segunda-feira, abril 24, 2006

O Petróleo é nosso, uma realidade


Jasson de Oliveira Andrade

O presidente Lula anunciou que o Brasil é auto-suficiente em petróleo. No artigo à Folha, sob o título “Brasil: uma conquista importante”, Antonio Ermírio de Moraes constatou: “A chegada do Brasil à auto-suficiência de petróleo merece uma comemoração. Trata-se de uma conquista que vem sendo trabalhada há várias décadas”. Tem razão o empresário. A campanha pelo petróleo vem de longe, desde quando Oscar Cordeiro descobriu petróleo no Brasil a 22 de janeiro de 1939. Existem outros, como veremos.
Um dos pioneiros do “petróleo é nosso”, que ainda não era conhecido com esse nome, foi Monteiro Lobato. Ele acreditou na existência desse precioso líquido, na época negada. Para concretizar sua crença, ele incorporou, em 1932, a Companhia Petróleos Brasil. Amauri Barnabé Segalia, na reportagem “A luta de Monteiro Lobato faz história” (Estado, 21/4/2006), destacou: “Ao mesmo tempo em que suas companhias perfuravam o solo brasileiro, Lobato percorria o Brasil para palestras, discursos e conferências que tinham como mote a exploração do combustível [petróleo] nacional”. Nesse período, l930 a 1937, escreveu vários livros. Entre eles, “O escândalo do petróleo e ferro”, de agosto de 1936, para adultos, e “O Poço do Visconde”, de 1937, infantil. Mesmo com dificuldades financeiras, Lobato não desistiu, entrando em polêmica com o governo, o que lhe causou, em 1941, a condenação a seis meses de prisão, cumprindo três meses no Presídio Tiradentes. Amauri Segalia revela: “Mais tarde suas empresas, que fizeram jorrar apenas água sulfurosa no lugar de petróleo, seriam liquidadas”. Um fato curioso relatado pelo jornalista: “Ele [Monteiro Lobato] ainda veria o general Horta Barbosa, o mesmo que o colocou atrás das grades, defender a soberania nacional na questão do petróleo”. Lobato morreu no dia 4 de julho de 1948 e não viu a sua idéia ser vitoriosa em outubro de 1953, com a criação da Petrobrás.
Luís Nassif assim se referiu ao livro “O Escândalo do Petróleo”, de Monteiro Lobato: “Seu texto tinha uma eficiência panfletária inigualável, talvez superada apenas por Gondin da Fonseca, um dos jornalistas da campanha do “Petróleo é nosso”, o mais brilhante texto jornalístico que já conheci”. Ele se referiu ao “Que sabe você sobre petróleo?”. Nós, defensores do “Petróleo é nosso”, considerávamos o livro de Gondin da Fonseca como a Bíblia do Nacionalismo. Gondin e Lobato não podem ser esquecidos nessa oportunidade em que se comemora a auto-suficiência na produção do petróleo.
A aprovação da Lei da Petrobrás não foi fácil. Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, um império da imprensa, hoje extintos, defendia o capital estrangeiro na exploração do petróleo e era considerado um dos maiores “entreguistas” (entrega do petróleo) do Brasil. Getúlio, então, apresentou o Projeto de Lei com facilidade para os trustes petrolíferos. No entanto, o então deputado Euzébio Rocha apresentou um Substitutivo nacionalista, justificando: “Ao comunicar ao Presidente Getúlio Vargas a minha deliberação, S.Exa. me declarou que quanto mais nacionalista for o projeto, mais preserva os interesses do Estado, mais impede que seja a Sociedade um instrumento do enriquecimento de poucos, mais satisfaça os seus desejos” (A Batalha do Petróleo Brasileiro, Mário Victor, pág. 304). O Substitutivo foi aprovado e se transformou na Petrobrás, que Vargas sonhou. Euzébio Rocha lecionou na Faculdade de Direito de Pinhal, passando aos alunos seu amor à campanha do “Petróleo é nosso”. Agora, já falecido, não poderíamos esquecer o seu nome!
Duas datas significativas para o nosso petróleo. Em 3 de outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas sancionou o projeto da Petrobrás. Em 21 de abril de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ao Brasil a auto-suficiência na produção do petróleo. Naquela época, Vargas sujou as mãos com o ouro negro. Quase 53 anos depois, Lula imitou o gesto de Getúlio. A oposição não gostou. Foi além. Diz que a comparação favorece a administração tucana. O senador Aloizio Mercadante, rebateu: “No governo anterior, além da dificuldade grande com o apagão energético, houve até afundamento de plataforma (a P-36 em 2001). No governo do Fernando Henrique, inauguração de plataforma, só escavando ou usando submarino”, ironizou Mercadante, lembrando do acidente que fez a P-36 submergir. Afirmou ainda: “A auto-suficiência deveria ser comemorada por todos porque é uma conquista do País. Mas a oposição vai reclamar até se chover no Nordeste”, concluindo: “Tem sido assim na história: uns fazem e os outros resmungam”. Não só resmungam, também agem. O PSDB quer suspender comercial da Petrobrás por considerá-lo campanha eleitoral, principalmente essa passagem: “Só nos últimos três anos foram investidos R$ 63 bilhões para que o país chegasse a essa conquista. (...) Uma rápida leitura do texto acima transcrito revela evidente propaganda eleitoral intempestiva pois afirma que nos últimos três anos, ou seja, durante o mandato do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobrás recebeu, supostamente, um volume recorde de investimentos, R$ 63 bilhões, necessários para chegar a essa conquista”. Realmente um investimento desse porte deve incomodar os tucanos. O povo não deve saber. Deveria ficar em segredo. Como disse Mercadante: uns fazem e os outros resmungam. Lembro-me que Fernando Henrique quis flexibilizar a Petrobrás, um ato considerado prejudicial à empresa. Felizmente, o Congresso não aprovou! Um deseja imitar Getúlio. O outro queria acabar com a Era Vargas!

Polêmicas à parte, a auto-suficiência foi o coroamento da campanha do “Petróleo é nosso”.
E, como disse Antonio Ermírio de Moraes, deve mesmo ser comemorado!

JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu