas como marcas comerciais.

Assim, sempre com as mesmas caras, é fácil implantar a ideia de que "se o Bonner disse", então é verdade. Se Mirian Leitão acha, então é verdade. Assim se constroem e funcionam os lobbies da des-notícia. A isso se chama "jornalismo liberal", o qual vive de reivindicar "liberdade de imprensa" sempre só pra eles mesmos.

A ideia de que sem jornalismo não há democracia, É FALSA. A ideia correta é o contrário disso:

-- sem democracia realmente operante, nenhum jornalismo-empresa tem qualquer futuro de médio prazo e vira presa de seu próprio projeto viciado e vicioso. Porque sabem disso, as empresas do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) defendem a ferro e fogo o próprio monopólio.

Todos os jornalistas desempregados e mal empregados deviam já estar tratando de entender ISSO, em vez de assistir a aulas de "deontologia" do jornalismo liberal, que é projeto condenado.


Enquanto prosseguirmos só essa vaga denúncia contra a 'mídia' -- entidade abstrata --, OS JORNALISTAS -- agentes falantes ATIVOS dos discursos de propaganda -- continuarão com suas conversas fiadas de propaganda, apresentadas como se fossem distribuição de informação.

(2) Outra coisa que é preciso ensinar às pessoas é que, porque a propaganda é MUITO MAIS FORTE e eficaz que os discursos de conscientização, propaganda SÓ SE COMBATE COM PROPAGANDA.

O denuncismo (viver a denunciar escândalos deles, depois q eles denunciam escândalos nossos) é UM DOS INSTRUMENTOS da guerra 'midiática', mas NÃO É O MAIS IMPORTANTE NEM O MAIS EFICAZ. 

O fato de que o Brasil não tenha NENHUMA TEORIA DA PROPAGANDA POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO (e não temos, NEM DEPOIS DE DEZ ANOS DE GOVERNO NOSSO!) nos pôs na situação de não sabermos, sequer, por onde começar. Essa é uma ignorância que a universidade e os cursos de 'comunicação' e 'jornalismo' implantaram no Brasil desde sempre. E é um dos itens da dependência, um dos itens mais mortíferos da dependência.

Mas, sim, o artigo abaixo é útil e claro. Apenas que esse tipo de artigo NÃO FAZ PROPAGANDA POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO. 

E enquanto não aprendermos a fazer PROPAGANDA POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO -- que a gente aqui entende que seja O CONTRADISCURSO DE OPOSIÇÃO A TODO O JORNALISMO LIBERAL E SUAS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO LIBERAL -- será como tentar esvaziar um tsunami usando colherinha de cafezinho.

E vamkevamo, que essa luta é longa.

Poderíamos já começar por chamar a coisa a que temos de chegar de PROPAGANDA POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO (em vez de ficarmos aí a inventar fórmulas de "guerra emocional de 4a-geração")

Digamos que o diagnóstico esteja até bastante correto. Mas os diagnosticadores não estão sugerindo ainda nenhuma terapia e, sem isso, por melhor que seja o diagnóstico, o doente morre.

Vila Vudu

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Guerra emocional de quarta geração: Os mísseis da mídia que criam insegurança, na Venezuela e no Brasil

publicado em 29 de março de 2014 às 11:37

Atrizes cansadas no Brasil e, abaixo, a miss cansada na Venezuela: indignação seletiva mas altamente midiática; as imagens mexem com a emoção e criam associação negativa com os eventos a que se referem.

20 pistas para entender a guerra psicológica contra a Venezuela
No Correo del Orinoco | 21/10/2013 09:02 |
Texto de: Vanessa Davies
Tradução: Jair de Souza
Os psicólogos Olivia Suárez e Fernando Giuliani advertem que estão queredo plantar a incerteza e a angústia e pintar um país que supostamente está caindo aos pedaços, a fim de que as pessoas estejam dispostas a qualquer coisa para recuperar “a ordem”.
Você considera que o país está caindo a pedaços? Acredita que a culpa de todos os males se concentra no chavismo e, especialmente, no governo nacional? Quando você ouve a música que identifica as transmissões conjuntas de rádio e televisão tem vontade de matar alguém? Você está convencido de que todo mundo anda de mau humor porque não aguenta mais “a crise”? Provavelmente, você é vítima da guerra psicológica.
Sobre a guerra psicológica os psicólogos bolivarianos vêm falando. Assim como o presidente Nicolás Maduro, o qual advertiu que o que está por trás disto é a intenção de derrotar o governo constitucional e livrar-se da revolução.
Os psicólogos Ovilia Suárez e Fernando Giuliani, integrantes do coletivo Psicólogos pelo Socialismo, advertem que isto não começou este ano, mas que se agudizou a partir do desaparecimento físico do comandante Hugo Chávez. O alvo do presente, alertam, é o povo bolivariano para criar nele desânimo e desalento, mas sem deixar de lado a população que não acompanha o processo socialista. O “Correo del Orinoco” oferece 20 pistas para entender o que está acontecendo.
1) O que é a guerra psicológica?
“Uma guerra psicológica não é o mesmo que uma guerra militar. Porém, quando dizemos guerra é porque existe um objetivo de ataque a um alvo. É preciso diferenciar isto, de uma vez, do que seria uma confrontação política de alta intensidade”, explica Giuliani. “A guerra tem como elemento exclusivo atacar um alvo, o que, neste caso, são muitas coisas”.
Outro elemento que lhe é característico é que está planificada; ou seja, “são estratégias que têm um objetivo e estão planificadas”; há gente por tras que está desenvolvendo “todo um conjunto de recursos, estudando a situação, mobilizando um conjunto de recursos” no rumo desse objetivo.
O psicólogo acrescenta que esta forma de guerra visa a mente: “O cenário é a mente. E por mente devemos entender muitas coisas: é a mente individual, mas também poderíamos mencionar a mente coletiva, as representações sociais, as atitudes, as relações sociais em todos seus imaginários, as emoções e os pensamentos”.
O analista afirma que há evidências muito claras de guerra psicológica na Venezuela; por exemplo, é evidente que há um manejo planificado do rumor, planificado. “É evidente que há um manejo planificado de um tipo de informação claramente apontando a objetivos muito concretos”
Os meios de comunicação “são instrumentos evidentes disto”, e basta uma revisão das manchetes de jornais e de programas televisivos para constatar “que começam a aparecer padrões”. Todos dizem o mesmo, com um objetivo fundamental: “gerar insegurança psíquica; gerar incerteza, gerar estados de alerta que não correspondem à realidade”. O psicólogo coloca o exemplo da influenza AH1N1: “houve, pelo menos, três semanas nas quais as manchetes dos grandes jornais tratavam permanentemente disso. As rádios falavam disso e a televisão falava disso. O desabastecimento: todos os dias começam a falar do desabastecimento”.
2) Em que se diferencia um fato real da guerra psicológica?
Há características muito concretas, diz Giuliani. Aqueles que pintam um país em ruínas “nunca terminam de decidir, de demonstrar convincentemente o que estão dizendo”. Retoma o exemplo da influenza AH1N1, porque foi apresentada ao país como se tivesse sido uma epidemia terrível, mas pouco se informou sobre as ações do governo para combatê-la.
A mídia enfatiza e destaca o negativo, o pior que possa ocorrer. A dúvida é sempre dirigida ao pior. “E sempre tratam de gerar a sensação de que não se está fazendo nada a respeito e que a coisa ainda vai piorar”. São “meias verdades”, que estão baseadas em coisas “que efetivamente ocorrem”, como a corrupção e a insegurança.

