sexta-feira, junho 09, 2006

Despirocar, verbo intransitivo

Sobre: JÂNIO DE FREITAS, 6/6/2006, “A oposição à oposição”, Folha de S.Paulo na edição impressa e na internet em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0606200603.htm

Jânio de Freitas foi oposição que prestava, quando a situação era o PSDB-PFL. Hoje, a situação no Brasil é um presidente popular e democrático e metalúrgico eleito pelo MEU VOTO DEMOCRÁTICO. EU SOU a situação. E Jânio de Freitas já está errando, até, o b+a, ba.
Entende-se perfeitamente o fenômeno. Até a eleição do presidente Lula, oposição e situação sempre foram como irmãos siameses: uma cabeça só, e diferentes braços ou fígado ou bolsos. Ligados na segurança de que um sempre saberá o que o outro estiver fazendo, com quem, onde e quando, é fácil uma metade fazer-se de ‘oposição’, quando a ‘situação’ está sempre ali, no mesmo corpo. ‘Situação’ e ‘oposição’ sempre se revezaram, no poder, no Brasil, sem jamais deixar de ser um só corpo.
A eleição do presidente Lula mudou essa relação de irmãos siameses que sempre houve no Brasil, por 500 anos, entre a ‘oposição’ e a ‘situação’. E a mídia dançou, completamente.
Nosso jornalismo nunca antes viveu sob Estado popular democrático e ainda entende que o jornalismo seja OBRIGADO a repetir, nos jornais e na televisão, em 2006, como se isso fosse alguma ‘oposição’, qualquer besteira que algum jornalista ouça do PSDB ou do PFL.
Dado que PSDB e PFL também jamais viveram sob Estado popular democrático – de fato, são, em 2006, ainda, completamente a UDN, só que burra –, o negócio rapidamente descamba para o ridículo, no casamento que há hoje, entre ‘oposição’ e mídia. Ficam lá o Tribuno Antero a dizer besteiras, algum FHC a traduzir as mesmas besteiras para um sociologuês de palestragem & michê... e ficam os nossos jornalistas, até os ex-melhores, a repetir o que o Tribuno Antero entende, por exemplo, de democracia, quer dizer, na-di-ca de naaaaaaaaaaaaada.
O resultado é que o mundo real fica sem mídia, a mídia fica sem mundo real e o eleitor-leitor de jornais ficamos totalmente sem imprensa competente e democrática que fiscalize e denuncie o bobajol real que, hoje, são todas as falas de PSDB e PFL.
Enquanto isso – porque Deus não lê os jornalões paulistas e pode, assim, fiscalizar a democracia brasileira –, o presidente Lula só faz recolher votos e votos e mais votos plenamente democráticos, por sorte.
Essas idéias me ocorrem ao ler hoje, na coluna de Jânio de Freitas, que “Lula diz o que quer; do PSDB, cada vez mais aturdido, não vêm senão adjetivos de última hora”.
O que aí se lê é bobajol, pode-se dizer ‘clássico’, de quem não vê o mundo e perdeu-se, completamente, de qualquer jornalismo de democratização (além de ser brabo erro ‘de português’).
O xis da questão do bobajol que tem infestado todos os jornalões no Brasil, em 2006, enunciado pelos tucanos-uspeanos-pefelistas e seus colunistas alugados, com empáfia que não se viu nem quando Newton enunciou a Teoria da Gravitação Universal, não está nos adjetivos, como pensa Jânio de Freitas.
É verdade, sim, que os adjetivos que a tucanaria uspeana pefelista tem usado também , sim, estão abaixo da crítica (“Governador Burro!” “Senador safado!” “Presidente Rolando-Lero!” e daí pra baixo, cuesta abajo total), mas, até aí, estamos falando apenas dos adjetivos. E adjetivos, sacomé, sempre se podem disputar e decidir no voto.
Ninguém está interessado nos adjetivos inventados por essa tucanaria que despirocô total, já até nos verbos, como se viu, na fala pra lá de despirocada do brucutu que, em São Paulo, ocupa o cargo de Secretário de Segurança, o SS de Alkcmin.
“Despirocante”, aliás, é o adjetivo que o tal aplicou a um seu correligionário; ambos do PSDB, é claro. Se tratam assim os correligionários, não surprende que, no resto do mundo, todos esses despirocados da SS tucano-pefelista-paulista, por exemplo, mandem bala ou desçam o sarrafo.
