quarta-feira, abril 30, 2008

QUE NEGÓCIO É ESTE?!


A agenda SECRETA, mas chamada de "pública", das discussões sobre 'comunicação', no Brasil-2008.
QUE NEGÓCIO É ESTE?!

Por que o ACM-filho está lá... e eu-euzinha não estou?!

Por acaso -- e porque só a luta ensina -- estamos descobrindo que há uma AGENDA TOTALMENTE SECRETA, no Senado e na Câmara de Deputados, em que se discutem (ou alguns grupos FINGEM que discutem) as questões da dita 'comunicação', no Brasil.

São ditas "audiências públicas", mas, dado que a divulgação é DES-divulgação, divulgação apenas formal, de faz de conta, E NENHUM JORNAL OU TELEVISÃO DIVULGA... não há nem cheiro de participação dos consumidores da tal de 'comunicação', nestas discussões.

Ontem, descobrimos -- porque só a luta ensina -- que, ontem, houve uma conferência sobre liberdade de imprensa, na Câmara de Deputados, em que se reuniram todos os agentes mais ativos da TOTAL AUSÊNCIA de liberdade democrática de imprensa democrática no Brasil.

Hoje, estamos descobrindo que haverá amanhã, uma AUDIÊNCIA PÚBLICA, cujos detalhes se lêem aqui, abaixo.
É evidentemente MAIS UMA AUDIÊNCIA SECRETA, da qual a sociedade brasileira NÃO É INFORMADA, para discutir assunto que, sim, lhe diz respeito diretamente.

Dado que perguntar não ofende, eu só queria saber o seguinte:

-- CADÊ os jornais e o jornalismo que, evidentemente, DEVEM SER OBRIGADOS A DIVULGAR TUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUDO que tenha a ver com COMUNICAÇÃO SOCIAL, no Brasil?

-- Cadê, por falar nisto, o MINISTÉRIO da comunicação social?!

-- POR QUE, diabos, um "diretor executivo da Associação dos Diários do Interior do Brasil" falará lá, ao lado do ministro da comunicação social do Brasil... MAS NEM O MINISTRO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL DO BRASIL deu-se o trabalho de pagar um anúncio, na TV Globo (que fosse!) para COMUNICAR AO BRASIL que esta audiência SECRETA, mas chamada de "pública"... acontecerá AMANHÃ?!

-- E os deputados e senadores dos partidos do campo democrático... ESTÃO FAZENDO O QUÊ, EM BRASÍLIA, que não informam sobre estas audiências, SEQUER AOS PRÓPRIOS PARTIDOS?!
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Da pág. "De olho em Brasília" ("Informativo semanal com as agendas do Executivo e Legislativo Federal, n. 351 - 29 de abril a 4 de maio de 2008, distribuída por lista, hoje, 30/4)
MÍDIA REGIONAL – A Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) promove debate sobre políticas públicas de fortalecimento dos veículos de comunicação regionais, em audiência pública nessa quarta-feira, dia 30, às 9 horas, na sala 13 da ala Alexandre Costa. Estão convidados Franklin Martins (titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), o deputado federal Cláudio Vignatti (presidente da Frente Parlamentar de Apoio e Fortalecimento da Mídia Regional) e Adriano Kalil Escada (diretor-executivo da Associação dos Diários do Interior do Brasil). A Agência Senado divulgou nota sobre a audiência.

ATENÇÃO: Quem olhar a foto que acompanha a nota abaixo, que está na página do Senado [aqui, adiante, cortada-colada], verá que o terceiro aí desta mesa é o FILHO de ACM, que herdou o lugar de senador do pai que morreu (pelo menos isto!), TANTO QUANTO HERDOU uma televisão 'regional'... uma destas que o Senado visa a "fortalecer", nesta audiência secreta, mas dita "pública".
QUE NEGÓCIO É ESTE?!

A foto está em http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=74233&codAplicativo=2]
NOTA DO SENADO, publicada dia 25/4/2008, em http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=74233&codAplicativo=2 -- e que NENHUM JORNAL OU TELEVISÃO PUBLICOU:
A Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) realiza nesta quarta-feira (30) audiência pública, requerida pelo senador Flávio Arns (PT-PR), para um debate sobre os veículos de comunicação regionais do país. Para o senador, compete ao poder público buscar fortalecer as mídias regionais brasileiras com políticas públicas de incentivo bem consolidadas.
Ao justificar o requerimento, Flávio Arns destaca que as mídias regionais prestam um relevante serviço para a sociedade brasileira, veiculando informação e difundindo a cultura regional nas localidades mais afastadas dos grandes centros, além de desempenhar importante missão de utilidade pública.
"É por meio de jornais e rádios interioranos que os cidadãos brasileiros que residem em regiões mais afastadas acompanham o desenrolar dos fatos mais relevantes acontecidos no país", completa o autor do requerimento.
Para a reunião, foram convidados o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Franklin de Souza Martins; o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar em Apoio e Fortalecimento da Mídia Regional, Cláudio Antônio Vignatti (PT-SC); e o diretor-executivo da Associação dos Diários do Interior do Brasil (ADI), Adriano da Fonseca Kalil Escada.

A CCT se reunirá às 9h, na sala 13 da Ala Alexandra Costa. [Da Redação / Agência Senado]
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Solidariedade é minha palavra preferida


“O jovem de hoje não lê nada. Só livros sobre suas carreiras. Eles crescem na profissão, na carreira, mas vivem alheios ao que acontece no mundo. A vida é mais importante que isso. Sigo lutando para que os jovens tomem conhecimento desse mundo estranho. O mundo é injusto demais, mas o partido me deu o prazer de aprender a ajudar os outros. Solidariedade é minha palavra preferida. Ela é que está faltando aos jovens".
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Oscar Niemeyer, arquiteto centenário, na celebração dos 45 anos da Coordenadoria de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

segunda-feira, abril 28, 2008

FILHA ARROMBA CASA DA MÃE, para arrancar cofre da parede do quarto


É verdade que o DES-jornalismo que desgraça o Brasil-2008 é agente muito ativo do emburrecimento do Brasil. Isto é FATO.
O Brasil produz O PIOR JORNALISMO DO MUNDO e ainda não sabe criticar o jornalismo que se faz aqui, de fato, o DES-jornalismo que se vende a cidadãos-consumidores que, no Brasil, são necessariamente ELEITORES.
A universidade brasileira -- de fato, também, a DES-universidade brasileira -- não sabe criticar o DES-jornalismo (ou, se sabe, não critica porque não quer). DES-jornalistas acobertam DES-jornalistas e o DES-jornalismo de todos. E é verdade, sim, que a morte de uma criança é horrível. Mas o PÉSSIMO, em matéria de DES-jornalismo, sempre pode ser pior do que parece.
Enquanto o DES-jornalismo que temos re-assassina uma desgraçada criança, ao vivo e em cores, em pleno domingo -- e detalhadamente ENSINA os brasileiros a jogar crianças pela janela, o mesmo DES-jornalismo OCULTA ativamente outro crime, também horrendo.
A televisão -- sobretudo a fascinorosa Rede Globo -- TEM PARTICIPAÇÃO MUITO ATIVA no processo de brutalização, emburrecimento e desdemocratização da sociedade brasileira: afinal, o crime horrendo de que são autores várias figuras importantes de uma das principais famílias donas, feudatárias, tanto dos jornais e televisões quanto dos partidos de oposição AO MEU VOTO DEMOCRÁTICO, afinal de contas, apareceu, pelo menos, no DES-jornalismo impresso.
Mas, ocupada em ensinar o Brasil a jogar crianças pela janela, com infográficos e imagens detalhadas, como espécie de manual de ensinar a jogar crianças pela janela, a TELEVISÃO BRASILEIRA CUIDADOSAMENTE APAGOU das telas os crimes dos pefelistas e respectivos herdeiros, senadores-filhos e deputados-netos tucanos-pefelistas-udenistas golpistas.
Quem ainda tiver dúvidas sobre o quanto a Rede Globo DES-noticia, e inventa notícia-espetáculo, pra ocultar QUALQUER TIPO DE INFORMAÇÃO que desmascare os crimes da tucanaria-pefelista-uspeana, veja aí. O texto é dispensável -- porque NEM VALE A PENA ESPERAR que vá a fundo nesta investigação e ofereça algum tipo de 'reconstituição' do crime: para VER o quanto a Rede Globo DES-informa, basta ver a capa desta revista, que aí vai.

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domingo, abril 27, 2008

Venha e veja, venha...


O colapso financeiro dos EUA acabará com a Guerra do Iraque
– E não serão os EUA a escolher o momento

por Mike Whitney

"Venha e veja nossas morgues transbordantes e descubra nossos pequeninos...
Poderá encontrá-los neste ou naquele canto, uma pequena mão espetada, a apontar para si...
Venha e procure por eles no entulho dos raids aéreos "cirúrgicos", poderá encontrar uma pequena perna ou uma pequena cabeça... a pedir sua atenção.
Venha e veja-os amontoados em montes de lixo, a catar restos de comida...
Venha e veja, venha..."

"Flying Kites", Layla Anwar

Os militares americanos venceram todas as batalhas que combateram, mas perderam a guerra.

As guerra são vencidas politicamente, não militarmente. Bush não entende isto. Ele ainda mantém a crença de que uma colonização política pode ser imposta pela força. Mas está errado. A utilização de força esmagadora só espalha a violência e aumenta a instabilidade política. Agora o Iraque é ingovernável. Era este o objectivo? Quilómetros de muralhas de betão a prova de dinamite agora serpenteiam Bagdad para separar as partes combatentes; o país está fragmentado em uma centena de pedaços mais pequenos, cada um deles dominado por comandantes da milícia local. Trata-se de sinais de fracasso, não de êxito. Eis porque o povo americano já não pode apoiar a ocupação. Ele está a ser prático, sabe que o plano de Bush não funcionará. Como disse Nir Rosen, "o Iraque tornou-se a Somália".

A administração ainda apoia o presidente iraquiano Nouri al Malik, mas al-Maliki é uma figura de proa sem significado que não terá qualquer efeito sobre o futuro do país. Ele não tem base popular de apoio e nada controla para além das muralhas da Zona Verde. O governo al-Maliki é meramente uma fachada árabe concebida para convencer o povo americano de que está a ser feito algum progresso político, mas não há progresso. É uma simulação. O futuro está nas mãos dos homens com armas; foram eles que dividiram o Iraque em feudos controlados localmente e são eles que acabarão por decidir quem dirige o Estado. No momento, o combate entre facções está a ser descrito como "guerra sectária", mas a expressão é intencionalmente enganadora. O combate é de natureza política; as várias milícias estão a competir umas com as outras para ver quem preencherá o vácuo deixado pela remoção de Saddam. É uma luta pelo poder. Os media gostam de retratar o conflito como um choque entre árabes semi-loucos – "nostálgicos desesperados (dead-enders) e terroristas" – que gostam da ideia de matar seus compatriotas, mas isso é apenas um meio de demonizar o inimigo. Na verdade, a violência é inteiramente racional; é a reacção inevitável à dissolução do Estado e à ocupação por tropas estrangeiras. Muitos peritos militares previram que haveria erupções de combates após a invasão inicial, mas as suas advertências foram ignoradas por políticos despistados e os media coniventes. Agora a violência deflagrou outra vez em Bassorá e Bagda, e não há fim à vista. Só uma coisa parece certa, é que o futuro do Iraque não será decidido na urna eleitoral. Bush garantiu isto.