[No Brasil: Rumor na internet: a casa da fazenda do filho do Lula era uma universidade pública!]
3) Qual é o papel do rumor nesta estratégia?
Ovilia Suárez acrescenta que o instrumento perfeito para a difusão destas supostas informações é o rumor. “E o rumor sempre parte de uma ação, de um conto, de uma referência que é real. É real entre aspas; ou seja, parte de uma referência que permite que a gente acredite que é real, seja porque você a vivenciou, ou porque sua vizinha acabou de ver, ou porque seu cunhado estava ali quando aconteceu. Sempre vão contá-la como se algo de sua realidade estivesse presente. Quer dizer, não é que me foi contada por qualquer um; é que ali estava meu amigo, meu tio, meu sobrinho, etc.”
Ao parecer “crível”, qualquer um o retransmite, porque “você parte da boa fé, parte de que algo está acontecendo. O que ocorre com o rumor atualmente? Ocorre que agora estão todos os meios e redes sociais que o retransmitem de forma massiva e imediata”.
Ou seja, “já não se trata de um rumor que o Fernando me disse, senão que através do Twitter foi passado a 2 milhões de pessoas simultaneamente”.
4) O que os meios de comunicação fazem?
Os meios, ressalta Suárez, “são os novos exércitos de sua nova guerra. Ou seja, já não são homens que vão combater corpo a corpo, homem com homem, mulher com mulher; não vão utilizar nem aviões, nem tanques, nem metralhadoras”.
Utilizam os meios de comunicação, as telecomunicações, as redes sociais, como parte de uma planificação. “São grupos que lançam rumores e grupos que criam situações, que reforçam a possibilidade de que seja veraz”, adiciona. “Você sempre vai ver, portanto, em um supermercado, em um banco, no metrô, numa barraquinha, gente que começa a contar-lhe uma história que pode estar fora de contexto, especialmente sobre algo emocional”.
Ambos psicólogos creem que não é fortuito que haja grupos que, em diversas regiões do país, estejam falando sobre os mesmos temas. “Chama a atenção a semelhança dos contos em diferentes cenários”, assim também “como se argumenta, como se começa por uma coisa e se termina no ponto alvo do momento; no caso dos supermercados, ao não encontrar alguma coisa”, assinala Giuliani. Há outros setores que, sem se darem conta, se convertem em cúmplices disso. “E sempre há alguém gravando o que acontece ali, que depois sai no You Tube ou na internet; ou seja, são situações que vão reforçar principalmente a emocionalidade que está sendo disseminada dentro da guerra psicológica”.
O modelo comunicacional com o qual se trabalha é o da incerteza, Suárez afirma. “Quer dizer, lançam uma notícia, e não importa se é verdade ou mentira. Assim como não importa quem a lançou, porque o importante é que nos gere dúvida, e a dúvida está associada ao fato de que você não sabe o que vai acontecer”.
5) O que se procura?
Essa incerteza que eles geram “destampa outras emoções como a angústia, o medo, o pânico, a raiva”, Suárez enumera. São sentimentos negativos “que, por um lado, são mais difíceis de eliminar, de combater, e que, por outro, são de muito maior força que os positivos. Então, ao criar sentimentos negativos de tal intensidade, as pessoas ficam em um momento a ponto de desespero, ou desesperadas”.
Ao levar a população a esse estado, “as pessoas estão dispostas a buscar qualquer coisa que lhes permita sair da situação”, o que as leva à confrontação e a empreender qualquer ação – inclusive violenta – para sair desse “grande caos”.
A psicóloga acrescenta que esse caos tem algo de certo a nível individual, porque “emocionalmente você está desestruturado”, mas na vida social essa desestruturação não é certa.
6) A guerra se acentuou com a morte do comandante Hugo Chávez?
“Totalmente”, responde Giuliani. Não obstante, o especialista se refere à campanha contra o comandante Hugo Chávez, que começou muito antes de que assumisse a primeira magistratura. Uma prova disso é o áudio truncado difundido em 1988, no qual, supostamente, o comandante ameaçava fritar as cabeças dos adecos, que posteriormente se descobriu que era uma montagem.
[Nota do Viomundo: "Adecos" de militantes da AD, o partido que já foi o principal da Venezuela]
O psicólogo identifica a persistência dos grupos de poder em manter “essa desinformação permanente”, e estima que isso “fez o seu trabalho”. Além do mais, alimentou “o temor ancestral que se teve aqui em relação à esquerda toda a vida, aqui e em toda a América Latina”. Os sentimentos que são atiçados “não nos predispõem ao encontro e nem ao diálogo”.
O psicólogo esclarece que é saudável sentir medo, mas alerta que, quando o manipulam de maneira prolongada, há um grande perigo. “Por que são perigosos? Porque são sentimentos e pensamentos que têm um alto conteúdo irracional. Não é porque seja produto de um louco; o que ocorre é que nós temos medos, e os medos não são tão fáceis de identificar. Temos medo de coisas difusas, perante o que o raciciocínio sereno, equilibrado, precisa atuar durante muito tempo para poder se contrapor”, refletiu.
Um dos problemas que ele identifica é que boa parte da população não crê que isto exista, e muito menos que haja gente organizada para preparar essas condições.
7) Quais são os alvos da guerra?
O alvo primordial, neste momento, é o chavismo, alerta Giuliani. “A morte do comandante Chávez abriu para a vanguarda dessa oposição direitista, e também para todos seus grupos aliados, a oportunidade de dividir o chavismo”. O que a guerra psicológica faz contra o chavismo? “Gera insegurança. Insegurança, com relação a quê? Da intencionalidade dos diferentes líderes, sobretudo o presidente Maduro; o sentido da união que tem o projeto chavista, o temor de que, morto Chávez, isto se acabou, porque foi esse o discurso que os opositores sempre faziam”.
Para isso, “estão se apoiando em uma coisa que é verdadeira, que é o forte impacto psicológico e afetivo que ocasionou a morte do comandante” e o luto posterior. A pergunta lógica de como dar continuidade à revolução “abre em você uma vulnerabilidade que faz você pensar em coisas que seguramente não havia pensado antes”.
– Por exemplo?
– A guerra psicológica faz você pensar que isto pode terminar, faz com que você questione se o Maduro poderá dar conta da presidência da República. Por exemplo, pode levar você a se perguntar: “Ele saberá governar como governava meu presidente Chávez? Ele saberá lidar com os problemas que o país tem?”

