sábado, outubro 31, 2009

A pauta da vida

 

Quinta-feira, 29 de outubro de 2009 às 16:34

“Esqueça a pauta do editor e façam a pauta de suas vidas”

O presidente Lula mandou um recado direto aos jornalistas que o acompanhavam nesta quinta-feira (29/10), em São Paulo, na inauguração da Expocatadores, que reúne mais de seis mil trabalhadores do Brasil e da América Latina. O presidente sugeriu que os profissionais deixassem de lado a pauta enviada pelos editores e entrevistassem os catadores que participam da exposição. “Pode escolher qualquer um. Será a grande matéria da vida de vocês”, afirmou.

E aí, vocês vão compreender porque que a figura do chamado formador de opinião pública, que antes decidia as coisas neste País, já não decide mais, porque esse povo já não quer mais intermediário. Esse povo tem pensamento próprio, esse povo anda com suas próprias pernas, trabalha pelos seus braços, enxerga pelos seus olhos e falam pela sua boca.


Vídeo aqui:  

http://www.youtube.com/watch?v=PkolGmoHDI8&feature=player_embedded


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quinta-feira, outubro 29, 2009

crimes de guerra praticados por Israel...



Israel: PROCURADO por assassinato

22-28/10/2009, Dina Ezzat, Al-Ahram Weelky, Cairo – http://weekly.ahram.org.eg/2009/969/fr1.htm

 

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, instruiu seu governo, essa semana, para que encaminhe projeto de emenda às leis internacionais de guerra; foi sua resposta a um relatório da ONU sobre crimes de guerra praticados por Israel. Netanyahu, como informaram na 4ª-feira as agências internacionais de notícias, está decidido a impedir que vários altos dirigentes do governo israelense sejam indiciados e processados por cortes internacionais, acusados de cometer crimes de guerra – e possivelmente também crimes contra a humanidade – contra palestinos em território ocupado. Para Netanyahu, a emenda que Israel planeja encaminhar é parte de campanha para que o mundo mantenha a todo vapor a guerra ao terror.

 

O novo movimento de Israel aparece em momento em que o Estado israelense é objeto de graves acusações referentes às atrocidades cometidas contra os palestinos em território ocupado, inclusive o massacre de Gaza em dez.-janeiro passados – objeto do relatório divulgado por missão oficial de investigação da ONU. Israel reage também, agora, contra novas e vigorosas tentativas nos planos governamental e não governamental, em todo o mundo árabe, para que os criminosos de guerra israelenses sejam levados a julgamento na Corte Criminal Internacional ou em cortes nacionais nos países cujos sistemas legais prevejam julgamentos de crimes de guerra, corolário da adoção, por vários países, do princípio da jurisdição universal.

 

O “Relatório Goldstone” foi aprovado semana passada pela Comissão de Direitos Humanos da ONU e, consequentemente, foi encaminhado ao secretário-geral e ao presidente da Assembleia Geral. Segundo fontes em NY, é provável que a Assembleia Geral da ONU analise o Relatório ainda antes do Natal. “Israel moverá céus e terra e não deixará pedra sobre pedra, para impedir que a Assembleia Geral aprove o Relatório Goldstone” – disse um diplomata egípcio, em NY. Mas acrescentou: “Façam o que fizerem, a Assembleia Geral terá de examinar o Relatório. Se não for antes do Natal, será depois do Ano Novo.”

 

Até lá, cabe ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, se assim decidir, enviar o Relatório diretamente ao Conselho de Segurança, dado que o Conselho de Direitos Humanos já o aprovou e acatou todas as suas recomendações, inclusive o pedido de que o Conselho de Segurança examine o relatório e as provas que contém e tome as necessárias providências para julgar os autores das violações ali listadas.

 

O Conselho de Direitos Humanos espera manifestação de Ban Ki-Moon para março. Mas diplomatas especialistas em Direitos Humanos dizem que o máximo que se deve esperar da Assembleia Geral da ONU é uma Resolução na qual conclame todos os países a observar o que postulam as leis internacionais e as leis humanitárias. E um diplomata palestino disse ao jornal Al-Ahram Weekly que “supor que os EUA permitirão que o Relatório chegue ao Conselho de Segurança é delírio, para dizer o mínimo."

 

Os EUA trabalharam ativa e abertamente para impedir que o Conselho de Direitos Humanos aprovasse o Relatório Goldstone, em lobby com os sionistas, dizem fontes egípcias, dentre outras fontes árabes em New York. Agora, há quem acredite que o Relatório, de fato, acabará por ser engavetado.

 

Apesar disso, Hesham Youssef, chefe de gabinete do secretário-geral da Liga Árabe, disse essa semana que a organização árabe “prossegue em seus esforços para processar todos que tenham cometido crimes de guerra em Gaza”. Youssef falou a Al-Ahram Weekly, dias depois de retornar de Haia, onde manteve contato com o Procurador-chefe  da Corte Internacional, Luis Moreno-Ocampo. Participou desses contatos em Haia também o ministro da Justiça da Palestina, Ali Al-Khashan, e o professor de Direito Internacional John Dugard, que presidiu uma comissão independente que também investigou o massacre de Gaza e publicou relatório sobre violações da legislação internacional, pelos israelenses, em Gaza: “No safe place” [pode ser lido em http://www.lphr.org.uk/gaza2009/Report_IFFC_Gaza.pdf].

 

As reuniões em Haia tiveram dois principais objetivos: estabelecer o direito da Autoridade Palestina – que tem autoridade de Estado – para apresentar queixa à Corte Internacional; e estabelecer o fundamento legal formal da Corte Internacional para acolher a queixa e encaminhar o processo.

 

Haytham Manna, ativista de direitos humanos que trabalha em Paris, disse à nossa reportagem, em entrevista por telefone, que Moreno-Ocampo recebeu grande quantidade de documentos, a partir dos quais pode começar a trabalhar. “Não permitiremos que o Relatório Goldstone e o trabalho do prof. Dugard tenham o mesmo destino que teve o Relatório Tutu” – disse Manna, referindo-se ao relatório elaborado por missão presidida pelo bispo Desmond Tutu, prêmio Nobel, que investigou as atrocidades cometidas pelos israelenses em Beit Hanoun, Gaza, em 2006.

 

Manna e Djebril Fahl, advogado palestino e conselheiro da Autoridade Palestina, previram, em entrevistas separadas com nossos repórteres, que Moreno- Ocampo precisará de alguns meses antes de poder concluir. Os dois especialistas descartaram a possibilidade de o Procurador-chefe da Corte Internacional de Justiça ser diretamente pressionado por Israel. “As coisas estão andando”, disse Manna.

 

Manna também excluiu a possibilidade de a Autoridade Palestina – que, no início do mês, chegou a tentar adiar o exame do Relatório Goldstone pelo Conselho de Direitos Humanos – desistir da ação. “Já passamos do ponto em que eles poderiam tentar voltar atrás.”

 

Em entrevista a Weekly, por telefone, falando de Ramallah, Al-Khashan disse que “a Autoridade Palestina está firmemente comprometida e não desistirá”. Mas o ministro palestino não espera que o processo resulte em condenação dos líderes sionistas, nem que o governo israelense admita ter cometido crimes em território palestino ocupado. “Essa é operação de longo prazo”, disse ele. “Mas, sim, conseguiremos incriminar Israel no plano moral.”

 

Manna não desconsidera essas dificuldades, mas diz que “pelo menos creio que algumas cortes nacionais estarão em condições de processar os criminosos de guerra israelenses. Chegaremos lá.” [...]


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Uma estrutura social equânime é o inferno de Caiado e Kátia Abreu

Os desejos ocultos dos donos da terra
 
 
Uma estrutura social equânime é o inferno de Caiado e Kátia Abreu. Para eles, o paraíso é o Estado Patrimonial que, como no tempo do Império, funcione como repassador de terras e do dinheiro do setor público para o privado. É com essa restauração que sonham diariamente.
 
