quarta-feira, julho 05, 2006

Serra vai renunciar de novo???


Serra: Goldman ao invés de Beraldo

O candidato José Serra procurou Quércia para ter o PMDB paulista ao seu lado, oferecendo o cargo de vice ao peemedebista. No entanto, como Quércia pretendeu ser ele próprio o candidato, os tucanos não aceitaram: queriam outro, de preferência Michel Temer. Na impossibilidade da coligação, o PSDB preferiu a chapa puro-sangue, ou seja, o candidato a governador e vice deste partido. O escolhido por Serra é o deputado de federal Alberto Goldman. A escolha dele mereceu esse comentário do deputado Simão Pedro (PT-SP), muito conhecido na região: "Frustrado com a ausência de Orestes Quércia em sua chapa, José Serra trabalha o nome de Alberto Goldman, o mais quercista dos tucanos" (Tiroteio, Folha). Por que o vice não foi do PFL, como aconteceu com Geraldo Alckmin/Cláudio Lembo? Em primeiro lugar, porque Serra, caso eleito, vai ser candidato a presidente da República em 2010, como noticiou a Folha (seria a segunda renúncia), daí preferir um companheiro tucano de sua estreita confiança, o qual poderá ser governador a partir de abril daquele ano. Em segundo lugar, porque a experiência com Lembo não foi nada agradável, com veremos a seguir. Por esse motivo, um candidato a vice pefelista estava descartado.Lembo, como governador, teve atitudes que descontentaram os tucanos, principalmente o presidenciável Alckmin (agora prefere Geraldo). Na Guerra do PCC, o governante pefelista condenou a ausência inexplicável do tucano num momento terrível. Ironicamente disse que Geraldo não lhe havia telefonado porque o pulso era caro. Além do mais, elogiou Lula, que se colocou a disposição do governador e de São Paulo. Depois, recebeu o presidente no Palácio dos Bandeirantes. Essa atitude irritou não apenas o PSDB como também o PFL, seu aliado. A Folha noticiou: "Tucano [Alckmin] evita criticar Cláudio Lembro por receber petista [Lula] na sede do governo paulista". Outro motivo de descontentamento foi a atitude da nova Secretária de Educação. Mônica Bergamo noticiou: FATURA ALTA - Encrenca das boas no terreiro de Geraldo Alckmin: a sucessora de Gabriel Chalita na secretaria da Educação, Maria Lucia Vasconcelos, nomeada por Cláudio Lembo, decidiu suspender por tempo indeterminado as compras de livros paradidáticos (clássicos, romances) e revistas que eram distribuídos aos alunos do Estado. O negócio com as editoras chegou, só em 2005, a R$ 9,7 milhões. "Não posso fazer compras desse valor sem saber o que estou comprando. Não é porque [o negócio] foi conversado no passado que tenho que comprar, diz ela. BIOGRAFIA - "Vou voltar a comprar, sim. Mas no devido tempo, COM TRANSPARÊNCIA E CAUTELA (destaque meu)", diz Maria Lucia. A saia justa é grande: Chalita é um dos auxiliares mais próximos de Alckmin e biógrafo da mulher dele, Lu. PROCESSO - Chalita diz que não quer "criticar" a sucessora. Mas afirma: "Se cada secretário resolver parar para analisar e fazer o seu projeto, destruirá a proposta educacional. Educação é um processo". Chalita afirma que o preço do livro era o justo e que "a maior parte dos recursos era FEDERAL (destaque meu)". Diz que herdou o programa de paradidáticos da gestão anterior à dele e deu continuidade para preservar o "processo" (Folha, 3/7). Estranha essa atitude da nova secretária da Educação! Por esses motivos a preferência foi para uma chapa puro-sangue, evitando um provável desencontro em 2010.A Folha (29/6) noticiou os bastidores da escolha. Eis o seu relato: "Apesar da declarada preferência por Goldman, Serra também avaliava a indicação de Beraldo [deputado de São João da Boa Vista e presidente do PSDB paulista]. Com a aparição de Beraldo, cresceu um movimento no partido pela sua escolha, dos coordenadores regionais aos vereadores. (...) Aliados de Alckmin reclamaram do fato da a Executiva ter autorizado, formalmente, a Serra o direito de escolha. A expectativa de tucanos era que Alckmin interviesse em favor de Beraldo. Mas Alckmin preferiu não se manifestar". Por que não se manifestou? Afinal de contas, Beraldo é alckmista. Como presidente da Assembléia, por escolha do então governador, foi fiel. Segundo noticia da Folha, no ano passado, Beraldo evitou que diversas CPIs contra o governo Alckmin fossem votadas. O que aconteceria com a imagem de bom moço do presidenciável tucano, caso houvesse essas CPIs? Em minha opinião, Alckmin preferiu não se manifestar porque ele depende de Serra para sua campanha e o ex-prefeito não depende do presidenciável. Então, abandonou o seu fiel seguidor. O escolhido foi o serrista Alberto Goldman.A trajetória do candidato à vice: "O deputado federal Alberto Goldman trocou o PCB [Partido Comunista Brasileiro] pelo PMDB quercista nos anos 80 e o quercismo pelo tucanato nos anos 90. Em 1985, oficializou sua filiação ao PCB, mas apoiou Orestes Quércia a governador em 1986, contrariando o partido. Tornou-se secretário de Quércia e voltou ao PMDB. (...) Reeleito em 1994, passou a apoiar o governo FHC e aderiu ao PSDB" (Deputado foi comunista e quercista, Folha 29/6). Agora Goldman vai enfrentar o antigo companheiro Orestes Quércia. Coisas da política!

JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu