segunda-feira, março 31, 2008

>>> O DES-jornalismo que desgraça o Brasil-2008 é uma praga



A escandalosa coluna "Direto da Fonte", de uma daquelas famigeradas "Meninas (?!) do Jô".

Quando eu digo que TODOS perdemos tempo com dar QUALQUER atenção ao 'jornalismo' ESPANTOSAMENTE incompetente que que vende, no Brasil, aos cidadãos consumidores, nunca falta quem me espinafre.

Fato é que NÃO HÁ DÚVIDAS de que o 'jornalismo' brasileiro é caso do qual se deveria encarregar o IDEC - Instituto de Defesa do Consumidor.

Pois eu digo e repito: TODOS os cidadãos consumidores somos diariamente tungados, desavergonhadamente, cada vez que pagamos para ler os DES-jornalões que se impingem, no Brasil, aos consumidores-leitores de DES-jornalões. O DES-jornalismo que desgraça o Brasil-2008 é uma praga.

Todos os DES-jornalões brasileiros poderiam ser fechados, portas lacradas e terreno salgado. E MELHORARIAM as chances de os brasileiros sermos bem informados. Exemplos de DES-jornalismo, tão horrorosamente ruim quanto metido a besta abundam.

6ª-feira, dia 28/3/2008, por exemplo, o Estadão -- espantosíssimamente arrogante; e na coluna de Sonia Racy, à. p. D2, caderno 2 -- espantosíssimamente tucana, além de arrogante e metida a besta --, publicou a seguinte INACREDITÁVEL asneira:

O CAUDILHO E O POETA

Será que Hugo Chávez anda lendo Manuel Bandeira? Informado, no Recife, sobre a proposta brasileira de um conselho de defesa para a AL, disse que já teve a idéia em 1999 -- mas, então, era "um galo solitário". E disparou: "Um galo sozinho não tece uma manhã".

Desnecessário dizer que (1) o presidente Chávez sabe muito mais de poesia, do que a tal de Sonia Racy. E desnecessário dizer que EU EXIJO A MINHA GRANA, DE VOLTA, pois paguei pra ler jornal, não pra ler besteiras de PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA E ILEGAL A FAVOR DA TUCANARIA USPEANA PEFELENTA.

Eu SEI MAIS que a tal de Sonia Racy. Ela, portanto, é quem deveria pagar PARA EU LER aquela pooooooooooooorcaria de jornal.

O verso MUITO BEM DECLAMADO, corretíssimo e perfeitamente adequado, que o presidente Chávez lembrou JAMAIS FOI ESCRITO por Manuel Bandeira: é verso de maravilhoso poema de JOÃO CABRAL DE MELO NETO -- o que se comprova em http://www.consciencia.net/2006/0117-melo-neto.html, e qquer jornalista MEDIANAMENTE BEM INFORMADA, que fosse, teria de saber.

Pois a ESPANTOSÍSSIMAMENTE metida a besta Sonia Racy, da espantosíssimamente idiota 'coluna social' de promoção dos espantosíssimamente fátuos, toscos e feios tucanos-uspeanos paulistas... não sabe sequer sacar, 'de orelha', que um verso de Manuel Bandeira JAMAIS poderia ser confundido com um verso de João Cabral. A ignorância que se manifesta neste erro, não é pequena. E o ânimo golpista salafrário, de espinafrar um presidente eleito, este, sim, é total. Que vergonha!
Caia Fittipaldi
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TUCANOS E VEJA, UMA VELHA PARCERIA


Nassif revela evidências de "dedo tucano" no suposto dossiê

O jornalista Luis Nassif conseguiu informações de bastidores que indicam a participação de tucanos na elaboração do suposto dossiê que a revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo --coincidentemente, dois veículos simpáticos ao tucanato-- andaram divulgando na última semana. Segundo informação postada no blog do Nassif, há inúmeras indicações que o suposto dossiê foi produzido por membros do governo Fernando Henrique para causar um "fato político" que estourasse no colo do Palácio do Planalto.

No sábado (22), mesmo dia que a revista Veja chegou às bancas com a "notícia" sobre o suposto dossiê, este Vermelho publicou matéria do jornalista Cláudio Gonzalez que também levantava a hipótese do documento ser obra da própria direita, interessada em reeditar o episódio ocorrido às vésperas das eleições de 2006. (Leia aqui: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=34588 )

Agora, Nassif traz novos indícios que fortalecem esta hipótese. Ele mesmo diz estar convencido de que o tal dossiê é uma armação. "Não é a primeira vez que sigo a intuição e aposto em uma direção. Se estiver errado, pago o pato: me penitenciarei publicamente aqui no Blog e me exporei aos ataques dos adversários. Mas minha convicção sobre a natureza do suposto dossiê está mais forte", diz ele.
"Tanto na matéria da Folha quanto da Veja, não havia uma indicação nem de onde veio o tal dossiê, nem quem foi chantageado por ele. E essa ausência absoluta de informações acende a luz amarela em qualquer jornalista com experiência em reportagem investigativa",explica Nassif.

Governo anterior
A suspeita de Nassif sobre a origem do dossiê foi reforçada após a conversa que ele teve com um dos mais experientes repórteres políticos de Brasília. "Sua visão – de dentro do jornalismo brasiliense – ajuda a trazer mais dados para essa história do suposto dossiê contra Fernando Henrique Cardoso", diz Nassif. O jornalista, que Nassif preferiu não identificar, diz que há inúmeras indicações que o suposto dossiê foi produzido por membros do governo anterior. A primeira, é que os papéis não machucam ninguém. Apresentam apenas banalidades sobre os gastos de FHC. Depois – continua ele – porque, pela descrição da Folha, percebe-se que foram extraídos de três bases de dados diferentes, com três letras diferentes de computadores, com diferentes tratamentos a dona Ruth.

O jornalista ouvido por Nassif garante que esses papéis não foram produzidos na Casa Civil. "No máximo pode haver alguma coisa da base de dados que foi juntada às trezes folhas. A Casa Civil pode ter seu levantamento, mas não é esse", opina.


Já havia suspeitas de que o material reproduzido pela Folha na quinta tivesse sido fornecido pela Veja. Primeiro, pelo fato de nenhuma das duas empresas darem a menor dica sobre a proveniência dos dados. Em qualquer jornalismo que se preze, não se entregam as fontes mas se dão dicas sobre a origem da informação, como forma de situar o leitor. Ou do Congresso, ou de fontes do Palácio, ou de fontes do antigo governo, qualquer coisa que permita ao leitor saber o que estão lhe servindo.
As duas publicações nada falam sobre isso. Mas a confirmação veio na última edição de Veja.
Porões Dilma Rousseff negociou terça e quarta pessoalmente com Roberto Civita a publicação do desmentido oficial da Casa Civil, diz ele. O acordo foi fechado na quarta. A confirmação veio na última edição da revista, no espaço aberto à Ministra. A redação da Veja se sentiu acuada. O suposto dossiê foi entregue à Folha na quinta – típica reação dos porões, diz o jornalista.

E porque porões? Aí entra a questão da bruxaria, imagem que ele vai buscar em matéria de Elio Gaspari na Veja, em 1985, quando Brasília amanheceu coalhada de cartazes indicando que o Partido Comunista apoiava Tancredo.

Todo mundo sabia disso, não era novidade. A novidade era saber quem colocou os cartazes. Enquanto a imprensa saía atrás da repercussão dos cartazes, Gaspari saía atrás da identidade dos responsáveis – que haviam sido presos. Descobriu-se que eram pessoas do Centro de Informações do Exército, pretendendo açular a linha dura.
Segundo Nassif, a lógica é a mesma do suposto dossiê. "Todo mundo sabe que o governo está se armando. Mas o dossiê foi gerado fora do governo para criar um fato político – não com a linha dura do Exército, obviamente, mas com os falcões do Congresso".

Tem uma matéria da Veja acontecendo neste momento, diz o jornalista. "Não é só calvinista, falso moralismo, não é só estupidez que está exposta. Tem bruxaria também e que está se desdobrando agora. O pessoal antigo de FHC voltou a operar", revela.
Enquanto alguns tucanos operam nos esgotos da mídia, outros atuam nos corredores do Congresso Nacional para sustentar a farsa montada por eles mesmos. A tática é usar a CPI dos Cartões Corporativos para acusar o governo de chantagem. Nesta semana, líderes tucanos usaram e abusaram das tribunas do legislativo para apontar o dedo acusador para o governo e especialmente para a ministra Dilma Roussef, exigindo dela "explicações" sobre o tal dossiê.
Grande pauta
O jornalista ouvido por Nassif diz que, em Brasília, a grande pauta do momento é saber quem confeccionou o suposto dossiê.

Um leitor do blog de Nassif resgatou trecho de uma reportagem da própria Folha de S. Paulo que pode ajudar bastante a desvenda esta pauta.
A reportagem é de 12 de fevereiro, foi publicada na página 5, caderno 1 - Brasil e diz que "o acordo do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) com o governo na eventual CPI dos Cartões Corporativos mobilizou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e auxiliares numa varredura de dados,(...) À tarde, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reuniu-se com o secretário de Organização do partido, Eduardo Jorge, ex-secretário-geral da Presidência na gestão FHC. Jorge ficou encarregado de coletar dados sobre o período e checar que tipo de documentação estaria arquivada, assim como o acesso a ela". "Ficou claro que os tucanos também possuem uma base de dados sobre o período e o fato desse relatório de 13 páginas, obtido por Veja, jamais ter sido divulgado na íntegra - apenas fragmentos - faz pensar que esses dados que estão circulando podem ter vindo de quem realmente tinha interesse em divulgá-los", diz o leitor José Augusto Zague, que deu a dica para Nassif.

A mesma suspeita têm o governo. Tanto que a própria ministra Dilma Roussef foi porta-voz deste questionamento. "A pergunta que o governo faz hoje é: a quem interessa o vazamento dos dados?", disse Dilma durante entrevista coletiva concedida neste sábado (29) em Curitiba.

"Muita gente sabe e viu. A esperança é descobrir quem", acrescentou a ministra, ao informar que já foi iniciado o processo de apuração de responsabilidades: "O grave é o vazamento de informações, que vai ser apurado. Não sabemos quem formatou, a sindicância já foi aberta".

