segunda-feira, abril 17, 2006

No Canal Livre de ontem, ninguém pensava e todos transpiravam



CANAL LIVRE, TV Band, 16/4/2006. Entrevistado, Sen. Delcídio Amaral. Entrevistadores: Joelmir Betting, Fernando Mitre e Antonio Teles.
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COMENTÁRIO. Assistindo a essa entrevista, ontem, ocorreu-me – e não por acaso, infelizmente –, a descrição que Machado de Assis faz dos politicos do final do Segundo Reinado, no Brasil, em “Fulano”, um dos seus mais extraordinários contos, publicado em Histórias sem data, de 1884. O conto pode ser lido, de grátis, em http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/fulano.html.
Em “Fulano”, às tantas, diz o imortal pai dos Cubas, de Fulano Beltrão (e que nome perfeito! Grande Machado!), seu personagem:

“[entrar na política] foi, talvez, o ponto mais fraco da vida do meu amigo. Não tinha idéias políticas; quando muito, dispunha de um desses temperamentos que substituem as idéias, e fazem crer que um homem pensa, quando simplesmente transpira.”
Pois no Canal Livre de ontem, ninguém pensava e todos transpiravam.

Ah! Mas com que empáfia transpiravam! Estavam ali reunidos e todo-poderosos, quatro pais&mães da ética universal. Quem apenas os visse, sem ouvi-los, não duvidaria da profundidade abissal de suas idéias: quatro homens maduros, grisalhos, elegantes e bem-falantes, articulados, cheios de perguntas e respostas. Parecia política. Parecia entrevista. Parecia jornalismo.

Qual o quê! Não foi nada disso: necas de política, necas de entrevista, necas de jornalismo. Não se ouviu, de nenhum dos quatro, sequer uma única idéia política que colaborasse para democratizar, para educar, até para civilizar o eleitor brasileiro. Só bobajol. Puro transpiramento.

Se em vez de ali estarem reunidos três jornalistas brasileiros ditos tão importantes, com décadas de estrada, e um senador da República, estivessem ali reunidos 3 macacos Simão e uma D. Danuza Leão, o papo seria igualzinhamente raso, tolo – e chatíííííííssimo.

Três jornalistas ditos ‘influentes’ para construir a opinião pública, um senador da República, e NENHUMA idéia política democrática relevante, que ajudasse o Brasil a sair da arapuca em que estamos, em boa medida metidos nela, também, por esse tipo de transpiramento desses patéticos colunistas de colunagem ‘política’ e de alguns patéticos senadores e deputados, ou autistas ou perfeitos idiotas, que falam como se soubessem do que falam, mas sem saber, de fato, é de naaaaaaaaaaaaaada, zero-nada, que se aproveite, de fato, sobre coisa alguma.
O geral, foi muito ruim. Mas o pior foi o específico. Às tantas, apareceu uma fala rapidíssima do Prof. Dalmo Dalari – um homem que pensa com idéias, esse sim. Ao qual alguém perguntou sobre o significado do trabalho da CPMI “dos Correios”.

O Prof. Dalari disse o que todos os brasileiros sérios já sabemos e já dizemos, e o que se ouve pelas ruas: “A CPMI teria feito muito mais, se os deputados e senadores investigadores tivessem buscado mais ativamente a verdade. Em vez disso, como se viu pela televisão, a maioria deles só cuidou de dizer o que lhe viesse à telha, procurando tirar o máximo proveito político-eleitoreiro daquele circo. Os culpados têm de ser punidos, e serão punidos. Os inocentes terão de ser, agora, reabilitados, depois do enxovalhamento amplo, geral e irrestrito que se viu, de todos os petistas. A corrupção existe há séculos, no Brasil. Foi ‘aperfeiçoada’, em Minas Gerais, nas eleições de 1998. Agora, no governo Lula, pela primeira vez a corrupção está sendo investigada, no Brasil. Nenhuma democracia pode admitir o enxovalhamento de toda a minoria, como se todos os deputdos e senadores petistas fossem bandidos. Isso é perfeita e total insanidade.”

Foi a melhor fala, do programa inteiro – embora, aqui, eu não a possa repetir verbatim, porque não anotei.

Mas anotei, sim, de atônita que fiquei, com o besteirol que veio, de chofre, de bate-pronto, de resposta feita, desse TOTALMENTE INSUPORTÁVEL Joelmir Betting.
Eis o que disse o Joelmir “Fulano-Beltrão” Betting, esculpindo frases de marketagem&michê e transpirando tucanagens pefelistas: “Se sempre foi, o PT veio para limpar o mundo. Se veio para limpar e tornou tudo muito mais imundo do que antes, para mim, os petistas são os piores bandidos, dentre todos os bandidos.”

De minha parte, o circo parou aí mesmo, porque imediatamente zapeei para longe do tal de “Canal Ex-Livre” – que não tenho tempo a perder. E saí dali, espavorida, certa de que esse tipo de des-jornalismo, no Brasil, está com seus dias condenados. Esse des-jornalismo antidemocrático, autista, que fala sozinho... acabô-se.

NINGUÉM MAIS SUPORTA ouvir tanta asneira, tanto preconceito, tanto moralismo de pátio de colégio de padre, tanto asneirol de ética de senhoras-de-Santana, tanta ‘atitude’ à moda do General Meira Matos, de puro golpismo.
Coisa mais atrasada, Joelmir! Acorda, cara! Você está interessado, mesmo, em jogar na privada TODO o seu passado profissional e TODO o seu talento?!

Imagine, agora, se eu, de doida, começasse a dizer pela televisão, que TODOS OS JORNALISTAS grisalhos, da Band, vivem dos michês e jabás que lhes pagam os marketeiros da tucanaria pefelista?! [risos muitos]
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Esse des-jornalismo, feito já há tantos meses, no Brasil, por des-jornalistas completamente insuficientes para viver sob democracia – e, às vezes, feito também por alguns senadores! – explica, afinal de contas, completamente, que as pesquisas mostrem que a figura do Presidente Lula e dos políticos brasileiros sérios continua TOTALMENTE inabalada.
Lula não perdeu um único dos 60 milhões de votos que teve antes do ‘affair’ Jefferson-Lo Prete. O Ministro José Dirceu não perdeu um único dos 600 mil votos que teve, antes de ser vitimado pelo mais impressionante ato de degola perpetrado no Parlamento brasileiro, frente às câmeras de televisão.
Ninguém mais crê em Joelmir Bettings, Mitres, Miriam Leitão, Sardembergh, Clóvis Rossi e zilhões desses! Esse des-jornalismo ACABÔ-SE. O Brasil, afinal, está-se arrancando da infância histórica, e já superou, de longe, o nosso jornalismo de jornalão atrasado! Para mim, hoje, não poderia haver notícia mais estimulante do que essa.

Viva o Brasil! Dirceu vive! Lula 2006! Lula é muitos!

[assina] Caia Fittipaldi (dos Lingüistas Brasileiros para a Democracia/ Universidade Nômade / Campanha “Nenhum Brasileiro sem Resposta-na-ponta-da-língua, pra Responder à Folha de S.Paulo" / Tricoteiras Unidas / Mães do Planalto / Gaviões da Fiel) [para vários destinatários, campanhistas e outros, e para o jornalista Joelmir Beting, pela página http://www.joelmirbeting.com.br/fale.asp?acao=1]