Os militares estado-unidenses não dominam o Iraque nem têm o poder para controlar acontecimentos no terreno. Eles são apenas uma das muitas milícias que competem pelo poder num Estado que é dirigido pelos senhores da guerra. Depois de o exército efectuar operações de combate ele é forçado a retirar-se para os seus campos e as suas bases. Este ponde precisa ser enfatizado a fim de entender que não há futuro real para a ocupação. Os EUA simplesmente não têm a mão-de-obra para manter o território ou estabelecer segurança. De facto, a presença de tropas americanas incita à violência porque elas são encaradas como forças de ocupação, não como libertadores. Inquéritos mostram que a vasta maioria do povo iraquiano quer as tropas americanas saiam. Os militares destruíram demasiado do país e sacrificaram demasiadas pessoas para esperar que estas atitudes venham a alterar-se em qualquer momento próximo. A poetisa e bloguista iraquiana Layla Anwar resumiu os sentimentos de muitas das vítimas de guerra num post recente no seu sítio web An Arab Woman Blues - Reflections in a sealed bottle... .
"Às portas da Babilónia a grande, você ainda está a lutar, a combater, perseguir este ou aquele, deter, bombardear do alto, preencher morgues, hospitais, cemitérios e embaixadas e fronteiras com filas para vistos de saída.
"Nenhum iraquiano deseja sua presença. Nenhum iraquiano aceita sua ocupação.
"Levem a notícia aos FDPs, vocês nunca controlarão o Iraque, nem em seis anos, nem em dez anos, nem em 20 anos... Vocês trouxeram sobre si próprios o ódio e a maldição de todos os iraquianos, dos árabes e do resto do mundo... agora enfrentem a vossa agonia". (Layla Anwar; "An Arab Woman's Blues: Reflections in a sealed bottle")
Será que Bush espera mudar a mente de Layla ou dos milhões de outros iraquianos que perderam seus seres queridos ou foram forçados ao exílio ou viram o seu país e a sua cultura esmagados debaixo da bota da ocupação estrangeira? A campanha pelos corações e mentes está perdida. Os EUA nunca serão bem vindos no Iraque.

De acordo com um inquérito publicado na revista médica britânica Lancet, mais de um milhão de iraquianos foram mortos na guerra. Outros quatro milhões foram deslocados internamente ou abandonaram o país. Mas os números nada nos dizem acerca da magnitude do desastre que Bush provocou ao atacar o Iraque. A invasão é a maior catástrofe humana no Médio Oriente desde a Nabka em 1948. Os padrões de vida declinaram abruptamente em toda a área – mortalidade infantil, água limpa, alimentação, segurança, fornecimentos médicos, educação, energia eléctrica, emprego, etc. Mesmo a produção de petróleo ainda está abaixo dos níveis anteriores à guerra. A invasão é o mais abrangente fracasso político desde o Vietnam, tudo deu errado. O coração do mundo árabe caiu no caos. O sofrimento é incalculável.

O problema principal é a ocupação; é o catalizador primário para a violência e um obstáculo para a arrumação política. Enquanto a ocupação persistir perdurará o combate. As afirmações que o chamado aumento repentino [de tropas] mudaram a paisagem política são altamente exageradas. O tenente-general reformado William Odom comentou acerca deste ponto numa entrevista no Jim Lehrer News Hour:

"O aumento repentino (surge) manteve a instabilidade militar e nada alcançou em termos de consolidação política. As coisas estão muito pior agora. E não as vejo a ficarem melhores. Isto era previsível um ano e meio atrás. E continuar a apresentar o verniz cozinhado das meias verdades confortáveis é enganar o público americano e faze-los pensar que não é a charada que realmente é... Quando se diz que está a ter lugar a libanização do Iraque, sim, mas não por causa do Irão e sim porque os EUA entraram e tornaram esta espécie de fragmentação possível. E ela verificou-se ao longo dos últimos cinco anos... O governo al-Maliki está agora em pior estado... A noção de que há alguma espécie de progresso é absurda. O governo al-Maliki utilizar o seu Ministério do Interior como uma milícia de esquadrão da morte. Assim, chamar Sadr de extremista e Maliki de bom rapaz é simplesmente não perceber a realidade de que não há bons rapazes". (Jim Lehrer News Hour)

A guerra do Iraque estava perdida antes de o primeiro tiro ser disparado. O conflito nunca teve o apoio do povo americano e o Iraque nunca representou uma ameaça para a segurança nacional dos EUA. Todos os pretextos para a guerra eram baseados em mentiras; foi um golpe orquestrado pelas elites e os media para executar uma agenda da extrema-direita. Agora a missão fracassou, mas ninguém quer admitir seus erros através da retirada; assim a carnificina continua sem interrupção.

Como acabará

A administração Bush decidiu adoptar uma estratégia que não tem precedentes na história americana. Decidiu perseverar numa guerra que já foi perdida moralmente, estrategicamente e militarmente. Mas combater uma guerra perdida tem os seus custos. A América está muito mais fraca agora do que quando Bush tomou posse para o seu primeiro mandato em 2000, política, económica e militarmente. O poder e o prestígio americanos continuarão a deteriorar-se por todo o mundo até que as tropas sejam retiradas do Iraque. Mas é improvável que isto aconteça até que todas as outras opções tenham sido esgotadas. As condições económicas em deterioração nos mercados financeiros estão a colocar enorme pressão baixista sobre o dólar. Os mercados de acções e títulos corporativos estão em desordem; o sistema bancário está a entrar em colapso, os gastos do consumidor estão baixos, as receitas fiscais estão em queda, e o país a caminho de uma penosa e prolongada recessão. Os EUA deixarão o Iraque mais cedo do que muitos acreditam, mas não o farão num momento escolhido por si. Ao invés disso, o conflito finalizará quando os Estados Unidos não tiverem mais capacidade para travar a guerra. Esse momento não está muito longe.

A Guerra do Iraque assinala o fim do intervencionismo estado-unidense durante pelo menos uma geração; talvez mais ainda. O fundamento ideológico para a guerra (apropriação/mudança de regime) revelou-se como uma justificação sem base para agressão não provocada. Alguém terá de ser responsabilizado. Terá de haver tribunais internacionais para determinar quem é responsável pelas mortes de mais de um milhão de iraquianos.


O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=8730

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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quinta-feira, abril 24, 2008

Folha vai sair do armário...

vai virar Folha da Daslu,






deles para eles...
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O fim do Ombudsman na Folha

Carlos Eduardo Lins da Silva, 55, assume em 23 de abril, a função de ombudsman da Folha. Anunciado com pompa, ganhou página inteira na edição de domingo passado com uma “entrevista”, com direito a foto cuidada e um texto falso, a tal ponto que as perguntas, essenciais nesse gênero de matéria, sugerem respostas e surgem sem autoria: assina a matéria a inefável criatura “Da Redação”.

- por Chico Villela

(http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=999)