 
A nova operação da direita para viabilizar a instalação de uma CPI para investigar supostos repasses de recursos públicos a entidades vinculadas ao Movimento dos Sem Terra (MST) nada mais é que um embuste com objetivos nítidos: a criminalização dos movimentos sociais e, com um claro viés eleitoreiro, o desgaste do governo visando ao processo eleitoral de 2010.

O eixo central da ação da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), ex-presidente da UDR, é retroceder o processo democrático a níveis anteriores ao do governo petista. Com apoio da grande imprensa, o que se pretende é o estabelecimento de uma agenda que aceite a imposição dos que gritam mais forte e que por mais de 500 anos mandaram no país.

Um projeto de poder que abandone o país moderno, dos segmentos novos da cidade, do operariado urbano e rural, dos pequenos e médios proprietários das classes médias, dos empresários modernos e progressistas para abraçar uma opção pelo passado. No que ele tem de mais retrógado, no que ele garante a preservação de práticas clientelistas e oligárquicas.

A pesquisa do Ibope, encomendada pela CNA, “que constata a favelização dos assentamentos rurais do INCRA" não vai de encontro apenas aos dados do Censo Agropecuário de 2006 que demonstram que a agricultura familiar é mais produtiva do que a tradicional e em grande escala. Vai além. Vai contra todas as classes e frações que sabem que sua sobrevivência depende de um país igualitário, solidário, a ser construído por uma intervenção decidida na questão da terra. Uma estrutura social equânime é o inferno de Caiado e Kátia Abreu. Para eles, o paraíso é o Estado Patrimonial que, como no tempo do Império, funcione como repassador de terras e do dinheiro do setor público para o privado. É com essa restauração que sonham diariamente.

Sob os holofotes da CPI o que se quer manter é a luta contra a Reforma Agrária por parte de pecuaristas e dos que ganham com monoculturas extensas. Nos casos de desapropriações já decididas, apela-se, como sempre, para os amigos cartoriais, transferindo gado de uma fazenda para outra enquanto se pede revisão dos processos.

O "aggiornamento" da imprensa é peça fundamental dessa estratégia. Há mais de duas décadas, durante a eleição de Caiado para a presidência da UDR, o então vice-presidente da entidade, Altair Veloso, garantia que “os jornalistas da imprensa escrita são todos vermelhos. Os da televisão são todos homossexuais".

Hoje prevalece a afinidade de classe, e os "vermelhos" carregam nas tintas contra movimentos organizados, enquanto os "homossexuais" divulgam, no horário nobre de uma emissora paulista, "editoriais" contra Lula e o MST. O amadurecimento de pessoas e instituições é surpreendente. Revela pulsões que nunca ousaram dizer o nome.

Em entrevista para a Agência Ibase, o líder sindical José Francisco da Silva, ex-presidente da Contag, disse que “houve avanços com o governo Lula, justiça seja feita. Fernando Henrique investiu R$ 2,3 bilhões no Pronaf. Lula já alcançou R$ 13 bilhões no decorrer de seis anos. Foi um bom investimento, mas é bom que se diga que o agronegócio recebe quase R$ 70 bilhões do governo e é a agricultura familiar que abastece o país, que gera empregos." É uma distorção a ser corrigida.

Para Kátia e Caiado a correção aponta para outra direção: a da redução dramática da população rural, da formação de um contingente de semicidadãos entregues à própria sorte. Para eles, essa é a democracia possível. O padrão estético é coerente com a história dos antigos donos do poder.

Eldorado de Carajás é uma imagem a ser esquecida. Pés de laranja arrancados, um crime imperdoável.
 
 

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terça-feira, outubro 27, 2009

Globo não engana mais ninguém





POLÍTICA E ECONOMIA

Segunda-feira, 26 de Outubro de 2009 - 23:40
Especialistas analisam Bolsa Família ou a mentira que o Globo tentou contar

"Eu não chamaria de acomodação". A adesão ao programa não deve ser confundida com acomodação. As pessoas estão deixando de trabalhar em algo que não era gratificante, era mera obrigação, apenas para levar o sustento para casa. Uma mãe de família deixar de limpar banheiro dos outros para cuidar dos filhos é ótimo.
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O país jamais atacou qualquer nação e há décadas não ameaça, sequer, fazê-lo

É tempo de o mundo aceitar um Irã nuclear

25/10/2009, Anoush Maleki, PressTV, Teeran
http://www.presstv.com/detail.aspx?id=109619&sectionid=3510303

O presidente George W. Bush, apoiado por conhecido grupo de neoconservadores e pela gangue de Tel Aviv, fez o que pôde para formular sua política externa de guerras, de modo a seu sucessor ser obrigado a gerir um terceiro conflito militar no Oriente Médio.

O Irã está na agenda da Casa Branca há muitos anos; hoje, o pretexto mais potente em uso é o programa nuclear iraniano, conduzido rigorosamente conforme as normas e sob vigilância dos especialistas da ONU.

Sob a alegação de que o governo anticapitalista de Teeran trabalharia para obter bombas atômicas para destruir Israel, o governo Bush cooptou apoios internacionais para impor sanções econômicas contra o Irã. O Conselho de Segurança da ONU adotou a via de três rounds de resoluções-sanções e proibiu o Irã de enriquecer urânio mesmo que exclusivamente para fins pacíficos.

O Irã, que é signatário do Tratado de Não-proliferação Nuclear [ing. Nuclear Non-Proliferation Treaty (NPT)], tem legítimo direito de enriquecer urânio para gerar combustível para suas usinas nucleares atualmente em construção. A Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Agency (IAEA)] — único corpo que tem autoridade para intervir em programas nucleares em todo o planeta – já confirmou essa evidência.

Pois o presidente Bush parecia não ter qualquer dúvida de que, incluindo Teerã no seu famigerado "eixo do mal", o mundo o seguiria sem discutir e passaria a ver os iranianos como perfeitos demônios, decididos a construir bombas atômicas e iniciar uma guerra atômica.

De fato, o que interessava era soar os tambores de guerra contra o Irã. O inesperado revés econômico que os EUA sofreram, contudo, interrompeu a longa sequência de tentativas.

Hoje, até os mais neoconservadores já sabem que um ataque militar ao Irã, para destruir sua infraestrutura nuclear só conseguirá, no máximo, atrasar o desenvolvimento do programa. À parte a retaliação massiva que o exército do Irã e os Guardas da Revolução Islâmica [ing. Islamic Revolution Guards Corps (IRGC)] já anunciaram no caso de ataque ao Irã, o preço do petróleo subiria às alturas, "para mais de $200 o barril, em questão de horas" – o que demoliria os esforços para tentar recuperar a economia dos EUA, como escreveu o presidente do Conselho de Relações Exteriores, Richard N. Haass, em coluna intitulada "A Different Regime Change in Iran" [Uma diferente troca de regime no Irã], no Financial Times (13/10/2009, em http://www.ft.com/cms/s/0/718526f2-b82a-11de-8ca9-00144feab49a.html).

A verdade é que o preço desse curso de ação é alto demais.

O presidene Obama, enquanto isso, suavizou a retórica desde que assumiu e adotou linguagem mais amena, oferecendo um raio de esperança para a diplomacia com Teeran – os dois Estados não mantêm relações diplomáticas desde a invasão da embaixada dos EUA em Teeran, em 1980.

Ironicamente, a questão nuclear aproximou mais os dois governos. O Iran está fazendo o que lhe cabe fazer. Está cooperando com a IAEA e considera a possibilidade de comprar urânio enriquecido para seu reator de um provável consórcio a ser constituído por França, Rússia e EUA.

No domingo, o Irã autorizou a inspeção pelos especialistas da ONU, que foram autorizados a visitar uma usina de enriquecimento a sudoeste de Teeran, de cuja existência a Agência foi informada dem setembro, cerca de um ano e meio antes de a usina entrar em operação.

Mesmo assim, enquanto os EUA continuarem a divulgar e reforçar suspeitas de que o Irã estaria trabalhando para construir armas atômicas, nada autoriza a ter qualquer esperança de que Washington venha a trabalhar para reconstruir melhores relações. De fato, é chegada a hora de o governo dos EUA começar a agir de modo a merecer mais confiança.