[No Brasil: Poucos se dão conta de que os escândalos de véspera de eleição são 'produzidos' para aquele momento e alimentam pesquisas que demonstram a influência dos escândalos 'produzidos' no eleitorado]
8) O objetivo é somente o povo chavista?
“O chavismo é o alvo fundamental, mas não é o único. E o que eles querem gerar aí? É a divisão a partir do temor, a partir da insegurança desde um ponto de vista mental. Mas o resto da gente que não apoia o projeto bolivariano continua sendo um alvo importante”, pontualiza Giuliani.
Quanto ao setor que não compartilha da revolução, a estratégia se dirige a tentar juntar as pessoas em torno do mesmo: Fazer-lhes crer que o chavismo “é o que de pior já conteceu no país, que é o mais corrupto, que são ineptos, que é uma gente inescrupulosa e capaz de fazer absolutamente qualquer coisa”.
Tal como ressalta Giuliani, “estão realmente e lamentavelmente convencidos de que efetivamente isto não serve absolutamente para nada”; estes rumores e o discurso persistente sempre apontam “o quão inepto o chavismo é; o inescrupuloso que o chavismo é; o corrupto que o chavismo é. E quando digo chavismo, esta guerra psicológica coloca a questão de tal maneira para que não haja exceções”.
Eles fecham para esses setores a possibilidade de pensar que há gente honesta e capaz no chavismo, e que o governo esteja fazendo algo de bom, expressa o psicólogo. “E como conseguem? Primeiro, pela persistência, porque vêm mantendo esse discurso por 14 anos; e segundo, pelo bombardeio permanente que não lhes dá oportunidade de refletir”.
9) Quais são os setores mais vulneráveis?
Nestes momentos, “os ataques se dirigem a todas as populações, com diferentes tipos de munições e mensagens”, expressa Suárez.
Em relação aos jovens, insistem em que eles não têm futuro, que devem ir embora do país. “Há uma matriz sistemática, que é a da fuga de cérebros para que a juventude sinta que, estude o que estudar, não tem esperança nem futuro na Venezuela”, comenta. Isso não afeta apenas aos jovens, mas também as famílias, porque entram em jogo o desenraizamento e os vínculos emocionais, assim como o temor “de que esses vínculos se rompam”.
Quanto às mulheres, pretendem difundir a ideia de que não podem garantir a alimentação de seu lar, que não são livres para comprar o que querem. “Isso tem a ver com o papel das donas de casa que não conseguem, que não podem se sustentar; que não podem ter a liberdade de fazer o que realmente querem fazer”.
Com os idosos, a estratégia é criar o pânico de que podem morrer, por exemplo, porque não vão ter seus remédios a tempo nos próximos meses.
“Estão manipulando os temores mais importantes de cada um dos setores”, manifesta. “Nos idosos, é o risco de morrer; nos jovens, o risco do futuro; na dona de casa, o de não ter o controle nem a possibilidade de dar, de compartilhar, de pertencer, de agrupar, de ter o que é preciso ter”. A fratura da convivência familiar, em consequência, afeta as crianças.
10) A história sobre a certidão de nascimento do presidente Maduro faz parte disto?
A história sobre a certidão de nascimento do chefe de Estado é um bom exemplo, assinala Giuliani. “Dizem que o presidente é colombiano, mas não têm como demonstrá-lo. O que eles querem gerar com isso? Eles querem gerar a dúvida na população em geral. Se a gente analisar friamente, isso não resiste à menor análise, porque quando o presidente foi inscrever sua candidatura no Conselho Nacional Eleitoral ele teve de levar sua certidão de nascimento. Porém, não há tempo para refletir sobre isso, porque as pessoas recebem essa informação, e o cérebro e os dispositivos sociais têm uma particularidade: tendem a completar a informação que não está completa. Todos fazemos isto”.
O analista recorre ao conto do telefone para exemplificar o que acontece: como, a partir do conto de uma vizinha que supostamente chegou tarde a seu apartamento, chega-se à história da vizinha que estava com outro homem e teve um problema na entrada de sua moradia.
“Como pessoa, eu começo a completar, mas sempre completo na via onde teve sua origem; se o rumor vem com algo negativo, eu o torno cada vez mais negativo. E, logo, acrescenta-se, à natureza do cérebro, uma peculiaridade que os circuitos sociais têm, a qual chamamos ‘pressão à inferência’; você está numa fila e talvez não está com vontade de falar, mas se as pessoas começam a falar, então você fala e também acrescenta; depois, você vai a um batizado e todo mundo começa a falar e dizer que há um problema com o abastecimento e que duas mulheres brigaram por um pacote de farinha de milho”.
O rumor, ele relata, “começa a ter vida própria”, embora careça de fundamentos. Em 14 de abril, ao término das eleições presidenciais, o candidato opositor Henrique Capriles disse que tinha outros números [da apuração], relembra Giuliani. “Mas, nunca mais voltou-se a falar disso, mas o dizer algo assim teve um grande poder, porque foi falado a um povo furioso que, além disso, vinha com a ideia de que o CNE [o TSE venezuelano] não servia”. Pouco importa se Capriles tinha ou não como provar o que disse; ele deixou a ideia correr e nunca a desmentiu.