A decadência do jornal Folha de S. Paulo é irreversível. Em texto anterior, “A III Word War e a mídia”, resenhei algumas das suas matérias sobre temas internacionais e destaquei procedimentos jornalísticos indignos por parte da Folha. O mais evidente, de uns anos para cá, tem sido a desproporcional cobertura dedicada aos erros e desmandos do governo Lula e aliados e a blindagem vergonhosa às ações ominosas e censuráveis de FHCs, Serras, Virgílios, Alckmins, Aécios e similares e seus aliados e partidos. O tema atual é a crise dos ombudsman.
Troquei muitas mensagens com o anterior ombudsman Mário Magalhães, acompanhei seu trabalho nas análises diárias do site, e sempre encontrei lisura e competência. As colunas impressas da edição de domingo, mesmo que restritas a comentários gerais sobre temas quase sempre relevantes, também eram honestas. Discordamos com freqüência, a ponto de me motivar ao artigo citado. O jornalista Mário Magalhães não foi aprovado para um segundo mandato, como manda a tradição e a prática, em razão de sua oposição à proibição da Folha em publicar na internet as suas análises diárias. Numa última coluna, de densa dignidade, descreveu seus métodos de trabalho, que com freqüência sacrificaram sua vida familiar e social, e anunciou com todas as letras as razões da sua saída. Perde a imprensa nacional um profissional sério e dedicado à sua melhoria. Mas a Folha ganha um substituto à altura do jornal, dos mais matreiros, capaz de afirmações ofensivas até mesmo à inteligência de leitores de pouco tirocínio.
O sr. Carlos Eduardo Lins da Silva, 55, assume hoje, 23 de abril, a função de ombudsman da Folha. Assume com o compromisso de não publicar mais suas críticas diárias na internet, mas apenas dirigi-las ao público interno. Anunciado com pompa, ganhou página inteira na edição de domingo passado com uma “entrevista”, com direito a foto cuidada e um texto falso, a tal ponto que as perguntas, essenciais nesse gênero de matéria, sugerem respostas e surgem sem autoria: assina a matéria a inefável criatura “Da Redação”. Nem o elementar registro dos participantes da “entrevista” existe. As perguntas - formuladas talvez por ele mesmo, o que seria deslize menor que sua elaboração pela Direção – não conseguem esconder o ar de ‘bola levantada’ para o entrevistado chutar e marcar gols. Uma entrevista didática, arrumadinha, ótima para criar auras de bom comportamento.
A abertura, de umas sessenta palavras, abriga uma afirmação que desvenda o caráter de defesa do jornal embutido na matéria. Aspas: “O novo ombudsman da Folha [...] crê que os jornais brasileiros vivem um momento contraditório. Pelo lado bom, não sofrem da crise de credibilidade que acomete os diários norte-americanos (sic). Pelo ruim, estão perdendo o poder de influenciar a opinião pública.”
O sr. da Silva viveu e estudou muitos anos nos EUA, e o fato transparece nas suas respostas: seu único ponto de referência de imprensa, citado várias vezes, é a mídia euana (norte-americanos são mexicanos, estadunidenses e canadenses). Mas o que se destaca no trecho é a plantação de uma falsa oposição: a grande mídia euana está no seu pior momento de credibilidade, em razão do seu comportamento sabujo de amplificar as 736 (até agora) mentiras do governo Cheney-Bush, tanto quanto, nem mais nem menos, a grande mídia brasileira também está. Afinal, em qual país vive o sr. da Silva?
A tiragem da Folha já foi de mais de 500 mil exemplares; hoje, anda pelos 300 mil. Culpa-se a internet e os novos meios. Possa ser. Mas a credibilidade não tem relação com a internet. A afirmação do sr. da Silva é falsa e higieniza a fachada do jornal. A perda do poder de influenciar a opinião pública deriva da perda de credibilidade, e não da concorrência dos novos meios. Em recente medida de arbítrio, em choque com tradições democráticas universalmente acatadas, o jornalista Paulo Henrique Amorim perdeu o direito ao seu espaço no IG. A mídia grande silenciou o que seria notícia em qualquer país sério com imprensa decente. Fatos assim fazem mais pela perda de credibilidade que cem novos blogs honestos, contundentes e bem informados como o de Amorim. Não é na mídia grande que se encontram os certeiros artigos de Luis Nassif a respeito da latrina jornalística em que se transformou a outrora revista Veja: é na internet, como nesta novae. Assim é a credibilidade do sr. da Silva e da Folha. O que os novos meios fazem é esclarecer, com rapidez e alcance, fatos e afirmações que ecoam de formas distorcidas na grande mídia, e é exatamente isso que os transforma em liquidantes da credibilidade dessa grande mídia, que a perde porque mente e falsifica.
Mas o ombudsman estreante ganhou uma página e falou bastante, à vontade. Primeira pergunta: “Jornais brasileiros e americanos...” Já se destacou que norte-americanos são canadenses, mexicanos e estadunidenses, que prefiro chamar euanos, termo menor e mais brasileiro. Americanos são todos os habitantes das Américas: brasileiros, equatorianos, nicaragüenses, canadenses, cubanos, xavantes, aimarás... Mas a subserviência universal da mídia garante aos euanos os títulos de norte-americanos e americanos.
Fala o sr. da Silva: “Para mim, a saída para o jornal impresso é apostar na profundidade, na qualidade e ter mais foco, tratar de menos assuntos. Porque isso a internet não pode. O jornal impresso precisa procurar o tipo de conteúdo em que ele se sai melhor [...]”. Recomenda-se ao sr. da Silva uma busca mais acurada na internet dirigida a sites em que a profundidade é abismal e oceânica, e em que se publicam matérias que as mídias grandes nunca irão publicar, por estarem de rabo preso com anunciantes, conchavos políticos, jogadas empresariais e outros fatores que reinam sobre a imprensa. Só dois como exemplo: http://www.globalresearch.ca/, norte-americano, digo, canadense; e www.leap/E2020, europeu. Alguém precisa soprar ao ombudsman que essa conversa de que jornal pode aprofundar e internet é superficial já passou do prazo de validade.
Fala o sr. da Silva: “Eu acho natural que esse novo modelo que eu defendo tenha menos leitores que o modelo atual. [...] Ele deve ser dirigido para uma parcela mais específica da população. Pode ter menos circulação, mas gastará menos com papel e poderá ter mais publicidade, focada para aquele público. E o mais importante, ele pode ter mais influência social do que esse jornal dirigido ao público em geral, que é muito caro para ser produzido.” O jornal preconizado pelo sr. da Silva é dirigido a uma elite reduzida, que afeta formadores de opinião, com “mais influência social”, com anúncios focados. Faltou abrir o jogo: um jornal para a elite do dinheiro, do saber, da propriedade, parcelas menores da população que não se confundem com o “público em geral”, nós. Na edição em que o ombudsman foi presenteado com uma página, a maioria absoluta dos anúncios de uma ou mais páginas focam condomínios de luxo, automóveis especiais ou eletrodomésticos de sonho. Ou seja, focados os anúncios já são. Falta uma parte do jornalismo, na esteira da publicidade. Talvez o jornal dos sonhos do ombudsman esteja mais próximo e real do que ele imagina.
Pergunta: “Qual é o grande desafio dos jornais impressos hoje?”. Responde o sr. da Silva: “É definir qual papel terão. Principalmente para manter a influência. [...]” Nem uma palavra sobre honestidade, credibilidade, veracidade, isenção: trata-se de uma questão técnica, uma tarefa de especialistas. Isso transparece na próxima resposta.
Pergunta: “A internet trouxe mais participação dos leitores. Você vê futuro nessas experiências que usam o leitor como provedor de conteúdo?”. Responde o sr. da Silva: “Sou bastante cético com relação a isso. Essa suposta democratização da internet, que permitiria ao cidadão ser repórter, é muita demagogia. O público precisa de informação apurada com rigor, com método. Só algumas pessoas, que têm jeito e experiência, conseguem fazer isso.” Ou seja, a progressiva abertura da imprensa, a participação crescente do leitor como opinante, a interatividade que pode garantir espaços mais democráticos ao mundo da informação, tudo isso repugna ao ombudsman; somos amadores, demagogos; a informação, e sua análise e compreensão, são tarefa de poucos especialistas. Nem uma palavra sobre empulhação, desonestidade, jogo sujo, deturpação de notícias, torção de verdades, amplificação de fatinhos (dos inimigos) e sumiço de fatões (dos amigos), etc. Nem uma letra sobre a vigarice jornalística: isso não é ‘técnico’.
Claro: afinal, a imprensa é dirigida por interesses humanistas e feita por anjos neutros e ilibados, a julgar pela sua próxima resposta sobre os ‘desafios’ ao trabalho do ombudsman pela turbulência política que se avizinha, com as eleições: “Eu acho que o jornal tem o direito de endossar um candidato. Não acho que deva, mas tem o direito. Por outro lado, no noticiário, o jornal não tem o direito de endossar um candidato. Ele tem que fazer uma cobertura o mais próximo possível do isento” Não se trata mais de perguntar em que país mora o ombudsman: a questão é saber em que mundo ele mora. Apoiar, sim, mas de forma crítica e discreta, sem que isso se reflita no noticiário. Cobrir, sim, mas com o máximo de isenção possível, o que se assemelha a meia virgindade ou meias mentiras: isento, ou se é, ou não se é. É pra rir.
A respeito da influência dos blogs sobre a opinião pública, o sr. da Silva afirma: “No Brasil, com certeza, não. Nos EUA, sim. Essa influência está sendo sentida na eleição presidencial. No entanto, eu acho que é uma influência ruim, perniciosa. [...] Para o ombudsman, alguns blogs brasileiros são radicais, não argumentam, ofendem, e isso contaminaria o “tal formador da opinião pública”. Sobre a contaminação dos formadores de opinião pela manipulação permanente da verdade dos fatos, a exemplo do que faz diariamente o Jornal Nacional da Rede Globo, nem uma palavra.
Quase ao final, a pergunta-chave da “entrevista”, redigida de forma a dar razão ao jornal: “O ombudsman anterior, Mário Magalhães, condicionou sua permanência no cargo a que o jornal voltasse atrás de decisão tomada no ano passado de não mais divulgar na internet a crítica interna, que, no entender da Direção de Redação, estaria sendo usada pela concorrência e instrumentada por jornalistas ligados ao Planalto. Você acha que a crítica deveria ser pública?”
A resposta é um primor de contorcionismo, servilismo e ofensas ao ombudsman anterior: Primeira parte: “Do ponto de vista do ombudsman, acho que essa questão é irrelevante. Do ponto de vista do jornal, inócua. Irrelevante porque qualquer coisa importante da crítica interna poderá estar na coluna de domingo, que é pública. O leitor, então, não perderá nada”. Ou seja, as muitas observações diárias do ombudsman sobre todo o jornal e suas seções, que eram minuciosamente apontadas por Mário Magalhães, sairão do alcance do leitor. Afirmar que o leitor não perderá nada, em razão da coluninha restrita de domingo, é empulhação. Insista-se: o jogo lógico é desonesto, e ingênuo com o leitor que sabe ler: é verdade que “qualquer coisa poderá estar” na coluna de domingo, mas isso não pode se sobrepor ao fato de a coluna de domingo abrigar um mínimo das críticas. O leitor perde, sim, perde quase tudo, e ganha um jornal opaco e um ombudsman mergulhado em falácias lógicas elementares.
Segunda parte: “Já para o jornal, acho que a medida é inócua porque o fato de ser restrita à Redação não vai impedir que a concorrência e grupos políticos tenham acesso a ela. [...] Acho que o impasse foi gerado por uma questão que não precisaria tê-lo provocado, nem de um lado nem de outro.” Vou necessitar do leitor (contra os conselhos do sr. da Silva) para me esclarecer sobre o significado dessa segunda parte. O ombudsman fala como se o impasse fosse absurdo, que tivesse existência independentemente das partes. A Folha fez uma exigência antiética, o ético Mário Magalhães não concordou e saiu: onde está a “questão que não precisaria tê-lo provocado”? Até agora, só existem uma questão, que provocou um impasse, e a sua solução. O fato de o sr. da Silva talvez se sentir desconfortável em ocupar a função nesse momento, já assumindo a proibição de exposição das suas observações na internet, leva-o a minimizar e a relativizar algo que é claro e definitivo. Madame Natasha diria: o sr. ombudsman está tentando nos enrolar.
O título da matéria é: “Jornal precisa encontrar seu novo papel, diz ombudsman”. A julgar pelas posições conservadoras e aristocratas do eleito, a Folha passará a circular impressa em papel cuchê.

Chico Villela na NovaE
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terça-feira, abril 22, 2008

A Colômbia também é aqui


Márcia Denser*

Muito se escreveu e falou recentemente sobre a Colômbia, mas dia desses, folheando um livro de Noam Chomsky, sem querer encontro um verdadeiro dossiê sobre a situação econômica, política e social naquele país, do ponto de vista do ativista e crítico norte-americano ao abordar as conexões entre ajuda militar ianque e violação dos direitos humanos de 1990 a 2004.

Como o encontrei casualmente, o texto ganha utilidade e pertinência, se impõe por sua imparcialidade e, precisamente por isso, esclarece aspectos que os jornalões omitiram ou ocultaram ou ambos no affair envolvendo Colômbia, Equador & Farcs. Foi extraído de Poder e Terrorismo, entrevistas e conferências pós-11 de setembro. pp. 86-92. Rio, Record, 2005:

“Em 1999, a Colômbia substituiu a Turquia como principal beneficiária das armas dos Estados Unidos. A razão foi que as atrocidades turcas haviam logrado reprimir suficientemente a população (claro, a guerra é sempre contra os civis do próprio país, isto é, entre EUA, elites nativas e o resto da população, como já escrevi em outra coluna, grifo meu). As atrocidades colombianas ainda não o tinham conseguido. E são significativas.

Na década de 1990, a Colômbia teve o pior histórico de direitos humanos do hemisfério e, em conformidade com as correlações padrão (quer dizer, quanto mais ajuda militar, maior é a violação dos direitos humanos), recebeu mais ajuda norte-americana, inclusive ajuda militar, do que a soma de todo o resto do hemisfério.

As atrocidades são pavorosas, entre elas o massacre das motosserras. O exército colombiano entrou numa região, cortou as pessoas com motosserras e jogou-as em poços. Mas até que houve punição: o oficial responsável foi afastado do comando. A Colômbia detém o recorde mundial de assassinatos de jornalistas e sindicalistas. Estive lá há dois anos numa missão da Anistia Internacional, a Colômbia foi escolhida em primeiro lugar para a nossa visita pois tem o pior histórico de assassinato de defensores e advogados dos direitos humanos.

Já foram deslocadas mais de dois milhões de pessoas no país, à razão de dez mil por mês, empurradas para favelas miseráveis, sem assistência médica, sem educação, sem nada. Tais atrocidades estão sendo investigadas, não há dúvidas sobre elas. Cerca de 80% são atribuídas aos militares e paramilitares. Se vocês examinarem os últimos dez anos, verão que, desses 80%, a porcentagem atribuída aos militares declinou e a atribuída aos paramilitares vem aumentando, e há uma boa razão para isso: relações públicas.

Como todo mundo, o exército colombiano considera que a melhor maneira de praticar o terrorismo é privatizá-lo. Entregá-lo a paramilitares, como fizeram os indonésios no Timor Leste ou os sérvios na Bósnia. Com isso, eles estão limpos, a menos que se examinem as análises dos acadêmicos ou os relatórios da Human Rights Watch, que se referem aos paramilitares simplesmente como a sexta divisão do exército colombiano, além das cinco oficiais, divisão à qual compete a responsabilidade pelas atrocidades horrendas, no esforço de manter o “desmentido plausível”.

A Colômbia provavelmente detém o recorde mundial de privatizações, ou seja, de entrega de seus recursos a investidores estrangeiros. Parte da privatização é a privatização do terrorismo. E os Estados Unidos também vêm privatizando sua contribuição para o terrorismo internacional, de modo que hoje existem muitos assessores americanos na Colômbia (duas vezes mais do que o número de militares norte-americanos), tecnicamente trabalhando em empresas privadas como a DynCorp e a MPRI (Military Professional Resources Inc.) – a prática do “desmentido plausível”. É que assim a assessoria e as armas ficam livres da supervisão do Congresso norte-americano.