Mais cedo ou mais tarde, a Casa Branca terá de render-se à evidência de que Teerã não desistirá de seu programa nuclear. O governo e os iranianos em geral creem firmemente que têm o inalienável direito de prosseguir e dar andamento ao seu programa nuclear para objetivos pacíficos.

A natureza da política exterior iraniana, apesar dos seus valores anticapitalistas, é pacífica. O país jamais atacou qualquer nação e há décadas não ameaça, sequer, fazê-lo. Seus líderes o o povo consideram pecado o uso de armas de destruição em massa – já declarado contrário aos princípios do Islã.

Assim sendo, a ideia de que o Irã decida um dia construir e armazenar armas de destruição em massa, usá-las contra outro país, ou entregá-las a terroristas é completo delírio.

O Irã – governo e cidadãos – buscam construir um relacionamento com a comunidade internacional baseado em respeito mútuo, com vistas a alcançar objetivos mútuos.

"Vim [ao Cairo] em busca de um recomeço entre os EUA e os muçulmanos de todo o mundo; recomeço baseado em respeito mútuo, com vistas a alcançar objetivos mútuos. Recomeço baseado na certeza de que os EUA e o Islã não são excludentes e não têm de competir. Em vez disso, sobrepõem-se e partilham princípios comuns – princípios de justiça e progresso; de tolerância e dignidade para todos os seres humanos" – disse o presidente Obama no Cairo, dia 4/6/2009, falando ao mundo muçulmano.

Sabe-se que esses objetivos não serão alcançados do dia para a noite. Resta esperar apenas que o presidente dos EUA tenha sido sincero.


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Casa de ferreiro, espeto de pau


Agora vc imagina um obra de saneamento parada no meio, deixando um buraco na frente da sua casa; um viaduto interrompendo o trânsito; uma usina hidrelétrica tendo que 'reduzir a qualidade de vários itens'.
 
A imprensa tem tentado distorcer as palavras do presidente Lula que nunca pediu para que o TCU diminuísse o rigor das fiscalizações, mas que tivesse regras diferenciadas, que criasse condições alternativas para evitar a paralização de obras. Até pq em muitos casos as irregularidades não são confirmadas e ficamos apenas com o aumento dos custos 'com aluguel de equipamentos e andaimes, deterioração nas ferragens' etc, etc.
 
Alexandre Porto
 

Casa de ferreiro, espeto de pau
 
Prédio do TCU é só um ''esqueleto''
 
Vannildo Mendes
 
Alvo da ira do governo por paralisar obras públicas, o Tribunal de Contas da União (TCU) prova do próprio veneno e convive há um ano com o esqueleto de um prédio no quintal. Trata-se do anexo-3, orçado em R$ 70 milhões, para alojar três secretarias. A Uni Engenharia, licitada pelo critério de menor preço, levantou só 20% do prédio e jogou a toalha em novembro. O TCU rompeu contrato e abriu nova licitação. O prejuízo por conta da paralisação passa de R$ 2 milhões.
 
As maiores despesas são com aluguel de equipamentos e andaimes. Há deterioração nas ferragens e, se a retomada demorar, a estrutura pode ficar comprometida. Com a chegada das chuvas, houve gasto extra com impermeabilização. O edifício, que seria entregue, só deve ser concluído em 2011.
 
O TCU informou que aplicou multa de R$ 2,6 milhões contra a empreiteira.
 
Como autopunição, o tribunal reduziu a qualidade de vários itens e o preço final da obra caiu em 12% na nova licitação. "A mesma regra que vale para os outros, vale para nós", explicou o presidente do TCU, ministro Ubiratan Aguiar, alvo de ironias ao encarnar o ditado do "espeto de pau em casa de ferreiro".
 
A empreiteira informou, em nota, que não foi responsável pelo atraso nas obras e entrou com recurso. A Uni já recebeu R$ 12,9 milhões e, em tese, teria mais R$ 256 mil a receber, mas o dinheiro ficará retido para futuro encontro de contas.

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em outros números, cada R$ 0,04 do Bolsa Família aumenta o PIB em R$ 1

 
 
 
O jornalista Fernando Dantas publicou no Estado de S. Paulo desta sexta-feira uma reportagem com os resultados de um estudo recente sobre os impactos do programa Bolsa Família na economia. A conclusão do trabalho é que, o acréscimo no valor dos benefícios pagos, entre 2005 e 2006, de RS 1,8 bilhão, resultou num crescimento adicional do PIB, no período, de R$ 43,1 bilhões. Resultou também em receitas tributárias adicionais de R$ 12,6 bilhões. “O ganho tributário”, escreveu Dantas, “é 70% maior do que o total de benefícios pagos pelo Bolsa Família em 2006, que foi de R$ 7,5 bilhões.
 
 
Esses cálculos foram feitos pelo economista Naercio Aquino Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o antigo Ibmec-São Paulo, que também é professor na Faculdade de Economia da USP, e por seu aluno na graduação do Insper, Paulo Henrique Landim Júnior. É de se notar que o Insper e Naercio filiam-se a correntes do pensamento econômico situadas a anos-luz de distância das teorias heterodoxas ou mais à esquerda e não têm nada de lulistas.
 
 
Não é novidade que programas bem focados de transferência de renda, como é o caso do Bolsa Família, produzem relevantes efeitos multiplicadores no conjunto da economia. Isso só não é verdade para os que não conseguem levantar o véu ideológico que tolda a visão sobre os programas de inclusão social, para os que resistem a repartir melhor a renda produzida ou para os cegos pelas paixões partidárias. Faltava, porém, uma medição quantitativa da dimensão do impacto econômico específico do programa Bolsa Família.
 
 
Pois bem, segundo as estimativas de Menezes e Landim, um aumento de 10% no repasse médio per capita do Bolsa Família leva a uma expansão de 0,6% do PIB, no ano em que ocorre o aumento e no seguinte. Em outras palavras, ou melhor, em outros números, cada R$ 0,04 do Bolsa Família aumenta o PIB em R$ 1.
 
 
Fica assim provado, com números, que o “assistencialismo” do Bolsa Família move profundamente a economia. Com a vantagem de que, como indicaram os cálculos de Menezes e Landim, o setor mais positivamente impactado é o da indústria – aquele em que os empregos são de mais qualidade. Enquanto no PIB agrícola cada 10% a mais nos repasses do Bolsa Família não apresenta impactos significativos, o efeito nos serviços é de 0,19% no PIB setorial. No PIB industrial, onde o impacto é maior, efeito multiplicador de cada 10% adicionais nos repasses do programa atinge expressivos 0,81%.
 
 
Uma tentativa leviana, mais ou menos recente, de confundir o Bolsa Família com programas de distribuição de cestas básicas, a partir de uma declaração crítica de um Lula ainda na Oposição, em relação à distribuição pontual de comida, tem sido largamente disseminada pela internet, via YouTube. Intelectuais de viés conservador utilizam o vídeo como gancho para sustentar suas retorcidas teorias anti-inclusão social e de preservação da renda em mãos de poucos. Com os dados agora disponíveis, o falatório reacionário fica apenas lamentavelmente ridículo.
 
 
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Aqui o link para a reportagem do “Estado de S. Paulo”:

 

Atualizado às 23h45

 
Autor: José Paulo Kupfer
 
 

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quinta-feira, outubro 22, 2009

No Blog do Alê

Os cães ladram e a caravana passa...

POLÍTICA E ECONOMIA
Quarta-feira, 21 de Outubro de 2009 - 23:49


Lula vistoria eixo norte do projeto do rio São Francisco 

No último dia de visita as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional, o presidente Luis Inácio Lula da Silva e o Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, foram conferir de perto as obras do eixo norte do projeto, localizado próximo ao município de Cabrobó, no estado de Pernambuco. 


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As verbas saltaram de R$ 500 milhões para R$ 5 bilhões

A frente da educação

Coluna Econômica - 19/09/2009


Um dos grandes desafios de políticas públicas, é como montar um modelo federativo de articulação de políticas de educação entre União, Estados e Municípios.

