sábado, junho 30, 2012

Lula e Civita: a solidariedade no câncer


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Atualizado às 18:10
No Sirio, em tratamento, Lula soube que seu arquiinimigo, Roberto Civita, também estava internado, câncer na próstata, só que em situação bem mais grave. Assim que foi informado, decidiu visitá-lo, apesar da resistência de dona Marisa.
Desceram ao apartamento de Roberto Civita acompanhado do oncologista de Lula, Roberto Kalil. Civita se emocionou com a visita e pediu desculpas pelos ataques a Lula e ao filho. Lula lhe disse para não se emocionar muito para não atrapalhar o tratamento.
Kalil viu sinais de ironia no alerta de Lula. Quem o conhece, viu a solidariedade para com o próximo.
A visita foi para a pessoa de Roberto Civita. Mas em nada mudou o julgamento de Lula sobre o publisher Roberto Civita.
Desdobramentos
Algumas deduções e desdobramentos da notícia acima.
Ganha consistência o rumor de que João Roberto Marinho esteve na Casa Civil do governo Dilma, solicitando o empenho do governo para a não convocação de Roberto Civita pela CPI, devido à doença. Da Abril ele seria a única pessoa a poder responder pelos movimentos da Veja nos últimos anos. Nenhum executivo - com exceção de Fábio Barbosa - tem acesso às instâncias mais altas da República.
A notícia do agravamento da doença, além disso, lança nuvens de suspeita sobre o futuro da editora. Os herdeiros não demonstram pique para segurar o timão. Analista do mercado - com quem acabo de conversar agora - julga que se encerra o ciclo Civita na mídia brasileira, sem conseguir chegar até a terceira geração. Não significa o fim da Abril, mas, a médio prazo, dos Civita à frente do grupo.
Roberto recebeu uma editora sólida do pai e teve oportunidades de criar um império. A influência da mídia sobre o governo Sarney permitiu-lhe conquistar uma rede de TV a cabo, a TVA. Depois, com a BOL, foi o primeiro grupo de mídia a tentar explorar as possibilidades da Internet.
Na segunda metade dos anos 90, junto com Otávio Frias de Oliveira, tentou adquirir a Rede Bandeirantes. Na época, fiz uma espécie de meio campo entre ele, Frias e João Saad.
Gradativamente, o grupo foi fracassando em todas as frentes. A BOL acabou fundindo-se com a UOL - da Folha. Mais à frente, Civita foi engolido por Luiz Frias que, na primeira capitalização do grupo, adquiriu a participação da Abril. De um lado, Civita tentava reduzir o endividamento. De outro, julgava que na hora em que quisesse, o conteúdo do grupo permitiria montar uma nova UOL. Perdeu o bonde.
Mais tarde, também para reduzir a dívida, vendeu a TVA para o grupo Telefonica, matando sua última oportunidade de virar um grupo multimidia.
Finalmente, houve um processo de capitalização em que o sul-africano Nasper adquiriu 30% da Abril. Outros 20% ficaram com duas holdings de Delaware, cujo controle nunca foi revelado. Quando vendeu a TVA, provavelmente a Abril recomprou os 20% adicionais.
Alguns anos atrás, a Abril lançou a toalha do lado midiático. Civita passou a investir em educação, montando cursos apostilados e adquirindo editoras de livros didáticos. O poder de intimidação da Veja, as parcerias políticas permitiram avançar em algumas frentes.
Montou estratégias de ataques a concorrentes. Atacou um curso de Ribeirão Preto com informações mentirosas. Depois, apoiou-se em uma ONG recem aberta para ataques macartistas contra concorrentes. A aproximação com jornalistas de outros veículos fez com que, uma semana depois de conceder duas páginas ao livro de um deles, este publicasse em O Globo artigo criminalizando politicamente livro de história de editora concorrente.
Ainda há chão pela frente.
Mas a saga dos Civita, no Brasil, será conhecida por duas fases: a do velho Victor Civita com suas histórias em quadrinhos, suas coleções de livros de economia, filosofia e música, a ousadia em lançar Realidade, Quatro Rodas e Veja. E a era de Roberto Civita, que errou em todas suas estratégias e transformou a menina dos olhos da Abril - a revista Veja - no mais repelente modelo de jornalismo que o país jamais teve em toda sua história.

sexta-feira, junho 29, 2012

MERCOSUL manda recado para golpistas


Blog do Planalto



Posted: 29 Jun 2012 01:15 PM PDT
Presidenta Dilma Rousseff durante ato de transmissão da Presidência Pro Tempore do Mercosul, em Mendoza, na Argentina. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (29), em Mendoza, na Argentina, ao assumir a presidência pro tempore do Mercosul, que entre os esforços de sua gestão à frente do bloco estará o de assegurar que, após o impeachment do presidente Fernando Lugo na semana passada, as próximas eleições no Paraguai sejam democráticas, livres e justas. A Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul decidiu nesta sexta-feira suspender o Paraguai até abril de 2013, quando ocorrem as eleições presidenciais naquele país.
“Nós temos, na constituição do Mercosul, um compromisso democrático fundamental, que é aquele que prima por respeitar os princípios do direito de defesa, é aquele que prima por rejeitar ritos sumários e zelar para que a manifestação dos legítimos interesses dos povos dos nossos países sejam assegurados. Por isso, temos de fazer os nossos melhores esforços para que as eleições de abril próximo, no Paraguai, sejam democráticas, livres e justas”, disse a presidenta.
Dilma reafirmou o compromisso do Mercosul com a democracia e convidou mais países a se unirem ao bloco. Ela anunciou ainda que em 31 de julho a Venezuela passará a ser integrante do Mercosul.
“Queria dizer que a nossa posição em relação ao que aconteceu no Paraguai é uma posição que mostra a sobriedade desta região. Nós somos uma região que há 140 anos vive sem guerras. Nós somos uma região pacífica, uma região sem conflitos étnicos e sem perseguições religiosas. Nós somos uma região que fez todos os seus organismos baseados num compromisso fundamental com a democracia, e o Protocolo de Ushuaia evidencia isso”, afirmou.
Posted: 29 Jun 2012 05:35 AM PDT
Agenda presidencial
A presidenta Dilma Rousseff cumpre agenda hoje (29) em Mendoza, na Argentina, onde participa, às 9h30, de café da manhã de trabalho com os chefes de Estado do Mercosul.
Às 11h, será aberta a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados.
Às 14h, após fotografia oficial dos chefes de Estado da Unasul, a presidenta participa de almoço de trabalho. Em seguida, às 15h30, irá à Cúpula Extraordinária de Chefes de Estado da Unasul. Às 17h30, haverá declaração à imprensa. A partida para Brasília está prevista para 18h.