Estive em Cauca e passei horas ouvindo depoimentos de camponeses falando sobre terrorismo. O pior para eles são as fumigações – destroem suas lavouras, seus animais, inclusive suas crianças; podemos vê-las com feridas pelo corpo todo. São em sua maioria cafeicultores pobres. Mas, apesar das dificuldades, eles haviam conseguido um nicho nos mercados internacionais de café organicamente produzido, de alta qualidade, vendido na Alemanha, por exemplo. Infelizmente isso acabou. Pois uma vez destruídos os cafezais, fumigada a terra, esta fica envenenada para sempre.

Não só as vidas e as lavouras são destruídas como também a biodiversidade, a tradição da agricultura camponesa, que é riquíssima, razão pela qual conseguiam safras tão grandes. Mas quando isso acaba, é impossível voltar atrás.

A fumigação é oficialmente justificada como “guerra às drogas”. É difícil levar isso a sério, a não ser como um disfarce para um programa de contra-insurgência e mais uma etapa da longa história de expulsar os camponeses da terra, em benefícios das elites ricas e da extração de recursos minerais por investidores estrangeiros (ver Doug Stokes, “Better Lead than Bread? A Critical Analysis of the U.S.’s Plan Colômbia”, Civil Wars 4.2,2001, pp. 59-78).

A conseqüência é que se algum dia essa região voltar à agricultura será uma monocultura de agroexportação, com sementes produzidas em laboratório, compradas da Monsanto. Mas o principal é que, uma vez expulsa a população pela guerra química norte-americana e pela destruição da lavoura, pode-se abrir a região para a mineração de superfície – há campos riquíssimos em carvão por lá – e também para as represas, a energia hidroelétrica, as empresas internacionais e assim por diante.

Por aí a coisa tem sido um “sucesso”, quanto à população e às culturas e comunidades locais, deixemos isso para lá. Elas são, para citar um filósofo famoso, “meras Coisas cuja vida não tem nenhum valor”. Estou citando Hegel, na verdade, referindo-se aos africanos. Eles são meras coisas cuja vida não tem valor, de modo que podemos levar isso adiante com perfeita serenidade e completa impunidade e receber apenas elogios por nossas realizações”.

Como o leitor pode observar, no texto Chomsky, com fina ironia, usa o plural majestático “nós” referindo-se à grande maioria do povo norte-americano – conformado, paranoizado, alienado, “pacificado” pela grande mídia – e, naturalmente, às elites locais – subservientes, neocolonizadas, apátridas, duas vezes criminosas.

Pois é, não só o Haiti, a Colômbia também é aqui.

PUBLICADO EM:20/04/2008* A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), Toda Prosa (2002) e Caim (2006). Participou de várias antologias importantes no Brasil e no exterior. Organizou três delas - uma das quais, Contos eróticos femininos, editada na Alemanha. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura brasileira contemporânea, jornalista e publicitária.

http://congressoemfoco.ig.com.br/DetArticulistas.aspx?colunista=11&articulista=454

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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2008

O governo colombiano dá luz verde a fumigações em reservas indígenas

Ibagué, Colômbia.- Em Setembro passado, o governo do presidente Álvaro Uribe Vélez negou-se a votar a declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas. Argumentou que não podia assinar porque supostamente algumas disposições da declaração contradiziam a ordem jurídica colombiana e os poderes do Estado. Como costuma acontecer nestes casos, nenhuma entidade governamental, nem sequer a Direcção de Etnias do Ministério do Interior, conseguiu explicar claramente as estranhas ambiguidades desta decisão.

leia e veja mais aqui:



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Novos estudos expõem danos do glifosato

Por Stephen Leahy

Estudos científicos somam provas do impacto na saúde humana e animal do herbicida Roundup, usado para eliminar plantações de coca na Colômbia.

TORONTO, 11 de junho (Tierramérica).- A fumigação aérea, financiada pelos Estados Unidos, de plantações colombianas de coca perto da fronteira com o Equador, afetou severamente o DNA da população local, revelaram cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Equador, em Quito. Mostras de sangue de 24 equatorianos, que vivem a uma distância de até três quilômetros da fronteira setentrional, apresentaram aberrações de cromossomos entre 600% e 800% superiores aos das pessoas que vivem a 80 quilômetros, afirma o estudo.


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segunda-feira, abril 21, 2008

Dentro de mim mesma eu nunca falei não pra ele e nunca vou falar na vida. Eu tenho é que me superar, me virar e ir lá fazer.




Entevista de Ricardo Kotscho
com a ministra Dilma Rousseff


Sábado à tarde, salão das autoridades da Base Aérea de Cumbica, em São Paulo. Os olhinhos dela brilharam duas vezes. Quando perguntei se gostaria de ser presidente da República e se ficou animada a se casar de novo, depois de levar Paula, sua filha única, ao altar, na noite de sexta-feira.

Renato Pizzetto Vinda de Porto Alegre para pegar o avião que a levaria à Coréia do Sul, Dilma Rousseff, a toda poderosa ministra-chefe da Casa Civil e “mãe do PAC”, encontrou uma brecha na sua carregada agenda para falar com a reportagem do iG. Só pediu um copo d'água e estava pronta para a entrevista.

De terninho preto, bolsa pendurada no ombro, acompanhada de um onipresente assessor, o Anderson, que trabalha com ela há doze anos, ela desceu do avião e já foi falando, direto ao assunto, como se a gente tivesse se visto ontem.

Em mais de uma hora de conversa, Dilma mostrou-se animadíssima com o bom momento vivido pelo País, com o crescimento econômico e as obras do PAC, sem dar muita bola para a chamada “crise do dossiê”.

Claro que ela ainda não assume oficialmente sua candidatura à presidência da República - é muito cedo para se falar neste assunto, alega -, mas não descartou a hipótese, ao contrário. Sim, ela gostaria de ser, admite - “como qualquer brasileiro ou brasileira”, ressalva.

Foi a primeira vez que seus olhinhos brilharam. Para ela, no entanto, ser eleita a primeira mulher para a Presidência do Brasil talvez seja um sonho mais possível do que o outro, quando seus olhinhos brilhariam pela segunda vez.

Ao encontrá-la empolgada com o sucesso da festa de casamento da filha - “os dois estavam tão felizes...” - arrisquei-me a perguntar se ela não ficou com vontade de se casar de novo (Dilma é descasada duas vezes).

Este seria um sonho um pouco mais difícil de se tornar realidade, por um motivo bem prosaico: está sem namorado, “no desvio”, como se diz em Minas, a terra onde nasceu, fez 61 anos em dezembro. De onde vem esta senhora?

Filha de um engenheiro búlgaro, Petar Roussev, também poeta, que no Brasil adotou o nome de Pedro Rousseff e trabalhou na construção da Manesmann, e da professora carioca Dilma Jane Silva, ela começou sua militância em 1967, na Política Operária (Polop), organização da esquerda radical, levada pelo seu primeiro marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares.

Renato Pizzetto Foi também do Comando de Libertação Nacional (Colina), participou da criação da VAR-Palmares, com Carlos Lamarca e Carlos Araújo, que viria a ser seu segundo marido, o pai de Paula, e comandou, já como “Estela”, seu nome de guerra, o célebre seqüestro do “cofre do Adhemar”, em 1969. Presa e torturada, romperia com Lamarca e, dez anos depois, após a redemocratização, entrou para o PDT de Leonel Brizola. Só em 1999 filiou-se ao PT.

Ao passear pela história da geração de 68, Dilma chega a ficar emocionada quando lembra de um nosso amigo comum, o Tom Timóteo, meu secretário adjunto quando trabalhamos juntos no Palácio do Planalto com o presidente Lula, nos dois primeiros anos do seu governo. Daquele tempo, entre orgulhos e arrependimentos, um sentimento ficou gravado na memória e no coração: a generosidade. Sente-se feliz pela possibilidade que agora tem de colocar em prática no governo Lula o que sonhou naquela época.

No meio da entrevista, o celular só tocou uma vez. Era Paula querendo saber da mãe o que achou da festa do casamento, antes de embarcar para a lua de mel no Taiti. Foi uma conversa rápida. Deu tempo de falarmos de tudo e ela não deixou pergunta sem resposta: candidatura presidencial, crise do dossiê, como anda o PAC, o bom momento econômico do País, a vida no poder, os embates políticos, as críticas ao seu temperamento, namorado (ou a falta de...) e os objetivos da viagem ao exterior.

Para quem esperava encontrar uma Dilma abalada, depois de enfrentar cercada no meio da arena um mês de tiroteio cerrado da oposição e da imprensa, foi uma surpresa encontrá-la assim, tranqüila, bem humorada, astral lá em cima, de bem com a vida, de peito aberto para o que der e vier. No caso dela, como fica claro na nossa conversa, o que vier é lucro.

Dilma só não será candidata de Lula a presidente em 2010 se não quiser. E ela quer. Até porque, não sabe dizer não ao presidente, confidencia, como aconteceu quando foi convidada a assumir a chefia da Casa Civil em meio à maior crise do governo. Só falta, então, ele pedir? Dilma garante que o presidente Lula ainda não falou com ela sobre esse assunto. Vai ver, só não falou com ela...

Está na hora do embarque. Saímos da sala para fumar um cigarrinho _ o último dela nas próximas 20 e tantas horas, com duas escalas, até chegar a Seul, na Coréia do Sul, onde começa a viagem, que a levará também ao Japão e aos Estados Unidos.

A seguir, a íntegra da entrevista de Dilma Rousseff ao iG.

Renato Pizzetto Ministra Dilma Rousseff durante entrevista na Base Aérea de Cumbica

iG - Vou começar com uma pergunta bem difícil: como vai, ministra?

Dilma - Vou bem. Hoje, muito bem. O casamento da minha filha foi maravilhoso, deu tudo certo, dançamos até tarde, os dois estavam muito felizes...

iG - A senhora é candidata a presidente da República?

Dilma - Kotscho, eu não sou candidata a presidente da República. Acho que hoje esta é uma questão que não está colocada. Temos quase três anos de governo pela frente. Vivemos uma fase de muitas realizações, estamos colhendo os frutos de cinco anos de trabalho. Não devemos agora discutir sucessão presidencial.

Estamos em um processo de prestar contas à sociedade, anunciando o início de novas obras do PAC, ou até inaugurando outras, depois de um ano de investimentos em todas as áreas de infra-estrutura.

Transformamos o País em um canteiro de obras, algo que não se via há muitos anos. Em 2008, quem vai puxar a economia é a construção civil pesada, em todo o território nacional, em parceria com o setor privado. São obras de cunho republicano porque conseguimos articular no processo prefeitos e governadores.

iG - E mais adiante, será candidata?

Dilma - O futuro a Deus pertence... Acho que especular hoje sobre isso não é boa política para quem tem não só o PAC, mas os territórios da Cidadania, grandes projetos em educação e saúde, o Pronaf para cuidar da segurança.

iG - Com a chamada crise do dossiê, alguns analistas logo decretaram que sua candidatura estava natimorta. Outros, como o governador José Serra, baseado em pesquisas do PSDB, disseram que a crise fez sua candidatura crescer porque seu nome ficou mais vinculado ao do presidente Lula. Com qual das duas análises a senhora fica?

Dilma - Eu acredito que a chamada crise do dossiê tem um grande cunho de factóide. Por quê? Que dossiê é esse que não revela nenhum escândalo? Diz respeito apenas a gastos legítimos. Alguns podem dizer que a única pessoa que viu o material do banco de dados que vazou é um senador de oposição. Esse dossiê estranhíssimo prejudicou só a Casa Civil, a mim e ao governo. Eu não vi esta pesquisa do PSDB, mas respeito a análise do governador Serra. Não acho ruim.