[No Brasil: O "mas" é uma presença constante nas boas notícias econômicas]
11) Os rumores são submetidos à prova da realidade?
Não. “Nunca esta mídia, estes porta-vozes e esses rumores são submetidos à prova da realidade”, que é a contrastação entre o que se diz e o que ocorre de fato, lamenta Giuliani. Esclarece também que não é apenas uma guerra “muito bem planificada”, senão que “uma franca manipulação e uma mentira gritante”.
“Assim que, é muito fácil se eu disser: ‘eu tenho outros resultados’, como o Capriles fez, sendo que eu realmente não os tenho. No final, ninguém vai me pedir contas disso, e eu já o disse”.
O caldo de cultura vai sendo preparado desde meses e anos antes. “Se você o plantar hoje e começar hoje, ninguém vai acreditar, mas, depois de um ano de preparação sistemática do terreno, as pessoas vão acreditar em qualquer coisa”, afirma Suárez.
12) O que estão tentando criar contra o mandatário nacional?
Os responsáveis pela guerra psicológica “não apenas têm que dividir, ou fazer com que creiam que há divisões internas no chavismo, mas também rebaixar a credibilidade na liderança da revolução” e no próprio processo, analisa Suárez. Por isso, eles tentam apresentar o presidente Maduro como “mentiroso”, para que o povo não acredite no que ele apregoa. “Tudo aquilo que aponta ao que o presidente diz é mentira, eles vão trabalhar isto psicologicamente”. Há estratégias para isso, agrega: por exemplo, talvez não se diga nada sobre a insegurança, mas se o chefe de Estado falar hoje sobre o tema, amanhã “os meios de comunicação resenharão os atos mais violentos, mais horrendos e mais espantosos que a gente possa imaginar”.
Uma coisa é a realidade e outra é a percepção da realidade, argumentam.
– Qual é a percepção neste momento, neste contexto?
– Quando você vai no rumo da percepção da realidade é para criar, justamente, a ilusão do caos; a certeza de que há um caos.
– Qual é a percepção do país neste momento? Caótica?
– Caótica. Ou seja, aqui, agora mesmo – segundo essa percepção – há desabastecimento, há ineficiência, há descontrole. E eles vão estimular tudo aquilo que nos gere o descontrole.
– Há uma destruição planificada da imagem do presidente?
– Claro.
Ela existiu abertamente contra Chávez, descrevem os psicólogos. O líder bolivariano foi submetido à morte moral e usaram sua imagem para todo tipo de manipulação; prova disso é a gravação que circulou há algumas semanas com uma falsificação de sua voz.
Agora, os que estão por trás da guerra psicológica tomam o que o mandatário diz para desqualificá-lo imediatamente. Por exemplo, “se ele cria a Corpomiranda para poder amenizar todos os problemas de Miranda, no dia seguinte haverá uma manchete: ‘Isso vai ser a mesma ineficiência, a mesma burocracia, um meio de corrupção’. É uma reação imediata para que as pessoas assumam que tudo o que o presidente fizer será sempre um fracasso”.
Essa difamação permanente do líder pretende, também, que o povo chavista não se aglutine em torno de sua liderança; é por isso que lhe atribuem tudo de mal.
13) Que papel cumpre o uso de símbolos chavistas por parte do antichavismo?
Um dos objetivos é aumentar a confusão, enfatizam os psicólogos. Querem fazer crer que, perante a suposta incerteza do chavismo, existe a certeza de que a oposição tem algo melhor a oferecer.
Também, com o roubo de alguns símbolos, como o gorro tricolor, “estão querendo roubar, ou querendo apropriar-se de concepções” que uniram as grandes maiorias, como a pátria, a independência, os valores, a cultura. “Quando esses setores começam a apropriar-se ou querem apropriar-se de algumas coisas, voltam a desunir”. Os que dirigem a guerra “jogam muito com o marketing que aponta ao descrédito, à desqualificação dos líderes bolivarianos, e por, outro lado, ao posicionamento das lideranças do antichavismo”.
De acordo com Giuliani, “eles vêm jogando com a apropriação de alguns conceitos do bolivarianismo, do chavismo, do socialismo, da esquerda, para ir apressando e confundindo alguns setores”.
– Setores dentro do chavismo, não?
– Setores dentro do chavismo, setores que são indecisos.
14) Em que se evidencia o caos que tentam incutir na mente das pessoas?
“No tipo de conversa que as pessoas mantêm; nas conversas cotidianas entre as pessoas”, revela Giuliani. “As conversas estão repletas deste tipo de problemas que vão junto com interpretações. Ou seja, as pessoas não apenas dizem: ‘temos problemas de desabastecimento’, e sim ‘temos problemas de desabastecimento porque tal e tal e tal’. Aí se vê isto evidentemente”.
O psicólogo explica que, adicionalmente, isto vai acompanhado de verbalizações irracionais, sem uma análise certeira do que as pessoas realmente vivem. Outro exemplo: “Você vai todos os dias a qualquer lugar e é atendido com carinho, porém, um dia você foi mal atendido por uma pessoa em um desses espaços e a coisa se converte em que ‘todo mundo está angustiado, todo mundo está com raiva’, embora não seja certo”.
Fundamenta-se também na “visão muito parcial que por muito tempo a classe média teve, que vem negando-se sistematicamente a reconhecer que há outros espaços do país e sente que o mundo pode estar muito circunscrito” a seu entorno; nesse entorno não cabem as pessoas que pensam diferente.
Em sua análise, o psicólogo não deixa de lado os preconceitos. “Se você é uma pessoa que sempre pensou que os pobres são indolentes, que os pobres são indisciplinados, que os pobres devem ser arreiados, que os pobres se encantam com qualquer um porque não têm cabeça”, e a matriz de opinião contra a revolução sustenta que Chávez é “um encantador de serpentes”, seguramente você vai acreditar. “Em sua cabeça, em consequência, não cabe o conceito de um povo organizado”.
15) Quais são as armas que a guerra psicológica utiliza?
Giuliani cita um modelo em psicologia social “que tem a ver com a influência social” e que determina “o que você deve fazer para influenciar quando você tem uma opção que não é majoritária”. Ele cita vários elementos: “Você tem que ser insistente e persistente; tem que estar o tempo todo dizendo a mesma coisa; tem que ser conssitente com o que diz e tem que ser resistente frente à prova da realidade; quer dizer, se lhe exigirem que dê provas disso, descaradamente mude de assunto e continue falando. Isso se chama resistência psicológica, ou o que em termos coloquiais alguém definiria como ‘um tipo muito descarado’”.
Qual é o efeito que causa? “Essas três coisas combinadas abrem em você uma brecha de dúvidas” pela qual pode penetrar todo o resto, alerta.
Este modelo não é mau per se. O psicólogo assinala que pode ser usado para mudar a visão da população sobre transplantes de órgãos, por exemplo, a fim de aumentar a doação e ajudar a salvar vidas.