Esse é um dos grandes desafios de políticas públicas universalistas em país continental, pois há que se montar uma comunidade tal - como na Saúde - que garanta a continuidade das políticas independentemente das autoridades e dos partidos de plantão.

Mas, segundo o Ministro da Educação Fernando Haddad, o setor de Educação conseguiu finalmente criar essa solidariedade.

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O primeiro passo foi a redefinição das políticas para o setor. Na gestão Paulo Renato, se utilizava a tese do "cobertor curto" para não atacar o problema das universidades públicas. Criou-se o falso mito de que todo investimento deveria ser apenas no ensino básico.

O Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) destinava-se a apoiar apenas o ensino fundamental. O Fundef ampliou para o curso médio. As verbas saltaram de R$ 500 milhões para R$ 5 bilhões.

Até então, o ensino médico não dispunha de livro didático, transporte e alimentação escolar. Até 2005, 7,8 milhões de alunos não recebiam livros didáticos.

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Hoje em dia, a Rede Federal de Educação Profissional, que estava em 130 municípios, chega em 350. As Universidades chegam a mais de 200. A Universidade Aberta do Brasil atinge 600 municípios em cursos à distância semi-presencial.

As Universidades Federais já assumiram a incumbência de fornecerem educação continuada para os professores do ensino médio.

Enfim, uma série de iniciativas que, aparentemente, rompeu com o modo tradicional de enxergar educação  - por parte do próprio setor.

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O ponto central desse trabalho de coordenação é o Plano de Ações Articuladas, para a rede escolar - tanto estadual quanto municipal -, e o Plano de Desenvolvimento da Escola, para cada escola.

Todo sistema está interligado pela Internet. São 5.890 municípios.

O conjunto é monitorado pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) que aplica provas em todo o país. A partir das provas, são identificados aquelas redes e escolas abaixo da média. Na última avaliação, foram 1.800 redes e 27 mil escolas.

A partir daí, os gestores de educação são instados a preencherem relatórios, para que se possa ter um diagnóstico da sua região - tudo pela Internet. Nesse diagnóstico, são identificados seus problemas e a lista de itens financiáveis para sua escola.

O MEC compatibiliza diagnóstico com demanda e passa a financiar um conjunto de ações.

Todo o relacionamento se dá pela Internet. Consultores do MEC conversam com os gestores, trocam idéias, aconselham até se chegar às demandas necessárias.

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Esse monitoramento é amarrado às metas de qualidade. Em uma escala de 0 a 10, a média brasileira medida pelo IDEB estava em 3,5% em 2001. Agora, em 4,2. A meta é chegar em 6 (média dos países da OCDE) até 2022, ano do bicentenário da Independência.

Importante: todas autoridades da área, na União, Estados e Municípios, subscreveram esse pacto.

Blog: www.luisnassif.com.br

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terça-feira, outubro 20, 2009

Como o PSDB se tornou sucursal da mídia

José Serra, o homem que terceirizou a 
estratégia política para os jornais
 
Do Blog do Nassif
 
Como o PSDB se tornou sucursal da mídia
Continua a piada pronta.
 
Segundo matéria da Folha, a Casa Civil informa que na hora da tal reunião com Lina Vieira ela, Dilma, estava com o presidente da República e não participou de reunião alguma. Lina diz, em depoimento no Senado, que não houve reunião em 9 de outubro porque estava em São Paulo. Ambas – casa Civil e Lina (no Senado) informam que houve reunião na Casa Civil para tratar do tal encontro dos CEOs.
 
E, depois de pesar todos os elementos, o ponderado senador Arthur Virgílio encerra o samba do crioulo doido com uma frase lapidar:
 
“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).
 
Desde que a agenda política passou a ser comandada pelas manchetes do circuito Folha-Veja-Globo, a oposição só afunda. Criou-se um mundo virtual totalmente dissociado da realidade, auto-referenciado, sem auto-crítica, com esse nível de “provas novas e irrefutáveis”.
 
Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano já produzido por uma liderança política no país: José Serra, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.
 
O que esteve por trás dessa imprudência é o seguinte.
 
No mano-a-mano, a oposição perde a batalha da comunicação para Lula. Decide, então, curvar-se a essa realidade, deixar de lado o “feeling” político próprio – por não confiar nele – e terceirizar a estratégia comunicação para quem presumivelmente entende e comanda o processo: a mídia. Assim, a parte mais sensível de uma campanha política, a formação da imagem foi substituída pelo exercício fácil de atender às demandas da mídia e deixar o trabalho por sua conta e risco.
 
Antes, os estrategistas políticos eram pessoas como Tancredo Neves, Tales Ramalho, Ulisses. Na era Serra foram substituídos pelo Ali Kamel (!),  Merval (!), o Otavinho (!), o Roberto Civita (!), as colunistas políticas – que diariamente mandam orientações à oposição sobre como proceder, dão broncas quando acham que a oposição está desanimando, passam pito, ordenam isso e aquilo. E as lideranças aceitam de cabeça baixa, entram em todas as geladas que esse processo desembestado gera, criam até CPI da Petrobras e, depois que a empresa lança uma monumental campanha midiática, ficam órfãos, sem saber porque a mídia se desinteressou pelo tema, depois de obrigá-los a entrar na fria.
 
À falta de conteúdo político, de capacidade de compreensão do processo político, da incapacidade de discutir propostas ou modelos de país (porque exige ir além dos slogans e porque não faz parte da lógica midiática), esse pessoal adotou a agenda neocon – um modismo norte-americano que, no caso brasileiro, vinha pronto e embalado (criado pelo brilhantismo de Olavo de Carvalho e repetido por meia dúzia de papagaios). Um discurso restrito, de pouca ressonância, tornou-se hegemônico na mídia, não por convicção, mas por visão torta de mercado.
 
Não era mais a política comandando o discurso – como ocorreu com o PMDB de Ulisses, com o próprio Collor, com o mercadismo de FHC. Eram as criaturas de FHC, misturando slogans de mercado com slogans neocons e condicionando o discurso de um candidato a presidente da República, tendo como “timing” político e midiático apenas o escândalo do dia seguinte. Serra criou um exército de lobisomens (neoliberais + neocons + criadores de factóides) e passou a ser comandado por eles.
 
Como a mídia, seguramente, não estava à altura do desafio – e nem poderia estar, porque a lógica dos jornais é outra – criou-se essa mixórdia visceral, um debate circular em torno de Honduras, FARCs, cotas raciais, Venezuela, erros de português do Lula, Honduras, Bolsa Familia, Foro de São Paulo, FARCs, Moralez, erros de português do Lla, Hinduras, Cuba, Fidel… Meu Deus! Essa temátiuca só existe na cabeça deles e de leitores influenciáveis (e sem nenhuma relevância). Não há um ambiente minimamente esclarecido – sejam entre empresários, intelectuais – que tenha saco para entrar nesse jogo.
 
A oposição torna-se, então, massa de manobra da mídia. E, como se tornou partido político, a grande imprensa passou a fazer a única coisa que acha que sabe: fabricar escândalos, o tal priapismo midiático que os levou a um besteirol, em cima de factóides, poucas vezes visto na história da imprensa brasileira.
 
Serra conseguiu transformar um partido que já representou esperanças de mudança no país em sucursal da mídia. Não de um New York Times, mas da mídia brasileira.


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partidarização da mídia mantém esse movimento nos subterrâneos da política

A nau sem rumo de Serra

O jogo político está adquirindo uma dinâmica curiosa, intensa, previsível. Mas, quando explodir, apanhará grande parte da opinião pública de surpresa, porque a partidarização da mídia mantém esse movimento nos subterrâneos da política.

São esses os fatos:

1. O DEM está francamente desanimado com a candidatura José Serra. Não vê a hora de pular para o barco de Aécio. Considera a candidatura Serra pesada, sem oferecer o fato novo capaz de segurar a onda Dilma.