Renato Pizzetto iG - Nas últimas semanas, aconteceu tudo ao mesmo tempo: o barulho em torno da sua candidatura à sucessão do presidente Lula, apoiada pelo presidente, e o cerrado tiroteio da oposição e da mídia após as denúncias do chamado “dossiê”. Qual a relação entre os dois fatos? Como a senhora se sente hoje, no centro da arena, depois de um mês de fogo cruzado?

Dilma - Ninguém que vai para o governo vive sem momentos de tensão. O ano passado inteiro, enquanto a gente estava trabalhando de uma forma pesada, sabe assim, Kotscho, de sol a sol, todos os dias eu lia no jornal o seguinte: o PAC é um factóide, um produto de marketing, um malabarismo e terá vida curta. É mais uma demonstração de ineficiência, entre aspas, do governo. Pois bem. O PAC é um esforço gigantesco para colocar o investimento na ordem do dia. Este é o sentido político mais forte do PAC. É dizer: olha, tem de investir, isso é prioridade.

O governo vai fazer disso um elemento fundamental porque nós precisamos desse investimento para acabar com os gargalos do crescimento do País, para garantir que o crescimento se acelere. Hoje, é muito difícil alguém dizer que se trata de um factóide. Então, tem que agüentar, vamos dizer, certas crises entre aspas. O que não é possível é perder a tranqüilidade. Enquanto tudo isso acontece, nós temos que trabalhar.

iG - A senhora parece que tem o casco duro.

Dilma - Olha, a minha geração é uma geração com o couro um pouquinho duro. Eu diria assim... um casquinho duro. Sabe aqueles de tartaruga? Porque eu acho que levamos uma vantagem enorme se olharmos para trás e compararmos com o Brasil de hoje. De qualquer forma, essa crise ou as crises, entre aspas, a que me referi são produtos da democracia. É um direito da oposição de se opor, mesmo que em alguns momentos isso se dê de forma agressiva. Isso é um valor fundamental porque vivemos hoje em um País democrático. Porque nós dizemos: eu sou da geração que viveu a ditadura e todas as suas mazelas. Então, na comparação, nós vemos que saímos com o Brasil ganhando por quilômetros de distância.

iG - Se a senhora pudesse recuar no tempo, o que teria feito de diferente nesse episódio do levantamento de dados sobre despesas do governo Fernando Henrique? Como isso começou e quando a senhor imagina que essa crise vai terminar?

Dilma - Olha, antes de eu chegar à Casa Civil, já tinha uma auditoria do TCU que terminou no meu período. Era a exigência por mais transparência. No mundo de hoje, transparência é informatização. Informatização é banco de dados. Colocar tudo em banco de dados é um trabalho que nós temos que fazer. Há até pedidos de senadores da oposição, como o Arthur Virgílio, que solicitou dados referentes ao período de 1995 a 2002.

iG - De que data é esse pedido?

Dilma - Setembro de 2005. E nós respondemos que quando estivesse pronto o banco de dados entregaríamos as informações a ele. Não há do que se arrepender disso. Nós estávamos fazendo um trabalho burocrático-administrativo. Agora, o que é desagradável, o que é errado, o que não é bom, é vazar estas informações.

iG - Como e quando a senhora imagina que isso vai terminar?

Dilma - Eu não vou especular. Isso está sob investigação. Espero que tudo seja solucionado, revelando toda a verdade, inclusive quem é o agente vazador das informações.

Renato Pizzetto

iG - A senhora deve ter visto o editorial da “Economist”, desta semana, que qualifica o Brasil como “uma nova superpotência econômica, agora com petróleo também. Diz ainda que “comparado com o Brasil de antes, a sensação é de que esta é uma idade de ouro”. A que a senhora atribui esta coincidência de uma nova crise política em meio a boas notícias na economia, pois já tivemos outras situações semelhantes nesse governo, chamadas na imprensa de “tiro no pé”.

Dilma - Eu acho que é uma situação diferente que temos hoje no Brasil, que nunca vivemos antes. Como te disse, desabrocha agora todo o efeito que as políticas públicas do governo tiveram, junto com a iniciativa privada, os trabalhadores. Há hoje no País uma consciência de que o Brasil tem que crescer. Essa situação não é um acaso, como muitos querem fazer crer. Ela é produto de esforço cotidiano do governo federal, dos governos estaduais e municipais. Nós concebemos um modelo de crescimento com distribuição de renda, com inclusão social. Esse é o primeiro momento em muitos anos que se começa a ter mobilidade social. Em um País novo isso é uma conquista inigualável. Isso significa que nós tiramos milhões de pessoas da miséria e transformamos em classes médias outros 20 milhões de pobres pelos dados da pesquisa até 2007.

Em 2008, serão mais tantos milhões. Temos um mercado de massa no Brasil. Significa que nossa maior riqueza, que é nossa população, nossos quase 200 milhões de brasileiros passaram a ser responsáveis pelo crescimento do consumo, com o fato de comprarem casa própria, carros. Mesmo os da Bolsa Família têm acesso a alguns eletrodomésticos. Nós somos aqueles que puxam a economia do Brasil, sem perder de vista as exportações. O que cresce é o mercado interno.

Somos também um dos poucos países emergentes, para não dizer o único, porque eu não tenho certeza, que cresce com distribuição de renda. Os outros crescem concentrando renda. Então, nossos 5% têm uma qualidade diferente dos outros percentuais. Vou te dizer uma coisa: acho que tudo o que querem é que nós atiremos no próprio pé. Mas não estamos atirando no pé. Estamos é conseguindo superar dificuldades e atirando nas grandes mazelas do Brasil. Uma delas era essa: ou cresce ou distribui renda. Nós estamos crescendo e distribuindo. Outra é aquela: ou mercado interno ou mercado externo. Nós estamos crescendo nos dois. E por aí vai.

iG - O fato de ter sido chamada de “mãe do PAC” ajuda ou atrapalha a sua atuação daqui para frente? A senhora deseja continuar viajando com o presidente para anunciar e inaugurar obras. As obras caminham na velocidade desejada pelo governo?

Dilma - Eu acho que ajuda muito. Porque, quando o presidente fala “mãe do PAC”, ele destaca uma coisa que é uma característica ótima do PAC. É bom para o País saber quem é responsável pela gestão e que as coisas não caem do céu. Falar mãe significa o trabalho de criar um filho, de cuidar dele, principalmente quando ele tem um problema.

A capacidade do presidente de criar imagens é um instrumento utilíssimo porque são imagens de fácil compreensão. Ele fala: olha, se a obra não estiver andando, geralmente mostra a pessoa, o coordenador local, e ela depois fala comigo. E todo mundo fica de olho e avisa para a mãe do PAC. Esse é um elemento muito importante de gestão.

iG - As obras estão na velocidade que a senhora esperava?

Dilma - Nós nunca estamos contentes. Queremos sempre acelerar mais. Por um motivo simples: o País parou de crescer durante 20, 30, 40 anos. Nós ainda estamos correndo atrás da marca. Começamos a fazer as obras que ficaram acumuladas nesses 40 anos, combinando com obras que são necessárias para o futuro. Tudo isso faz de nós pessoas exigentíssimas no prazo. Temos uma idéia de prazo, rapidez, vamos resolver, resultado.

Renato Pizzetto iG - Ao ser convidada para assumir o Ministério da Energia, no primeiro governo Lula, a senhora poderia imaginar que seria a candidata preferida dele para disputar a sucessão?

Dilma - Pergunta capciosa... Eu não podia imaginar nem que seria ministra-chefe da Casa Civil. Vou parar por aqui. Quando fui ser ministra de Minas e Energia, eu me julguei uma pessoa realizada que ganhou uma grande oportunidade. Fiquei assim... embasbacada. É uma área de que eu gosto muito e ainda mais por ele ter dito para mim que eu era uma das escolhas pessoais dele. Foi uma coisa pra mim muito forte, emocionalmente forte. Aquilo já era o máximo para mim. Quando fui chamada para a Casa Civil, no meio da crise, achei que não podia dizer não ao presidente em hipótese alguma. Dentro de mim mesma eu nunca falei não pra ele e nunca vou falar na vida. Eu tenho é que me superar, me virar e ir lá fazer.

iG - E se da próxima vez ele falar: “Dilma você vai ser minha candidata à Presidência”?

Dilma - Ele nunca me falou isso.

iG - Nem insinuou?

Dilma - Não.

iG - Certa vez, durante uma viagem ao exterior em 2004, o presidente Lula me fez uma pergunta que vou te repetir agora: Você gostaria de ser presidente da República?

Dilma - Sim, todos gostariam. Todos os brasileiros e brasileiras gostariam. Agora isso é, como vou dizer?... Outro dia vi um menino pequenininho no colo da mãe e ela pediu ao presidente para tirar uma foto. “Tira uma foto com meu menino porque ele também quer ser presidente da República”. O presidente pegou e abraçou a mãe e o menino.

iG - Em algum momento desta crise a senhora pensou em sair de cena e se recolher à administração do PAC na Casa Civil. Ou, ao contrário, teve mais vontade de partir para a disputa política?

Dilma - A Casa Civil, necessariamente, é um órgão que faz a coordenação de governo. Esta é minha função e não posso me descuidar dela. A disputa política é intrínseca à situação de cada momento. Quando diziam, olha, o PAC é um factóide, um malabarismo, uma pirotecnia, a gente tinha que disputar para dizer que não era isso. A Casa Civil tem a função de defesa do governo nas questões fundamentais que são os programas de governo. Principalmente, quando são programas que qualquer pessoa que tem compromisso com o País tem orgulho de participar. Eu nunca pensei em me recolher a nada e estou fazendo o que deve ser feito.

iG - Como a senhora recebe as críticas cada vez mais constantes da imprensa, em especial das tuas amigas colunistas, que a acusam de ser autoritária com subordinados e até com outros ministros, sem jogo de cintura para a política, intransigente. Como é a verdadeira Dilma Rousseff, segundo ela mesma?

Dilma - É difícil eu responder a isso. É muito difícil para uma mulher assumir funções de coordenação, controle e fiscalização de projetos, obras e ações, sem um preconceito em relação às características mais tradicionais da mulher. O que acho muito estranho é ser apontada como única pessoa dura, autoritária, em um mundo de homens meigos e que ninguém seja taxado de intolerante, a não ser eu.

Algumas coisas são intrínsecas da função, alguém tem que cumprir prazos, cobrar prazos. Nada do que eu exijo dos outros não é também exigido de mim. Não se tem notícia de que eu tenha deixado de ajudar qualquer ministro. Acho que trabalho igual a todo mundo.

Lá no Sul se diz que todo mundo é “chinelão”, no sentido de comum, banal, igual. Ninguém é o bom, o máximo que pensa que é. A arte da vida é saber disso, saber que você não pode tudo, ter muita auto-ironia para se enxergar, divertir-se com os próprios erros. Se achar que nunca vai errar, está roubado.

iG - Nós dois somos da geração 68, que chegou ao poder. Tudo valeu a pena? Do que mais tem orgulho e do que se arrepende nesta longa trajetória?