[No Brasil: O mercado é confundido com a opinião pública. "Especialistas" espalham rumores como o do racionamento de energia elétrica sem compromisso com a verdade factual. É a guerra das expectativas!]
16) Em que momento a guerra psicológica se converte em uma guerra física?
R. A vanguarda do antichavismo pretende que seja assim, adverte Fernando Giuliani, que cita o que ocorreu em 11 de abril de 2002 em Ponte Llaguno, com um massacre montado para tentar justificar o golpe de Estado contra o camandante Hugo Chávez, e soma a isso a marcha convocada pelo antichavismo para 17 de abril deste ano ao Conselho Nacional Eleitoral. Essa mobilização, proibida pelo mandatário nacional, podia ter concluído em um enfrentamento de povo contra povo: “O que se procurava aí é que se produzisse uma confrontação”, porém, felizmente, o chefe de Estado impediu que o protesto se efetuasse.
“Basta que haja uma confrontação aqui” para promover a ocupação do país por parte de forças externas, argumenta. Ele recorda o ocorrido no Chile em 1973, quando a direção das Forças Armadas decidiu dar um golpe de Estado contra o governo constitucional para pôr fim ao suposto caos criado pela direita. “No Chile geraram uma necessidade de mudança” que querem repetir na Venezuela, afirmou.
17) Qual é o objetivo final da guerra psicológica?
Difundir na população a “necessidade de mudança”, e que a maioria das pessoas pense que qualquer coisa é melhor do que “a desordem” em que elas supostamente vivem. Daí à derrota do governo nacional seria um passo, segundo creem seus promotores.
Espera-se “voltar a uma normalidade que não é real: é a normalidade dos valores da burguesia, é a normalidade dos valores e a naturalidade do sistema capitalista, ou do imperialismo”, acusa Suárez.
18) A guerra psicológica é infalível?
Não, responde Giuliani. Há muita gente, especialmente no chavismo, que “pouco a pouco vai recuperando uma capacidade de leitura crítica, e isso não deve ser subestimado”, porque a guerra psicológica “não é infalível”.
O psicólogo relembra que entre 2001 e 2002 o povo foi submetido a uma grande pressão por parte destes setores, que incluiu a ressurreição da operação Peter Pan (o ‘regime’ se apropriaria de filhas e filhos e as famílias deveriam levá-los para o exterior). Suárez aponta que em algumas zonas de Caracas chegou-se ao ponto – entre os anos 2002 e 2005 – de guardar óleo fervendo para lançar contra “os chavistas”, assim como gelo pronto no congelador para o mesmo fim. “A crise foi muito forte desde o ponto de vista emocional e o povo resistiu com uma leitura crítica e, claro, tendo muito claro para onde deveria ir”.
Por isso, “se há um povo que deu exemplo ao mundo de resistência frente à guerra psicológica e à mídia é o venezuelano”, reivindica Giuliani, porque quando Chávez nasceu como candidato não teve mídia a seu favor: “Foi submetido à campanha mais louca e feroz que já houve na história de nossas eleições, e ganhou”.