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Leia também:

Tapiocas e bruxarias
http://www.projetobr.com.br/web/blog/5


O factóide da Folha
http://www.projetobr.com.br/web/blog/5
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URL: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=35026




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domingo, março 30, 2008

Há tentativa de "escandalizar" o nada


Com uma manchete de 1ª página bem ao seu estilo - “Braço direito de Dilma fez dossiê contra família de FHC” - a Folha de S.Paulo inventa hoje que o suposto dossiê, sobre o uso de cartões corporativos pelo ex-presidente, foi montado por ordem da secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.
Não há nenhuma prova, indício ou evidência da existência desse dossiê e muito menos que Erenice tenha determinado a sua elaboração.
O que a própria reportagem do jornal diz é que a Casa Civil “está alimentando banco de dados com informações do suprimento de fundos entre 1998 e 2002 e (a Casa Civil) admitiu que a gestão da base de dados é da Secretaria de Administração, e o trabalho envolve áreas de Tecnologia da Informação, Orçamento e Finanças e Logística”.
Logo, não há dossiê e não há culpados ou inocentes.
O que há é o apoio da Folha ao jogo da revista Veja e da oposição.
Volto a repetir: se a revista e o jornal, ao fazerem coro à oposição, alegam que as informações não são sigilosas e que deviam ser publicadas, qual é o problema de o governo alimentar o SUPRIM com essas informações?
A oposição chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para quebrar o sigilo dessas informações. Qual é o problema se foi a revista “Veja” que publicou e, por isso, deveria ser responsabilizada pela violação legal do sigilo?
Para mim, a ministra Dilma deu à própria FSP, no Recife, a definição perfeita sobre esse pseudo dossiê e o escândalo que a oposição e a mídia fabricaram. Dilma definiu de forma tão precisa que o Folhão transformou em título de parte da reportagem a frase da ministra: “Há tentativa de escandalizar o nada”.
Concluo minha análise com um lembrete, um pequeno detalhe: não há na mídia hoje textos extensos sobre os gastos luxuosos de FHC quando presidente. Já as informações sobre os cartões corporativos do presidente Lula e família foram publicadas, sem nenhum protesto da mídia. Pelo contrário, com uma violenta campanha contra a natureza desses gastos, o que levou um ministro a perguntar: “caviar (das despesas do FHC) pode, tapioca não?”. É muita hipocrisia e cinismo!



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sábado, março 29, 2008

Dilma, Simon e um conhecido blog



Ricardo Noblat cobrou de Pedro Simon que fizesse um discurso no Senado denunciando o suposto "dossiê" dos cartões corporativos. O senador gaúcho estava falando de outro assunto. Pediu desculpas ao jornalista e cobrou explicações da ministra Dilma Roussef. Simon sabe qual é o seu exato lugar.

Gilson Caroni Filho


Denunciar irregularidades na efera pública, com o amparo de sólido trabalho investigativo, é tarefa irrenunciável do jornalismo. Deixar de fazê-lo, sob qualquer pretexto, é recusar os princípios que fundamentam a liberdade de imprensa, assegurada em qualquer regime democrático. Sobre isso não cabe qualquer discussão. É ponto pacífico para os que desejam a solidez das instituições políticas.


Mas, como já frisamos inúmeras vezes, quando a informação deixa de se submeter a outro imperativo que não seja o do aprofundamento democrático, a liberdade desejada se apresenta como sua própria contrafação. É servida, como subproduto de uma vulgata do utilitarismo, para satisfazer os interesses de seus leitores e sócios maiores.


Um jornalismo que se presta à instrumentalização partidária, distorcendo a realidade, infamando quem considera adversário político, usurpa uma franquia do Estado de Direito para funcionar como panfleto de ocasião. Deixa de ser instância fiscalizadora dos Poderes para tentar substituí-los como única instância legitimadora, subtraindo-lhe direitos e deveres. Quando a imprensa vira partido, seja de oposição ou de apoio a qualquer governo, renuncia ao seu caráter republicano, passando a ser ferramenta de interesses escusos. Há dúvidas se merece ainda ser mesmo chamada de imprensa.


É o que parece estar ocorrendo agora com o vazamento de um suposto dossiê contendo gastos feitos com cartão corporativo na época do governo Fernando Henrique. Antes de verificar se foi montado pela revista Veja, useira e vezeira em construir castelos de cartas, parcela expressiva da grande mídia não hesita em atribuí-lo ao Palácio do Planalto.


Há quase três anos, Luciano Martins escreveu um artigo para o Observatório da Imprensa ( "Quando faltam a razão e o direito") que se tornou definitivo pela dinâmica do jornalismo brasileiro. Analisando o que se delineava como tendência no surgimento do " blog do Noblat", o articulista foi preciso:"A estréia do jornalista Ricardo Noblat, com seu blog político, no Estado de S. Paulo, traz uma lição inestimável para a compreensão do momento que vive nossa imprensa. Traz também uma mensagem claríssima aos jovens profissionais que sonham um dia escrever no outrora vetusto diário paulista. A constatação é clara: engajada na luta partidária, a tradicional imprensa brasileira, bem representada pelo Estadão, perdeu os últimos pruridos e não se acanha em abrigar um panfleto em suas páginas, desde que venha a reforçar seus propósitos com relação ao atual governo. A mensagem aos jovens também não poderia ser mais explícita: se quiserem ser bem-sucedidos num grande jornal, aprendam a nadar de acordo com a corrente. Se possível, sejam radicalmente a favor de tudo que pensa o patrão. Substituam a ética pela moral do dia, e boa carreira”.


Mudou o veículo (hoje o blog se encontra na sombra da família Marinho) mas a toada permaneceu a mesma. O jornalismo (?) praticado ali comporta não só pleno endosso ao discurso da oposição como, em circunstâncias especiais, busca orientá-la visando à maior eficácia política. Não faltam, é claro, advertências públicas aos que não se comportam de acordo com a orientação da grande imprensa. Afinal, quem, senão ela, pode ser a única instância de intermediação possível? Quem, de fato, é a atora relevante do jogo político? Quem melhor conhece os atalhos que levam à desestabilização de governos eleitos através de coberturas tendenciosas?


Nesse sentido, nada mais pedagógico que duas postagens de Noblat, na sexta-feira, 28 de março. Em ambas, o jornalismo-torcida evidencia quem é quem na esfera pública midiática. Demonstra como se produz o esvaziamento de instituições clássicas de representação para que a imprensa reitere sua centralidade política.Irritado com um discurso do senador Pedro Simon que, inadvertidamente, sobe à tribuna sem a pauta atualizada, o blogueiro não mede a intensidade da carraspana naquele que tem se notabilizado por um posicionamento incondicional às demandas tucanas.


O texto foi ao ar às 9h53m:"O que faz Pedro Simon (PMDB-RS) que discursa na tribuna do Senado sobre a harmonia das relações entre os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e não diz uma palavra, uma palavrinha só sobre o escândalo do dossiê produzido pela secretária-executiva da Casa Civil da presidência da República contra o casal Fernando Henrique Cardoso e o governo anterior? Será que Simon não leu a reportagem publicada hoje pela Folha de São Paulo? Será que nenhum assessor dele o alertou a respeito? Ou será que ele considera a história mais uma invenção da mídia dita golpista? Ô Simon, atentai bem: não dá para bancar o senador combativo e na hora agá afinar a voz. Não dá para enganar os trouxas o tempo todo".


A irritação obedece à lógica midiática. De onde o senador gaúcho imagina que há espaços para autonomia relativa? Às 11h20m, menos de duas horas após a advertência, Simon passa recibo e expõe o servilismo solicitado.


Noblat registra com satisfação:“Há pouco, Pedro Simon (PMDB-RS) voltou a discursar no Senado. Referiu-se à nota deste blog que cobrou sua omissão diante do fato denunciado hoje pela Folha de S. Paulo - o de que a Secretária-Executiva da Casa Civil encomendou o dossiê (ou "levantamento de dados") contra o governo FHC no caso do uso de cartão corporativo. Simon alegou que o discurso que fizera pouco antes estava preparado há muito tempo. E que ele não lera a reportagem da Folha. Pediu desculpas ao blog. Tudo bem, Simon. Não há de ser nada. Foi erro de sua assessoria, que não o alertou há tempo. É muito raro um político pedir desculpas. Não caberia pedir desculpas ao blog, mas aos brasileiros que assistiam à sessão do Senado transmitida pela televisão. A adesão à humilde ordem dos franciscanos fez bem a Simon."


O que temos aqui não é apenas a tutela da política pela imprensa. Mais que isso, fica evidente como se estrutura a hierarquia no campo conservador. Quem fugir da organização discursiva das oficinas de consenso deve ser advertido e, dependendo da relutância, silenciado.O velho senador deve fazer sua contrição sem constrangimento. Ou será que ele não se deu conta de que o alvo do denuncismo vai além de Dilma Roussef? O que está em foco é a possibilidade de esvaziar a representação parlamentar do PT a partir de 2010. Para tanto, é preciso minar uma candidatura viável, seja ela qual for, desde já. Veleidades pessoais nessa hora soam absurdas. O jogo é sujo demais para melindres. Simon sabe qual é seu exato lugar.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.


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quinta-feira, março 27, 2008

Por que a imprensa não reza para São Keynes?


Miriam Leitão, muita pose e muita conversa fiada....

No momento em que dados e análises sobre a economia estadunidense reforçam a percepção que aquele país caminha para a recessão, a grande imprensa que, com unhas e dentes, defendeu o ideário monetarista como expressão única da razão econômica, não só finge que seus cânones passam ao largo da crise como torce para que ela contamine a estabilidade econômica brasileira. Não há sequer esboço de autocrítica, mas a determinação dos que sempre combateram à sombra qualquer caminho alternativo.


Por Gilson Caroni Filho*


Quem analisou o conteúdo da mídia nos cinco últimos anos observou uma postura que se manteve constante. Os elogios de articulistas econômicos conservadores e os editoriais de apoio de setores expressivos da grande imprensa nunca deixavam dúvida quanto à natureza da estratégia. Junto com a defesa intransigente dos que apostavam em uma continuação da política econômica neoliberal tucana assistimos, simultaneamente, em páginas nobres e minutos preciosos de telejornais, a ataques sistemáticos aos setores que se empenhavam em preservar as bandeiras que levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a duas vitórias eleitorais consecutivas. No entanto, não devemos cobrar coerência de jornais, revistas e emissoras de televisão . Afinal, julgavam que se opunham a um governo “que estava em disputa". Permanecem, justiça seja feita, onde sempre estiveram. Com os mesmos aliados e interesses. Podem mudar o foco, jamais o discurso, como deixa claro Miriam Leitão em sua coluna no jornal O Globo. A pretexto de historiar as crises recentes da economia mundial, a jornalista, na edição de 21 de março de 2008, conclui seu texto de forma curiosa, com estilo que recende uma torcida incontida:“A economia brasileira pode ser afetada pela recessão americana, pelos movimentos bruscos de capitais, pela queda dos preços das commodities. O ambiente econômico estará mais hostil daqui em diante. Isso demora a ficar mais visível; enquanto isso, as autoridades dirão que a crise não é nossa". O interessante do trecho acima está no que “demora a ficar visível" para um certo tipo de jornalismo. O padrão de financiamento adotado para alimentar os déficits dos EUA, a economia desregulamentada, a crença cega em mecanismos financeiros de auto-regulação e o padrão monetário amparado no dólar como moeda universal sempre foram tratados como axiomas. Não será agora que serão apresentados como castelos de areia de um discurso falido. Afinal estamos diante de um sistema de crenças que condiciona estilos e limita atitudes.


Em ensaio publicado na revista Margem Esquerda, em 2004, o economista e professor da PUC-SP, Carlos Eduardo Machado destacava que mais do que um conjunto específico de políticas econômicas, o neoliberalismo se apresenta como um paradigma flexível. Comporta realidades cambiais distintas, setores públicos de variados tamanhos, além de dosagens diferenciadas, conforme a realidade do país, de fiscalismo e política monetária. O que o define de fato, segundo o autor são as seguintes determinações:"1. Prioridade absoluta para os direitos do capital; 2. ocultamento das relações capital-trabalho e responsabilização do indivíduo frente ao capital; 3. a despolitização da política econômica, tratada como técnica universal; 4. abertura de novos espaços para valorização do capital e, finalmente, culpabilidade dos países dependentes pela desordem financeira". Ora, qual desses itens não foi contemplado nas editorias de economia e nos discursos e atos do que se convencionou chamar de núcleo duro de economistas afinados com a sintonia das sonatas de mercados? Tristes tempos em que Gustavo Franco virou oráculo de uma esfinge que nunca pediu para ser decifrada.


