domingo, julho 02, 2006

O ‘jornalismo’ de engambelação do leitor-eleitor: um crime de lesa-voto



Mando aí, traduzido, pra facilitar, o texto publicado hoje no NYT sobre "jornalismo investigativo". A matéria é interessante, não como 'notícia', mas como 'demonstração' de como opera, mesmo, esse jornalismo de engambelação do leitor-eleitor, quando a palavra da hora é "corrupção".
Nenhum jornalismo e nenhum jornalista do capital jamais teve qualquer preocupação ética, ou moral ou civilizatória, com a corrupção política. Há décadas, a corrupção de jornais e jornalistas, por políticos e candidatos, é prática empresarial considerada 'normal', em todo o planeta.
Temos, no Brasil, DOIS casos perfeitamente conhecidos de todos, do que em qualquer lugar do planeta onde houvesse jornalismo democratizado seriam considerados crimes de corrupção de um jornal e de seu jornalismo, por interesses político-partidários. Todos sabem... e todos vivem como se esses movimentos de corrupção nunca tivessem acontecido.
No Brasil, por exemplo, em 2006, temos uma influente colunista de jornal que é casada com o principal 'marketeiro' (encarregado dos contatos "com a imprensa") de um dos candidatos (Eliane Cantanhede, da Folha de S.Paulo, é casada com um dos donos da Agência GW que está contratada oficialmente para a campanha do candidato tucano-pefelista, em 2006). A agência de D. Eliane Cantanhede trabalha desde 1995 (11 anos! 11 anos! No mínimo! Talvez, até, mais do que isso!), 'por dentro' e 'por fora' para os candidatos tucano-pefelistas. E vive-se, por aqui, como se isso fosse completamente normal e... ‘jornalístico’, e ‘ético’ e ‘moral’.
Contudo -- e apesar da deslavada corrupção que está aí, em todos os jornais e jornalistas, no Brasil --, volta e meia, a tal de ‘luta contra a corrupção’ vira idéia fixa... em todos os jornalões.
Então, entramos em períodos em que não passa um dia em que uma dessas senhoras (dentre ZILHÕES de outros 'jornalistas' brasileiros igualmente corruptos) não esbraveje contra a corrupção [risos]... em suas respectivas colunas diárias de propaganda eleitoral antecipada, ilegal, INCONTABILIZÁVEL (e infiscalizável, é claro, porque todos os 'por fora' são infiscalizáveis!), mas ainda ditas 'jornalísticas', no Brasil-2006.
Na Colômbia – onde o narcotráfico já tem também os seus jornais e jornalistas –, a luta antinarcotráfico acabou por sobrepor-se à corrupção política histórica dos jornais e jornalistas. Assim, lá, se operou o milagre de 19 grandes jornais unirem-se oficialmente, numa só investigação [risos]. Mas a Colômbia ainda não se democratizou pelo voto – como já começa a acontecer na Venezuela, no Brasil, na Argentina, na Bolívia e, talvez, a partir de hoje, também no México.
Com aquela nuance local, que torna a Colômbia diferente dos demais países latino-americanos já redemocratizados pelo voto, a única coisa que explica o 'surto' anticorrupção contra alguns corruptos, nunca contra TODOS os corruptos , é que, afinal, foram eleitos candidatos que não estavam 'previstos' nos arranjos 'oficiais' da corrupção organizada, historicamente, na Argentina, na Venezuela, no Brasil e na Bolívia, com certeza.
O ‘surto’ anticorrupção contra alguns, mas não contra TODOS os corruptos aconteceu na Venezuela, depois da eleição do presidente Chavez; e está acontecendo no Brasil, depois da eleição do presidente Lula -- e acontecerá na Bolívia, sem dúvida, agora que, lá, as forças democráticas também já conseguiram eleger um governo democrático.
Pode-se esperar um surto total de xchilique anticorrupção nos jornalões (de só investigar corrupção 'dos inimigos', nunca dos amigos, de investigação de faz de conta, como nos jornalões brasileiros, hoje) tb na grande mídia mexicana... se os mexicanos, que estão votando HOJE, elegerem o candidato Obrador, que é antiprivatizações. Privatizar tuuuuuuuuuuuuuuuuuudo, como se sabe, é uma espécie de 'sonho de consumo' de todos os corruptos da galáxia. No Brasil, foi o paraíso da tucanaria pefelista.
