segunda-feira, abril 24, 2006

ANZÓIS EM ÁGUAS TURVAS

Leviana, a oposição precipita-se numa discussão que pode levar a um confronto nas ruas
Por Redação CartaCapital

Sem bandeira, sem programa e, até agora, sem votos suficientes para derrotar Lula nas urnas, a oposição voltou a lançar seus anzóis em águas turvas, tomada por nova recaída lacerdista. Trata-se, porém, de uma encenação política que se ressente, notoriamente, do brilho tresloucado do guru Carlos Lacerda. Uma encenação feita para desgastar Lula, que permanece, segundo pesquisa recentíssima que circulou de forma reservada em influentes gabinetes públicos e privados em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, inabalável na confortável casa dos 40% das intenções de voto. É seguido pelo tucano Geraldo Alckmin com 20 pontos atrás e por Garotinho, com 15%. Essa pesquisa traz uma novidade capaz de atiçar os opositores internos do candidato oficial do PSDB. Para a maioria dos eleitores dispostos a votar na oposição, Alckmin não encarna o espírito oposicionista. Garotinho, nesse item, leva vantagem sobre o tucano. Os oposicionistas discutem o impeachment do presidente como se disputassem um jogo de palitinhos. Fingem ignorar a gravidade e as conseqüências do ato. Até agora não há fundamento jurídico que sustente a medida. Trata-se da ausência da prova indelével. Não é possível fazer valer as normas legais com suposições, somente com provas. É a chance remota nas urnas, como indicam as pesquisas, que joga no mesmo saco oposicionistas de origens distintas, mas com o objetivo comum de desgastar Lula para reduzir o apoio que ele tem até agora, mesmo à custa de incentivar uma corrente de votos brancos e nulos. Eis um trio deles: o trepidante prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, o instável deputado Roberto Freire e a Ordem dos Advogados do Brasil, ora presidida por Roberto – se não nos enganamos – Busato. Uma OAB bem distante da fase de brilho e de coragem emprestados por Raymundo Faoro. Maia lançou mais um factóide irresponsável. Veiculou pela internet nomes de instituições bancárias com o suposto número das contas de Paulo Okamoto, presidente do Sebrae e ex-tesoureiro petista. Tudo como se fosse um grande e explosivo segredo. Simultaneamente, Freire reuniu a executiva do PPS, que ele preside com mão de ferro, e lançou nota de apoio a qualquer eventual pedido de impeachment de Lula. O gesto parece um acerto de contas com o PT que asfixiou e ajudou a tirar de cena o Partido Comunista Brasileiro. O presidente da OAB pediu audiência formal a Lula para avisar que a instituição vai discutir o tema em reunião próxima. Não se sabe se o Planalto se descuidou com a agenda de Lula e proporcionou esse encontro inusitado. Há, também, jornalistas envolvidos no processo. Como aqueles, por exemplo, que falam das contas bancárias de Okamoto com tanta intimidade que se abrem, sem alternativa, para dois caminhos pantanosos. Ou tiveram acesso ilegal ao conteúdo das contas ou estão agindo levianamente. Se a reeleição de Lula se tornar, aos olhos dos oposicionistas, uma fatalidade inevitável, eles deverão arriscar e levar suas ameaças à prática. O presidente, então, talvez tenha de disputar a eleição constrangido por um processo de impeachment. Essa solução, como se sabe, não pode ser originada e resolvida no âmbito do Congresso Nacional. Passa, antes de tudo, pela mobilização das ruas. Nesse confronto, as pesquisas apontam para o muro que a oposição terá de derrubar. É improvável que qualquer tentativa de levar a idéia do impeachment não passe por um confronto que chegará às ruas, de conseqüências imprevisíveis.