O problema realmente grave, que se repete muito seguidamente na fala despirocada dos despirocados tucanos alckministas, serristas e todos, está no que é, sempre, o xis de todas as questões; não está nos adjetivos: está nos substantivos. E, de muitos substantivos completamente despirocados que têm abundado na fala dos tucanos, seleciono três, só pra documentar o despirocamento geral dos hoje candidatos da oposição, no Brasil: governabilidade, responsabilidade e confiabilidade.
Substantivos abstratos, ocos, intangíveis
Pra começar, são substantivos totalmente abstratos, ocos, vazios, intangíveis, sem sequer um átomo de significado concreto.
Todos os substantivos que carregam o sufixo “-idade”, ‘falam’ sempre de um traço abstrato que torna abstrato o significado de alguma outra palavra que, sem o sufixo “-idade” seria claramente compreendida.
Por exemplo: “feliz” (adjetivo) todos sabemos o que significa; já a tal de “felicidade” é um perene mistério, totalmente indecifrável. “Compreender” (verbo) todos, mal ou bem, sabemos (ou sentimos, intuímos) o que significa; já a tal de “compreensibilidade” é caso complexíssimo, indecidível. O sufixo “-idade” serve, exclusivamente, para enrolar e, talvez, para despirocar completamente o que, sem o sufixo, seria palpável e pirocado, pode-se dizer, no jargão da 'sociologia' da tucanaria paulista.
“Governar” é verbo ativo, simples e claro; faz quem sabe e pode, desde que seja eleito e receba VOTOS DEMOCRÁTICOS. Já a tal de “governabilidade” é rigorosamente NA-DA... sobretudo pra quem não tenha votos, em mundo democrático.
“Responsável” é palavra que os brasileiros entendemos muito bem; “responsabilidade” é sempre difícil de determinar e muitas vezes exige investigações sérias, que os tucanos pefelistas não fazem nem deixam fazer (mas metem-se logo a relataaaaaaaaaaar, que dá gosto! [risos muitos]).
“Confiar”, idem, todo mundo sabe o que é; “confiabilidade” é um sentimento, um feeling, um traço abstrato que só aparece nos seres em quem se confie; não se compra, não se vende e não se compra e, portanto, de nada adianta propagandera a confiança; não, pelo menos, mediante despirocamentos orais.
Nos substantivos, portanto, Jânio de Freitas, da tucanaria pefelista é que todos temos, sim, de prestar muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuita atenção!
Enquanto esses tucanos pefelistas continuarem com esse conversê de só pensar no abstrato, na política; e de inventar números e infográficos, na vida real, eles continuarão a despirocar sem parar, todos os dias. Não enganam mais ninguém... se é que algum dia enganaram alguém, além dos jornais e jornalistas que não tivessem previamente alugado, just in case.
Os adjetivos não são importantes. Adjetivos mudam ao sabor das opiniões e dos desejos e dos pontos de vista. Um passinho para a direita... e o que é claro já fica escuro. Bom jornalismo, aliás, ninguém jamais fará, se se dedicar a olhar só o cosmético...
Taí! Um estranhíssimo substantivo, "cosmético", que é igual ao adjetivo, "cosmético" e que, nas duas categorias gramaticais, significa, exatamente, aquilo que é e se usa para encobrir e disfarçar, nunca nem pra explicar ou para noticiar, em jornalismo democrático.
Atenção total aos substantivos, portanto, Jânio de Freitas!
O Brasil já acordou, e está de olho, por aí, em todos.

Lula é muitos! Despirocados, despirocadores e despirocantes tucano-pefelistas, nunca mais! Já acabamos coessa raça!
[assina] Caia Fittipaldi (dos Lingüistas Brasileiros para a Democracia / Universidade Nômade / Campanha “Nenhum Brasileiro sem Resposta-na-ponta-da-língua, pra Responder à Folha de S.Paulo" / Tricoteiras Unidas / Mães do Planalto / Gaviões da Fiel) [para vários destinatários, campanhistas e outros]

PARA NÃO ESQUECER: "Nós vamos ter um enfrentamento grave. Vocês se preparem." (Presidente Lula da Silva, do Brasil, maio de 2006).