2. Na avaliação de alguns caciques do DEM, a exposição de Dilma a ajudará cada vez mais, anulando a campanha midiática para marcá-la como “mentirosa” e “truculenta. Já em relação do Serra, considera que a exposição será prejudicial, pela falta de empatia do candidato, por sua própria idade e pela dificuldade em articular discurso anti-Lula.

3. Está cada vez mais intensa a percepção de que Serra não sairá candidato a presidente, por seu receio histórico de correr riscos. Veja bem: é uma percepção que vai se formando, não necessariamente o que Serra estaria pensando neste momento.

4. Em São Paulo, a falta de jogo de cintura do governador provocou um racha inédito. Os três grupos debaixo do guarda-chuva Serra estão em guerra: o de Serra, o DEM de Kassab e o PSDB de Alckmin. Dois dos três candidatos favoritos – Kassab e Alckmin – mantêm um casamento de conveniência, mas não confiam em Serra. Esta guerra deve explodir em breve. Com essa falta de habilidade política, como seria em uma realidade infinitamente mais complexa, de governar o país?

5. Lula já conquistou totalmente o meio empresarial paulista. Há resistências contra Dilma, muito mais devido à campanha midiática do que ao conhecimento da candidata. Em relação à Serra, consolida-se a percepção de um político autocrático.

Autor: luisnassif - Categoria(s): Eleições, Política Tags: , , , , ,


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Enquanto São Paulo cresce timidamente, o Nordeste cresce a taxas chinesas

Dilma já ganhou

 Se a nova ofensiva contra a candidatura Dilma no último fim de semana é o melhor que o governador José Serra e seus jornais, revistas, tevês e rádios conseguem fazer a esta altura do campeonato, já às portas do ano eleitoral de 2010, acho que os partidários da ministra-chefe da Casa Civil já podem começar a comemorar.

Enquanto o governo Lula faz o efeito da crise internacional no Brasil ser mesmo uma marolinha, faz um programa habitacional que já produziu quase 400 mil contratos, faz a maior criação de empregos formais do mundo em plena crise, faz o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 e dá ao país um prestígio internacional jamais visto, o que é que Serra, através de seus meios de propaganda, oferece?

A maioria dos paulistas pode não enxergar, mas a piora progressiva da qualidade de vida em São Paulo, o aumento da criminalidade, o caos no trânsito da capital do Estado, os salários miseráveis de professores, policiais e médicos paulistas e um dos mais baixos desempenhos da Educação no país são percebidos cada vez mais pelo resto dos brasileiros.

Enquanto São Paulo cresce timidamente, o Nordeste cresce a taxas chinesas. E, enquanto o presidente Lula vai dando emprego, renda, moradias, acesso de todos ao ensino superior e uma credibilidade e prestígio inéditos ao país, a oposição oferece Lina Vieira e suas acusações absurdas, que dão seqüência à idéia "brilhante" do governador paulista de carimbar na pré-candidata do PT a pecha de “mentirosa”.

O que mais impressiona é que a mentira de Lina é tão mambembe, mas tão mambembe que já caiu por terra antes mesmo de ser posta de pé, pois, no depoimento da ex-secretária da Receita ao Senado em agosto último, ela afirmou que viajou a São Paulo no dia do tal encontro com Dilma em Brasília  (9 de outubro de 2008).

Há que perguntar, também, por que tanto trabalho para difamar uma pré-candidata que a mídia tem dito que estaria “caindo” nas pesquisas e que seria um fiasco eleitoral no ano que vem...

A resposta é muito simples: primeiro que as pesquisas não mostram nada disso. Dilma  permaneceu estável e Serra é que tem caído. Em segundo lugar, simplesmente metade do eleitorado brasileiro, a parte mais pobre e menos informada da população, ainda não faz nem idéia de que o presidente que apóia com tanto vigor escolheu alguém para apoiar na eleição presidencial do ano que vem.

Não tendo encontrado nada no passado de Dilma para atacá-la, Serra manda seus jornais, revistas e tevês criarem o que denunciar, um factóide talhado para agir na mentalidade majoritária – mas não única – do povo de São Paulo, o único Estado em que o serrismo-midiático tem parte tão significativa da população sob controle mental.

Algumas vezes, nos últimos anos, fiz prognósticos temerários (na época em que foram feitos), como o de que Lula passaria como um trator sobre a mídia e a oposição em 2006 ou o de que a crise financeira internacional no Brasil seria mesmo uma marolinha. Agora, faço outro desses prognósticos: Dilma já ganhou a eleição presidencial do ano que vem. 


 Escrito por Eduardo Guimarães às 22h31


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Jornalismo de campanha


Míriam Leitão manipula informações mais uma vez para desgastar a Dilma?

Leio, por dever de ofício de "caçador de besteiras na imprensa", no Blog da Míriam o post "Um gráfico vale mais do que mil palavras".

Ele foi elaborado por dois economistas, com informações do SIAFI que pouco têm a ver com a realidade quando o assunto é "investimento", como explicarei mais à frente.

Lá pelas tantas, temos essa jóia:

"Os problemas não se resumem a investir pouco. Os investimentos também são pouco eficientes, o que provoca aumento das despesas de custeio."

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"Os investimentos são pouco eficientes" é um juízo que precisa ser bem fundamentado, o que não ocorreu no post. É possível fundamentar esse juizo, Dona Míriam?

Começando pelo conceito de "investimentos", depois "eficientes" e finalmente "Os investimentos são pouco eficientes"?

Uma pergunta feita pela minha neta de três anos: existe algum número que seja o certo, o adequado, quando se analisa percentual de investimento em relação ao PIB, num arranjo institucional em que os investimentos da União, a cada ano, desde o governo Collor, são descentralizados para Estados, Municípios e iniciativa privada?

Outro ponto, como o gráfico se refere a percentual de investimento em relação ao PIB, os leitores do FBI querem saber como é que o economista conseguiu esse valor de agosto se a última informação de PIB é do período abril-junho?

Finalmente, todo mundo sabe (ou deveria saber) que as despesas orçamentárias do exercício apresentam um gigantesco "gap" entre investimento e custeio porque o primeiro utiliza Restos a Pagar do exercício anterior e o segundo não. Além disso, o ritmo de execução orçamentária nos três últimos meses do ano para investimentos é muito mais acelerado do que o ritmo das despesas de custeio.

Então, essa informação, ainda que deformada por não considerar os Restos a Pagar, será bem diferente quando for apresentada, em 2010, incluindo os Restos a Pagar que ocorrerão no período janeiro a março.

O economista José Roberto Afonso sabe disso. Mas qual a graça de informar corretamente?

À Míriam, que também sabe disso tudo, só interessa a informação manipulada. Dizem minhas fontes sigilosas que até remédio ela prefere os das farmácias de manipulação.

Faltou a Míriam informar que a Nota Técnica do economista José Roberto, que originou o post, foi elaborada para o Senador Tasso Jereissati, como mencionado no site do autor.

Que, a essa altura, já deve ter falado essas besteiras hoje, no Senado, ou o fará amanhã, e será repercutido pelas Organizações Serra, durante a semana.

Na verdade, em vez de "Um gráfico vale mais do que mil palavras" o título do post deveria ser "Esse gráfico não vale nada".

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Postado por Augusto da Fonseca no FBI - Festival de Besteiras na Imprensa

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segunda-feira, outubro 19, 2009

Ouvir o outro lado é ouvir o outro lado, sô!

Entrevista

O chefe guerrilheiro da Al-Qaeda fala sobre estratégia

14/10/2009, Syed Saleem Shahzad, Asia Times Online (Atol), em http://www.atimes.com/atimes/South_Asia/KJ15Df03.html 

 

Syed Saleem Shahzad é editor-chefe da sucursal no Paquistão de Asia Times Online.
Recebe e-mails em
saleem_shahzad2002@yahoo.com 

 

(Em ANGORADA, Waziristão Sul, fronteira com o Afeganistão.) Encontro de alto nível dia 9/10, no palácio presidencial, entre líderes civil e militares paquistaneses definiu uma operação militar contra os Taliban paquistaneses e a Al-Qaeda na área tribal do Waziristão Sul – definida pelos analistas como a região da qual nascem todos os conflitos regionais.