Mas, voltando ao ensaio de Machado, não resta dúvida quanto à importância do terceiro ponto por ele destacado. Sem ele, dificilmente, a articulação entre os demais se realizaria. A despolitização da economia é o toque nevrálgico da hegemonia neoliberal. Concebidos como conjunto de práticas e idéias que se reforçam reciprocamente, os processos hegemônicos só se efetivam se forem capazes de universalizar interesses específicos.


Só há chance de êxito se conseguirem, para si, o estatuto de uma física social em que as verdades" estão a salvo de qualquer reparo crítico. E é por aí que desfilam premissas, promessas e metáforas. Tanto na crença de prestigiados economistas quanto no discurso jornalístico, a grande ausente é a análise macroeconômica.O pensamento único ganhou oxigênio de quem, por dever de ofício e integridade ética, deveria noticiar seu esgotamento .Assim, autonomizada das relações concretas, a economia entrou em órbita própria com indicadores que, tal como cabalas, exigem ritos iniciáticos. A análise apurada cede lugar à evidência do "risco-Brasil". As oscilações dos C-bonds e os humores da Bovespa seguem atônitos os vaticínios da Merril Lynch. E se o mercado aparenta calma ou nervosismo, os derivativos não demonstram qualquer desconfiança quanto aos “fundamentos”. O homem, esse indicador desnecessário, é visto como variável secundária, pouco interveniente, estatisticamente irrelevante. Afastados do debate econômico, Marx e Keynes não são dignos de figurar em cenário tão féerico.


Outro texto antigo que não pode ser negligenciado é o artigo publicado por Renato Ortiz, em outubro de 2003, no suplemento Mais!, da Folha de S.Paulo. Nele, o professor da Unicamp afirma que "dos mitos atuais, perenes, inquestionáveis, cotidianamente celebrados em escala global, um deles se denomina mercado. A ele nos referimos como entidade real, com vida própria, capaz inclusive de reações semi-humanas". Descrevendo as funções de economistas no desvendamento da estrutura mítica que o mercado assume, Ortiz explica que as interpretações só serão críveis se expressas esotericamente. Ou seja, a credibilidade será filha da ininteligibilidade. Se alguém duvida, os trechos abaixo, extraídos de uma edição de 29 de abril de 2004 de O Globo, são um exemplo, sob medida, de como a semântica neoliberal se travestiu de noticiário."


A mistura explosiva de temor de uma alta nos juros americanos com novos ataques no Oriente Médio foi o combustível para o dia de maior nervosismo no mercado financeiro nas últimas duas semanas. A crescente aversão a risco dos investidores globais fez disparar as ordens de venda de títulos e ações de países emergentes. Segundo analistas, há investidores optando por manter o dinheiro em caixa até que o cenário fique mais claro. As bolsas, no Brasil e no mundo, também tiveram um dia de turbulências ontem". "Os bônus brasileiros, os mais negociados no mercado de dívida emergente, com 50% das operações, estavam entre os que mais sofreram: o C-Bond caiu 2,26%, negociado a 90,7% do valor de face. É o menor patamar desde 4 de setembro (90,85%). A derrocada dos papéis levou o risco-Brasil a subir 5,56%, para 665 pontos centesimais — o maior nível desde 3 de outubro de 2003 (667)." A dificuldade de compreensão para o leitor comum não decorre de deficiência estilística. Trata-se de história expurgada de ação humana. Correlações frouxas para mostrar uma relação de causalidade que prescinde da intervenção política. Descolado da práxis humana, o capitalismo financeiro se reproduz com uma lógica férrea. A "mão invisível do mercado" desmaterializa qualquer contradição interna de sua própria dinâmica. Nesta, tudo é perfeição. A impureza vem de uma realidade que precisa ser positivada em índices. Eis o papel ideológico da cabala financeira das redações.


Ao afirmar que “que a economia dos EUA está essencialmente andando de lado, ou talvez esteja se contraindo abertamente", Jorgen Elmeskov, diretor em exercício de economia da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), acena para algo que transcende o fim de um ciclo de acumulação. No santuário dos fundamentalistas de mercado, a imagem de Friedman, esmaecida em seus pressupostos, parece não atender às orações. Não seria a hora de, em ato de contrição, acender uma vela para Keynes? Pode soar como heresia, mas o “apocalipse" se tornará mais inteligível. E, afinal, ensina o liberalismo: cada um deve cuidar da salvação da própria alma. Só assim a salvação dos mais “aptos” estará assegurada.*


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.



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domingo, março 23, 2008

Veja fabrica dossiê e diz que foi governo quem o fez


Vamos ver se dessa vez o resto do PIG vai atrás...


A revista Veja soltou em sua edição deste final de semana mais uma de suas "criativas" reportagens, que trazem documentos obtidos de fonte não revelada e que a revista diz, sem apresentar uma mísera prova, ter sido o governo quem preparou. Com a "denúncia" a revista tenta alcançar três objetivos: transformar a corrupção do governo FHC em mera chantagem petista; forçar a CPI dos Cartões a entregar para a imprensa os dados sigilosos da Presidência da República e desgastar a imagem da ministra Dilma Roussef, da Casa Civil.
A revista, famosa por inventar reportagens inverídicas e trabalhar com documentos de origem duvidosa, alega que teve acesso a um suposto dossiê que teria sido preparado pelo governo para intimidar a oposição na CPI dos Cartões Corporativos. O suposto dossiê traz informações sobre os gastos com suprimento de fundos durante o governo Fernando Henrique. Cita gastos com caviar, champagne, viagens e outras futilidades que são citadas apenas para escamotear o real objetivo da reportagem: acusar o governo Lula de chantagista.
Como costuma fazer quando o assunto é delicado e pode comprometer a revista, já que as "acusações" carecem de qualquer tipo de prova, a Veja deu apenas uma singela chamada no topo da capa para a reportagem. A capa mesmo foi dedicada a outro assunto --o desmatamento da Amazônia-- que a revista menospreza mas resolveu tratar para defender os interesses empresariais que rondam a floresta.
Já sobre o suposto dossiê, a revista diz com todas as letras que o documento ao qual teve acesso foi "construído dentro do Palácio do Planalto, usado pelos assessores do presidente na CPI em tom de ameaça e vazado pelos petistas como estratégia de intimidação". Mas não apresenta nenhuma mísera prova ou indício para sustentar estas afirmações. A revista também mente ao dizer que foi esta suposta intimidação que permitiu a divisão de cargos na CPI, com o PT ficando com a relatoria e o PSDB com a presidência. Além de não ter lógica ---afinal para que o governo cederia um posto à oposição se tinha informações para atacá-la durante a CPI? --- a hipótese de Veja também esbarra num elemento que no jornalismo sério é fundamental, mas na Veja faz tempo que não é levado em conta: o fato. E o fato concreto é que a negociação dos postos na CPI dos Cartões foi amplamente discutida no Congresso e só permitiu que o PSDB ocupasse a presidência da comissão graças à atuação do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
A maior parte das informações "reveladas" por Veja sobre os gastos da gestão FHC já foram divulgadas em outros veículos de comunicação nas últimas semanas. O suposto dossiê pode, portanto, ter sido uma invenção da própria revista com dados colhidos na imprensa, no Portal da Transparência e até mesmo com funcionários do governo que tiveram acesso a estas informações. A Veja sabe, de experiência própria, que informações podem ser compradas. O dossiê, se é que existe, pode ainda ser obra de pessoas interessadas em desgastar o governo.
Infelizmente, a revista usa a legislação que protege suas fontes para esconder quem "vazou" as tais informações que a Veja alega ser um dossiê preparado pelo governo. Esta informação poderia ajudar o Ministério Público a descobrir se houve realmente intenção de chantagear a oposição.
Os dados não batem
Em nota, a Casa Civil disse hoje que "o que a revista apresenta são fragmentos extraídos de uma base de dados do sistema informatizado de acompanhamento do suprimento de fundos (Suprim)".
O sistema foi criado por orientação do TCU (Tribunal de Contas da União) para que fossem estabelecidos mecanismos que dessem maior transparência ao acompanhamento dos gastos.
O Suprim começou a ser alimentado em 2005. O processo de alimentação retroagiu para 2004 e 2003 e agora estariam sendo digitalizados os documentos dos três anos citados na reportagem da Veja.
A Casa Civil também contesta os valores de gastos apresentados pela revista: "Nos três anos referidos pela matéria, o gasto médio anual em suprimento de fundos da Presidência da República não ultrapassa a R$ 3,6 milhões de reais em valores nominais."

Estratégia funcionou para blindar Serra
A "denúncia" de Veja é muito semelhante à estratégia usada em outro episódio, que a própria revista cita na reportagem deste final de semana. O episódio ocorreu durante a campanha de 2006 e a imprensa conseguiu transformar o corrupto em vítima e, assim, neutralizar a acusação. Trata-se do dossiê preparado pela família Vendoim, donos da Planam, com sérias acusações contra o governador de São Paulo, José Serra. Quando foi ministro da Saúde, Serra teria convivido, dentro do Ministério da Saúde, com um esquema de corrupção envolvendo a compra de ambulâncias. Os Vedoins colocaram as informações sobre este esquema num dossiê e tentaram vendê-lo para tucanos (que tinham interesse na papelada para escondê-la) e para petistas, que tinham interesse no dossiê para desmascarar Serra, se fosse preciso, durante a campanha para o governo de São Paulo, em 2006.
Por uma destas coincidências que de coincidência não tem nada, a polícia acabou flagrando pessoas ligadas ao PT negociando a aquisição do dossiê. Foi a senha para que a grande mídia, toda comprometida com a campanha tucana, passasse a acusar petistas de tentar chantagear Serra e o PSDB. A partir daí e com a ajuda dos próprios petistas que caíram nessa armadilha, passou-se a discutir apenas a suposta "chantagem" e nada mais foi falado sobre o conteúdo do dossiê. Até hoje, a opinião pública está sem saber até onde ia o envolvimento de Serra com a corrupção no Ministério da Saúde. Da história toda, restou apenas a vitória eleitoral de Serra e o apelido de "aloprados" para os petistas envolvidos no episódio.
Desta vez, a Veja tenta ser a ponta de lança de um estratagema semelhante. Busca jogar as chamas de seu denuncismo sobre o Palácio do Planalto na esperança de que o governo passe para a defensiva e, assim, qualquer denúncia que surja contra o governo FHC durante a CPI dos cartões venha carimbada como "chantagem".
Outros dois objetivos da reportagem, que a própria Veja deixou claro, são o de forçar a CPI a divulgar informações sobre gastos da Presidência da República e envolver a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, no imbróglio. Os dados sobre os gastos da Presidência são protegidos pois podem colocar em risco a segurança do presidente e de sua família. Mas a oposição tem a esperança de, com eles, criar factóides para tentar desgastar a imagem do presidente Lula.
A presidente da CPI, Marisa Serrano (PSDB-GO) já entendeu a mensagem e disse que a oposição usará a repercussão da reportagem de Veja para exigir a abertura das contas secretas do governo e convocar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). "Se o sigilo foi aberto para um lado, temos que abrir para o outro. "Se o sigilo foi aberto para um lado, temos que abrir para o outro. Agora os governistas não têm mais desculpa", afirmou a tucana, que prometeu pôr em votação na quarta-feira a convocação de Dilma.
Resta saber se, a exemplo de 2006, o governo vai novamente cair na arapuca preparada pelo pasquim dos Cívica.