[No Brasil: A direita dissemina mentiras óbvias, como a relação do PT, um partido social democrata, com o 'comunismo', como forma de despertar ódio social]
19) Qual é o antídoto contra a guerra psicológica?
A consciência política do povo creceu muito, asseveram os especialistas. “Houve uma história muito recente e muito próxima, com uns critérios de identificação plena com um líder” que permite pôr em dúvida o que os meios de comunicação e a campanha da direita sustentam.
Entretanto, afirmou Suárez, a vulnerabilidade aumenta quando a população não tem , se é que cabe o termo, as “antenas” preparadas para captar que há algo irregular, como ocorre nas histórias das telenovelas.
“Na novela, eles não vão manejar notícias diretas, senão que símbolos imaginários. Ou seja, se, em todas as novelas ou em todas as séries que nós vemos, o medo começa a ser manejado, a incerteza começa a ser manejada, o desespero, a injustiça, a gente fica com essa emoção” que você sente quando vai a um supermercado e falta leite, descreve.
20) Como as pessoas podem proteger-se da guerra psicológica?
“A ferramenta primordial para as pessoas se protegerem é a organização”, respondem ao uníssono. Isto implica, entre outras ações, “a criação das brigadas antirrumores, que nos permitam constatar a veracidade da informação”, propõem.
O Estado deve garantir informação veraz de maneira sistemática, destacam, porque, do contrário, as mentiras se impõem. Neste sentido, também consideram importante punir aqueles que tenham gerado caos com as supostas “informações”.
Para Giuliani e Suárez, é fundamental que haja “uma altíssima coesão dentro de todo o povo chavista organizado, porque esse é o alvo primordial ao qual estão apontando”. Ambos insistem em que cada um pode continuar com seu pensamento e ideologia, se assim o estimar pertinente, mas remarcam que não por ser de oposição deve-se perder o sentido crítico ante a realidade.
PS do Viomundo: É a guerra de quarta geração, que o Pentágono tem desenvolvido com tanta eficiência. A direita, que controla os meios, tem aplicado isso com destreza. Nos Estados Unidos, Obama era muçulmano e não nasceu nos Estados Unidos — uma falsa polêmica na qual a Fox News mergulhou de cabeça com o objetivo de disseminar os rumores. No Brasil, Lula e Dilma vivem “brigando” na mídia e o filho do ex-presidente é um milionário dono de uma imensa fazenda — identificada posteriormente como a sede da escola de agronomia de Piracicaba. Em 2006, quando eu era repórter da Globo em São Paulo, uma jornalista especializada em economia dizia que o dólar ia disparar para 4 reais. Ela apenas repetia as baboseiras que ouvia no “mercado”. É a guerra das falsas expectativas. O dólar nunca chegou perto dos 4 reais e ela foi promovida a correspondente internacional!

http://www.viomundo.com.br/denuncias/guerra-emocional-os-misseis-da-midia-que-criam-inseguranca-na-venezuela-e-no-brasil.html

sábado, março 29, 2014

O Cafezinho - A ditadura que ainda não vencemos!

A ditadura que ainda não vencemos!

29/03/2014 – 12:38 pm | comentários
Ainda não estamos preparados para enfrentar o passado. Até mesmo alguns “ex-guerrilheiros” me parecem às vezes mais preocupados em fazer auto-críticas do que em contribuir para uma reflexão moral e política sobre o que significou …
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Operação ditabranda a todo vapor

29/03/2014 – 8:04 am | comentários
São todos muito espertos, muito astutos, muito inteligentes. Os donos do dinheiro sabem escolher a dedo aqueles que merecem espaços em seus jornais.
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Petrobrás, chegou a hora de usar o blog!

29/03/2014 – 7:25 pm | comentários

O Cafezinho obteve mais documentos inéditos que ajudam a explicar um pouco essa confusão sobre Pasadena. Leia a história completa »
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PSDB contratou no início deste ano 9 mil pessoas para atuar nas redes sociais


As vezes a gente vê tanto ódio na Internet que chega a pensar que a extrema direita tomou conta das pessoas. Não é bem assim. Lembre-se que essa é a turma da grana e tem financiamento de sobra. Só o PSDB contratou no início deste ano 9 mil pessoas para atuar nas redes sociais. E antes, no julgamento do mensalão, conseguiram a proeza de botar o #‎NaoAosEmbargosInfringentes nos trend topics do mundo. Todas as postagens chamavam para um vídeo#‎OperaçãoBrasilSemPT. Era a rede se mobilizando espontaneamente? Era o povo revoltado com a robalheira? Que nada, era um robô, pago com muita grana.

Veja no Estadão:
http://goo.gl/NV3m6G

Decisão sobre Azeredo desmascara AP 470



O Supremo Tribunal Federal deliberou, por 8 votos a 1, pela remessa do processo contra o ex-deputado Eduardo Azeredo à primeira instância, nas montanhas de sua Minas Gerais, onde responderá pelo mensalão tucano.

Tal resolução, a bem da verdade, guarda coerência com outra, tomada há algumas semanas, que estabeleceu desmembramento de processos que envolvam cidadãos com e sem foro privilegiado, ainda quando partilhando a mesma denúncia penal. Aqueles que não possuírem alçada federal, serão remetidos para o pé da pirâmide judicial, com direito a dois ou até três graus de apelação.

Pode-se especular que o ex-presidente do PSDB renunciou ao mandato parlamentar por razões maliciosas, apenas para ganhar tempo e aumentar as chances de prescrição para eventuais crimes, além de buscar a tranquilidade de uma comarca na qual exerça maior influência. Mas não há qualquer dúvida que a atitude tomada por Azeredo, trocando sua cadeira na Câmara por maior segurança jurídica, está protegida por direitos constitucionais. Como reconheceu, aliás, a própria corte suprema.