Dilma - Eu tenho mais orgulho sabe do quê? Tudo tem que valer a pena. Você não pode dizer hoje isso aqui não pode, aquilo não pode. Você não escolhe. Você vive um todo e arca com as conseqüências. Eu acho que tudo valeu a pena. Não posso olhar com o olhar de hoje. Não tinha na época a vivência e a experiência que tenho hoje. Acho que tem uma característica nossa, que vivemos 1968, que é exemplar: é a generosidade. Em tudo o que nós fizemos. Ninguém pode dizer que nós fizemos por razões subalternas. A gente realmente acreditava que tinha que fazer um mundo melhor. Essa ponte nós estamos fazendo aqui no governo Lula. Tem essa ponte direta porque a gente queria isso.

Uma vez li um texto do Jung que falava dos rituais de uma população indígena. Eles acreditavam que o sol nascia e o sol se punha por causa dos rituais. Isso constituía a centralidade do homem. Por que estamos no mundo, afinal de contas? Por que você está aqui? A nossa geração teve isso muito forte.

Renato Pizzetto iG - Qual o sentimento da mãe Dilma no dia seguinte ao casamento de sua única filha? Deu vontade de casar de novo?

Dilma - Até que deu, olha, foi muito bonito. Fiquei lá olhando para ela e pesando: tomara que ela tenha vontade de superar todas as mazelas da vida porque não é fácil. Viver a dois tem que ter muita misericórdia um pelo outro. E tomara que ela continue gostando dele tão forte como gosta hoje. Me deu um sentimento de nostalgia, assim meio de melancolia. Eles te um olhar de descobrir o mundo, um olhar diferente de nós. Mas a gente tem outras vantagens, não pode jogar pedra no passado.

iG - Qual o principal objetivo desta viagem de 11 dias ao exterior?

Dilma - O objetivo imediato é o trem de alta velocidade. Vamos discutir com coreanos e japoneses a ligação ferroviária São Paulo-Rio. O segundo objetivo é a dragagem de portos. Vamos fazer licitação internacional para sete grandes blocos e os coreanos e japoneses têm as maiores empresas de dragagem do mundo. E tem o lado de representação do governo na comemoração dos 100 anos de imigração japonesa para o Brasil.

http://ultimosegundo.ig.com.br/ricardo_kotscho/2008/04/20/exclusivo_
dilma_candidata_ela_nao_assume_mas_seus_olhinhos_brilham_1278929.html

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domingo, abril 20, 2008

Tarso Genro, o que acontece é 'a chegada do Estado de Direito a um lugar dominado pelo Estado Oligárquico'


Tarso Genro: preocupação militar com reserva é falsa

Segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, o que acontece é 'a chegada do Estado de Direito a um lugar dominado pelo Estado Oligárquico'. O maior dos mitos, diz Genro, é o de que as terras indígenas são indisponíveis para a União. 'Alimentou-se uma mentira. Do ponto de vista jurídico, é falsa a preocupação dos militares. Na verdade, o país perde o controle quando arrozeiros armados impedem a chegada da lei.'

Por Felipe Milanez, para a Carta Capital

Nos pés do Monte Roraima, extremo norte do Brasil, uma praça-de-guerra foi montada nas últimas semanas por uma questão que assola grande parte dos sertões do País: o conflito fundiário em terras indígenas. De um lado está a Polícia Federal, pronta a cumprir a lei que determina a retirada de fazendeiros da reserva Raposa Serra do Sol. De outro, um grupo de produtores rurais, liderados por Paulo César Quartiero, a prometer resistência até a morte. Quartiero chegou a contratar pistoleiros em Manaus e na Venezuela para defender sua propriedade. No meio, 18 mil indígenas declarados donos de uma área de 1,74 milhão de hectares e que esperam obter, de fato, o que de direito conseguiram em 2005, quando a área foi homologada pelo governo federal. Como pano de fundo, uma discussão que faz reaparecer velhos fantasmas dos ultranacionalistas, entre eles o risco de internacionalização da Amazônia.
A interrupção do processo de retirada dos fazendeiros por uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o conflito em Roraima, mas criou um novo ponto de atrito em Brasília entre os poderes Executivo e Judiciário. “O que estamos assistindo é uma fraude”, dispara o ministro da Justiça, Tarso Genro, contra a tese, aparentemente acatada pelo STF, de que a homologação da reserva seria uma ameaça à integridade nacional e à soberania. Há sinais de que vários ministros do Supremo compartilham da preocupação externada por integrantes das Forças Armadas, da reserva e da ativa, de que a criação de áreas indígenas de enorme extensão é um entrave ao trabalho do Exército Brasileiro e, por extensão, um enfraquecimento da capacidade de controle das divisas.
Relator do processo no Supremo, o ministro Carlos Ayres Britto declarou que a região é próxima da fronteira brasileira e deve ser tratada como estratégica. Mais comedido nas palavras, o ministro Eros Grau expressou à Carta Capital preocupação semelhante: “Existem ali interesses de toda ordem. Há os de organizações não-governamentais, e as ONGs podem ser do bem e podem ser do mal. Tenho muito medo quando se quer transferir as responsabilidades do Estado para a sociedade civil, vale dizer para o mercado”.
O ministro Genro discorda. Para ele, o temor da suposta ameaça à soberania está embasado em mitos. “Há um apoio a uma resistência que se coloca como movimento social, coisas são apresentadas como natural, mas trata-se de ações terroristas de resistência”, considera, em referência à posição dos fazendeiros, já indenizados, de não querer deixar as terras. Segundo o ministro, o que acontece é “a chegada do Estado de Direito a um lugar dominado pelo Estado Oligárquico”. O maior dos mitos, diz Genro, é o de que as terras indígenas são indisponíveis para a União. “Alimentou-se uma mentira. Do ponto de vista jurídico, é falsa a preocupação dos militares. Na verdade, o País perde o controle quando arrozeiros armados impedem a chegada da lei.”
Militares da reserva demonstraram na mídia, nas últimas semanas, a contrariedade com a ação de retirada e o cumprimento da homologação da reserva. Não é uma posição nova a respeito do assunto. Desde que a demarcação começou a ser pleiteada, há 33 anos, as Forças Armadas sempre se opuseram ao projeto. O Exército chegou a ter três bases na área: Uiramutã, Normandia e Pacaraima. Em 1996, os generais pareciam ter vencido a queda-de-braço com a Fundação Nacional do Índio (Funai). À época, o então ministro da Justiça Nelson Jobim, hoje titular da Defesa, determinou, por portaria, que fossem criadas ilhas isoladas de reserva e não uma área contínua, como defendia a Funai.
O sucessor de Jobim, Renan Calheiros, voltou atrás e aprovou a criação de uma reserva em território contínuo. Dezenas de ações do estado de Roraima e de particulares chegaram à Justiça Federal, que suspendeu os efeitos da portaria declaratória da terra e impediu o último trâmite do processo, a homologação definitiva pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Foi durante a gestão de Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça que a criação da reserva finalmente saiu do papel. Bastos elaborou uma nova portaria que pôs fim a todas as ações judiciais. A estratégia recebeu o aval do ministro do Supremo Carlos Ayres Britto. No dia seguinte à decisão de Britto, Lula assinou a homologação da terra indígena.
Os temores dos militares deveriam ter sido definitivamente superados nesse momento. Como as terras indígenas pertencem à União, a lei determinou que o Exército disponha de total autonomia para entrar e montar bases em caso de ameaça à soberania. O Decreto nº 4.412, publicado no final do governo FHC, diz que basta as Forças Armadas consultarem a Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa Nacional caso queiram instalar unidades em reservas. O próprio decreto de homologação assinado por Lula mais tarde assegura, expressamente, a ação militar e da Polícia Federal na região.
Mas nem essas medidas serviram para apaziguar os ânimos. Quando presidiu a Funai, Mércio Pereira Gomes foi convocado diversas vezes pela Escola Superior de Guerra para prestar esclarecimentos sobre o processo, por causa do continuado e irremovível receio dos oficiais. “Eles se preocupavam com a segurança, mas não há dúvidas na legislação de que o Exército tem autonomia para cuidar das fronteiras”, afirma Gomes. “E sobre a soberania, a legislação brasileira e internacional garantem a integridade do território.”
Em um seminário sobre ameaças à soberania brasileira, realizado na quarta-feira 16 no Clube Militar, no Rio de Janeiro, o comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, disse que a política indigenista “é lamentável, para não dizer caótica”. Foi aplaudido por cerca de 150 militares da ativa e da reserva. O general Mário Madureira, do Comando Militar do Leste, acrescentou: “O risco da soberania é com áreas que podem ser separadas do território brasileiro”.
No ressurgimento dos fantasmas dos riscos à soberania, passa despercebida uma antiga colaboração dos índios à defesa do território nacional. Segundo o antropólogo Paulo Santilli, fatos históricos comprovam a participação indígena na defesa das fronteiras. “O Joaquim Nabuco, então advogado do Brasil, propôs uma brilhante estratégia de ocupação contínua da colônia, a formação de “muralhas no Sertão”. Essas muralhas seriam formadas por tribos que consideravam brasileiras e cujos integrantes tinham nome português de batismo”, lembra.
Santilli recorda ainda as expedições do marechal Cândido Rondon. Em 1927, Rondon partiu para a Região Norte na Comissão de Inspeção de Fronteiras. “Eram os índios que carregavam os armamentos, os instrumentos, o cimento para fazer o marco, as fardas, os mantimentos, que deram nomes aos rios da divisa. Muitos índios trabalharam nessa comissão”, afirma Santilli. Foi então que Rondon afirmou a importância das “fronteiras vivas”, habitadas pelos indígenas aliados ao governo federal.
Na Amazônia Legal há hoje quase cem terras indígenas situadas dentro da faixa de fronteira. Na Yanomami, há três batalhões, enquanto nas do Alto Rio Negro há cinco. “Muitos soldados, na Cabeça do Cachorro, são indígenas”, afirma o antropólogo Beto Ricardo, secretário-executivo do Instituto Socioambiental, uma ONG bastante ativa na região. Na própria Raposa Serra do Sol resiste o batalhão em Pacaraima.
Para regulamentar o convívio cada vez mais intenso entre as Forças Armadas e os indígenas, foi elaborada a Portaria 983, de 2003, do Ministério da Defesa. Entre os pontos levantados está o de se incluir nos currículos das escolas militares assuntos referentes à política indigenista brasileira, e considerar estudos e medidas necessários para a redução do impacto socioambiental nas comunidades da instalação ou transferência de unidades militares.
Sem um fato concreto que aponte os riscos à soberania, os militares levantam fantasmas a respeito da internacionalização da Amazônia. Segundo essa tese bastante difundida entre os oficiais, os índios poderiam se associar a ONGs estrangeiras e à Organização das Nações Unidas (ONU) para pleitear a independência de reservas. Contribuiu para o argumento nacionalista o fato de o Conselho Indígena de Roraima (CIR) ter recorrido à Organização dos Estados Americanos na tentativa de forçar o governo brasileiro a realizar a retirada dos fazendeiros.
“É uma verdadeira paranóia”, afirma o atual presidente da Funai, Márcio Meira. “Toda ONG, assim como toda empresa que se estabelece no Brasil, é obrigada a seguir as leis brasileiras”, diz. De acordo com ele, a Declaração Universal dos Povos Indígenas, da ONU, foi feita com a participação do governo brasileiro e respeita expressamente a soberania dos países. “A autonomia que se confere aos índios é cultural, na mesma linha da Constituição de 1988”, esclarece.
“Há todo um mito de processos de internacionalização da Amazônia que não é uma história recente”, afirma Nagib Lima, da Casa Civil. “A discussão de fronteiras em nenhum momento afeta a segurança do Estado brasileiro, pois as forças de segurança estão presentes”, diz.
Para o coordenador do CIR, o índio macuxi Dionito José de Souza, o STF posicionou-se a favor de uma ilegalidade. “Não faz o menor sentido dizer que não queremos ser brasileiros. É um argumento para impedir a demarcação das terras indígenas, e o Supremo entendeu que era melhor ser favorável aos bandidos”, diz. E conta: “Os rizicultores fecharam a escola e disseram que ninguém vai poder ir à aula”. Souza lembra que a escola em questão já havia sido incendiada pelos fazendeiros em 2005. O inquérito criminal corre na delegacia federal de Boa Vista.
Convidado a dar uma palestra sobre a soberania da Amazônia no Clube Militar, Jonas Marculino, ex-presidente da Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima (Sodiur), organização que defendia a permanência dos arrozeiros na área até pouco tempo atrás, mas mudou de lado após, segundo ele, perceber as vantagens da demarcação, faz coro aos militares. “A questão da Raposa Serra do Sol é bastante problemática por estar nos olhos da comunidade internacional. Eu vejo muitos olhares, creio eu, mais capitalistas do que humanitários”, diz o índio.
Marculino é considerado um intelectual por seu grupo indígena, que faz oposição ao CIR. A Sodiur chegou a praticar atos violentos contra a homologação, inclusive com o seqüestro de quatro agentes federais em 2005. “A Sodiur não está mais envolvida com a violência. Antes, sim, quando houve alguma influência de pessoas não indígenas, com dinheiro que conseguiram mobilizar lideranças, e houve tragédias”, conta.
O temor no governo e em grupos defensores dos índios é que o Supremo reveja a definição da reserva e estimule uma enxurrada de ações revisionistas com contestações sobre a demarcação de outras terras Brasil afora. “O STF dita e nós obedecemos”, afirma o ministro Genro. “Porém, eles vão ter de compartilhar a responsabilidade sobre o conflito.” No momento, o calor do debate sobe nos gabinetes de Brasília. A Raposa Serra do Sol, em meio à floresta, continua em transe, entre uma solução pacífica e um confronto, cujas proporções continuam indefinidas.