No mesmo momento, a Al-Qaeda está implementando o seu plano de jogo no teatro da guerra no sul da Ásia, como parte de sua campanha mais ampla contra a hegemonia global norte-americana que começou com os ataques contra os EUA, dia 11/9/2001.

O alvo da Al-Qaeda sempre é os EUA e seus aliados, como Europa, Israel e Índia, e nada sugere que essa estratégia venha a ser diluída em alguma espécie de aliança sob parâmetros estreitos com as resistências muçulmanas. Nesse contexto, a atividade militante dos combatentes paquistaneses é vista mais como uma complexidade extra, do que como parte da estratégia da Al- Qaeda.

Os combatentes militantes têm estado particularmente ativos nos últimos dias. Na 5ª-feira passada, um carro carregado de explosivos invadiu a muralha da embaixada indiana em Kabul, capital do Afeganistão, fazendo pelo menos 17 mortos. No sábado seguinte, militantes promoveram um audacioso assalto ao quartel-general paquistanês em Rawalpindi, cidade gêmea da capital Islamabad. Na 2ª-feira, um suicida detonou as bombas que carregava, numa cidade-feira na região do vale do Swat, matando 41 e ferindo 45 pessoas.

O Paquistão vive momento crítico, com praticamente todas as suas as forças armadas (quase 60 mil soldados) à volta do Waziristão Sul, para o que esperam que seja o assalto final contra o PTT (Pakistan Tehrik-e-Taliban), a Al-Qaeda e seus aliados das áreas tribais paquistanesas.

Nesses dias tensos, Mohammad Ilyas Kashmiri, um dos líderes que, segundo fontes da inteligência dos EUA seria o cérebro das operações militares da Al-Qaeda e cuja morte os EUA confirmaram erradamente depois de um ataque por teleguiados (aviões não tripulados) contra o Waziristão do Norte, recebeu o Asia Times Online para entrevista exclusiva.

Fui pessoalmente convidado e conduzido a local secreto na fronteira entre o Afeganistão e o Waziristão do Sul – área que é regularmente sobrevoada pelos teleguiados.

É o primeiro contato entre Ilyas e qualquer tipo de mídia, desde que se uniu à Al-Qaeda em 2005. Mohammad Ilyas Kashmiri é veterano comandante militar, ativo desde a luta contra a Índia, na disputa pela Cachemira.

Nos últimos meses, os militantes deram a impressão de estarem sob contenção. Vários dos principais líderes foram mortos em bombardeios pelos teleguiados no Paquistão, inclusive Osama al-Kini, natural do Quênia e chefe das operações externas da Al-Qaeda; Khalid Habib, comandante do Lashkar al-Zil ou "O Exército das Sombras", a força de combate da Al-Qaeda; Tahir Yuldashev, líder do braço da Al-Qaeda ligado ao Movimento Islâmico do Uzbequistão; Baitullah Mehsud, líder do PTT (Taliban do Paquistão), e vários outros.

Os Taliban paquistaneses também sofreram golpes do exército paquistanês nas áreas urbanas e tribais. E há negociações em curso para selar acordos de paz com alguns comandantes Taliban em várias províncias afegãs.

Na última semana, pelo menos nove soldados norte-americanos e várias dúzias de soldados do Exército Nacional Afegão [ing. Afghan National Army (ANA)] foram mortos num posto avançado na província de Nuristão –, além de mais de 30 soldados e oficiais afegãos, capturados e feitos prisioneiros pelos Taliban.

Esse ataque foi complementado por uma série de outros ataques contra bases da Otan nas províncias do sudeste, em Khost, Paktia e Paktika, que obrigaram o general Stanley McChrystal, comandante dos EUA na Região, a retirar todos os seus soldados de postos localizados em áreas remotas e realocá-los em centros urbanos mais populosos.

Assim se criaram enormes espaços de ação para os Taliban, nos quais podem operar livremente – ou, dito de outra forma: se o exército paquistanês insistir em conduzir operações no Waziristão Sul, os militantes estarão em condições de cruzar facilmente a fronteira para obter direitos de "santuário".

Os ataques dos últimos dias também mostraram que os militantes ainda têm capacidade para atacar alvos importantes, praticamente quando e onde queiram. E mostram também que o teatro da guerra está sendo redesenhado; no novo desenho, o Paquistão terá de realocar seus soldados, tirando-os do front leste (Índia) para pô-los no front oeste (Afeganistão), onde o Taliban é hoje o inimigo n.1.

Washington planeja mandar pelo menos mais 40 mil soldados para o Afeganistão – e a Índia complementará esses esforços com serviços de inteligência e especialistas militares contra o inimigo comum: os grupos de guerrilheiros muçulmanos.

A próxima batalha

Nessa entrevista, Ilyas Kashmiri fala sobre o que pensa sobre a próxima batalha, a que alvos visará, e como a próxima batalha terá consequências para o ocidente (na medida em que levará à desestabilização de um Estado muçulmano, como o Paquistão).

O contato com o jornal Asia Times Online começou por um telefonema de militantes, dia 6/10, convidando esse correspondente para a cidade de Mir Ali, no Waziristão Sul. Sem explicações nem motivos. Dia seguinte, viajei para Mir Ali, cidade que ao longo de todo o ano passado foi pesadamente atacada por bombas lançadas pelos teleguiados dos EUA. Sete horas de viagem ininterrupta, e fui recebido por um comando de homens armados, que me levaram para uma casa de um dos grupos tribais locais.

"O comandante [Ilyas Kashmiri] está vivo. Você sabe que o comandante jamais antes falou à mídia, mas, dado que todos parecem convencidos de que teria morrido num bombardeio pelos teleguiados [em setembro], o Conselho [Shura] da al-Qaeda decidiu que essa entrevista aconteceria para desmentir definitivamente o noticiário sobre sua morte. Escolhemos um jornal independente, e a Shura aprovou o seu nome" – disse-me, logo que chegamos à casa, uma pessoa que eu conheci como o braço direito de Ilya na famosa Brigada 313. Essa Brigada, reunião de vários grupos jihadistas, combateu durante vários anos contra a Índia, na Cachemira administrada pela Índia.

"Você terá de ficar nessa sala, até que voltemos para informá-lo sobre o passo seguinte. Aqui, você escutará o som dos teleguiados. Portanto, é mais seguro que permaneça nessa sala. Toda a área está cheia de Taliban, mas também de informantes. Qualquer informação sobre a presença de estrangeiros numa casa dessa área provocará ataque massivo dos teleguiados" – disse ele.

Dia seguinte, fui transferido para outra casa em local que não vi; cerca de  três horas de viagem. Durante todo o tempo fui acompanhado por escolta armada. Fui informado de que não deveria falar com eles; e eles estavam proibidos de falar comigo. Ali é o mundo interno da Al-Qaeda. Finalmente, na manhã do dia 9/10, alguns homens armados chegaram num carro branco.

"Por favor, deixe aqui todos os seus aparelhos eletrônicos. Nem celulares, nem câmeras, nada. Providenciaremos papel e caneta para anotar a entrevista" – instruções claras. Mais várias horas de jornada nada confortável (estradas e trilhas de lama, desfiladeiros entre montanhas) e chegamos a uma sala na qual Ilya nos encontraria.

Depois de algumas horas, de repente, ouvi o ruído de um motor de carro grande. A minha escolta e todos os homens presentes na sala perfilaram-se em posição de "sentido" (todos armados com [metralhadora] AK-47s e cinturões de munição).

Ilyas entrou. Um homem alto (mais de 1,80m), com turbante bege e qameez shalwar (camisa e calças tradicionais) brancas, com a AK-47 ao ombro e um cajado de madeira à mão; e cercado por uma escolta pessoal dos famosos soldados da invencível Brigada 313.

Ilyas usa agora uma longa barba branca, tingida com henna avermelhada. Aos 45 anos, ainda é ágil e musculoso, apesar das cicatrizes de guerra – perdeu um olho e falta-lhe um dos dedos. Apertou-me a mão com firmeza.