Talvez seja pertinente a crítica moral. Ao contrário de José Dirceu, que recusou abdicar do parlamento para escapar da cassação, preferindo o combate político ao cálculo de oportunidades, o outrora governador mineiro resolveu escapar pela porta dos fundos. Não é bonito, tampouco ilegal. Dirceu tem obrigação histórica e biográfica de ser como é. Azeredo contou com a possibilidade regulamentar de agir como o fez.

O mais relevante, no entanto, está na jurisprudência que acarretam as novas deliberações do STF. Depois de revisado o crime de quadrilha, caiu a segunda das quatro pilastras sobre as quais se ancorou a AP 470, qual seja, a unificação de todas as denúncias em um só processo na corte suprema quando qualquer dos réus goza de foro privilegiado. Quando foi analisado o caso contra os petistas, apenas três dos 39 acusados eram parlamentares nacionais, mas todos foram conduzidos a julgamento em instância única.

Este procedimento, considerado fundamental para as condições de espetáculo e resultado contra Dirceu e companheiros, foi devidamente arquivado depois de ajudar o relator Joaquim Barbosa a alcançar seus objetivos. Não é à toa que o único voto contra Azeredo tenha sido o do atual presidente do STF, possivelmente pouco à vontade em corroborar, com sua própria incoerência, o caráter de exceção do encaminhamento anterior.

A mudança de critérios, de toda forma, desmascara parte dos métodos arbitrários do processo precedente, que também se encontram sob acosso da Corte Interamericana de Direitos Humanos, reiteradamente exigindo que todos os signatários do Pacto de San Jose ofereçam julgamento recursal em ações penais, mesmo quando os réus são enquadrados na instância superior do sistema judiciário.

Com o tempo, não irá restar pedra sobre pedra das armações que determinaram a AP 470, cujas operações foram tecidas sob medida, para ocasião única, na alfaiataria dirigida pelo ministro Barbosa. Ainda restam outras duas colunas: o domínio do fato como teoria que dispensa provas materiais concretas para condenação e o fatiamento do suposto crime de suborno em diversos delitos independentes, com a meta de garantir a devida exacerbação penal. Tampouco essas aberrações sobreviverão à via constitucional que o STF está obrigado a retomar.

Quando a normalidade jurídica estiver plenamente recuperada, porém, a corte suprema terá que resolver um dos maiores dilemas de sua história. Como irá corrigir as injustiças e desmandos que levaram à cadeia líderes históricos do PT? Quem irá pagar a conta do circo judicial e midiático montado com a única finalidade de degolá-los por crimes que jamais cometeram?



* Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi

STF fez um imenso favor ao PSDB e deu um péssimo exemplo ao país


O Supremo Tribunal Federal fez um imenso favor ao PSDB. Livrou Eduardo Azeredo, do PSDB-MG, de responder, perante o STF, pelos crimes de que é acusado, no chamado “mensalão tucano”. 


** Por Antonio Lassance



Alívio para o réu e seu candidato, Aécio Neves. Eles podem comemorar, quem sabe, com um vinho da mesma marca que Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg apostaram, na CBN, em tom de chacota, para se enebriar com a prisão dos petistas. “Tim-tim”! Um brinde aos dois pesos e duas medidas.

Comparada à fúria com que tratou os petistas na Ação Penal 470, a sessão que tirou Azeredo da reta do Supremo marcou a volta da tranquilidade e da troca de gentilezas às quais a Suprema Corte já parecia desacostumada.

Ninguém bateu boca, ninguém insultou ninguém. Nada como um julgamento de tucano para que os ministros do STF demonstrem que todos estão entre amigos, e o quanto suas excelências são homens cordiais, e não chefes de capangas. Águas passadas, pelo menos, até que apareça outro petista na reta.

Em ano eleitoral, a decisão vale ouro. O STF aliviou para Azeredo, que viu seu processo voltar à estaca zero. Agora, vai responder perante um juiz de primeira instância. Depois, poderá recorrer indefinidamente, até ver sua ação retornar, mais uma vez, ao Supremo.

Quando isso acontecer, muitos dos atuais ministros não mais estarão por lá. Os remanescentes, com mais cabelos brancos, ou cabelo algum, terão que reavivar a memória ou fazer um Google para relembrar quem é Azeredo e o que disseram a seu respeito.
Aécio e o PSDB, ao contrário do que aconteceu com o PT, enfrentarão as urnas sem um condenado enclausurado para ser utilizado pela campanha adversária. Melhor, impossível.

Péssimo exemplo para a Justiça brasileira

O inquérito e a ação penal contra Azeredo tornaram-se um péssimo exemplo para a Justiça brasileira. Para quem dizia que a AP 470 era um divisor de águas, a ação penal contra Eduardo Azeredo foi uma ducha de água fria.

As denúncias contra o tucano vieram à tona no mesmo ano de 2005 e pelo mesmo Marcos
Valério, pivô do escândalo contra os petistas. Tudo na mesma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, a CPMI “dos Correios”.

Por alguma razão misteriosa, enquanto a PGR autuou o inquérito contra os petistas em 2007, o de Azeredo só foi providencialmente enviado em 2009.
Agora é tarde para julgar Azeredo

O então Procurador, Roberto Gurgel, demorou quatro anos para constatar o óbvio: que o mensalão tucano “retrata a mesma estrutura operacional” e “envolve basicamente as mesmas empresas do grupo de Marcos Valério e o mesmo grupo financeiro (Banco Rural)” que estavam presentes na AP 470. Quatro anos para se chegar a essa conclusão banal merecem um sorvete na testa.

A única diferença substancial entre os dois escândalos era justamente o tempo. As acusações contra Azeredo eram do século passado. Se referiam à sua campanha a governador em 1998.
Tivesse Gurgel dado prioridade à acusação mais antiga, os principais crimes de que Azeredo é acusado não estariam prescritos.