Fonte: Carta Capital

URL: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=36339

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sábado, abril 19, 2008

O DEM É A ARENA DE PIJAMA



Lideranças do DEM se deslocam movidas por nostalgia de caserna
As lideranças do DEM se deslocam movidas por nostalgia de caserna. Dos tempos prestigiosos em que era Arena, depois PDS até se reciclar em PFL. É banzo de quem se veste com roupagem do presente à espera de uma "ação redentora" que lhe restitua o passado e o sentido. Para isso, açula pijamas, imaginando as vistosas fardas de outrora.

por Gilson Caroni Filho
para a agência Carta Maior

Ao atacar a política indigenista do governo, o comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, não cometeu apenas um ato de insubordinação, ferindo o Regime Disciplinar do Exército. Trouxe à tona, pelas reações que produziu em círculos conservadores a repreensão do presidente Lula, velhos questionamentos sobre a presença dos militares na cena política.

O que há em comum entre as notas distribuídas pelo presidente do Clube da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Ivan Frota, pelo presidente do Clube Militar, general Gilberto de Figueiredo e o posicionamento, também através de nota, do presidente do DEM, Rodrigo Maia? O que os une além do flagrante vezo autoritário? Um pretorianismo fora de época. Uma aposta equivocada de que conflitos distributivos, tal como no passado recente, encontrariam instituições debilitadas, incapazes de acomodá-los dentro dos marcos de um Estado democrático.

A presunção do trio parece ignorar que o rico inventário das ações dos movimentos sociais comportou a construção de sólidas casamatas tanto nos centros urbanos quanto no mundo rural. E foi isso que conferiu solidez ao Estado democrático. Numa sociedade totalmente distinta da existente em 1964, Ivan Frota, Rodrigo Maia e Gilberto de Figueiredo comportam-se como criações de Luigi Pirandello: três personagens a procura de uma "crise militar".

Esquecem que o golpe de Estado veio para barrar a emergência de movimentos sociais em um contexto específico: no plano interno, as debilidades estruturais do capitalismo brasileiro, no externo, a carga ideológica de um cenário internacional marcado pela lógica da Guerra Fria. O autoritarismo e a centralização do poder político no estamento militar tiveram como substrato o sonho da “potência emergente." O desgaste e o enfraquecimento de 20 anos de ditadura tornam possível, hoje, dramatizar o seu papel político.

Assim, como interpretar a vociferação do presidente do Clube da Aeronáutica quando ele ameaça uma autoridade legítima e democraticamente eleita?: "que o presidente não se atreva a tentar negar-lhe (ao general Heleno) o sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro (...). Caso se realize tal coação, o país conhecerá o maior movimento de solidariedade, partindo de todos os recantos deste imenso país, jamais ocorridos nos tempos modernos de nossa História".

Certamente o protofascimo tem um caldo cultural. A perda de prestígio político leva um ator a exacerbar seu grau de irracionalidade. Pegar uma questão pontual, pequena e elevá-la à condição de “democracia abalada" é um expediente tão surrado quanto inútil. Quem tiver o hábito de ler os comunicados do presidente do Clube da Aeronáutica verá que o discurso é recorrente. E patético.

Quando o general Gilberto de Figueiredo considera "estranho o presidente da República pedir explicações sobre o caso. Não me consta que tenha adotado o mesmo procedimento quando ministros do seu partido contestam publicamente a política econômica do governo", deixa trair um inconformismo não muito diferente do seu colega da Aeronáutica. Na verdade, revela uma linha de raciocínio que compreende as Forças Armadas ainda convertidas em sujeitos de poder altamente coporativistas e com amplas margens de autonomia no sistema político. Em suma, mais um personagem fora do tempo e do espaço.

E o que dizer do DEM quando sua Comissão Executiva Nacional “vem a público exigir medidas efetivas contra o clima de quase insurreição que temos vivido; alertar a opinião pública para a irresponsabilidade contínua do governo no uso do dinheiro público e manifestar apoio ao comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira – ameaçado e intimidado depois que solicitou mudanças na política indigenista"?

O que temos aqui é um partido em risco de extinção, sem projeto e perfeitamente dispensável pelas duas agendas em disputa. Uma agremiação que teve a votação diminuída de 2000 a 2004 e, na proximidade de uma eleição municipal, não conta com máquina estadual para puxar votos. Suas lideranças se deslocam movidas por nostalgia de caserna. Dos tempos prestigiosos em que era Arena, depois PDS até se reciclar em PFL. É banzo de quem se veste com roupagem do presente à espera de uma "ação redentora" que lhe restitua o passado e o sentido. Para isso, açula pijamas, imaginando as vistosas fardas de outrora.

É triste, ridículo, mas não passa disso a nossa “crise militar”.

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.

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quarta-feira, abril 16, 2008

Lula, um filho do povo




Artigo publicado originalmente no site do ex-ministro José Dirceu.

Quando li os resultados fantásticos da última pesquisa CNI/Ibope sobre a avaliação do governo Lula, não pude deixar de lembrar de uma frase que ouvi em 2006 em plena campanha de reeleição, enquanto aguardava na fila do banco.

Vinha de uma senhora bem idosa e lúcida, que me calou fundo e me fez pensar.

“Ah, se eu ainda estiver viva, vou dar de novo meu voto para reeleger o Presidente Lula. Ele é o único presidente até hoje que eu senti vontade de convidar para comer um feijãozinho na minha casa”.

O sentimento que aquela senhora carregava na voz era de alguém que perdeu a vergonha de ser povo. Alguém que, na verdade, mesmo com toda a sua simplicidade, não se sentia inferior porque sabia que o presidente de seu país cabia à sua mesa.

Além dos excelentes resultados econômicos do país e dos ganhos sociais que a população vem conquistando, a enorme aprovação e popularidade do presidente deve-se também a essa razão: ele mora na alma do povo. Mesmo assim, nunca foi considerado como “pai dos pobres” e nem como “mãe indulgente” como a crítica oposicionista tenta, incansavelmente, rotulá-lo. Lula não é pai e nem mãe, é filho, um filho do povo. Um filho de todos nós, que fizemos muito sacrifício para colocar em suas mãos seu “primeiro diploma” e continuamos, como pais zelosos, a ampará-lo e apoiá-lo nas crises e golpes. A fala e a percepção desta velha senhora me mostraram que novos valores estão surgindo na forma de avaliar um governante – seu voto não era para o feijão do Bolsa Família e nem tão pouco pelo preço do grão no mercado, mas porque gostaria de partilhá-lo à mesa, em empatia com seu filho presidente. Muito além de números, nosso governo vem transformando padrões humanos e conseguindo resgatar a auto estima da população mais carente, não só através de suas políticas sociais, mas, principalmente, porque o Presidente Lula, diferentemente de FHC, nunca enxergou o Brasil como um país pobre, no sentido estreito da visão de certos economistas e analistas econômicos, que definem a riqueza de um país somente pelas suas reservas internacionais.

Lula sempre valorizou nosso bem maior – o povo brasileiro. Atrás dos números de Lula está o surgimento de um caminho mais humano para o crescimento do país, que não se baseia exclusivamente na busca de metas tradicionais, mas também em valores como justiça social, solidariedade e respeito pelas pessoas e pelo meio ambiente. Afinal de contas, se o crescimento econômico de um país não for para melhorar a vida e a auto estima das pessoas, é para que então?

Quando abro os jornais e vejo lá 73% de aprovação ao Presidente Lula em todas as faixas pesquisadas (e num segundo mandato!) fica muito claro para mim que o povo brasileiro não deseja alteração no rumo que as coisas tomaram. É uma confirmação óbvia de que o atual governo tem acertado mais do que errado no conceito de uma esmagadora maioria e um recado explícito da população para outro mandato.

Todas as críticas ácidas que leio sobre a possibilidade de um terceiro mandato para Lula me fazem pensar no significado e na definição do que é democracia. Se é um governo do povo, um sistema político em que cada cidadão participa do governo, fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo e é exercida por ele ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres, qual é então o risco para a democracia?

No meu entender, não é a democracia que seria ameaçada com um terceiro mandato, mas a oposição. O risco maior, na verdade, é o que Lula representa e defende - a força do povo no poder e não a força de um ditador no poder.

Para o PSDB e o DEM (ex PFL) que não têm nenhuma identificação e nenhum diálogo com o povo e com os movimentos sociais é até compreensível que tenham mesmo muito medo de Lula e do PT no governo. Aliás, espalhar um medo infundado na sociedade contra o PT e suas propostas sempre foi o expediente preferido dessa oposição. Quem não se lembra do depoimento de Regina Duarte na campanha do Serra para presidente em 2002? Sentindo a derrota cada vez mais perto, decidiram resumir a campanha eleitoral em um único argumento: os riscos do PT no poder. Mas esqueceram que o medo tem um lado complementar, o de provocar mudanças positivas. E os resultados estão aí.

Para um partido como o PT que fala a linguagem do povo e tem suas raízes solidamente plantadas na intimidade dos movimentos sociais, exercer mais quatro anos de um governo democrático e de esquerda cujo projeto tem sido vitorioso, acaba empoderando mais ainda a sociedade, desestabilizando feudos há muito tempo constituídos e contrariando interesses nada republicanos. Esse é o maior risco para a oposição – o terceiro mandato ampliaria mais ainda a democracia e não o contrário.

Achar que um terceiro mandato para Lula é abrir espaço para o presidencialismo tornar-se uma ditadura é, no mínimo, ofender e subestimar muito a capacidade e a inteligência eleitoral do povo brasileiro e fazer pouco caso das histórias de luta pela democracia nesse país, inclusive a história do próprio presidente Lula e do PT. Muito incoerente essa preocupação vir justamente dos partidos que recriaram a reeleição para FHC (hoje sabemos a que “preço” para o país) e que agora falam em defesa da alternância de poder! Eu pergunto para os tucanos e demos: o povo teria aprovado um terceiro mandato para FHC?