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O SILÊNCIO DA IMPRENSA DE PORTO ALEGRE SOBRE CANOAS




Já está ficando ensurdecedor o silêncio da imprensa de Porto Alegre sobre um dos braços mais explosivos da Operação Rodin: a prefeitura de Canoas, administrada pelo tucano Marcos Ronchetti. O indiciamento do secretário de governo, Francisco Fraga, pela Polícia Federal, foi tratado com extrema discrição. Segundo as informações já divulgadas pela PF e pela Justiça Federal, Canoas era uma peça-chave no esquema. Até aqui, a brava imprensa da capital não se interessou pelo tema. Deve ser porque Canoas é muito longe de Porto Alegre. Mas há outras fontes de informação. Quem quiser saber mais sobre o assunto pode visitar, por exemplo, o site do jornal O Timoneiro. A cobertura do jornal trata, entre outras coisas, das estreitas relações entre o governo Ronchetti e o chamado "Grupo de Santa Maria". Confira alguns dos temas, publicados pelo jornal de Canoas, que não estão interessando à imprensa da capital.
Escrito por Marco Weissheimer às 13h30

Leia mais em:
http://rsurgente.zip.net/ (veja as fotos acessando o site)

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Casa Civil da Presidência da República desmente a revista Veja categoricamente

Segue, abaixo, a íntegra da nota oficial divulgada hoje pela Casa Civil a respeito da produção de um dossiê com gastos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB):

"Com relação à matéria publicada pela Revista Veja (edição nº 2053), a Casa Civil da Presidência da República desmente categoricamente a existência de qualquer 'dossiê construído dentro do Palácio do Planalto' sobre os gastos com suprimento de fundos do governo Fernando Henrique. O que a revista apresenta são fragmentos extraídos de uma base de dados do sistema informatizado de acompanhamento do suprimento de fundos - SUPRIM.

A revista Veja mente e manipula informações ao transformar o banco de dados SUPRIM, um instrumento de gestão, em mecanismo de chantagem política. O vazamento de parte de dados sigilosos se constitui em prática criminosa, por parte do autor do vazamento e por parte de quem deu publicidade a dados que não poderiam vir a público pela sua natureza, o que ensejará todas as medidas judiciais cabíveis.

O Sistema de Suprimento de Fundos - SUPRIM foi desenvolvido a partir da recomendação do TCU (Acórdão nº 1783/2004) para que fossem adotados sistemas de controles que permitissem maior transparência no acompanhamento do gasto. Ao contrário do que diz a Veja, este processo de alimentação foi iniciado no ano de 2005, retroagiu para os anos de 2004 e 2003, e agora está em fase de digitalização do período de 1998 a 2002. Portanto, o Palácio do Planalto não está fazendo 'dossiê' contra si mesmo nem contra o governo passado, mas sim, atendendo determinação do TCU, que reconheceu o SUPRIM como 'nítido aprimoramento dos controles internos' (Acórdão TCU nº 230/2006)

A Revista erra ao afirmar que o banco de dados da Casa Civil é um 'universo de gastos de 408 milhões'. Nos três anos referidos pela matéria, o gasto médio anual em suprimento de fundos da Presidência da República não ultrapassa a 3,6 milhões de reais em valores nominais. Mera verificação do Portal da Transparência demonstra a absoluta inconsistência dos dados utilizados pela revista: os gastos totais do governo federal com suprimento de fundos, e não apenas os da Casa Civil, foram de R$ 213,6 milhões, em 2001, R$ 233,2 milhões em 2002 e caiu para R$ 143,5 milhões em 2003.

Por fim, a Casa Civil adotará todas as providências necessárias para garantir a integridade das informações da base de dados do SUPRIM, assim como irá instaurar imediata sindicância para apurar responsabilidades pelo vazamento de informações garantidas por sigilo.

Brasília, 22 de março de 2008.''

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terça-feira, março 18, 2008

Bush & Sherazade


São estreitas e mais do que carnais as ligações entre o Pentágono e Hollywood

A era Bush, que felizmente agoniza, tornou pública uma nova concepção das relações entre política e sociedade. Nela, os líderes norte-americanos da vez deixaram de lado não só a realpolitik, como também o simples realismo, tornando-se criadores da sua própria realidade, mestres das aparências, reivindicando o que poderíamos chamar de realpolitik da ficção – se isso não fosse um absurdo.¹
Então o discurso de Karl Rove, consultor de Bush, sempre que confrontado com os princípios das Luzes e do empirismo, ocorria mais ou menos nessa linha:
"Não é mais assim que o mundo funciona. Somos um império agora. E, quando agimos, criamos nossa própria realidade. Enquanto vocês estudam essa realidade, nós agimos de novo, criando outras novas realidades, que vocês podem igualmente estudar. É assim que as coisas se passam. Nós somos os atores da história. E a vocês, vocês todos, só resta estudar o que fazemos" (entrevista a Ron Suskind, publicada no New York Times, dias antes da eleição presidencial de 2004).
As pessoas a quem mostrei a declaração acima, todas elas, tiveram a mesma reação: sentiram-se profundamente ofendidas. Na base, na origem, um porre. Não havia palavras que exprimissem a terrível periculosidade decorrente de tal inflação do Ego Arrogante. Jeová, aquele do Mar Vermelho, o deus irado e o demiurgo estúpido do velho testamento, atacava de novo, dessa vez com Sentex.
A invasão do Iraque em março de 2003 constituiu um exemplo lapidar da vontade da Casa Branca de "criar sua própria realidade". Preocupado em não repetir os erros da Guerra do Golfo em 1991, o Pentágono caprichou em sua estratégia de comunicação. Além dos quinhentos jornalistas embeded, a sala de imprensa do quartel general das tropas americanas no Qatar, que custou um milhão de dólares, era um moderníssimo estúdio de TV, com palco, telas de plasma e toda a parafernália eletrônica a produzir, em tempo real, imagens do combate, animações e gráficos, dirigido por um cineasta com passagens pela Disney, MGM e o Good Morning America. Ele também escolhia os cenários para as aparições presidenciais.
São estreitas e mais do que carnais as ligações entre o Pentágono e Hollywood, Jerry Bruckeimer (Piratas do Caribe) que o diga.
Segundo Ira Chernus, professor da Universidade do Colorado, durante os dois mandatos de Bush, Karl Rove praticou a "estratégia de Sherazade", que é assim: quando a política os condenar à morte, comecem a contar histórias – tão fabulosas, tão cativantes, tão sedutoras que o rei (ou o cidadão americano que teoricamente governa o país) esquecerá sua execução. A aposta de Rove é que os eleitores ficarão hipnotizados por histórias ao estilo John Wayne, com "homens de verdade" combatendo na fronteira, e deixarão de proferir a sentença de morte contra um partido que os conduziu ao total desastre no Iraque, sem contar o colapso econômico que agora presenciamos.
A estratégia de Sherazade é uma pilantragem construída sobre a ilusão de que simples histórias moralizantes irão proporcionar uma sensação de segurança, independentemente do que aconteça no mundo.
De consciência limpa, de dever cumprido – farisaísmo tem mágoa – e o mundo que se lixe.
No mais: jogue o cigarro fora!


¹ In A estratégia hollywoodiana de George W. Bush por Christian Salmon, Le Monde Diplomatique, dez/2007.PUBLICADO EM:17/03/2008* A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), Toda Prosa (2002) e Caim (2006). Participou de várias antologias importantes no Brasil e no exterior. Organizou três delas - uma das quais, Contos eróticos femininos, editada na Alemanha. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura brasileira contemporânea, jornalista e publicitária.


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quarta-feira, março 12, 2008

Jornalistas denunciam repressão policial no Rio Grande do Sul


Governadora tucana finge que não é com ela...


Sindicato dos Jornalistas do RS divulga nota oficial denunciando impedimento, por parte da Brigada Militar, do trabalho dos jornalistas na cobertura da ocupação da fazenda Tarumã por mulheres da Via Campesina. Repórteres foram impedidos de registrar agressões contra as manifestantes (foto).

"Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul denuncia o impedimento, por parte da Brigada Militar, do exercício profissional de jornalistas na cobertura da ocupação, pelas mulheres da Via Campesina, da Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul. Repórteres fotográficos e cinematográficos foram impedidos de registrar a agressão sofrida por mulheres e crianças que estavam na manifestação, inclusive tendo equipamentos profissionais apreendidos. Outra jornalista foi retirada do local pelos policiais.


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Passeata histórica na Colômbia




Segundo o jornal La jornada, 200 mil pessoas, só na cidade de Bogotá, gritavam “¡Chávez sí, Uribe no!” e acusavam o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de "lacayo imperialista”.
- Por Brunna Rosa (http://www.revistaforum.com.br/)


"Essa é uma marcha da solidariedade, para expressar nosso respaldo a quem foi vítima desses crimes", afirmou Iván Cepeda, filho de um jornalista e senador comunista morto em 1994, e principal responsável pela passeata, a imprensa local.


O Movimento de Vítimas de Crimes de Estado, dirigida por Cepeda, explica que a marcha tem como objetivo chamar a atenção para o drama "de quatro milhões de pessoas que têm de abandonar seus lares, 15.000 desaparecidos e 3.000 pessoas enterradas em valas comuns".

Outras passeatas foram realizadas na Colômbia. Segundo o La jornada, 20 estados realizaram marchas, onde os manifestantes protestaram carregando fotos de familiares assassinados ou desaparecidos pela ação e grupos paramilitares ou de forças oficiais.


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CARAS DE PAU...



"Nossa elite branca, que tanto se incomoda com o continuísmo de Chávez, não vê problema no fato de Uribe querer mudar a regra do jogo para disputar o terceiro mandato."

Do ex-governador paulista CLÁUDIO LEMBO (DEM), apontando diferença de parâmetros na avaliação dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Álvaro Uribe.

domingo, março 09, 2008

"Mate 100 turcos, e descanse…"*




Uri Avnery
9/3/2008

Lembrei-me, esta semana, daquela velha história de uma mãe judia, separando-se do filho convocado para servir o exército do czar contra os turcos.

“Não se dedique demais", aconselhava ela ao filho. “Mate um turco, e descanse. Mate outro turco, e descanse outra vez…”

“Mas, mamãe”, diz o filho, “E se o turco me matar?”

“Matar você?”, ela grita, indignada. “Por quê? Que mal você fez a ele?!”

Não é piada (e esta não é semana para piadas). Aí está uma lição de psicologia. Lembrei-me dela, ao ler que Ehud Olmert declarou que o que mais o enfureceu foi a explosão de alegria em Gaza, depois do ataque em Jerusalém, no qual foram mortos oito estudantes yeshiva.