No STF, o inquérito contra Azeredo virou a Ação Penal 536. Seu primeiro relator foi ninguém menos que Joaquim Barbosa.

Barbosa, sem alarde, sem esbravejar, declarou Azeredo livre do crime de formação de quadrilha “até mesmo porque já estaria prescrito pela pena em abstrato”, disse no voto em que se desmembrou aquele processo.

Azeredo também está livre de ser julgado por corrupção ativa e corrupção passiva. Tudo prescrito, graças à demora da Procuradoria e ao “cochilo” do STF.

Contra o tucano, ninguém gritou pela urgência dos prazos, ao contrário do que fez Gilmar Mendes com Joaquim Barbosa, publicamente acusado de demorar demais a trazer os petistas a julgamento.

Sobre Azeredo, apareceu um Joaquim Barbosa de cabeça baixa e discurso modorrento, que esboçou uma desavença meramente protocolar com a decisão de tirar do Supremo o julgamento desse acusado.

Barbosa, mais uma vez, jogou para a plateia, sem antes sonegar um fato tão concreto quanto seu apartamento em Miami: o julgamento de Azeredo, seja onde for, não levará a nada.

A impunidade já está sacramentada, em grande medida, com o festival de prescrições que o ex-Procurador e o Supremo lhe deram de presente. Belo trabalho.

Critério claro e cristalino

Foi uma tarde triste para o Supremo, mas Joaquim Barbosa sequer se deu ao trabalho de franzir a testa. Nem gastou sua saliva para cuspir uma única diatribe.

De maneira patética, a maior parte da sessão que livrou Azeredo foi gasta com a tentativa de se dizer que haverá algum critério para novos julgamentos em que acusados renunciem a seus mandatos. Critério?

Marco Aurélio Mello foi o primeiro a reagir que não se pode obrigar os ministros do Supremo a decidirem sempre do mesmo jeito.

Luís Roberto Barroso pediu, encarecidamente, a compreensão de todos para se dar uma resposta à opinião pública. Como explicar que se julgou os petistas de um jeito, e os tucanos, de outro? Como evitar que isso seja considerado um casuísmo? Impossível. Casuísmo feito, casuísmo é.

Resultado? A sessão acabou sem se definir critério algum. Para contribuir com a discussão, Joaquim Barbosa reclamou que estava atrasado para um evento.

Assim sendo, o único e verdadeiro critério já está claríssimo. Só não vê quem não quer. Para ser condenado, o réu tem que ser filiado ao PT, de preferência, ou ter sido apoiador de algum de seus governos.

Enquanto isso, os tucanos colecionaram mais um caso em que foram acusados de inúmeros crimes, mas tudo ficou por isso mesmo.

*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

sexta-feira, março 28, 2014

Entre a justiça e a farsa

Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. 

Depois da vitória correta de Azeredo no STF cabe perguntar por que os réus da AP 470 não tiveram o mesmo direito

Ao decidir, por 8 votos a 1, que Eduardo Azeredo deve ser julgado em Minas Gerais pelas denúncias ligadas ao mensalão tucano, o Supremo fez a opção correta entre a farsa e a justiça.

A farsa, como se sabe, consistia em negar a Azeredo o direito de ser julgado em primeira instancia – e depois pedir um segundo julgamento em caso de condenação, como a lei assegura a todo cidadão sem prerrogativa de foro – apenas para manter um teatrinho coerente com a AP 470.

Eduardo Azeredo teve seu direito reconhecido pacificamente, por 8 votos 1, placar tão folgado que desta vez não se ouvirá o coralzinho de quem culpa os “dois ministros da Dilma” por qualquer resultado que não lhe agrada.

 Em nome da mitologia em torno do “maior julgamento da história” se poderia querer repetir uma injustiça por toda a história.

 Assim: já que nenhum réu ligado ao PT teve direito a um julgamento em primeira instância, o que permite a todo condenado entrar com um recurso para obter um segundo julgamento, era preciso dar o mesmo tratamento a pelo menos um dos réus ligados ao PSDB.

 Para esconder um erro, era preciso cometer um segundo – quando todo mundo sabe que isso não produz um acerto, mas apenas dois erros.

 Com decisão de ontem ficou um pouquinho mais fácil reconhecer um fato que já é reconhecido por um número crescente de estudiosos, de que a AP 470 foi resolvida como um julgamento de exceção.

 Nas fases iniciais das duas ações penais, não custa lembrar, o STF deu sentenças diferentes para situações iguais, o que sempre pareceu escandaloso.

Desmembrou o julgamento dos tucanos. Apenas réus com mandato parlamentar – Azeredo e o senador Clésio Andrade – ficaram no Supremo.

 O mesmo tribunal, no entanto, fez o contrário na AP 470. Todos – parlamentares ou não -- foram julgados num processo único, num tribunal único.

 Mesmo quem não tinha mandato parlamentar foi mantido no STF, onde as decisões não têm direito a recurso e, apenas em casos muito especiais, é possível, entrar com os embargos infringentes.

Mesmo assim, na AP 470 havia até o risco, como se viu, de negar embargos, não é mesmo?

 Ao decidir que o ex-deputado mineiro deve ser julgado nas regras que a  Constituição e a jurisprudência  sempre asseguraram  a todos os réus em situação semelhante – a única exceção foi o notório Natan Donadon, com  várias particularidades – o STF  coloca outro debate em questão.

 Se Eduardo Azeredo terá direito – corretamente -- a um segundo julgamento, caso venha a ser condenado, por que os réus da AP 470 não podem fazer o mesmo?


Essa é a pergunta, desde ontem. Se os réus da AP 470 não tiveram direito a um novo julgamento -- seja através de uma revisão criminal, seja na Corte Interamericana de Direitos Humanos -- teremos a confirmação da farsa dentro da farsa, a exceção dentro da exceção. Tudo para os amigos, nem a lei para os adversários.