Lula raciocinou com base na matemática dos confrontos diretos: "tirar 90' do Serra e acrescentar 90' a Haddad significa virar 3 minutos". Foi isso. "Virar 3 minutos" em troca de um cargo subalterno no plano federal, sob o comando rígido de Dilma Rousseff. "Não muda uma vírgula"...



Serra, Datafolha e pesquisas induzidas
Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:

O Datafolha entregou os números que as manchetes da Folha, sobre a aliança PT/aluf, cuidaram de induzir cuidadosamente durante os sete dias que antecederam a sondagem. O intervalo cobre o período que vai da publicação da polêmica foto do encontro entre Lula, Haddad e Maluf, selando o apoio do PP ao candidato petista, e a ida à campo dos pesquisadores. Aos resultados: "64% dos petistas rejeitam apoio de Maluf", diz, cheio de gula, o jornal da família Frias, em título de seis colunas, da edição desta 4ª feira. Mas a pesquisa revela também nuances não previstas e pouco destacadas pelo jornal. Em parte, porque sujam a narrativa maniqueísta da 'desilusão petista' mas, sobretudo, pelo que revelam da correnteza submersa, a comprimir o favoristimo quebradiço e engessado de José Serra.
Por exemplo: a) para 50% dos entrevistados pelo Datafolha, o apoio de Maluf (do qual podem até não gostar) é indiferente ou benéfico a Haddad; b) 36% votariam no candidato indicado por Lula; c) só 21% sabem que esse candidato é Haddad; d) a defasagem de 15 pontos, mais os 6% atribuídos ao petista pelo Dafolha reduzem a 10 pontos a distancia atual entre Haddad e Serra; e) Serra não sai do degrau de 30% de votos, mas evolui com desenvoltura no quesito rejeição --ela já era alta e saltou de 32% para 35%, num intervalo inferior a duas semanas, em julho. A de Haddad, ao contrário, é baixa (12%) e estável.

Fotos, símbolos e caricaturas

Muitos gostariam que a foto polêmica em que Lula e Haddad posam ao lado de Maluf simbolizasse a essência daquilo que o PT, Lula e Maluf representam para a história política brasileira. Uma gigantesca engrenagem foi posta a serviço dessa tese. A pesquisa do Datafolha faz parte desse mutirão. Egos foram atiçados. Durante dois dias seguidos, após a divulgação da polêmica fotografia, martelou-se a sentença irrecorrível: a imagem era o ultra-som de uma degeneração terminal que destruía por dentro o principal partido progressista brasileiro e sua liderança máxima.

Uma técnica usual na mídia consiste em blindar 'denúncias' contra qualquer arguição vitaminando-as através de uma implacável imersão da opinião pública em declarações reiterativas.

No caso da foto, o esforço anestesiante ganhou um reforço imediato de grande impacto: a deputada Luiza Erundina, ela mesma um símbolo de retidão e dignidade na política, reagiu à pressão do rolo compressor renunciando ao posto de vice na candidatura Haddad à prefeitura de São Paulo. Seu gesto e sucessivas declarações a uma mídia sequiosa foram incorporados à espiral condenatória dando-lhe um torque quase irrespondível nas primeiras 48 horas pós 'flagrante fotográfico'.

Aos poucos, porém, surgiram fissuras. O PT e Lula estão presentes na história e no imaginário do país há quatro décadas. Ambos são filhos do capitalismo brasileiro, cuja principal singularidade foi assentar a supremacia de uma elite indigente na mais desigual estrutura de distribuição de renda (e de poder) existente no planeta. O PT decidiu, e conseguiu, assumir o governo dessa sociedade com a promessa de transformá-la.

O compromisso de torná-la mais justa, inclusiva e democrática, dentro dos marcos institucionais disponíveis (o que não o exime de ampliá-los, por exemplo, no acesso à comunicação) levou-o a um mergulho no moedor de carne de concessões e recuos impostos pela exigência da governabilidade, ao preço, entre outros, de um certo grau de desfiguramento orgânico e partidário. Ainda assim, o partido obteve um voto de confiança das grandes maiorias para testar a sua aposta em 2002, 2006 e 2010.

Há resultados eloquentes que explicam a renovação desse pacto eleitoral. São avanços conhecidos; alguns, objeto de controvérsia quanto à consistência estrutural; outros, ainda por demais tímidos para reverter desequilíbrios aterradores, como o acesso e a qualidade da saúde e da escola pública. Mas a percepção vivenciada e majoritária da população concede a Lula e ao PT que o Brasil é hoje, após 10 anos sob seu comando, o país menos desigual da sua história de 500 anos --380 dos quais em regime de senzala e casa-grande. O recuo da taxa de pobreza no país, de fato, foi notável no período: uma redução da ordem de 15 pontos percentuais, caindo de 39% da população, em 1999, no fim do segundo governo tucano, para 23,9%, em 2009, no crepúsculo do ciclo Lula. A renda domiciliar per capita dos 10% mais pobres cresceu 7%ao ano entre 2001 e 2009;entre os 10% mais ricos a taxa foi de 1,5%. Tudo somado, 30 milhões de brasileiros deixaram a pobreza brava nesse meio tempo.

Teve um custo. Não se espere querubins egressos dessa descida ao inferno implícita numa aposta de transformação progressiva da senzala em cidadania, sem ruptura abrupta com a casa-grande. O desfibramento intrínseco da militância a partir dessa experiência, ancorada mais em eleições e acordos de cúpula do que em mobilizações --exceto nos momentos críticos-- produziu um legado de paradoxos de peso histórico ainda não totalmente mensurável. Inclui-se nessa contabilidade de perdas e danos, por exemplo, a esquizofrênica dualidade de um PT que defende a democracia participativa , mas tem dificuldade de vivenciá-la internamente.