Antes disto, semana passada, o exército de Israel matara 120 palestinos na Faixa de Gaza, metade dos quais civis, além de dúzias de crianças. Não foi “mate um turco, e descanse”. Foi “mate 120 turcos, e descanse”. Isto, Olmert não entende.

A GUERRA DOS CINCO DIAS em Gaza (como chamou-a o líder do Hamás) foi mais um curto capítulo da luta entre israelenses e palestinos. Este monstro sanguinário nunca está satisfeito. Quanto mais come, mais sente fome.

Este capítulo começou com o “assassinato seletivo” de cinco altos militantes, dentro da Faixa de Gaza. A “resposta” foi uma chuva de foguetes e, desta vez, não só sobre Sderot, mas também sobre Ashkelon e Netivot. A “resposta” à “resposta” foi a incursão pelo exército de Israel e a matança.

O objetivo declarado foi, como sempre, fazer parar os foguetes. O meio: matar o maior número possível de palestinos, para dar-lhes uma lição. A decisão baseou-se num tradicional conceito vigente entre os israelenses: mate civis, mate e mate, até que os líderes caiam. Cem vezes Israel já tentou esta “solução”; cem vezes fracassou.

Como se faltasse algum exemplo da loucura dos que divulgam este conceito, lá estava, na televisão, o ex-general Matan Vilnai, para “declarar” que os palestinos “trazem a Shoah para eles mesmos”.

A palavra Shoah, em hebraico, só significa uma coisa, em todo o mundo, e só uma: é o holocausto dos judeus, pelos nazistas. A fala de Vilnai incendiou o mundo árabe e provocou uma onda de choque. Também eu recebi dúzias de telefonemas e mensagens de e-mail, de todo o mundo. Como convencer as pessoas de que, no hebraico coloquial, na fala diária, Shoah significa “apenas” uma catástrofe, um grande desastre, e que o General Vilnai, que já foi candidato a presidente, nunca foi o mais inteligente dos homens?

Há alguns anos, o presidente Bush convocou uma “Cruzada” contra o terrorismo. Não sabia que, para centenas de milhões de árabes, a palavra “cruzada” evoca um dos maiores crimes jamais perpetrados na história humana, o horrendo massacre de muçulmanos (e judeus) pelos primeiros “cruzados”, nas vielas de Jerusalém. Um concurso de inteligência, entre Bush e Vilnai, provavelmente, acabaria empatado.

VILNAI NÃO ENTENDE o que significa a palavra “Shoah”, para os diferentes dele; e Olmert não entende por que houve júbilo em Gaza depois do ataque à escola yeshiva, em Jerusalém. Sábios como estes dois dirigem o Estado, o governo e o exército. Sábios como estes dois controlam a opinião pública, porque controlam a mídia. O que há de comum entre todos estes sábios: a mesma insensibilidade, a mesma cegueira, que os impede de ver o que sentem os não-judeus, os não-israelenses. Desta cegueira nasce a incapacidade para entender a psicologia do outro lado; e, depois, tampouco entendem as conseqüências de suas palavras e atos.

A mesma cegueira explica a incapacidade para entender por que o Hamás declarou-se vitorioso na Guerra dos Cinco Dias. Que vitória? Feitas as contas, morreram só dois soldados e um civil israelenses, e foram mortos 120 palestinos, combatentes e civis.

Mas a batalha travou-se entre um dos mais poderosos exércitos do mundo, equipado com o armamento mais moderno que há no planeta, contra umas poucas centenas de combatentes de milícias, com armamento primitivo. A retirada – e este tipo de combate sempre termina em retirada – sempre é uma vitória para o lado mais fraco. Aconteceu na Segunda Guerra do Líbano e aconteceu na Guerra de Gaza.

(Binyamin Netanyahu é autor de uma das “declarações” mais estúpidas da semana; exigiu que o exército de Israel “esqueça os movimentos de atrito e decida o combate”. Numa luta como esta, não há como decidir coisa alguma.)

O resultado real deste tipo de operação não se manifesta em números, em quantidades: tantos mortos, tantos feridos, tais e tais prédios destruídos. O resultado, aí, só tem expressão psicológica, resultados que não podem ser medidos e, portanto, são incompreensíveis para cabeças de generais: quanto ódio acrescentou-se ao ódio existente, quantos novos homens-bomba surgiram, quantos mais juraram vingança e converteram-se em bombas vivas – como o jovem de Jerusalém que acordou uma manhã, esta semana, arranjou uma arma, andou até a escola Mercaz Harav yeshiva, aquele ninho de onde nascem todas as colônias e “assentamentos”, e matou a maior quantidade de israelenses que conseguiu matar.

Agora, as lideranças políticas e militares de Israel reúnem-se para discutir o que fazer, como “responder”. Não tiveram nem terão qualquer idéia nova, porque políticos e generais são incompetentes para gerar idéias novas. Só sabem repetir as idéias de sempre, o que já fizeram centenas de vezes, e fracassaram centenas de vezes e fracassarão sempre.

O PRIMEIRO PASSO para sair deste círculo de loucura é começar a questionar os conceitos e métodos que Israel tem usado nos últimos 60 anos. E recomeçar a pensar, do começo, desde o início.

Isto sempre é muito difícil. E é ainda mais difícil para Israel, porque as lideranças em Israel não têm liberdade para pensar – o pensamento, em Israel, está sempre amarrado ao que pensem os líderes norte-americanos.

Esta semana, foi publicado um documento chocante: o artigo de David Rose em Vanity Fair. Ali está contado como, nos últimos anos, funcionários dos EUA têm ditado cada passo de lideranças palestinas, nos mínimos detalhes. Embora o artigo não toque nas relações EUA-Israel (uma omissão que, de fato, é surpreendente) sabe-se, mesmo que não se leia, que a ação norte-americana, nos mínimos detalhes, é coordenada com o governo de Israel.

Por que chocante? Em termos gerais, não há novidades, no artigo: (a) os norte-americanos mandaram que Mahmoud Abbas mantivesse as eleições parlamentares, para que Bush aparecesse como aquele que levou a democracia ao Oriente Médio. (b) O Hamás foi eleito – o que não se esperava que acontecesse. (c) Os americanos impuseram um boicote aos palestinos, para ‘desconstruir’ o resultado das eleições. (d) Abbas afastou-se um passo da política que lhe foi ordenada, sob auspícios (e pressão) da Arábia Saudita; e fez um acordo como o Hamás. (e) Os americanos cortaram-lhe as asas e obrigaram Abbas a entregar todos os serviços de segurança a Muhammad Dahlan, escolhido pelos norte-americanos para o papel de homem-forte na Palestina. (f) Os americanos deram armas e dinheiro a Dahlan, treinaram seus homens e ordenaram que criasse um golpe militar contra o Hamás na Faixa de Gaza. (g) O governo eleito do Hamás abortou o movimento e respondeu, o próprio Hamás, com um contra-golpe armado.

Até aí não há novidades. Tudo isto já era sabido. A novidade é que esta mistura de noticiário, boatos e apostas inteligentes apareça condensada em relatório bem-informado, formulado a partir de documentos oficiais dos EUA. É prova da abissal ignorância dos EUA, só comparável à abissal ignorância de Israel, quanto aos processos internos da Palestina.

George Bush, Condoleezza Rice, o neoconservador sionista Elliott Abrams e os generais norte-americanos, que nada sabem sobre coisa alguma, competem com Ehud Olmert, Tzipi Livni, Ehud Barak e com os generais israelenses, que sabem, sobre a Palestina, o que caiba do fundo à ponta dos canhões de seus tanques.

Os norte-americanos, enquanto isto, já destruíram Dahlan porque o expuseram como seu agente, na linha do “é um filho-de-puta, mas é o nosso filho-de-puta”. Esta semana, além do mais, Condoleezza detonou um golpe mortal contra Abbas. Ele anunciou, de manhã cedo, que estava suspendendo as negociações (tempo perdido) de paz com Israel – o mínimo que podia fazer, depois das atrocidades que o exército de Israel cometeu em Gaza. Rice, que soube disto quando tomava café da manhã na estimulante companhia de Livni, imediatamente convocou Abbas e ordenou que desdissesse o que acabava de dizer. Abbas obedeceu e expôs-se, ele mesmo, nu em pêlo, ao seu próprio povo.


A LÓGICA não foi dada ao povo de Israel no Monte Sinai. Mas, sim, foi dada no Monte Olimpo, aos antigos gregos. Apesar desta dificuldade local, tentemos aplicar aqui, alguma lógica.

O que o governo de Israel está tentando conseguir, em Gaza? Quer derrubar o Hamás (e, marginalmente, também quer que parem os foguetes e morteiros contra Israel).

Israel já tentou obter o que quer mediante um bloqueio total contra a população palestina, na esperança de que, assim, a população levantar-se-ia contra o Hamás. O plano falhou. O “plano B” seria reocupar toda a Faixa de Gaza. Mas isto custará um alto preço em vidas de soldados, preço mais alto, talvez, do que a opinião pública em Israel está disposta a pagar. Além disto, de nada adiantará, porque o Hamás reaparecerá no momento em que as tropas de Israel se retirarem. (Mao Tse Tung ensinava, como primeira lição na guerra de guerrilhas: “Se o inimigo avança, retrocede. Se o inimigo retrocede, avança.")

O único resultado da Guerra dos Cinco Dias foi o fortalecimento do Hamás e o aumento do apoio que recebe do povo palestino – não só na Faixa de Gaza, mas na Cisjordânia e também em Jerusalém. O Hamás tinha, sim, o que celebrar, naquela festa da vitória. Os foguetes não pararam. E aumentaram a capacidade de fogo e o alcance.

Mas suponhamos que a política de Israel tivesse dado certo e que o Hamás tivesse sido derrotado. E daí? Abbas e Dahlan não podem voltar sobre a cabine dos tanques israelenses como sublocatários da ocupação. Nenhuma empresa de seguros de vida os aceitará como segurados. E, se não voltarem, será o caos, do qual emergirão forças tão extremistas que, hoje, ainda nem as podemos imaginar.

Conclusão: o Hamás está lá. Não pode ser ignorado. Temos de construir um cessar-fogo com o Hamás. Não a partir de uma oferta ridícula, do tipo “se eles pararem primeiro, nós paramos depois”. Cessar-fogo, como o tango, precisa de dois. É preciso que haja um acordo prévio e detalhado que inclua a cessação de todas as hostilidades, armadas e outras, em todos os territórios.

Nenhum cessar-fogo será efetivo se não houver negociações, conversações, que têm de começar logo, e que levem a um armistício de longo prazo (a “hudna”) e à paz. Estas negociações não podem acontecer com o Fatah, e sem o Hamás; nem com o Hamás, e sem o Fatah. Portanto, é preciso que se construa um governo palestino em que se reúnam os dois movimentos. É preciso convocar personalidades que gozam da confiança de todo o povo palestino; Marwan Barghouti, por exemplo.

Não há uma única voz, nem entre as lideranças em Israel nem entre as lideranças nos EUA que se atreva a declará-lo abertamente. Mas esta política é precisamente o avesso, o contrário, da política em curso, pensada por EUA-Israel, e que proíbe até que Abbas converse com o Hamás. Portanto, continuaremos a ver o que temos visto.

Mataremos 100 turcos, e descansaremos. E, vez ou outra, algum turco nos matará, alguns de nós.

Por quê, pelo amor de deus?! Que mal Israel fez a eles?!