Simultaneamente ao 'surto' em que se vêem jornais e jornalistas totalmente e notoriamente corrompidos, como no Brasil, a esbravejar contra a corrupção dos candidatos adversários – nunca contra a sua própria corrupção e contra a corrupção dos seus candidatos apadrinhadores –, ganham espaço de divulgação em todo o planeta algumas ONGs privadas, como a Transparência Brasil.
A Transparência Brasil é o braço brasileiro da Transparency International, entidade na qual muito militam, por exemplo, o ex-presidente Clinton e Henry Kissinger. Onde estiverem esses, como se sabe, ali está o FHC-da-palestragem&michê e seus jornalistas tucanos uspeanos pefelistas, como D. Eliane Cantanhede ou D. Dora Kramer, ou Miriam Leitão ou Joelmir Betting, ou Jabor e mais, e são zilhões.
Nos mesmos jornais, onde houver esses ditos 'transparentes' de araque e seus candidatos udenistas tucanos uspeanos pefelistas, ali estará sempre, em todo o planeta – como está abaixo, hoje, no NYT --, o Instituto Sociedade Aberta... de George Soros... um nome que não gosta de transparências prô lado dele e que, por isso mesmo, não aparece nomeado no NYT.
O golpe, felizmente, já dispensa estudos muito aprofundados: qualquer jornalismo de escolinha já mandava investigar a corrupção de governos por empresas transnacionais e seu correspondente ‘jornalismo’, há décadas. Quem parou de investigar não parou por não saber fazer; parou pq quis parar de investigar tudo... e escolheu alugar-se barato. O resto foi aprender a repetir... e aprender a DES-DEMOCRATIZAR as sociedades, os jornalistas os jornalismos, as eleições e tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuudo.
Felizmente, também -- porque a democracia avança da sociedade para o jornalismo, nunca o contrário --, qualquer leitor bem informado sabe que esses institutos e seus respectivos ‘jornalistas’ e ‘jornalismos’ só se preocupam com corrupção política, exclusivamente, nos casos em que os capitais transnacionais comecem a encontrar dificuldades para CONTINUAR A MANDAR em governos nacionais... como sempre mandaram (e em muitos casos ainda mandam), na América Latina, desde a Guerra Fria com certeza absoluta.
Não se trata, portanto, de corrupção, sempre que jornalistas e jornais como os que temos no Brasil entrarem em surto de xchilique dito 'ético' ou dito 'moral': tudo é business, tudo é desnacionalização, tudo é desdemocratização.
Tudo, então, é feito só e sempre para preservar a corrupção velha -- contra, até, qualquer tentativa democrática de democratizar governos e nações (e também os jornais, os jornalismos e os jornalistas)... pelo voto democrático dos eleitores.
Em tempos ditos 'globais', a redemocratização das nações, consideradas nacionalmente e continentalmente (como no caso da América Latina) é, também, assunto importante... que a dita 'mídia' neoliberal TAMBÉM APAGOU...
Assim, então, tudo virou milagrosamente ético-à-moda-dos corruptos, quer dizer... é pra ser muito 'ético'... desde que seja à moda Alckmin-Daslu... e bem 'administrado', com 'choque de gestão', golpe da 'governabilidade' e tudo [risos muitos]. E a Folha de S.Paulo contribui com as manchetes de engambelação. E a USP contribui com os sociólogos de engambelação. E o Estadão escreve os editoriais. E segue o frege.
Em todos os casos em que se misturem tão completamente, como se misturaram, no Brasil pré-eleitoral, em 2006, jornais, candidatos e capitais transnacionais, a primeira vítima é a democracia; a segunda vítima é o eleitor-leitor de jornais brasileiros. A terceira vítima é e sempre será o próprio jornalismo democrático.
Tudo o mais é, como sempre foi e é, ainda, no jornalismo brasileiro (e no NYT) conversa fiada -- jornalismo de enganar leitor-consumidor e de desdemocratizar eleitor. Crime mais grave do que qualquer corrupção nos negócios, sempre será o crime de haver jornais constituídos, deliberadamente, para engambelar a democracia, o eleitor leitor de jornais e o jornalismo democrático.