Maniqueísmos religiosos ancorados em símbolos fáceis não ajudam, porém, a entender e nem a intervir na história. Nenhum partido de esquerda passou pelo teste do poder impunemente. O desgaste está implícito num aparelho de Estado quem longe de ser 'imparcial', está organizado para dinamitar projetos que afrontem a lógica dominante e premiar, em contrapartida, políticas 'amigáveis e quadros 'complacentes'. Po risso o Banco Central --'independente'-- funciona e as políticas sociais, assim como os investimentos públicos em educação, saneamento, saúde e habitação tem dificuldade para deslanchar. Lula deixou oito anos no comando desse paradoxo com 80% de apoio popular, marca inédita, exceto talvez se comparada à catarse em torno de Vargas, após o suicídio em 1954.

O PT , sim, o partido desfibrado, burocratizado, espelho da sociedade que representa, cuja vida interna e inquietação intelectual às vezes lembram o eletrocardiograma de um morto, é o preferido por cerca de 1/3 dos brasileiros -- tem 28% das preferências; o PMDB vem em seguida com 6%; o PSDB, apesar da superexposição que a Folha --e o Datafolha-- lhe concede, de forma sempre isenta, obtém ralos 5% da aceitação. Os dados, extraídos de um levantamento recente feito pela Vox Populi, indicam ainda que 70% dos brasileiros enxergam no PT um partido moderno e comprometido com os pobres; 66% veem nele um partido que busca políticas que atendam ao interesse da maioria da população (apenas 16% discordam disso e enxergam no partido a força ultrapassada -- 'degenerada'-- que as perguntas do Datafolha desta 4ª feira buscam induzir e calcificar).

Voltemos à fotografia polêmica. Martelada em 48 horas de bombardeio intenso, a imagem teve o apoio reiterativo da sempre digna deputada e socialista Luiza Erundina, para assumir a dimensão de um testamento ejetado do fundo da cova petista.

A esférica blindagem em torno dessa tese enfrentou, após o desconcerto inicial, uma avalanche de fissuras em blogs e sites progressistas (leia por exemplo a enquete realizada pelo blog do Emir, nesta pág). O que se constatou, então, é que a aliança com o PP, embora questionada na forma --o que foi reafirmado pelo Datafolha-- não fora percebida como uma renúncia ao espaço ocupado pelo PT na história brasileira. Mais que isso. Embora a contragosto, a mídia foi obrigada também a reconhecer certas nuances entre o 'símbolo definitivo' que saboreou com gula inicial e a visão da própria deputada Luiza Erundina. Passado o gesto abrupto, a ex-prefeita de São Paulo tirou uma a uma as escoras da versão que ajudara a construir. Mais atenta ao uso de sua credibilidade, matizou em divergência de forma uma reprovação que não se estendia nem ao candidato,nem a campanha e tampouco à aliança com o PP.

Erundina, a exemplo dos 70% que enxergam no PT e em Lula referências antagônicas às forças e projetos que acompanham Paulo Maluf, sabe que ambos são imiscíveis historicamente, ainda que interações secundárias possam ocorrer no jogo eleitoral. Erundina sabe, ademais, que Lula não trocou a sua história por 90 segundos, como regurgitaram sebosamente os editoriais e colunistas de sempre. Lula foi em busca de um fator essencial a um candidato ainda desconhecido por 55% dos eleitores de São Paulo. E não só para adicionar-lhe 90 segundos de exposição, mas para evitar que esses 90' fossem para o candidato Serra, que ficou irritadíssimo com Alckmin por ter 'deixado escapar o Maluf',como confidenciou ao Terra Magazine um tucano capa preta menos hipócrita.

Lula raciocinou com base na matemática dos confrontos diretos: "tirar 90' do Serra e acrescentar 90' a Haddad significa virar 3 minutos". Foi isso. "Virar 3 minutos" em troca de um cargo subalterno no plano federal, sob o comando rígido de Dilma Rousseff. "Não muda uma vírgula", disse o secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, "na hegemonia da aliança. Tampouco no programa de Haddad para São Paulo". Justiça seja feita, a recíproca é verdadeira;e significativa: a foto não reflete igualmente o presente, o passado ou o futuro do próprio Maluf que --os críticos da aliança afirmam, com razão--, continua sendo quem sempre foi. Seria esse diagnóstico válido apenas
a um dos lados da equação?

A imagem, na verdade, é caricata; acentua aspectos reais do jogo eleitoral ao qual o PT aderiu há mais de três décadas-- com os resultados medidos pela pesquisa Vox Populi. Mas não tem a força simbólica que o dispositivo midiático conservador pretende atribuir-lhe, para jogar a pá de cal da 'desilusão' petista que o Datafolha busca agora colher com o senso de oportunidade de um engajamento conhecido.

A ante-sala do julgamento do chamado 'mensalão' - empurrado em rítmo paraguaio pela mídia conservadora para coincidir com a campanha municipal deste ano - explica em boa parte esse esforço de reportagem em torno de uma fotografia de dimensões elásticas. Uma, pouco destacada, é que ela acrescenta ao PT 90 segundos de fôlego para se defender de uma previsível identidade narrativa, a emendar o noticiário do Jornal Nacional sobre o julgamento do 'mensalão' e a campanha tucana na TV. É esse esforço de vida ou morte para não perder São Paulo e não enterrar Serra na urna de mais uma derrota para o partido de Lula, que deu à imagem a densidade de um símbolo de significado incontestável, que ela de fato não tem.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/06/serra-datafolha-e-pesquisas-induzidas.html?spref=tw


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Avaliação positiva do governo Dilma atinge nível recorde-CNI/Ibope





BRASÍLIA, 29 Jun (Reuters) - A avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff atingiu em junho o maior nível desde sua posse, enquanto sua aprovação pessoal seguiu em seu maior patamar, mostrou pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta sexta-feira.

De acordo com o levantamento feito pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria, 59 por cento apontam o governo Dilma como ótimo ou bom, contra 56 por cento em março.

Trinta e dois por cento veem o governo como regular, contra 34 por cento na sondagem anterior, e 8 por cento o classificam como péssimo ou ruim, mesmo patamar de março.

Já a aprovação pessoal da presidente permaneceu em 77 por cento. Aqueles que desaprovam a presidente somaram 18 por cento, contra 19 por cento no levantamento anterior.

A pesquisa avaliou ainda a percepção da população em determinadas áreas do governo, como taxa de juros e combate à inflação.