O dono da casa serviu imediatamente o almoço – e sentamos sobre o tapete para comer.

"Então, o senhor sobreviveu a um terceiro ataque de teleguiados. Por que a CIA está sempre no seu encalço?" – perguntei.

Uma pergunta retórica. Mohammad Ilyas Kashmiri é um dos mais altos comandantes da Al-Qaeda. O Paquistão oferece 50 milhões de rúpias (600 mil dólares) por sua cabeça. Sua posição varia, conforme o veículo de mídia ou a agência de informações. Para uns, seria o comandante-em-chefe das operações globais da Al-Qaeda; para outros, seria o comandante da ala militar da Al-Qaeda.

A Al-Qaeda está hoje dividida em três esferas; Osama bin Laden é sem dúvida símbolo do movimento; a ideologia e a estratégia política geral são definidas por Ayman al-Zawahiri. E cabe a Ilyas, com sua incontestável vastíssima experiência como chefe guerrilheiro, converter em realidade a visão estratégica, obter recursos e acertar os alvos; é homem que prefere operar nas sombras, sem chamar a atenção.

Suas bases, suas atividades, seus movimentos sempre foram protegidos por segredo absoluto. Mas a prisão de cinco de seus homens no início do ano, no Paquistão, ajudaram a levantar uma ponta do véu. As informações obtidas desses prisioneiros orientaram os ataques da CIA (e seus teleguiados não tripulados) contra ele: o primeiro em maio; depois, dia 7/9, quando a inteligência paquistanesa anunciou sua morte; e novamente dia 14/9, quando a CIA declarou-o morto e festejou o sucesso do atentado como uma das grandes vitórias de sua "guerra ao terror".

"Eles estão certos. Conhecem bem o inimigo deles. Sabem quem sou e o que quero" – Ilyas respondeu com orgulho.

Nascido em Bimbur (ex-Mirpur) no vale do Samhani na Cachemira administrada pelo Paquistão, dia 10/2/1964, Ilyas completou o primeiro ano do curso de comunicações da Universidade Aberta de Allama Iqbal, em Islamabad. Abandonou os estudos quando as atividades da Jihad passaram a exigir dedicação integral.

O Movimento de Libertação da Cachemira foi seu primeiro campo de militância; daí passou para o movimento Harkat-ul Jihad-i-Islami (HUJI), até chegar ao comando da legendária Brigada 313. A Brigada converteu-se no mais poderoso grupo ativo no sul da Ásia, uma rede que inclui Afeganistão, Paquistão, Cachemira, Índia, Nepal e Bangladesh. Segundo informes da CIA, encontram-se pegadas da Brigada 313 também na Europa; e são considerados capazes de organizar o ataque que aterrorizou Mumbai em novembro último.

Não há qualquer documento sobre a vida de Ilyas – e o que há são informações contraditórias. Mas todas as agências de inteligência do mundo descrevem-no como o líder guerrilheiro mais eficaz, mais bem-sucedido e mais perigoso do mundo.

Deixou a Cachemira em 2005, depois de, pela segunda vez, ser libertado das prisões da ISI (Inter-Services Intelligence) e seguiu para o Waziristão Norte. Já havia sido preso por forças indianas, mas fugiu. Foi então preso pela ISI, suspeito de ter organizado um ataque ao então presidente Pervez Musharraf, em 2003, mas foi absolvido e libertado. A ISI novamente prendeu Ilyas em 2005, depois de ele ter-se recusado a encerrar suas operações na Cachemira.

Sua reinstalação na difícil região da fronteira causou calafrios em Washington – quando os relatórios da inteligência alertaram para o risco de ele, pela impressionante experiência naquela região, ser capaz de converter padrões simplórios de combate tradicional no Afeganistão, em audaciosa e moderna guerra de guerrilhas.

A folha corrida de Ilyas fala por si só. Em 1994, lançou a operação al-Hadid na capital indiana, Nova Delhi, para libertar alguns de seus companheiros jihadistas presos. Sua célula, de 25 combatentes, incluía Sheikh Omar Saeed (que sequestrou o jornalista norte-americano Daniel Pearl em Karachi em 2002) como porta-voz. O grupo sequestrou vários estrangeiros, entre os quais turistas norte-americanos, israelenses e britânicos e levou-os para Ghaziabad, próximo de Delhi. Exigiram então que as autoridades libertassem seus companheiros, mas as autoridades optaram por atacar o quartel-general dos jihadistas. Sheikh Omar foi ferido e preso (mais tarde, foi libertado, em troca dos passageiros de um avião indiano sequestrado). Ilyas escapou incólume.

Dia 25/2/2000, o exército indiano matou 14 civis na vila de Lonjot, na Cachemira administrada pelo Paquistão, depois que grupos guerrilheiros cruzaram a Linha de Controle [ing. Line of Control (LoC)] que divide as duas Cachemiras. Os guerrilheiros voltaram para o território indiano com três meninas paquistanesas sequestradas e jogaram as cabeças decepadas das três sobre o acampamento dos soldados paquistaneses.

No dia seguinte, Ilyas comandou uma operação de guerrilha contra o exército indiano em Nakyal, depois de novamente cruzar a Linha de Controle com 25 soldados da Brigada 313. Sequestraram um oficial do exército indiano que depois foi decapitado. De volta ao território paquistanês, a cabeça foi exibida no bazaar de Kotli, Paquistão.

A operação mais importante do currículo de Ilyas aconteceu no acampamento de Aknor, da Cachemira administrada pela Índia, contra forças do exército indiano, logo depois do massacre de muçulmanos na cidade indiana de Gujarat, em 2002. Em movimento milimetricamente planejado, envolvendo dois grupos de combatentes da Brigada 313, generais, brigadeiros e outros altos oficiais indianos foram levados à cena do massacre dos muçulmanos. Dois generais foram feridos (em três guerras, jamais o exército paquistanês conseguiu ferir um único general indiano) e vários brigadeiros e coronéis foram mortos. Essa foi a derrota mais fortemente simbólica que a Índia sofreu, em toda a longa luta pela Cachemira.

Apesar do que dizem relatórios e jornais, Ilyas jamais serviu como soldado, nem das forças especiais nem do exército paquistanês. Jamais teve treinamento formal de estratégia ou combate. Mas há 30 anos, desde quando abraçou a Jihad afegã contra os soviéticos, a partir do movimento HUJI, dedica-se a acumular expertise em guerra de guerrilhas; hoje, é especialista também em explosivos.

Em 2005, imediatamente depois de chegar ao teatro da guerra do Afeganistão, os grupos de combatentes da Cachemira redefiniram o movimento de resistência liderado pelos Taliban, a partir dos ensinamentos de estratégia "do tripé", do general vietnamita Vo Nguyen Giap. Para os Taliban, o fundamento da luta teria de ser cortar as linhas de suprimento da Otan, separando-as dos quatro lados do Afeganistão.

Ao longo dos anos, Ilyas tem-se deliberadamente preservado nas sombras, sem buscar qualquer destaque na hierarquia dos militantes. Na ação, é exatamente o contrário, mas jamais fez qualquer pronunciamento político nem reivindicou méritos ou responsabilidade por qualquer operação.

Sua Brigada 313 é sempre lembrada em todas as ações de alto impacto, como no ataque em Mumbai e outros no Afeganistão; nas operações da Al-Qaeda na Somália; e também, em vários casos, também no Iraque.

"O senhor acredita que a operação no Waziristão Sul será 'a mãe de todas as operações' na região, como alguns analistas têm dito?" – perguntei-lhe depois do almoço, quando só estávamos na sala ele, eu e seu guarda-costas pessoal.

"Não sei brincar com as palavras como fazem os jornalistas em entrevistas" – respondeu ele. "Sou comandante de campo, sempre fui comandante de campo e só conheço essa linguagem. Portanto, responderei na linguagem que conheço melhor." (Ilyas falou quase sempre em Urdu, com um pouco de Punjabi.)