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* URI AVNERY, 8/3/2008, "Kill a hundred Turks and rest…", na página de Gush Shalom [Grupo da Paz], em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1205012429/ Copyleft. Tradução de Caia Fittipaldi. Reprodução autorizada pelo autor e pela tradutora.


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quinta-feira, março 06, 2008

Para Nassif, 'Veja' está num processo de deterioração moral



Por trás da escalada “neocon” da revista Veja, há uma trama que envolve dossiês falsos — “os planos Cohen da vida” —, lobbies com políticos e empresários, “assassinatos de reputações”, manipulações e outros desprezos à lei. Em entrevista ao Vermelho, Luis Nassif revela como e por que resolveu desmascarar a farsa, através do “dossiê Veja”, publicado em capítulos no blog Luis Nassif Online.


por André Cintra e Priscila Lobregatte (http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=33563)


Luis Nassif: dossiê anti-Veja
Diz a série: o conservadorismo da maior revista semanal do Brasil ganhou ainda mais ênfase com a ascensão de Eurípedes Alcântara e Mario Sabino aos cargos, respectivamente, de diretor de Redação e redator-chefe. Com eles no comando, também tiveram projeção o editor especial Lauro Jardim, da seção “Radar”, e o colunista Diogo Mainardi. Estava formado o “quarteto de Veja”, responsável — segundo Nassif — pelo “maior fenômeno de antijornalismo dos últimos anos”.
O dossiê conta os bastidores e as evidências desse processo. Mostra as relações promíscuas entre Eurípides e o banqueiro Daniel Dantas, o clima bélico injetado por Veja contra jornalistas de outros veículos, a campanha ostensiva e golpista contra o governo do presidente Lula, entre outros descalabros. A repercussão é estrondosa. Da página de Nassif na internet, a série já é reproduzida em mais de 800 blogs.
Para Nassif, enfrentar a Veja é lutar em defesa do jornalismo. Mas o dossiê só tem êxito, segundo ele, porque a internet começou a democratizar a comunicação no Brasil, permitindo denúncias de abusos, além de contrapontos fora da grande mídia. E Nassif acredita que uma outra entrevista sua ao Vermelho, concedida em 2006, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, “foi a primeira que rompeu com essa cortina de silêncio”.
Você já escreveu um livro (O Jornalismo dos Anos 90) para tentar explicar mudanças paradigmáticas da imprensa na última década. Após as eleições 2006, soltou o artigo “A longa noite de São Bartolomeu”, que é quase um apêndice do livro, com um resumo e atualizações a respeito dessas transformações. O que houve nesse período? Como e por que a grande mídia mudou?O livro terminava relativamente otimista. Eu achava que, com o avanço do discernimento por parte dos leitores, a imprensa seria mais seletiva e mais rigorosa na apuração de notícias. Mas nos anos 90 e nesta década entre 2000 e 2010, ao menos até agora, ocorreu uma confluência de fatores que piorou muito o ambiente midiático.
Tivemos, de um lado, a crise das empresas jornalísticas, que cometeram o que chamamos de ato de fraqueza como forma de não só saírem da crise como também de enfrentarem um outro cenário adverso que viria pela frente. Cederam à mídia internacional, com grandes grupos entrando e um novo padrão sendo introduzido — e nossos homens da mídia eram sempre acostumados com um ambiente fechado, sem uma visão estratégica para sobreviver num ambiente de competição.
Isso levou a um pacto de autodefesa entre esses grupos, porque eles precisariam fazer parcerias também com grandes investidores. É aí que aparece a figura dos banqueiros dos anos 90, alguns bem barra-pesada, que passam a ser uma das bóias de salvação da mídia. E aí você vende a alma. Quando você vende a alma e tem essa falta de critério jornalístico em algumas publicações, você dá tanto poder para seus diretores que eles saem do próprio controle da organização.
Nessa série da Veja que estou fazendo, há muitos episódios que não têm Abril no meio. A Abril perdeu o controle. A comparação que faria é a de uma empresa que usa o caixa 2 e sistemas não-formais para poder conseguir negócios — e que perde o controle de quem está fazendo as coisas. Na Veja, você tem matérias que são muito estranhas. Você olha e diz: que justificativa tem para isso? É a Abril que está pedindo isso? São os diretores?
Você está nos dizendo que a “hierarquia militar” da Abril foi violada? Ou o Roberto Civita (presidente da Editora Abril) poderia intervir e não interveio?O Roberto Civita foi alvo, em momentos passados, de ataques pessoais pesados. E aí vem um pessoal pistoleiro de reputação e oferece a chance de fazer com eles o que antes fizeram com o Civita. E então ele libera esses mastins para sair atacando todo mundo. O que acontece? Ele não é um cara ideológico. Esse negócio de dizer que os sócios sul-africanos é que estão levando a essa posição da Veja é mentira. O Civita é um sujeito que se guia pelo mercado e que se baseia muito no que acontece nos Estados Unidos.
E nos Estados Unidos tem início esse movimento neocon, de agressividade na linguagem. Ele pensou: “Vamos trazer isso para cá”. E entregou essa função para as piores mãos possíveis — um pessoal jornalisticamente incompetente e inescrupuloso no trato da informação. Começaram a radicalização, a grosseria, os ataques contra todo mundo e os beneficiamentos pessoais. O que aconteceu com o livro do Mário Sabino? Ele usou todo o ferramental disponível inclusive para mudar critérios dos livros mais vendidos e, assim, se beneficiar. Isso aí não é coisa da Abril. É inacreditável um negócio desses.
Se essa série tivesse saído no ano passado, o que eles alegariam? São os inimigos políticos da Veja, são os chapas-brancas E atrás desse discurso, dessa blindagem, eles faziam tudo. A qualquer crítica que surgisse, eles diziam: “Ah, são os chapas-brancas”. O Diogo Mainardi foi usado pelo Mário Sabino, é um doente. Foi utilizado para isso: se alguém chegar perto, cria a marca “é da equipe do governo”, “é chapa-branca”. Com isso, você libera a direção para fazer o que desse na telha.
Foi o que fizeram com o Franklin Martins, com a Tereza Cruvinel... Você pega o Franklin Martins. Eles conseguiram jogar nos braços do governo o melhor jornalista político do país: “Ah, agora está provado que o Franklin era governista”. Provado coisa nenhuma! O Franklin ficou fora do mercado e foi trabalhar no governo. A Tereza Cruvinel era uma das melhores colunistas que havia. Começaram com esses ataques baixos, desqualificadores, e ela foi trabalhar no governo.
A questão toda não é somente os ataques, mas a maneira como os jornais reagiram a isso. No Globo, o (diretor-executivo de jornalismo) Ali Kamel fechou com eles. O que o Ali Kamel fez com o Franklin quando foi atacado? Rompeu contrato com ele. Isso foi uma deslealdade que intimidou todos os demais colunistas do O Globo. Na Folha, o Otavinho (Otávio Frias Filho, diretor de Redação) não saiu em defesa quando seus colunistas foram atacados. Não digo nem a mim — mas ao Kennedy Alencar, ao Marcelo Coelho e a outros.
Isso criou uma insegurança geral nos colunistas. Nos anos 90, havia diversidade jornalística dada por eles. Quando se cria essa guerra e essa unanimidade para derrubar o Lula — e se permite que os seus jornalistas sejam atacados —, você induz todos eles a fazerem discurso único por uma questão de sobrevivência profissional. Eu pulei fora.
Nos anos 50, havia um jornalismo bastante carregado de opiniões. Isso voltou tal como era antes ou você vê diferenças?Voltou com tudo, inclusive com os planos Cohen da vida. Toda aquela manipulação, inclusive dossiês falsos, passou a ser usada. Isso é uma loucura! Estamos na era da internet, da comunicação, e a Veja passa a usar dossiês falsos, passa a misturar a notícia com fantasia.
Aquele negócio de dólares de Cuba é um exemplo. A qualidade da notícia deveria ser melhor até por uma questão de cautela. Se hoje não há mais aquele controle da informação que se tinha antes, você não pode se dar à imprudência de sair inventando história, porque vai ser desmascarado.
Há um capítulo do dossiê em que você diz que, a cada sucessão no comando da Veja, entram jornalistas cada vez mais desqualificados e incompetentes...É. A Veja está num processo de deterioração moral. Recebo vários e-mails de jornalistas que trabalharam lá, e há um que fala que, a cada edição, morria de medo de involuntariamente fuzilar alguma reputação. Porque eles pegam as matérias e alteram tudo.
Existem vários exemplos de jornalistas que faziam parte de um grande veículo e que, agora, têm seus sites e blogs, estão “nadando contra a corrente”. Temos o Paulo Henrique Amorim e o Luiz Carlos Azenha, que eram da Globo. Há você, que saiu da Folha. A internet virou uma válvula de escape?Vou falar da minha experiência. Na Folha, sempre procurei jogar no contrafluxo. Um exemplo foi a Escola Base. Esse negócio de não seguir a manada, para mim, sempre foi um oxigênio. Qualquer forma de restrição ao pensamento, para mim, é um terror. E a restrição ao pensamento pode vir da empresa, pode vir do governo ou pode vir do leitor.
Ao longo dos anos 90, um grande fator de restrição à imprensa foram essas pesquisas de opinião. Os jornais criavam um escândalo, o leitor queria mais daquele escândalo, e o jornal ficava prisioneiro daquela opinião do leitor que ele mesmo tinha criado. Era um círculo vicioso.
O que aconteceu nos últimos anos foi que você não podia mais jogar no contrafluxo por conta dessa frente que se formou contra o governo. Uma das características do jornalismo é que a capacidade que você tem de fazer um elogio é que te garante credibilidade e a eficiência quando você faz a crítica. Se for sistematicamente a favor ou sistematicamente contra, não se faz jornalismo.
Só que quando, começou aquela campanha maluca contra o Lula, você tinha que ficar sistematicamente contra. Tinha denúncia verdadeira? Tinha. Mas também havia denúncias falsas. O jornalismo coerente tinha que separar o falso do verdadeiro. Só que o patrulhamento foi um negócio tão intenso — e essa frente da mídia foi tão emburrecedora — que acabou essa diferenciação.
Quando fomos para a internet, o público que estava lá era o público dos jornais. Mas a internet também é uma armadilha; você tem que tomar cuidado para não ficar prisioneiro dela também. Meu público é 80% a favor do Lula. Mas, se você cede a esse público, você perde a liberdade.
Que pressões você sofreu na Folha? Ali foram desgastes internos, que já vinha há algum tempo. Quando entrou a “guerra santa” e eu comecei a fazer o contraponto, gerei insatisfação e não teve jeito.
Existe na blogosfera um “ativismo jornalístico” cujos principais nomes seriam o seu, o do Paulo Henrique Amorim?Isso aí é malandragem desse pessoal da Veja. Quando a Veja resolveu montar a blindagem para a revista, o álibi encontrado contra as críticas foi dizer que se formou uma frente contra ela. Quando comecei minha série, o Paulo Henrique ligou me apoiando. E eu falei: “Não me apóia”. Daí, quando eu lancei o primeiro capítulo, ele fez um carnaval lá, e eu publiquei uma coluna até deselegante com ele, mas não tive outro jeito. Falei que não tenho nada a ver com Paulo Henrique — só para deixar bem claro que não havia essa ligação.