Sobre a política de juros, 49 por cento dos entrevistados passaram a aprovar as decisões do governo, ante 33 por cento da pesquisa anterior. Já os que desaprovam diminuíram para 41 por cento ante 55 por cento.

A reversão da tendência coincide com os sucessivos cortes na taxa básica de juros pelo Banco Central nos últimos meses e com a pressão do governo sobre os bancos para que eles também reduzam suas taxas.

A percepção da política de combate à inflação também melhorou. O índice de desaprovação caiu de 50 por cento a 47 por cento, e o de aprovação subiu de 42 por cento para 46 por cento.

O Ibope ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios entre os dias 16 e 19 de junho. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.

(Reportagem de Hugo Bachega)
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quarta-feira, junho 27, 2012

SANTAYANA: OS EUA ESTÃO DE OLHO NA TRÍPLICE FRONTEIRA



O GOLPE EM ASSUNÇÃO E A TRÍPLICE FRONTEIRA


A moderação dos Estados Unidos, que dizem estranhar a rapidez do processo de impeachment do presidente Lugo, não deve alimentar o otimismo continental. Em plena campanha eleitoral, a equipe de Obama (mesmo a senhora Clinton) caminha com cautela, e não lhe convém tomar atitudes drásticas nestas semanas. Esta razão os leva a deixar o assunto, neste momento, nas mãos da OEA. Na verdade, se as autoridades de Washington não ordenaram a operação relâmpago contra Lugo, não há dúvida de que o Parlamento paraguaio vem sendo, e há muito, movido pelo controle remoto do Norte.

E é quase certo que, ao agir como agiram, os inimigos de Lugo contavam com o aval norte-americano. E ainda contam. Conforme o Wikileaks revelou, a embaixada norte-americana informava a Washington, em março de 2009, que a direita preparava um “golpe democrático” contra Lugo, mediante o Parlamento. Infelizmente, não sabemos o que a embaixada dos Estados Unidos em Assunção comunicou ao seu governo depois e durante toda a maturação do golpe: Assange e Meaning estão fora de ação.

Não é segredo que os falcões ianques sonham com o controle da Tríplice Fronteira. Não há, no sul do Hemisfério, ponto mais estratégico do que o que une o Brasil ao Paraguai e à Argentina. É o ponto central da região mais populosa e mais industrializada da América do Sul, a pouco mais de duas horas de voo de Buenos Aires, de São Paulo e de Brasília. Isso sem falar nas cataratas do Iguaçu, no Aquífero Guarani e na Usina de Itaipu. Por isso mesmo, qualquer coisa que ocorra em Assunção e em Buenos Aires nos interessa, e de muito perto.

Não procede a afirmação de Julio Sanguinetti, o ex-presidente uruguaio, de que estamos intervindo em assuntos internos do Paraguai. É provável que o ex-presidente — que teve um desempenho neoliberal durante seu mandato — esteja, além de ao Brasil e à Argentina, dirigindo suas críticas também a José Mujica, lutador contra a ditadura militar, que o manteve durante 14 anos prisioneiro, e que vem exercendo um governo exemplar de esquerda no Uruguai.

Não houve intervenção nos assuntos internos do Paraguai, mas a reação normal de dois organismos internacionais que se regem por tratados de defesa do estado de direito no continente, o Mercosul e a Unasul — isso sem se falar na OEA, cujo presidente condenou, ad referendum da assembleia, o golpe parlamentar de Assunção.

É da norma das relações internacionais a manifestação de desagrado contra decisões de outros países, mediante medidas diplomáticas. Essas medidas podem evoluir, conforme a situação, até a ruptura de relações, sem que haja intervenção nos assuntos internos, nem violação aos princípios da autodeterminação dos povos.

A prudência — mesmo quando os atos internos não ameacem os países vizinhos — manda não reconhecer, de afogadilho, um governo que surge ex-abrupto, em manobra parlamentar de poucas horas. E se trata de sadia providência expressar, de imediato, o desconforto pelo processo de deposição, sem que tenha havido investigação minuciosa dos fatos alegados, e amplo direito de defesa do presidente.

Registre-se o açodamento nada cristão do núncio apostólico em hipotecar solidariedade ao sucessor de Lugo, a ponto de celebrar missa de regozijo no dia de sua posse. O Vaticano, ao ser o primeiro a reconhecer o novo governo, não agiu como Estado, mas, sim, como sede de uma seita religiosa como outra qualquer.

O bispo é um pecador, é verdade, mas menos pecador do que muitos outros prelados da Igreja. Ele, ao gerar filhos, agiu como um homem comum. Outros foram muito mais adiante nos pecados da carne — sem falar em outros deslizes, da mesma gravidade — e têm sido “compreendidos” e protegidos pela alta hierarquia da Igreja. O maior pecado de Lugo é o de defender os pobres, de retornar aos postulados da Teologia da Libertação.

Lugo parece decidido a recuperar o seu mandato — que duraria, constitucionalmente, até agosto do próximo ano. Não parece que isso seja fácil, embora não seja improvável. Na realidade, Lugo não conta com a maior parcela da classe média paraguaia, e possivelmente enfrente a hostilidade das forças militares. Os chamados poderes de fato — a começar pela Igreja Católica, que tem um estatuto de privilégios no Paraguai — não assimilaram o bispo e as suas ideias. Em política, no entanto, não convém subestimar os imprevistos.

Os fazendeiros brasileiros que se aproveitaram dos preços relativamente baixos das terras paraguaias, e lá se fixaram, não podem colocar os seus interesses econômicos acima dos interesses permanentes da nação. É natural que aspirem a boas relações entre os dois países e que, até mesmo, peçam a Dilma que reconheça o governo. Mas o governo brasileiro não parece disposto a curvar-se diante dessa demanda corporativa dos “brasiguaios”.

No Paraguai se repete uma endemia política continental, sob o regime presidencialista. O povo vota em quem se dispõe a lutar contra as desigualdades e em assegurar a todos a educação, a saúde e a segurança, mediante a força do Estado. Os parlamentos são eleitos por feudos eleitorais dominados por oligarcas, que pretendem, isso sim, manter seus privilégios de fortuna, de classe, de relações familiares.