"Saleem, explicarei então os elementos básicos do cenário de guerra em que estamos e, com isso, explicarei toda a estratégia dos combates futuros, aqui. Os que planejaram a guerra em que estamos trabalharam para trazer o grande Satã [os EUA] para uma armadilha, para um pântano [o Afeganistão]. O Afeganistão é o único local no mundo no qual o caçador pode escolher sua armadilha preferida.

"Há desertos, rios, montanhas, além dos centros urbanos. Assim pensaram os planejadores dessa guerra, que já estavam cansados e enojados das intrigas globais do grande Satã; os que planejaram essa guerra querem o fim do grande Satã, para que esse mundo seja lugar de paz e justiça. Mas o grande Satã está cheio de arrogância, sente-se superior, e pensou que os afegãos seriam como estátuas indefesas, nas quais se pode bater pelos quatro lados, com as grandes máquinas de guerra do grande Satã; que os afegãos não teriam nem poder nem capacidade para retaliar.

"Com essa ilusão, uma grande aliança dos poderes do mundo moveu-se para o Afeganistão. Contudo, porque suas concepções são erradas, aos poucos foram sendo enredados aqui, na armadilha que é o Afeganistão. Hoje, a Otan não tem qualquer significado ou qualquer importância. Já perderam a guerra no Afeganistão. Mas, ao perceberem a própria derrota, desenvolveram uma ideia de que a batalha não seria lutada no Afeganistão, mas de fora do Afeganistão, quero dizer, nos dois Waziristãos, do norte e do sul. Na minha opinião, essa tese militar é uma miragem que criou uma situação complexa nessa Região e desencadeou reações e contrarreações. Não gostaria de entrar em detalhes, mas, para mim, houve um tipo de desvio. Como comandante militar, vejo que a armadilha que é o Afeganistão funcionou bem, mais uma vez. Acertamos todos os nossos alvos militares" – disse ele.

Respondi que a Brigada 313 é da Cachemira. Que nada tem a ver com o Afeganistão. Que o fato de a Brigada 313 ter saído da Cachemira foi, só ele, prova de que há mãos estrangeiras envolvidas no Afeganistão.

"Seu raciocínio está errado desde a base. Essa guerra está sendo lutada de fora do Afeganistão. Sua visão é uma compreensão descontextualizada de toda a situação. Se você considera minha história e a Brigada 313, veja que eu decidi unir-me individualmente à resistência afegã; e tinha razões para isso. Todos sabem que há apenas dez anos, eu combatia uma guerra de libertação pelo meu país, a Cachemira.

"Depois, percebi que décadas de lutas políticas e armadas não fariam avançar uma polegada na direção de resolver aquela questão. Mas a questão do Timor Leste foi resolvida rapidamente. Por quê? Porque todo o jogo estava nas mãos do grande Satã, os EUA. Organizações como a ONU e países como a Índia e Israel são simples extensões dos recursos do grande Satã. Por isso, a questão palestina continua sem solução, como a Cachemira e o suplício do Afeganistão também continuam sem solução.

"Então, eu e vários outros em todo o mundo percebemos que analisar a questão sob esse prisma político regional estreito era uma abordagem errada. O jogo aqui é completamente diferente; nesse caso, uma estratégia unificada é obrigatória. Se eu desejo libertar minha terra natal, a Cachemira, então sou obrigado, antes, a derrotar a hegemonia global dos EUA. Pensando assim, decidi que tinha de participar dessa guerra do Afeganistão. Por isso vim para cá."

Ilyas continuou: "Quando vim para cá, vi que meu movimento fora acertado; vi como os poderes regionais do mundo operam sob o guarda-chuva do grande Satã e como todos eles se ajudam nos seus grandes planos. Vê-se isso bem claro aqui no Afeganistão." Acrescentou também que a estratégia regional de guerra da Al-Qaeda, e o ataque a alvos na Índia visam, simplesmente, a minar a força dos norte-americanos.

"A RAW [Ala Indiana de Pesquisa e Análises] tem centros de comando nas províncias afegãs de Kunar, Jalalabad, Khost, Argun, Helmand e Kandahar. As empresas de construção de estradas servem para dar cobertura às operações militares. Por exemplo, o contrato para construir estradas da cidade de Khost até a área tribal de Tanai é controlado por uma empresa cujo presidente é coronel do exército indiano. Em Gardez, as empresas de telecomunicações dão cobertura a operações da inteligência indiana. Os empregados operam com nomes muçulmanos, mas todos, de fato, são indus."

"Nesse caso, o mundo deve esperar novos ataques como o de Mumbai?" – perguntei.

"De nada adiantará que esperem. Mumbai é nada, comparado ao que já está sendo planejado" – Ilyas respondeu.

"Contra Israel e os EUA?" eu perguntei.

" Saleem, não sou clérigo jihadista tradicional e não gosto de muitas palavras e slogans. Como comandante militar, posso dizer-lhe que cada alvo tem uma história, com motivos e momento específicos. Você terá suas respostas à medida que forem oportunas e necessárias" – disse Ilyas.  

Enquanto anotava as suas falas, eu pensava que há apenas alguns anos, aquele homem era o orgulho do exército do Paquistão, sua pérola mais valiosa. Os oficiais de mais alta patente orgulhavam de ser convidados para visitá-lo em sua base na Cachemira; passavam temporadas com ele; ouviam-no falar; ouviam contar e contavam as lendas que o cercavam e seus sucessos guerreiros. Mas ali, naquele dia, eu tinha à minha frente outro homem – um homem condenado como terrorista pelo establishment militar paquistanês, com a cabeça a prêmio.

"O que o levou a juntar-se à Al-Qaeda?", perguntei.  

"Todos somos vítimas do mesmo tirano. Hoje, todo o mundo muçulmano está em guerra contra os EUA e por isso todos concordam com Sheikh Osama. Se todo o mundo muçulmano fosse chamado a eleger um líder, elegeriam ou Mullah Omar [líder Taliban] ou Sheikh Osama."   

"Se é assim, por que há um grupo de militantes que faz guerra contra Estados muçulmanos, como o Paquistão? O senhor acha que isso faz sentido?"

"Nossa batalha não pode ser contra muçulmanos ou crentes. Como já disse, o que hoje acontece no mundo muçulmano é uma nova complexidade, surgida por causa dos jogos de poder dos EUA, que levaram a reações e contrarreações. Esse é outro debate, completamente diferente, e me desviaria do assunto real. O jogo verdadeiro é lutar contra o grande Satã e seus aderentes" – respondeu ele.

Perguntei: "O que aconteceu, para que o senhor passasse, de companheiro bem-amado, a o mais odiado inimigo, aos olhos do establishment militar paquistanês?

"O Paquistão é meu país natal bem-amado e todos que aqui vivem são nossos irmãos, irmãs, parentes. Eu jamais pensaria em lutar contra os interesses deles. O exército do Paquistão jamais se pôs contra mim. Contra mim, são alguns elementos, que me põem como inimigo para encobrir a fraqueza deles mesmos e agradar aos patrões" – foi sua resposta.

"O que é a Brigada 313?"

"Nada lhe posso dizer, exceto que guerra é questão de táticas; e a Brigada 313 é especialista em táticas; ler a mente do inimigo e agir por essa pauta. O mundo pensou que o Profeta Maomé só deixou mulheres. Esqueceram que também há homens que não conhecem derrota. O mundo só tem tido contato com ditos muçulmanos que seguem o vento e não conhecem a própria vontade. Não pensam pela própria cabeça, não seguem a própria vontade, por regra própria. O mundo ainda não conhece muçulmanos reais. Até aqui, só ouviram Osama e Mullah Omar. Há milhares de outros. Os lobos só respeitam a garra de ferro do leão; não se criam leões pela lógica de ovelhas" – disse ele.

Com a chegada da noite, a conversa acabou. Dia seguinte, foi implantado o toque de recolher no Waziristão Norte, preparação para a grande operação na Região, e tive de sair de lá. Mohammad Ilyas Kashmiri também mudou de pouso, como faz regularmente. Assim escapa aos mil olhos dos teleguiados Predator.


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