"Eu seria ingênuo se acreditasse nisso", diz Lembo
Quarta, 23 de agosto de 2006, 20h58
O governador paulista Cláudio Lembo afirmou que "seria ingênuo" se acreditasse na suposta ligação entre PT e PCC.
Perguntado pela Rádio CBN sobre a reportagem publicada nesta quarta pela Folha de S. Paulo, que fala de investigações que ligariam o PCC ao PT, ele disse que acha o assunto "superficial".
Lembo afirmou ainda que sabia do assunto desde o primeiro ataque, em maio, e, na ocasião, orientou o secretário de segurança a instaurar sindicância necessária e esquecer do episódio publicamente. "Não há porque dar ênfase a isso", disse.
Questionado sobre o que levaria os presos a falarem no PT e atacar o PSDB, ele respondeu:
"Sei lá. Você sabe, uma pessoa presa tem um tempo enorme e eu diria a você que cérebro vazio é muído de ar então se pensa em tudo até para criar um problema político social e externo. Eu não dou importância a isso não"
A Secretaria de Segurança Pública divulgou em seu site na noite desta quarta uma nota em que desmente reportagem publicada pela Folha de S.Paulo sobre investigações que ligariam o PCC ao PT. A SSP informa que "a polícia abriu inquérito para investigar a autoria dos ataques", e não a suposta relação do partido com a organização criminosa.
Com o título "Inquérito investiga se há ligação entre PCC e petistas"', a reportagem da jornal mostra seqüência de conversas já reveladas por Terra Magazine, em 9 de agosto (leia aqui), mostra dois criminosos que falam em atacar "políticos todos, menos do PT".
Leia íntegra da nota da SSP:
"É falsa a informação de que a polícia de São Paulo investiga a existência de ligação entre presidiários de facção criminosa e militantes de partido político. A polícia abriu inquérito para investigar a autoria dos ataques, como informamos ontem ao repórter André Caramante, por escrito. Como ficou sabendo da existência de interceptações telefônicas em que criminosos ordenavam ataques a políticos, a polícia pediu à Justiça para ter acesso a essas gravações. O mais é especulação da reportagem. Aproveitamos para desmentir cabalmente que o secretário de Segurança, Saulo Abreu, tenha recebido essas gravações."
Terra Magazine
Berzoini diz que ligação é armação
Terra Magazine - Terra Magazine publicou há 14 dias trechos de diálogos entre criminosos ligados ao PCC que ameaçavam "atacar políticos do PSDB". Hoje, a Folha de S. Paulo publica outros trechos do que parece ser a seqüência desta mesma conversa, mas já identificando os criminosos, como "Moringa" e "Magrelo", e datando a conversa de 12 de maio, e não 12 de junho segundo as informações que havíamos publicado. Na conversa se diz que é "atacar políticos do PSDB, menos do PT". O que o senhor tem a dizer?
Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT - É uma armação, aliás mais uma, que tem a óbvia participação do secretário de Segurança de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho. Quem o conhece e ao seu grupo de pessoas em São Paulo sabe como eles operam.
Ao que o senhor se refere? Por exemplo, no caso do Castelinho (ação da polícia em março de 2002 quando 12 criminosos foram mortos na estrada Castelinho, na região de Sorocaba), quando eles armaram um grupo, o Gradi, que supostamente seria para reprimir o crime organizado e que, na verdade, aquilo foi um "aparelho" criado pelo grupo do Saulo.
Existiria vinculação entre o PCC e alguém do PT? Isso é armação, é parte da campanha do Saulo. Quando ele vai para a TV Bandeirantes, como ele foi num outro dia, e dá entrevistas que "tem ligação, sim" entre PT e PCC, e lança supostas insinuações entre Gilmar Tatto (ex-secretário dos Transportes de Marta) com perueiros que estariam participando de atos ilegais, fica claro que estão armando.
Essa história do Gilmar Tatto... ...o Tatto é um político que se reúne com centenas, com milhares de pessoas, como qualquer um que faça política.
Vocês conheciam essas denúncias? Isso está sendo "trabalhado" por eles já há muito tempo, como é que só aparece agora quando a eleição avança?
Na fita eles falam em atacar "políticos todos, funcionários do PSDB, menos do PT". Eles dizem que essa conversa é 12 de maio, estamos em agosto. Quem arma um esquema logístico para aterrorizar São Paulo - que há 12 anos está sob comando da polícia deles - quem monta um esquema para aterrorizar como esses criminosos montaram, quem mata meia centena de policiais em 48 horas, se quisesse que dificuldade teria para, a essa altura, já ter atingido políticos de qualquer partido? Isso é forçar a barra, e é extremamente irresponsável, para dizer o mínimo.
Por quê? No mínimo, porque está dando uma péssima idéia, e indicação, para criminosos. E cabe uma pergunta: exatamente por quê agora?
Vocês já sabem a data em que a polícia de SP abriu inquérito para investigar isso? Essa é uma grande pergunta. Porque a irresponsabilidade se torna ainda mais flagrante se isto está há tempos nas mãos deles e eles não comunicaram à população.
Mas já havia quem soubesse... ...claro que já. O ACM foi à Tribuna do Senado na semana retrasada para falar desse assunto...
... O Bornhausen em 12 de julho... ...Serra, Alckmin e o próprio Saulo já vinham fazendo insinuações, tentando montar esta escada, criar um ambiente.
O senhor acha que isso pode atingir o PT eleitoralmente? O povo sabe que não se pode controlar a língua de bandidos, como parece ser o caso desta gravação, o povo sabe quem é o PT, conhece a sua história, sabe que esse tipo de armação já é feito contra o PT há muito tempo. Basta lembrar o caso dos sequestradores do Abílio Diniz em 1989.
Vocês não temem uma "contaminação" na eleição? Esse é um risco pequeno. Muito mais grave é quando se usa a polícia para produzir fatos tentando influenciar numa eleição. Isso, sim, é uma ameaça à democracia. Eles estão passando todos os limites da convivência democrática.
Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1103626-EI6578,00.html
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