Você pega esses blogs da Veja e tem lá: “Porque o iG tem o Paulo Henrique, o Mino, o Nassif...”. Isso é malandragem. Qualquer crítica que você faz, eles dizem: “Você está fazendo a crítica porque existe uma frente”. Então a maior precaução que eu tomei quando comecei a escrever foi deixar bem claro que não havia essa ligação.Trabalhei com o Paulo Henrique há alguns anos e, nos últimos dois ou três anos, encontrei com ele em uma ou outra palestra. Não tenho intimidade com ele, nem ele comigo. Fazemos tipos diferentes de jornalismo. Esse negócio de frente foi malandragem da Veja.
A discussão que quero ter é jornalística. A Veja tem o direito de ser de direita ou de esquerda — quem define é o dono. Não tenho a pretensão de achar que tenha que haver uma assembléia de jornalistas definindo isso. O jornalista, quando quer ter opinião, vem para a internet. Minha crítica é que a Veja não obedeceu aos princípios jornalísticos. Manipulou, jogou, assassinou reputações, atropelou a lei.
Quando foi entrevistado por nós, em outubro de 2006, você já dava indícios de que havia esses problemas na Veja, mas apenas passava de raspão. Falava nos superpoderes do Eurípedes, comentou também da relação entre a revista e o Daniel Dantas. Por que você resolveu abrir a tampa e ir a fundo só agora, chegando ao dossiê?Olha, eu teria assunto para mais uns 15 dossiês, se eu tivesse tempo. O meu método de trabalho é um pouco diferente do da Veja. Quando, lá atrás, sofri o ataque da Veja, fui procurar entender o que estava por trás daquilo. Estava na cara que era o Mainardi atuando na defesa do Daniel Dantas, mas não estavam claras as ligações e quem era quem no jogo. Passei esse período todo tentando entender.
Depois que você coloca as peças no lugar, basta pegar todas as matérias que estão lá e ir encaixando. Há uns oito meses, comecei a dar uns cutucões na Veja e o blog desse rapaz ficou oito meses me atacando, dizendo que eu era ladrão. Dizia coisas inacreditáveis. Sabe aquela coisa de você encontrar o cara de madrugada, bêbado, e ele vem xingar sua mãe, seu pai (risos). Depois que você fecha a lógica, é só encaixar as matérias.
Você levanta quatro nomes à frente dessa linha na Veja – Eurípedes, Sabino, Jardim e Mainardi. Por que o Reinaldo Azevedo, outro radical, não entra nessa lista? O Azevedo é menor. Você tem o Mário Sabino, certo? E o Reinaldo Azevedo é um Sabininho. Pegue o último capítulo da série que foi publicado, sobre os livros — que tem o Azevedo escrevendo resenha. Aquilo lá é só Sabino. Você pega o texto do Azevedo, pega um professor de literatura, e compara. São as impressões e as marcas do Sabino.
O que o Mario Sabino faz na Veja? Ele tem dois ou três ali que ele usa para atacar: o Sérgio Martins, o Jerônimo Teixeira, por exemplo. Ele altera os textos deles. No caso do Reinaldo, o Sabino dá o texto pronto. O Reinaldo é apenas uma caricatura. E isso é importante porque, sendo uma caricatura, ele deixa mais à mostra o que é esse jogo. Outro dia, ele escreveu sobre o Obama (Barack Obama, pré-candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos), descendo o cacete, e de repente a Veja sai com uma visão diferente. Ele entrou em pânico, porque ele não representa nada. Como caricatura, todos os defeitos da Veja ficam mais evidentes com ele. Mas ele é apenas um Sabininho.
E quem é Daniel Dantas? Como ele aparece na história?Nos anos 90, você teve o avanço dessas colunas de negócios, que passaram a ser utilizadas como ferramentas de lobbies empresariais. Não estou generalizando. Isso começa a ficar muito pesado mesmo nos anos 90, e esses lobistas maiores passam a recorrer aos serviços de assessorias de imprensa barras-pesadas. Com o tempo, eles passam a entrar direto com seus jornalistas. A IstoÉ é um caso clássico de uso de jornalistas para jogadas comerciais. Só que quando se chega na maior revista do país, quando se atinge e coopta o seu centro, aí é demais.
O Daniel Dantas é o maior exemplo de como degringolou política no país. No dia em que ele contar suas histórias, não sobrarão grandes próceres tucanos e não sobrarão grandes figuras petistas também, nem jornalistas expressivos, Poder Judiciário. Ele conseguiu montar uma rede de influência inacreditável. Nos Estados Unidos, talvez no século passado houve esses abusos — mas a sociedade americana criou formas de autodefesa. Aqui não. Aqui se fecha em torno dos novos homens do dinheiro. Esse é um grande mal que o Fernando Henrique deixou para o país, um mal que vai ter — aliás, já está tendo — desdobramentos terríveis. E com a mídia se dispondo a fechar com eles, você tem uma parte relevante dos poderes institucionais que vão pro vinagre.
A mídia é muito poderosa, cria mitos inacreditáveis. O Mainardi é um exemplo. Começou-se a criar um mito de que ele seria o novo Paulo Francis. Mas quando você vê as coisas que ele escreve... E não estou entrando em juízo de valor, mas em juízo de qualidade. De repente, você o transforma num personagem. E, nesses grupos de autodefesa, você tem o Sabino elogiando o Ali Kamel, que elogia o Mainardi, etc. Ou seja, cria-se dentro da imprensa um negócio fora das estruturas de controle dos jornais, grupos de autopromoção que são uma coisa mafiosa. Destrói-se pessoa que não seja do grupo e passa-se a tentar criar reputações intelectuais.
Foi o que o Sabino faz na Veja, com essas manipulações com relação ao livro dele. Ele escreve e assina sobre o Otavinho, sobre o Ali Kamel. Mas, na hora de tentar destruir o Davi Arrigucci, o Silviano Santiago (críticos literários e professores acadêmicos), ele coloca outros para assinar. Tentaram destruir o (também crítico José Miguel) Wisnik, o Santiago, o Arrigucci. E quem são as novas personalidades intelectuais que surgem? Ali Kamel, Mário Sabino, Mainardi. É inacreditável! Mainardi! Duas das maiores organizações do país — Abril e Globo — passaram a ser manipuladas por três ou quatro pessoas, criando esses mitos. É uma loucura.
Então você tinha uma clara dimensão de onde estava se metendo quando iniciou o dossiê?Quando entrei, me preparei para o pior. Vamos pegar um exemplo. Há oito meses, esse rapaz (Reinaldo Azevedo) me ataca. Há oito meses, o Reinaldo escrevia baixaria contra os professores da USP. Dava no Jornal Nacional e dava na Veja. Aí percebi que, quando começasse a série, eles usariam esse cara para me fazer ataques. Minha reputação continua a mesma. Estava até esperando coisa pior, que deve vir ainda.
Mas usei esses oito meses para preparar minha família. Dizia: “Olha, vão lendo isso aqui. Essa baixaria vai estar ampliada quando eu começar a cutucar esse pessoal”. Minha preocupação maior era com os meus familiares. Cada vez que minha mulher ficava mais horrorizada com os ataques, eu dizia: “Maravilha — estão se enforcando na própria corda”. Desse pessoal, eu esperava tudo. Acho que a Abril está um pouco mais cuidadosa do que eles. Mas, se dependesse deles, estariam falando da minha mãe, das minhas filhas. Eles não têm limites.
Por outro lado, para mim era terrível, como jornalista, essa história de ver um grupo que conseguia ficar incólume com superpoderes para injúrias e difamações. No jornalismo, em qualquer lugar democrático, toda vez que você vê manifestações de superpoder, ou essa arrogância, é um desafio para a gente. Mas ninguém queria desafiar por que? Porque os jornais foram covardes na hora de defender os seus profissionais.
Não tem nenhum jornalista neste país que respeite o jornalismo da Veja. Eles temem. Temem porque a Veja tem autorização para atirar em cima deles, e seus jornais não vão defendê-los. Foi o que aconteceu comigo na Folha. Quando eu saí de lá, eu falei: “Bom, agora estou por minha conta”. Esperei um tempo para o blog pegar e para a radicalização política diminuir, e aí comecei. Vamos ver no que vai dar.
Se bem que, logo depois do artigo do Leonardo Attuch contra você (“Nassif: o fracasso lhe subiu à cabeça”), o Otavinho deu uma declaração a seu favor...Esse negócio de que fui demitido da Folha porque eu recebia propina — o blog deles estava há oito meses falando sobre isso. Os meus leitores vinham e diziam: “Você não vai responder?”. Não. Se responder, você vai dar munição para um cara desqualificado. Você vai desviar toda a discussão para se defender de maluquices.
O Attuch é conhecido. A Veja, no começo, o atacava — até que fizeram um acordo. Quando veio o ataque do Attuch, foi bom, porque aí o Comunique-se e a Imprensa procuraram o Otávio Frias Filho, e ele esclareceu tudo. Agora, você vê: foram oito meses em que os caras ficaram falando isso aí no portal da Veja, que é maior revista do país. Quer dizer, será que não tem nada de errado com a mídia? Se isso não for uma deformação completa, eu não sei o que é.
Sobre a Globo...A Globo não tem a mesma baixaria da Veja. A Globo é Ali Kamel.
Mas tem essa questão da superexploração da febre amarela, das crises...Isso é coisa do Ali Kamel. O jornal O Globo caminhava para ser o melhor do país. Aí entrou o Ali Kamel com essas maluquices dele: o caso da TAM, da febre amarela, apagão, atletas cubanos, etc. O Globo tinha tudo para ocupar o espaço que a Folha deixou e foi comprometido pelo Ali Kamel.
Essa situação tem a ver com a questão da concentração da mídia?Tem tudo a ver, mas a internet já está democratizando a mídia. Eu recebi aqui alguns e-mails que falam do Mário Sabino brigando com a Folha. A característica desse pessoal é que são todos puxa-sacos. Eles elogiam suas empresas de um tal jeito... Qualquer ser humano com um mínimo de pudor teria vergonha. Faz parte desse perfil.
E é interessante quando você pega o Sabininho. Como ele é caricatura, fica ele todo dia falando do Victor Civita (fundador da Editora Abril), comovido. É inacreditável. Fico vermelho por eles. Aí tinha o Kamel mandando carta toda semana para a Folha, para atacar a Folha e defender O Globo. A Folha era o grande agente de tensão e exerceu um papel de equilíbrio muito importante. Num determinado momento, a Folha deixa de exercer esse papel, e cria-se um pacto tácito entre os jornais.
E eles acham que, com esse pacto fechando a atuação deles, nada do que não quisessem viraria notícia. Não se deram conta do fenômeno da internet. Esse foi o grande engano. Aquela entrevista que a gente fez, acho que foi a primeira que rompeu com essa cortina de silêncio. Isso é resultado do fenômeno da internet.

>>> O caso Veja (no Blog)
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terça-feira, março 04, 2008

RAUL REYES, O HERÓI ASSASSINADO PELO FASCISMO COLOMBIANO


>>>>>> A passagem pela presidência dos seus países de Uribe e de Bush deixará apenas memória de atos sombrios e de crimes contra a humanidade. A Marcha Contra o Paramilitarismo e pela Paz na Colômbia, a realizar-se no dia 6 de março na Colômbia e em diferentes capitais da Europa e da América Latina, assume também agora o significado de uma homenagem póstuma a Raul Reyes. A solidariedade com aqueles que se batem e morrem por uma Colômbia democrática e progressista é, mais do que nunca necessária.