O Brasil amadureceu e nossa democracia tem sido um exemplo a ser copiado pelo mundo nos processos eleitorais, colocando esse risco de retrocesso num plano tão remoto, que chega a ser ridícula essa justificativa. Confundem a excelente avaliação de um governo verdadeiramente realizado pelo povo e para o povo, com ingenuidade eleitoral.

Não há crise de confiança neste governo, como havia no de FHC. Hoje, o maior temor da sociedade brasileira não é a volta da ditadura, mas o risco de se perder esse ciclo virtuoso de crescimento; é o medo das descontinuidades e desconstruções que, infelizmente, sempre ocorrem com a troca de governos. 8 anos ainda é muito pouco para se estabilizar os patamares atuais de forma sustentável e responsável. No meu ponto de vista, a democracia corre risco quando aceitamos, passivamente, que a oposição ocupe as tribunas do Congresso Nacional para despejar, sistematicamente, acusações sem provas e ofensas às instituições republicanas, com palavras de baixo calão. Ou quando ouvimos, sem reação, os numerosos discursos ali proferidos que caracterizam uma evidente desmoralização à Constituição. Até mesmo quando assistimos, consternados e paralisados, a rotineira troca de insultos pessoais, jogos de poder e vaidade, mentiras deslavadas, desculpas esfarrapadas e acusações inverídicas, caracterizando não só uma inadequação séria para ocupar um cargo de tanta relevância pública, como também a comprovação de um desrespeito enorme ao povo brasileiro, que paga R$ 11.545,04 por minuto para sustentar esses parlamentares como seus porta-vozes naquelas Casas.

Nossa democracia corre risco quando consentimos que permaneçam ocupando as Casas Legislativas e as Prefeituras deste país, todos aqueles políticos envolvidos com processos na Justiça e ainda por cima sendo acobertados e protegidos por foro privilegiado.

Nossa democracia corre risco quando aceitamos que assuma o cargo de Senador da República um sujeito que nunca obteve um voto sequer e ainda é considerado “representante do povo”, mesmo respondendo a processos na Justiça.

Nossa democracia corre risco quando admitimos que o nosso voto seja violentamente desmoralizado pelas paralisias regimentais, no intuito claro de protelar a votação de matérias importantes para o país, como o Orçamento da União ou as reformas tão almejadas, em especial a reforma política, colocando os interesses e as picuinhas partidárias acima dos interesses da nação. Nossa democracia corre risco quando permitimos que grande parte da mídia aja de forma partidária, elitista e preconceituosa, acusando e condenando sem provas, exatamente como nos modelos de uma ditadura e se valendo do argumento da liberdade de expressão para enveredar em limites perigosos.

Nossa democracia corre risco quando a sociedade não percebe com clareza a magnitude do perigo que representa as freqüentes interferências do Judiciário no Executivo, que compromete seriamente o atendimento ao interesse público.

Mesmo diante de todas essas anomalias, o povo continua cumprindo sua parte, com equilíbrio e inteligência, para que o processo democrático brasileiro prossiga amadurecendo sem turbulências para o país. Somos realmente um povo pacífico, trabalhador e otimista, mas não somos ingênuos. É justo então negar a esse povo o direito de exercer sua vontade soberana?

Elizabeth Stehling é especialista em Políticas e Gestão da Saúde.

http://www.pt.org.br/portalpt/index.php?option=com_content&task=view&id=11872&Itemid=201

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Postamos esse artigo para a Veja.

A direita brasileira tá insistindo tanto num
3º mandato para o presidente LULA

que a gente acaba atendendo o desejo deles...
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quarta-feira, abril 09, 2008

Vidas intimidadas, nas terras dos livres*

Robert Fisk (5/4/2008)

Há alguns dias, tive a oportunidade de falar a 600 muçulmanos canadenses, num salão de banquetes em Ottawa. Entre os convidados estavam o imam da mesquita da cidade, o chefe de polícia e vários oficiais uniformizados do exército do Canadá.

O imam sentou-se entre mim e o chefe de polícia, principal autoridade policial da cidade – sujeito genuinamente decente, que gostaria de ser visto como amigo, pelos muçulmanos canadenses –, e chegamos até a rir um pouco dos "controles randômicos", nos aeroportos da América do Norte, pelos quais passam muçulmanos chegados do Oriente Médio e um certo R Fisk. Tudo ia muito bem, até que levantei para falar.

Preveni os presentes, de que talvez não gostassem do que ouviriam de mim. E aconteceu: fui saudado com pesado silêncio, quando disse que todos os ali sentados eram perfeitamente livres para denunciar e condenar Israel e os países da América do Norte – que, na verdade, deviam denunciá-los e condená-los sempre que agredissem os direitos humanos, ocupassem países e matassem civis inocentes –, e que muito me interessaria saber por que só tão raramente eu os ouvira condenar os viciosos Estados policiais do Oriente Médio e de outras áreas do sudeste da Ásia dos quais eles emigraram. Silêncio. Um grupo de diplomatas muçulmanos, sentados como estátuas, identificavam a crueldade de seus respectivos regimes. Aplausos imediatos só vieram quando declarei que o momento certo para a imediata retirada dos soldados foi o primeiro momento em que soldados ocidentais abriram fogo contra muçulmanos em terras muçulmanas.

Dois fenômenos interessantes brotaram desta observação. Primeiro que, quando terminei de falar, fui aplaudido tanto pelo chefe de polícia quanto pelos oficiais do exército canadense. O envolvimento de militares canadenses no Afeganistão, sem solução à vista, tem gerado considerável controvérsia também entre os militares canadenses. Como descobri, os militares sempre falam depois que os políticos calam-se.

Muito mais reveladora, contudo, foi a longa viagem de carro, no dia seguinte, pela tundra gelada do Canadá, durante a qual dois muçulmanos canadenses – sim, sim, eram barbudos – explicaram-me por que a comunidade manteve-se calada apesar das iniqüidades perpetradas pelas ditaduras em suas respectivas pátrias de origem. Eu sugerira que eles apoiariam aqueles regimes – porque precisavam de dinheiro e de suporte político. Eles concordaram. Até certo ponto.

"Mr. Robert, o senhor tem de entender um detalhe", disse o motorista, de repente. "Eles têm agentes mukhabarat aqui no Canadá. Uma briga de família, que seja, pode ser relatada para "lá", se o sujeito estiver zangado, como manifestação contra o regime. E todos temos parentes que ainda vivem "lá". E podem ser presos. Nós também podemos ser presos, quando os visitamos "lá".

Claro. Só um ocidental – que pressupõe automaticamente que quem tenha um passaporte canadense esteja seguro – deixaria de ver a fissura nesta corajosa sociedade multiétnica: não que as vastas comunidades emigradas para o Canadá, de todos os cantos do mundo, não vivam em terras dos livres; é verdade que vivem, sim, em terras dos livres; mas a liberdade aqui é assustadoramente limitada pela brutalidade e pela falta de liberdade nos países de onde saíram.

Assim, comecei a aprender o que é ser um árabe canadense. Basta uma briga de rua, para que um e-mail voe de volta a Trípoli ou ao Cairo ou a Damasco ou para o Golfo, informando aos déspotas de "lá" que um cidadão 'duplo' – Mohamed ou Hassan ou Abdulrahman ou quem for – é subversivo potencial e, ergo, é terrorista. E, tão íntima é a colaboração entre as bem-amadas agências da inteligência ocidental e os torturadores, naquelas ditaduras repulsivas, que a tal "inteligência" é partilhada.

Apenas alguns dias depois de o e-mail ter voado para o mundo árabe, os mukhabarat informam privadamente ao serviço canadense de inteligência – uma instituição realmente muito estranha, chamada Center for Strategic and International Studies (CSIS) – que Mohamed ou Hassan ou Abdulrahman é "terrorista". Então, Mohamed ou Hassan ou Abdulrahman passam a ser observados pelo CSIS como terroristas potencialmente perigosos, residentes no Canadá.

Foi quanto entendi perfeitamente por que minha fala no salão de banquetes em Ottawa foi recebida com aquele silêncio gelado. Não faz muito tempo, por exemplo, Maher Arar, residente no Canadá, foi preso pelos brutamontes do FBI no aeroporto JFK e "redirecionado" para a tortura nos porões de uma prisão na Síria, por cortesia (e informações) do CSIS e da Real Polícia Montada do Canadá.

O governo canadense, depois, indenizou Arar ($10m) pela experiência ultrajante. Mas quem falaria contra o próprio país natal, se sabe que terminará numa cela, com um torturador super-treinado?

Depois de Tariq Ali ter revelado o lado escuro da lenda dos Bhutto, na London Review of Books, ano passado, minha advogada favorita, Gareth Peirce – que ganhou fama em "Em nome do pai"[1] – dirige agora suas baterias contra a versão britânica destes acontecimentos vergonhosos.

Na mesma publicação[2], ela oferece relato detalhado e atualizado das fraudulentas promessas que os britânicos têm feito aos árabes que escolham voltar às respectivas pátrias selvagens – como alternativa à prisão domiciliar no Reino Unido –, de que não serão nem presos nem torturados "lá".

Quando Benaissa Taleb e Rida Dendani foram despachadas de volta à Argélia, por exemplo, um diplomata britânico prometera-lhes que seriam detidas, no máximo, por algumas horas. E foram, ambas, interrogadas e espancadas por 12 dias em Argel, antes de serem condenadas a anos de prisão. Quando, em desespero, Dendani recorreu à Special Immigration Appeals Commission (SIAC) da Inglaterra, eles sequer responderam. E nada os obrigava a responder.

Como Peirce revela, com documentos exibidos nos julgamentos, um memorando privado, que circulou entre o Home Office e Anthony Blair (e como lamento ser obrigado a mencionar o nome deste homem!), alertava os funcionários sobre a possibilidade de os egípcios serem torturados, se fossem deportados para o Cairo, foi recebido por nosso ex-Primeiro Ministro com as palavras: "Mande-os de volta." Sobre o alerta, do Home Office, de que não se podia acreditar nas garantias que os egípcios ofereciam, Blair escreveu: "Isto já está além da conta. Por que precisamos destes memoranda?"

Terei sido o único a reagir com mais do que apenas "não gostar", ao sermão hipócrita, palavroso, daquele ser detestável, na Catedral de Westminster, na 5ª feira? Porque aquela reação imoral àquele caso de deportação – e a resposta similar de incontáveis líderes políticos também detestáveis – contra os muçulmanos que vivem na Europa e na América do Norte é que gera o silêncio gelado, estéril, apavorado e apavorante que ouvi no salão de banquetes em Ottawa. Percebo agora que, sim, se eu estivesse na platéia, também ficaria mudo e imóvel.



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* ROBERT FISK, 5/4/2008. "The fearful lives in a land of the free", The Independent, em http://www.independent.co.uk/news/fisk/robert-fisk-the-fearful-lives-in-a-land-of-the-free-804914.html © The Independent. Tradução para finalidades acadêmicas, sem valor comercial.

[1] In the Name of the Father, filme de 1993. Irlanda/Grã Bretanha/EUA; dir. Jim Sheridan.

[2] GARETH PEIRCE, "Was it like this for the Irish?", London Review of Books, 10/4/2008, na internet em http://www.lrb.co.uk/v30/n07/peir01_.html

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