Nós sofremos isso com a rebelião parlamentar, empresarial e militar (com apoio estrangeiro) contra Getulio, em 1954, que o levou ao suicídio; contra Juscelino, mesmo antes de sua posse, e, em duas ocasiões, durante seu mandato. Todas foram debeladas. A conspiração se repetiu com Jânio, e com Jango — deposto pela aliança golpista civil e militar, patrocinada por Washington, em 1964.

A decisão dos países do Mercosul de suspender o Paraguai de sua filiação ao tratado, e a da Unasul de só reconhecer o governo paraguaio que nasça das novas eleições marcadas para abril, não ferem a soberania do Paraguai, mas expressam um direito de evitar que as duas alianças continentais sejam cúmplices de um golpe contra o estado democrático de direito no país vizinho.

terça-feira, junho 26, 2012

Paraguay Resiste



Paraguai: resistência ao golpe ganha página na internet

Frente de Defesa da Democracia lançou nesta segunda-feira a página Paraguai Resiste, que transmitirá informações sobre as marchas e mobilizações contra o golpe de Estado que afastou Lugo da Presidência. A página será também um espaço de organização da resistência contra o movimento golpista. Desde o final de semana, grupos de resistência começaram a ser formados por todo o país, na capital e no interior.

A Frente Nacional de Defesa da Democracia, criada no último sábado, em defesa do processo democrático no Paraguai e contra a forma pela qual foi deposto o presidente Fernando Lugo, lançou nesta segunda-feira uma página na internet, Paraguai Resiste, que transmitirá informações sobre as marchas e mobilizações contra o golpe de Estado que afastou Lugo da Presidência. A página será também um espaço de organização da resistência contra o movimento golpista. 

Desde o final de semana, grupos de resistência começaram a ser formados por todo o país. Sob a consigna “Fuera el Golpista Franco, Fuera el Gobierno Trucho”, as organizações sociais e políticas que apoiam Lugo iniciaram um processo de mobilização que deve se intensificar nos próximos dias na capital e no interior do país.

O movimento de resistência civil liderado pela Frente Nacional de Defesa da Democracia recebeu diversas manifestações de apoio e solidariedade nos últimos dias. O Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso) divulgou nota denunciando “o processo sumário e destituído de toda legalidade realizado contra o presidente Fernando Lugo”. 

“O Clacso repudia de forma enérgica e inequívoca este novo golpe ao presente e ao futuro da democracia paraguaia. Nossa rede institucional se manifesta de maneira contundente contra toda violação dos direitos humanos e cidadãos, da liberdade de expressão e de mobilização do nosso povo irmão, e exige o imediato restabelecimento do presidente Fernando Lugo em suas funções constitucionais”, afirma a nota.

Brasil vai buscar consenso sobre o Paraguai
O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse nesta segunda-feira (25), que a rapidez do processo de afastamento do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, causou “estranheza” e “perplexidade” ao governo brasileiro. “Você mudar o presidente de um país num período de 24 horas, 30 horas é de todo inusitado”, disse Carvalho à Agência Brasil. Ele reafirmou que o Brasil não deve tomar qualquer medida em relação ao Paraguai que não seja fruto de um consenso entre os países da região. 

“Acho correto que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e o Mercosul, que têm nas suas cartas de princípio a defesa da democracia, tenham uma ação mais forte”, acrescentou. Para o representante do governo brasileiro, o que ocorreu no Paraguai está na contramão da consolidação da democracia na América Latina.

O presidente do Uruguai, José Mujica, também pensa que o Paraguai está na contramão. Para Mujica, “houve um golpe de Estado parlamentar, como ocorreu antes no Equador e em Honduras”. A destituição de Lugo, disse o chefe do Executivo, foi “aparentemente legal, mas moralmente ilegítima”. O presidente uruguaio sugeriu que o novo chefe de Estado, Federico Franco, antecipe as eleições presidenciais, marcadas originalmente para abril de 2013, para que o Paraguai tenha um presidente eleito pelo povo. 

Sobre a suspensão do Paraguai do Mercosul, Mujica defendeu que a relação do país com o bloco sulamericano “seja mantida apenas do ponto de vista instrumental” até que exista presidente “eleito pelo povo paraguaio. O Paraguai “mantém seus direitos e obrigações no Mercosul, mas não poderá participar da tomada de decisões”.

Papel da Igreja Católica chama atenção
Na Argentina, doze dos quinze membros que integram a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovaram um texto condenando a destituição de Fernando Lugo. Representante do governista Frente para a Vitória, Miguel Ángel Pichetto, classificou a decisão do parlamento paraguaio como “um golpe com características novas, distintas daquelas que vivemos no passado”. Pichetto chamou a atenção para o papel assumido pela Igreja Católica paraguaia no processo de derrubada de Lugo. 

Na mesma direção, a presidenta interina do Senado, Beatriz Rojkés de Alperovich afirmou: “Os atores destes fatos são sempre os mesmos – a Igreja, os meios de comunicação monopolistas e o establishment”. Luis Naidenoff, da União Cívica Radical (UCR) acrescentou: “No Paraguai se desrespeitou o devido processo legal e o direito à defesa”.

Na França, o governo de François Hollande manifestou de forma oficial sua preocupação com a forma pela qual foi destituído o presidente Lugo e declarou apoio à mediação da União de Nações Sulamericanas (Unasul) para buscar uma saída democrática ao conflito. O comunicado do Ministério de Relações Exteriores diz que “a França apoia os esforços das organizações regionais, principalmente da Unasul para permitir ao país encontrar uma solução constitucional, democrática e pacífica para a crise que atravessa”. 

Além disso, o governo francês pede que se respeite “a vontade soberano do povo paraguaio que elegeu Lugo como chefe de Estado em 2008”. Posição semelhante foi externada pelo chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo, que expressou apoio ao Mercosul e a Unasul na “gestão da crise política no Paraguai”.

domingo, junho 24, 2012

Mercosul suspende Paraguai


Em comunicado conjunto, Brasil, Argentina e Uruguai anunciaram sua decisão de "suspender o Paraguai, de forma imediata e por este ato, do direito a participar da 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul".


Também vetou a participação do Paraguai das reuniões preparatórias para a cúpula do Mercosul, que serão realizadas na cidade argentina de Mendoza.

No comunicado, Argentina, Brasil e Uruguai e os países associados Chile, Peru, Venezuela, Bolívia, Equador e Colômbia expressaram a mais "enérgica condenação à ruptura da ordem democrático ocorrida na República do Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo" no julgamento político de Lugo, destituído na sexta-feira passada.