- Por Miguel Urbano Rodrigues (*) http://www.fazendomedia.com/index.htm

O governo de Álvaro Uribe assassinou na madrugada de sábado (1/3), em território do Equador, o comandante Raul Reyes das FARC numa operação concebida e executada com o apoio dos EUA.
A notícia foi inicialmente divulgada pelo ministro da Defesa de Uribe num comunicado triunfalista que deturpa grosseiramente os acontecimentos, ocultando o caráter criminoso da ação terrorista.
Segundo Juan Manuel Santos, Raul Reyes teria sido abatido num acampamento situado no Equador a 1.800 metros da fronteira durante um bombardeio realizado pela Força Aérea do seu país a partir de território colombiano, para “não violar a soberania” dos países vizinhos. Mas logo esclarece que, posteriormente, tropas do exército atravessaram a fronteira para recolher o corpo de Raul Reyes e trazê-lo para Bogotá, afim de evitar que os guerrilheiros das FARC o sepultassem.
A nota do ministro apresenta assim, pelo absurdo, um toque surrealista. É inimaginável que qualquer avião possa despejar bombas sobre um acampamento, encontrando-se a quase dois quilômetros de distância. E grotesco que essa mentira seja seguida da confissão de que, afinal, forças do exército colombiano violaram pouco depois a soberania equatoriana. As coisas passaram-se de outra maneira.
Através de satélites norte-americanos, Uribe teve conhecimento da presença de um grupo de guerrilheiros das FARC do lado equatoriano do Departamento Colombiano Amazônico do Putumayo.
Bogotá soube através de delação que Raul Reyes se encontrava no local. O dirigente revolucionário tinha a cabeça a prêmio, vivo ou morto, por 2,7 milhões de dólares. A denúncia foi paga e aviões Super Tucan da Força Aérea – a mais poderosa e bem equipada da América Latina – despejaram uma chuva de bombas sobre o acampamento. No criminoso ataque de pirataria aérea morreram, além de Reyes, o cantor revolucionário Julian Conrado (o grande artista da rádio clandestina Voz de la Resistência) e 16 guerrilheiros. Foram massacrados enquanto dormiam, em condições ainda mal conhecidas.
Uribe, ao receber a notícia, felicitou a Força Aérea e o corpo de Reyes, mutilado pela metralha, foi levado para Bogotá. Logo fotografias do cadáver ensanguentado do herói apareceram em televisões e jornais de dezenas de países. Quase o mesmo ritual macabro que envolveu o assassinato do Che em 1967.

Os bastidores do crime


O atentado terrorista ocorre num momento em que a campanha para a libertação da franco-colombiana Ingrid Bettancourt inspira as manchetes da chamada grande imprensa internacional. Nunca se mentiu tanto sobre a realidade colombiana como nestes dias em que, a pretexto do sofrimento da ex-candidata à Presidência, as FARC são alvo de uma montanha de calúnias.
Um dia ficará evidente que no debate em torno do intercâmbio humanitária, as FARC atuaram sempre com transparência e autenticidade revolucionária, movidas por um objetivo humanista e Uribe com hipocrisia e intenções inconfessáveis.
Correspondendo a insistentes apelos de Hugo Chavéz e da senadora Piedad Córdoba, as FARC decidiram numa primeira fase libertar unilateralmente Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo Perdomo. A operação foi aliás adiada por alguns dias porque Uribe intensificou a concentração de tropas na área onde presumivelmente ambas deveriam ser entregues à Cruz Vermelha Internacional e transportadas para Caracas em helicópteros venezuelanos.
As FARC estavam conscientes dos enormes riscos que a operação envolvia. Só quem conhece a geografia da Colômbia - um país com 1.140.000 quilômetros quadrados e 45 milhões de habitantes, sulcado por três cordilheiras, rios gigantescos e em grande parte coberto pela densa floresta amazônica - pode avaliar o que significou conduzir as duas mulheres do desconhecido acampamento em que se encontravam até o Departamento do Guaviare, perto da fronteira venezuelana. É útil, aliás, recordar que o exército colombiano violou o compromisso de cessar fogo e começou a bombardear o local uma hora após os helicópteros terem levantado vôo.
Os satélites americanos transmitiram obviamente a Bogotá minuciosas informações sobre o percurso seguido pelo comando guerrilheiro incumbido de entregar Clara e Consuelo à Cruz Vermelha.
Insistiram posteriormente as FARC pela desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida como condição indispensável ao intercâmbio humanitário, exigido pelo povo colombiano – operação que previa a troca de 40 reféns em poder das FARC – entre os quais Ingrid Bettancourt – por 500 guerrilheiros encarcerados em presídios do governo.
Uribe negou-se a atender todas as propostas internacionais recebidas com o objetivo de se chegar a um acordo que permitisse a troca. Não obstante essa atitude intransigente do presidente neofascista da Colômbia, as FARC, correspondendo a um novo apelo de Hugo Chavez, tomaram a decisão de libertar, também em gesto unilateral, quatro deputados em seu poder.
Mais uma vez a operação foi adiada porque o Exército, nas vésperas da data prevista, mobilizou poderosas forças, concentrando-as nos Departamentos do Caquetá, do Meta e do Guaviare, onde as FARC estão bem implantadas, e por onde, presumivelmente, os parlamentares poderiam passar.
Era duplo o objetivo dessa iniciativa. Se houvesse um choque direto, Uribe responsabilizaria as FARC pela morte dos deputados. Simultaneamente, os aviões espiões, equipados com uma tecnologia que Washington somente proporciona a Israel, estiveram ativíssimos.
Os satélites americanos transmitiram informações valiosas a Bogotá. Mas as FARC cumpriram, mais uma vez, o que não impediu uma intensificação da campanha pró-libertação imediata de Ingrid Bettancourt. Essa exigência era, nas condições existentes, de impossível concretização. Uma mulher fragilizada, doente, não podia em hipótese alguma caminhar durante dias através de regiões selváticas, onde as tropas colombianas poderiam interceptar o comando por ela responsável.
Renovaram portanto as FARC a sua proposta para desmilitarização de Pradera e Florida, sem a qual o intercâmbio humanitário é inviável.

O herói caído em combate


O comandante Raul Reyes era, depois de Manuel Marulanda, o membro mais destacado do Secretariado e do Estado-maior Central das FARC. Revolucionário desde a juventude, tinha atualmente 60 anos e travou as primeiras lutas políticas como sindicalista. Elas foram uma iniciação para outras batalhas. Há mais de trinta anos, Luís Edgar Devia embrenhou-se nas montanhas, aderiu às FARC e tornou-se Raul Reyes.
Conheci-o em maio de 2001. Recebi um convite para passar algumas semanas no seu acampamento, próximo de San Vicente del Caguan, capital da então Zona Desmilitarizada. Aceitei com prazer.
Raul Reyes não impressionava pela aparência física. Baixo, levemente grisalho, tinha um timbre de voz suave. Mas logo na primeira noite, após o jantar, quando conversamos no seu posto de comando – um austero escritório, com uma mesa e duas cadeiras, instalado sob uma tenda oculta pelas altas copas da mata amazônica – percebi que aquele guerrilheiro frágil era uma personalidade excepcional. Falamos do mundo em crise antes de me oferecer livros e documentação como prólogo indispensável à abordagem da luta das FARC.
Era o responsável pelas conversações de paz que transcorriam nessas semanas no vilarejo de Los Pozos com os representantes do governo do presidente Pastrana.
Corriam então os tempos em que Pastrana saudava Manuel Marulanda com abraços de Judas, dias em que vi embaixadores de países da União Européia a disputar as palavras e o sorriso do legendário Tirofijo, comandante supremo das FARC.
Viajei com Reyes para La Macarena, onde as FARC libertaram unilateralmente 304 soldados e policiais, prisioneiros de guerra, e tive o privilégio de manter com ele, nas madrugadas mornas da floresta, longos diálogos sobre a sua organização revolucionária, a América Latina e a estratégia do imperialismo estadunidense, o grande inimigo da humanidade. E também sobre a vida.
Escrevi no próprio acampamento artigos para o "Avante!" sobre os combatentes das FARC e uma entrevista também publicada pelo órgão do PCP [Partido Comunista Português].
A atmosfera tinha algo de irreal, porque os próprios textos eram transmitidos pela secretária de Raul para um destinatário que depois os encaminhava ao jornal. A Internet, paradoxalmente, podia funcionar como instrumento a serviço de uma guerrilha revolucionária. Para honra e proveito meu, Raul Reyes manteve o contato comigo. Com frequência recebia mensagens suas, por intermédio de comandantes amigos, por vezes agradecendo artigos que publicara sobre a luta das FARC.
Recordo que pouco antes do sequestro no Equador do comandante Simon Trinidad – depois entregue por Uribe aos EUA – sugeriu que voltasse à selva colombiana. O projeto foi então a pique porque a fronteira equatoriana se havia tornado muito insegura.
Até ao seu último dia, Reyes foi a voz das FARC no diálogo destas com o mundo. Mas o comandante guerrilheiro, incumbido de incontáveis tarefas, encontrava ainda tempo para escrever artigos, alguns sobre complexas questões ideológicas, para a revista Resistência, órgão internacional das FARC, e para dar entrevistas a jornais da Europa, da América Latina, dos EUA. Nelas o saber e a firmeza do comunista de têmpera tinham como complemento harmonioso a cultura do intelectual humanista.
Uribe festeja agora a morte do combatente que, nas palavras de homenagem de Jaime Caicedo, o secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, foi um revolucionário exemplar que “entregou a vida pela causa em que acreditava”.
O triunfalismo do presidente neofascista da Colômbia que financiou o paramilitarismo quando governador de Antioquia e tem o seu nome na lista dos narcotraficantes elaborada pela Drug Enforcement Agency dos EUA, mas é hoje o melhor aliado de Bush no Continente, não tem o poder de fazer História.
A passagem pela presidência dos seus países de Uribe e de Bush deixará apenas memória de atos sombrios e de crimes contra a humanidade. A Marcha Contra o Paramilitarismo e pela Paz na Colômbia, a realizar-se no dia 6 de março na Colômbia e em diferentes capitais da Europa e da América Latina, assume também agora o significado de uma homenagem póstuma a Raul Reyes. A solidariedade com aqueles que se batem e morrem por uma Colômbia democrática e progressista é, mais do que nunca necessária.
Raul Reyes entra ao desaparecer, assassinado, no panteão dos heróis da América Latina. Como Sucre, como Bolívar, como Artigas, o Che, Raul Reyes ultrapassa a fronteira da única forma de eternidade possível – dos homens que viveram para servir a humanidade e contribuir para que ela continue.



(*) Miguel Urbano Rodrigues é jornalista, com experiência em diversos periódicos portugueses e brasileiros, muitos como chefe de redação. Com a repressão em Portugal, se exilou no Brasil, onde editou a revista brasileira “Visão” e o jornal “O Estado de S. Paulo”. É autor de mais de uma dezena de livros. Texto escrito a partir de Serpa, Portugal, em 2 de março de 2008.




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