segunda-feira, abril 24, 2006

COMO ENTREVISTAR UM TUCANO

"Caixa dois é prática corriqueira no Brasil"

entrevista a Bob Fernandes

Arthur Virgílio, senador pelo PSDB (AM), candidato ao governo do Amazonas numa coligação com PV-PPS e PDT - este ainda em discussão - é, talvez, o mais ácido crítico do governo Lula. Da tribuna já ameaçou "dar uma surra" no Presidente da República.
Nessa entrevista ao Terra Magazine o senador diz que Lula tem "o rabo preso com Delúbio, Zé Dirceu, e Silvinho", que o caminho do governo "é a ingovernabilidade", mas faz coro com o que disse seu alvo preferencial em Paris há mais de 8 meses. Arthur Virgílio admite o que até o gramado do Congresso sabe, mas que políticos em geral evitam confirmar em público:- O caixa dois é uma prática corriqueira na política brasileira...


Senador, que idade o senhor tem e quantos anos de política?Arthur Virgílio: Tenho 59 anos, fui deputado federal por 12 anos, prefeito de Manaus por quatro anos e há três sou senador...
...e o seu pai?Meu pai foi senador e deputado federal, pelo PTB. Foi líder do governo João Goulart, primeiro líder da oposição à ditadura...
...bem, então o senhor já tem muitos anos de janela para, como líder do PSDB no senado, responder verdadeiramente à pergunta: qual é o próximo capítulo, de fato, em meio a essa batalha retórica sobre o impeachment?O presidente Lula se exauriu moralmente e tem um governo que depende de dois fatores: a propaganda absurda e a conjuntura que o favorece e dá sustentação a um governo que inexiste...
...sim, mas qual o próximo capítulo?Eleição, o presidente joga irresponsavelmente tudo, aposta todas as fichas num processo insano, não tem governabilidade a oferecer, seu partido vai sair magro das urnas e sua política de alianças fracassou. Ele acena para o país com a instabilidade. O coronel Hugo Chávez, desrespeitando as regras de comportamento internacional adequadas, faz campanha aberta para Lula...
...bem, senador, e quanto ao impeachment que a oposição, gente do seu partido e do PFL, por exemplo, anda a pregar?Para um processo deste são necessários três pré-requisitos: as razões jurídicas, e elas já existem sobejamente. As políticas, e aí não há um quadro de caos parlamentar, não há uma crise institucional. E, em terceiro lugar, não temos uma sociedade clamando pelo impeachment...
...pelo contrário. O presidente se mantém na casa dos 40% de intenções de voto......exatamente, não há um clamor...
Senador, com toda a sua bagagem, própria e familiar na política, com tanto tempo de janela, o senhor sabe o que eu sei e o que sabe qualquer jornalista minimamente informado: todo o mundo na grande política, ou quase todo o mundo - ressalvo para não ser injusto - faz campanha usando caixa dois. Como os senhores podem se dizer espantados e surpresos com o caixa dois?Antes de mais nada é preciso distinguir uma coisa que é muito diferente e não é caixa dois...
Ok, o senhor irá distinguir logo em seguida, mas antes voltemos ao caixa dois. Todo mundo, quase todo mundo faz, ou não?Bem... o caixa dois é uma prática corriqueira na política brasileira, prática que tem que ser banida...
...mas que não foi banida......será com o aperfeiçoamento da democracia. As prestações de contas de campanhas só surgem no pós-Collor, até então não se tinha uma cultura de eleições no país, era uma cultura maniqueísta, do bem contra o mal, sendo que o mal era a ditadura e o bem eram todos os outros...
...com o tempo......descobrimos que pessoas de boa biografia eram capazes de ceder facilmente ante o fator econômico. A distinção que falei acima é que esse governo decaiu tanto moralmente que tenta reduzir ao caixa dois o roubo mais desavergonhado da história...
...o senhor é do PSDB. No governo passado quase inexistiram CPIs. Cito um exemplo: a privatização da Telebrás, negócio de quase vinte bilhões. Eu me lembro do que se dizia nas fitas: "vamos usar a bomba atômica", que era o presidente; "vamos combinar o preço"; "no limite da irresponsabilidade" e por aí afora.Tivemos CPIs, sim. Só dos bancos foram duas. Quanto à privatização, para mim foi um processo que gerou progresso e o que deve ser analisado é se o resultado final foi bom para o País. Eu diria que foi ótimo. Imagine o Marcos Valério e o Delúbio com a Telebrás nas mãos...
Esse argumento não absolve ninguém e não responde...Pode ter havido corrupção, é possível, mas não houve uma orientação. Essa é a diferença, diferença de forte cunho moral... O presidente Fernando Henrique nunca disse "eu não sabia de nada"...
...não chegou a ser necessário, ainda que ele tenha dito "esqueçam o que escrevi"......ele disse que não disse (risos). O presidente Lula é o homem do rabo preso com Delúbio, Zé Dirceu, Silvinho, todos eles, teve que se arreglar com todos eles.

Terra Magazine