A declaração afirma ainda que os chefes de Estado considerarão na próxima sexta-feira, em Mendoza, novas medidas a serem adotadas.
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2012/06/mercosul-suspende-paraguai.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+blogspot/Eemp+(Os+Amigos+do+Presidente+Lula)
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Com suspensão do Paraguai, Mercosul pode aprovar adesão da Venezuela - do Opera Mundi

Aprovação no Senado paraguaio, que depôs o presidente Fernando Lugo, era o último entrave à entrada dos venezuelanos no bloco

Com a suspensão do Paraguai na Cúpula do Mercosul, que será realizada a partir desta quarta-feira (27/06), na Argentina, os países do bloco consideram a possibilidade de aprovar a inclusão da Venezuela como membro permanente, segundo fontes diplomáticas consultadas pelo Opera Mundi.

A suspensão do novo governo paraguaio na 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul" foi anunciada neste domingo (24/06) em um comunicado conjunto dos governos da Argentina, Brasil e Uruguai. A decisão foi tomada em repúdio à deposição do presidente Fernando Lugo, na última sexta-feira (22/06), que viola a cláusula democrática do bloco regional.

As intenções de inclusão da Venezuela para o fortalecimento econômico do bloco tiveram início em 2005, quando o país solicitou a adesão como sócio pleno. Na última cúpula, realizada em dezembro do ano passado, em Montevidéu, a proposta foi discutida, mas encontrou resistência do parlamento paraguaio. Segundo as regras do bloco, a medida necessita apoio dos poderes Executivo e Legislativo dos países sócios.

Atualmente, a Venezuela tem um status de Estado em processo de adesão no Mercosul, enquanto outros países, como Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador, são membros associados.

Com a crise política causada pela deposição de Fernando Lugo, que exercia presidência temporária do bloco, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram suspender a participação do Paraguai da próxima cúpula do bloco, que será realizada na próxima sexta-feira (29/06) em Buenos Airesz e na qual serão discutidas que medidas tomar em relação ao país.

Em comunicado conjunto, Argentina, os três países anunciaram sua decisão de "suspender o Paraguai, de forma imediata e por este ato, do direito a participar da 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul".

Link:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/22654/com+suspensao+do+paraguai+mercosul+pode+aprovar+adesao+da+venezuela.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
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Acadêmicos denunciam ajuda dos Estados Unidos à repressão em Honduras

publicado em 24 de junho de 2012 às 16:05
por Luiz Carlos Azenha
Eu morava em Washington, de onde acompanhei a campanha de Barack Obama à Casa Branca. A primeira versão da plataforma dele, de pré-candidato, apontava na direção de aceitar os governos reformistas da América Latina. Identificava claramente a pobreza e a má distribuição de renda como problemas da região. Mas, tudo mudou depois que Barack Obama se tornou oficialmente o candidato e incorporou Hillary Clinton à sua campanha. Na época cheguei a escrever a respeito. Na segunda versão da plataforma, Obama passou a identificar a violência como principal questão a ser enfrentada, especialmente nas metrópoles latinoamericanas. Brinquei: são os estadunidenses querendo exportar os produtos nos quais são especialistas. Armas, gás pimenta, aparelhos de monitoramento, de comunicação, aeronaves não tripuladas, etc.
Formas “democráticas” de controle. Assim como o Plano Colômbia e o Plano Merida, que tanto servem para combater o narcotráfico e as gangues como para levantar informações, desenvolver aliados locais e influenciar diretamente na política dos países aos quais supostamente ajudam. Cai como uma luva para a indústria armamentista, a indústria de segurança e os consultores. Cai como uma luva para as ONGs que sobrevivem recebendo dinheiro público, em Washington, para promover os interesses dos Estados Unidos na região. A “promoção da democracia” e o apoio à “sociedade civil” não são apenas uma forma de condescendência dos irmãos do Norte em relação aos cucarachas que vivem ao sul do rio Grande. Tem dinheiro nisso. Ou eles sairiam de casa para nos “ensinar” por benemerência?
Segue a carta escrita por organizações de direitos humanos e acadêmicos exigindo o fim da ajuda dos Estados Unidos à polícia e ao Exército de Honduras, onde um golpe derrubou o presidente constitucional, Manuel Zelaya, numa prévia do que aconteceu no Paraguai:
President Barack Obama