Quanto a ainda haver USPs que ainda ensinem a fazer e a reproduzir ESSE ‘jornalismo’ de engambelação... aí, então, nem se fala: isso é crime de lesa-pátria, de lesa-nação, de lesa-meu-voto.________________________________________________
[Abaixo, a matéria de hoje, do NYT. Não é importante pelo que diz. É importante, sim, como sintoma, pelo que faz (ou tenta fazer)]
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“The Long, Hard Road of Investigative Reporting in Latin America”, Tina Rosenberg, no New York Times, 2/7/2006, na edição impressa e na internet, em
http://www.nytimes.com/2006/07/02/opinion/02sun4.html?ex=1152504000&en=96ae71721563156f&ei=5070&emc=eta1
A melhor peça de jornalismo investigativo da mídia colombiana, ano passado, expôs a tomada de todos os números lucrativos do país, pelos grupos paramilitares. Mas a história por trás da história era ainda mais reveladora sobre o poder dos paramilitares. Em quase todas as investigações, os repórteres escondem ciumentamente suas informações e disputam o ‘furo’. A investigação colombiana foi trabalho de repórteres e editores de 19 dos principais jornais e revistas da Colômbia. Todos publicaram no mesmo dia, em matérias não assinadas. A idéia era não expor ninguém à retaliação dos grupos paramilitares.
Em quase todos os casos, os jornalistas latino-americanos que investigam corrupção, tráfico de drogas e outros crimes têm sido assassinados. Isso é ainda mais verdade nas áreas rurais, mas também nas grandes cidades e nas capitais, muitos importantes jornalistas têm de viver na clandestinidade. Esse tem sido o calvário de Mabel Rehnfeldt, diretora da editoria de jornalismo investigativo do jornal ABC Color em Assunção, Paraguai: foi perseguida por homens armados, recebeu várias ameaças de morte e foi processada. Depois de publicar matérias sobre abusos sexuais e negociatas na Igreja Católica, sua filha sofreu uma tentativa de seqüestro.
Em muitos países, os jornalistas também enfrentam leis que criminalizam o papel da imprensa, sob um padrão confuso e leniente para definir “crime de imprensa”. Na Venezuela, são consideradas crime todas as expressões desrespeitosas dirigidas a funcionários públicos, mesmo quando verdadeiras.
Sob pressão, muitos editores e editores-chefe, na América Latina não precisam de muitos argumentos para abandonar o jornalismo investigativo. Afinal, os bons repórteres investigativos custam caro às empresas, em termos de pessoal e despesas. ‘Itens’ como esses são sempre escassos em jornais menores, nos quais os repórteres também trabalham para vender anúncios. Assim, os ‘influentes’ rapidamente tornam-se inimigos dos jornais e jornalistas — o que é particularmente ‘desinteressante’ para os donos de jornal, numa região onde é hábito usar os jornais como instrumento para ‘alavancar’ negócios, atacar outras pessoas influentes e, portanto, atacar desafetos e inimigos.
Os governos também já aprenderam que o suborno pode ser mais efetivo que as ameaças. Na Argentina, a administração do Presidente Carlos Menem costumava processar os repórteres investigativos. Mas, depois da intervenção da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a prática foi suspensa, e o novo presidente, Néstor Kirchner, simplesmente duplicou o gasto do governo em publicidade, e calou os jornalistas. Em alguns jornais do interior, 75% dos ganhos das empresas jornalísticas provêm de publicidade paga pelo governo.
Apesar dos obstáculos, ainda há bons repórteres investigativos na América Latina, mesmo em pequenos jornais regionais. Sou jurado de um prêmio oferecido à melhor matéria de jornalismo investigativo sobre corrupção, patrocinado pela Transparência Internacional e pelo Instituto Sociedade Aberta. Esse ano, o prêmio foi dado a dois jornalistas Venezuelanos que, trabalhando sob clima de histeria pública, descobriram as provas de desmontaram um caso que o governo tentava converter em julgamento-show político. O segundo prêmio foi dado a um jornal do interior do país, El Imparcial, publicado em Hermosillo, capital do estado mexicano de Sonora. Expôs um caso ‘clássico’ de corrupção à moda antiga. O legislativo de Sonora votou em segredo uma lei que concedia um empréstimo de $30 mil dólares a cada deputado e, em seguida, votou uma segunda lei, que perdoava a dívida.
Mas houve um forte declínio no jornalismo investigativo na Argentina, Colômbia e Peru, onde sempre houve importante tradição nesse campo. A América Latina ainda tem dúzias de grandes jornalistas de investigação e, infelizmente, não falta o que investigar. Mas, no momento, muitos deles ainda guardam suas matérias, e os Latino Americanos estão mais desprotegidos, a cada dia.
OPINION July 2, 2006
Editorial Observer: The Long, Hard Road of Investigative Reporting in Latin America
By TINA ROSENBERG Many of Latin America's great investigative journalists have to keep their reporting locked up in their heads, and Latin Americans are worse off for it. (Copyright 2006 The New York Times Company) __________ Informação do NOD32 IMON 1.1637 (20060702) __________Esta mensagem foi verificada pelo NOD32 sistema antivírus
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