The White House
1600 Pennsylvania Avenue NW
Washington, DC 20500
The Honorable Hillary Rodham Clinton
Secretary of State
Washington, DC 20520
June 7, 2012
Como acadêmicos hondurenhos de diversos campos de estudo, homens e mulheres da Ciência e das Artes, com a solidariedade de outros acadêmicos latinoamericanos e estudiosos da América Latina em países de todo o mundo, inclusive, naturalmente, dos Estados Unidos, pedimos que vocês suspendam imediatamente toda ajuda policial e militar a Honduras, até que tais instituições, comprometidas pela corrupção, sejam limpas. Pedimos a vocês que respeitem nossa soberania e declaramos nosso desejo de que seja submetida a referendo a questão de permitir ou não a presença de bases militares dos Estados Unidos em Honduras — uma das quais foi usada para perpetrar o golpe de junho de 2009, o que piorou muitos de nossos problemas.
Exigimos que respeitem os processos nacional e regional de enfrentamento da atual crise institucional. Não brinquemos. O atual desastre em Honduras tem uma explicação imediata e raízes na história, mas é principalmente resultado de sua política de “pragmatismo” depois do golpe.
Seu governo esperou meses para classificar o que aconteceu de “golpe”, para que vocês pudessem continuar, sem impedimento legal, sua assistência ao regime golpista.
As eleições gerais de novembro de 2009 aconteceram menos de cinco meses depois do golpe, sob controle militar das ruas e praças, onde a verdadeira oposição foi reprimida, sem monitores internacionais além dos observadores de sua embaixada e de partidos políticos arranjados para consolidar o regime do golpe, dando total impunidade aos que perpetraram o golpe e intensificando o colapso das instituições judicial e de segurança.
Graças à anistia declarada pelo governo em 2010, nenhum membro do Exército foi julgado por participar do golpe de junho de 2009. Ninguém foi investigado pelos mais de 4 mil crimes contra a Humanidade e violações dos direitos humanos cometidos pelas forças policiais e militares sob a ditadura de Roberto Micheletti, uma vez que isso exigiria a intervenção do Ministério Público, o qual continua nas mãos dos que promoveram o golpe e de seus cúmplices.
A impunidade ainda vige no atual regime; nos dois anos em que o governo está no poder, a polícia cometeu cerca de 3 mil violações dos direitos humanos (sem contar as cometidas por membros das Forças Armadas), nenhuma das quais foi levada a julgamento.
O judiciário, cujo chefe, de acordo com telegramas publicados, confessou a seu representante em Tegucigalpa ter fabricado — a posteriori — as acusações criminais e o mandado de prisão usados para justificar o golpe, usados também para que membros do Exército fossem perdoados, continua absurdamente a negar que um golpe tenha acontecido e demitiu juízes e promotores que denunciaram ou se opuseram ao golpe e às políticas do regime golpista, com isso evitando que o judiciário tratasse com imparcialidade e neutralidade a violência policial e militar.
Como poderiam instituições lideradas por golpistas levar à Justiça policiais e militares que ameaçaram, torturaram e assassinaram membros de diferentes grupos de oposição — professores, sindicalistas, líderes populares, agricultores de subsistência, indígenas, afro-caribenhos e integrantes da comunidade LGBT?
Nosso país está em ruínas, em parte graças ao “apoio” dos Estados Unidos. Nós nunca saberemos o que teria acontecido, mas se o Departamento de Estado tivesse respeitado os processos diplomáticos hondurenho e latinoamericano depois do golpe, talvez nosso país não seria considerado hoje, nacional e internacionalmente, um exemplo de ‘estado falido’.
Poderia haver algum respeito à autoridade e à lei. Mas, em vez disso, seu governo traiu a declaração unânime da Organização dos Estados Americanos de que o presidente Manuel Zelaya deveria retornar sem condições ao posto para o qual foi eleito de forma democrática, nos dias seguintes ao golpe. Mais recentemente, seu governo encorajou a falta de respeito aos Acordos de Cartagena, assinados pelos presidentes Santos da Colômbia e Chávez da Venezuela. Enquanto isso, seu governo insiste em elevar a luta contra o crime organizado a uma “Guerra ao Terror” que não pode ser vencida, que serve para esconder novas violações, à qual podemos não sobreviver, enquanto ignora soluções latinoamericanas, quando somos nós que fornecemos os corpos para sua guerra.
O efeito direto da política dos Estados Unidos em relação a Honduras foi o de fortalecer a mão das pessoas responsáveis por planejar, executar, legitimar e impor violentamente o golpe: as forças armadas, o sistema legal, o escritório do Procurador-Geral, a polícia e poderesos grupos econômicos. Oficiais militares que lideraram o golpe foram indicados para postos-chave do atual governo do presidente Lobo. Em nome da “segurança”, as forças armadas hondurenhas não precisam mais prestar contas dos recursos que usam e podem fazer compras sem concorrência pública. O atual governo hondurenho colocou nossas pobres liberdades civis sob maior risco ao dar a soldados o poder de agir como polícia, apesar deles não serem treinados para a função, mas sim para exterminar o inimigo; deu à polícia, com a nova lei de escutas telefônicas, amplos poderes para monitorar a comunicação pessoal de cidadãos sem mandado de juiz ou promotor.
Tudo isso, por sua vez, aumentou o clima de insegurança no país, onde cidadãos tem mais razões para temer as forças de segurança do que os narcotraficantes ou as gangues.
Combater o narcotráfico não é uma justificativa legítima para os Estados Unidos financiarem e treinarem forças de segurança que usurpam governos democráticos e reprimem violentamente nosso povo. Todos aqui em Honduras, inclusive funcionários dos escritórios da DEA [Drug Enforcement Administration, a agência de combate às drogas] em Tegucigalpa, sabem exatamente onde estão os narcotraficantes e onde podem ser encontrados.
O mais poderoso barão das drogas neste país também financiou e apoiou o golpe que removeu as poucas barreiras ao narcotráfico que existiam; eles são os poderosos príncipes do agronegócio, empresários e financistas, latifundiários e integrantes do Congresso. Eles financiaram campanha presidenciais e tem ligações familiares com políticos de todos os níveis, de todos os partidos. Alguns deles são aliados da Embaixada dos Estados Unidos, a qual reconheceu [em telegramas diplomáticos escritos bem antes do golpe] pelo menos um deles como narcotraficante. Eles lucram com transações nas quais o produto sulamericano passa pelo nosso país a caminho do seu e com o resíduo distribuído aqui.
Nosso problema é uma profunda cultura de corrupção e a falta de determinação das autoridades para limpar a polícia e as forças armadas. Mas aqueles poucos que ousam falar a verdade foram julgados por abuso de autoridade, como o ex-ministro Gautama B. Fonseca, ou foram assassinados, como o ex-comissário de polícia Alfredo Landaverde, por policiais hondurenhos financiados pelos Estados Unidos.
Senhor Presidente e senhora Secretária, nossos objetivos para Honduras são os mesmos que vocês alegam promover: segurança, democracia e respeito à lei. Nós, hondurenhos, precisamos de instituições que tenham legitimidade e possam restabelecer o princípio da autoridade democrática e leis que promovam a coexistência. Pedimos que vocês cortem seu apoio (logístico, financeiro e de treinamento) às forças da desordem, que são também as mais violentas de nossa sociedade, e acabem com sua ocupação de nosso território, para objetivos militares, sem consultar o povo hondurenho. Qualquer restabelecimento subsequente de sua ajuda deveria depender de uma verificação de progresso feita pela recentemente estabelecida Comissão Nacional pela Limpeza [da polícia] e o restabelecimento das bases dos Estados Unidos deveria ter o apoio da cidadania, manifestado nas urnas.
A política de apaziguamento dos Estados Unidos ou de apoio a agentes violentos de um estado ilegítimo, destruiu nossa incipiente democracia, trouxe mais insegurança e gerou uma catástrofe dos direitos humanos. Investimento em nossa economia deprimida faria muito mais para promover nossos objetivos compartilhados que estes gastos contraproducentes. Pedimos a vocês que deixem que os hondurenhos busquemos nossas próprias soluções para nossos problemas, na construção de uma coexistência pacífica. Somente com soberania podemos trabalhar pela refundação de Honduras como nação democrática, que respeite direitos. A política dos Estados Unidos não deveria ser um obstáculo a este objetivo. A História verá que o imperador está nu.
Seguem assinaturas de centenas de acadêmicos de várias partes do mundo.
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OEA se manifesta contra 'impeachment' no Paraguai

Por zanuja castelo branco
Por Pablo Uchoa, Da BBC Brasil em Washington
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, questionou neste sábado o processo que levou ao impeachment do ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em menos de 24 horas em Assunção.
"O que nos preocupa não é somente o respeito ou a falta de respeito à lei, mas que a norma escrita seja interpretada de forma propícia para alterá-la com fatos."Através de nota, José Miguel Insulza disse que a destituição de Lugo foi um "julgamento sumário que, ainda que formalmente apegado à lei, não parece cumprir com todos os preceitos legais do Estado de direito de legítima defesa".
Em nota separada, a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH), ligada à OEA, disse que o processo é uma "paródia de Justiça".
"É uma paródia da Justiça e uma afronta ao Estado de Direito remover um presidente em 24 horas, sem garantias para se defender", qualificou o secretário-executivo da CIDH, Santiago Canton. Os dois órgãos têm sede em Washington.
Lugo foi deposto na sexta-feira pelo Congresso paraguaio com base no artigo 225 da Constituição do país, que confere poderes à Câmara de Deputados para iniciar um julgamento político contra o presidente e ao Senado, para atuar como tribunal.
Entretanto, começando e terminado no período de apenas 24 horas, o processo foi considerado por governos da região como um golpe de Estado "branco" contra Fernando Lugo, o primeiro político de esquerda a chegar à Presidência paraguaia.
"É inaceitável a rapidez do julgamento político contra o presidente constitucional e democraticamente eleito", afirmou Santiago Canton.
Impacto na região
A crise política no Paraguai levou a Assunção ministros da Relações Exteriores e o secretário-geral do bloco sul-americano (Unasul), o venezuelano Ali Rodrigues Araque, que qualificou a situação de "golpe de Estado de fato".
Em sua nota, José Miguel Insulza lamentou que já tenham sido "várias as ocasiões (na América Latina) que em alguns países, apegando-se ao pé da letra da lei, violam-se princípios democráticos que devem ter vigência universal."
"Ninguém quer que isto se transforme em uma tendência que obscure este período democrático da nossa região, que foi tão difícil alcançar."
Ele lembrou que a Constituição paraguaia e os tratados internacionais assinados pelo país "consagram os princípios universais do devido processo e da ampla defesa usando todos os recursos processuais, contando para isto com prazos suficientes entre o início do julgamento e a sua conclusão".
O órgão panamericano prometeu "tomar decisões" no início da próxima semana, após manter-se em contato com diplomatas da região durante estes sábado e domingo.
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GOLPE NO PARAGUAY: BRASIL E ARGENTINA CHAMAM EMBAIXADORES


Brasil condena impeachment de Lugo e convoca embaixador

http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/situacao-no-paraguai

Em nota oficial emitida no início da noite de sábado, o governo do Brasil condenou o impeachment do ex-presidente Lugo, do Paraguai. O texto afirma que rito sumário do processo comprometeu a democracia e a integração sul-americana.

O embaixador do Brasil que serve no Paraguai, foi chamado à Brasília, o que sinaliza crise diplomática entre os dos países.

No sábado a presidenta Dilma reuniu-se com os ministros  Antonio Patriota (Relações Exteriores), Celso Amorim (Defesa) e Edison Lobão (Minas e Energia) e o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia para avaliar a situação no país vizinho.

Cristina Kirchner, também no sábado, retirou seu embaixador do país:

http://www.cancilleria.gov.ar/portal/ver_adjunto.php?id=4214
Praticamente todos os países latino-americanos condenam o golpe.

Quem destoou foi a Alemanha. O ministro de Cooperação Econômica e de Desenvolvimento da Alemanha, Dirk Niebel foi, talvez a primeira autoridade estrangeira a encontrar Federico Franco, que tomou o lugar de Lugo, e declarou considerar um processo constitucional "normal" de mudança de governo, já que o ex-presidente Lugo acatou o julgamento.

sábado, junho 23, 2012

Hillary nao é Lula


Por Stanley Burburinho
Jornalista da Folha faz pergunta para Hillary e seguranças vetam seu acesso a pavilhão no Riocentro
DO RIO
A segurança da ONU vetou a presença do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, no pavilhão 5 do Riocentro, onde se realizam as sessões plenárias com chefes das delegações dos 193 países que participam da Rio+20.
Na parte da manhã desta sexta-feira (22), Rodrigues assistiu ao evento no qual a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, anunciou um programa de ajuda a países africanos na área de energia limpa.
Ao final, na saída da sala, o jornalista fez uma pergunta à chefe da diplomacia dos EUA a respeito da posição dos EUA sobre a crise política no Paraguai. Hillary respondeu brevemente, dizendo que estava acompanhando.
Nesse momento, seguranças dos EUA e da ONU empurraram o repórter e o impediram de fazer novas perguntas. Rodrigues então foi seguido até a sala ocupada pela Folha no pavilhão 3 do Riocentro. No local, os seguranças da ONU e dos EUA pediram novamente para ler e anotar os dados da credencial do repórter.
Às 13h30, quando estavam sendo distribuídos passes para a entrada de jornalistas na plenária da tarde, funcionários da ONU informaram que a presença de Rodrigues estava vetada naquele local.
De acordo com Robin Della Rocca, do departamento de Informação Pública da ONU e responsável pelo atendimento à imprensa na Rio+20, seguranças de Hillary informaram à ONU que, apesar de advertido, Rodrigues insistira em se aproximar da secretária e que, por isso, pediam que fosse vetado seu acesso ao Pavilhão 5, onde se reúnem os chefes de Estado. O pedido foi atendido pela ONU.
O consulado americano no Rio negou que a segurança da secretária Hillary Clinton tenha pedido que o acesso de Rodrigues ao Pavilháo 5 fosse vetado.
O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais, Ricardo Pedreira, disse que a entidade lamentava "atitude discriminatória contra o jornalista Fernando Rodrigues por estar exercendo a sua função de jornalista. Ainda mais vindo dos Estados Unidos, um país reconhecido por sua liberdade de imprensa".