quinta-feira, agosto 24, 2006

As aventuras tucanas da semana



FHC, LACERDA E BILL CLINTON

22/08/2006 14:12h
Paulo Henrique Amorim

“As famílias felizes são todas iguais. As infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.”
Esta não é uma frase de um correligionário de Geraldo Alckmin, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Esta é a primeira frase do romance Ana Karenina, de Leão Tolstoi. E a mesma frase com que o ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, abriu, em Washington, uma reunião de emergência de ministros da Fazenda latino-americanos, para anunciar que o Real e o cambio fixo tinham ido para o vinagre. Isso aconteceu em setembro de 1998.
No dia 4 de outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso foi reeleito Presidente.
De setembro de 98 a 12 de janeiro 1999, o Real sobreviveu, segundo um jornalista americano (1), por um ato de levitação. Quando o corpo finalmente caiu e Malan voltou a Washington e ao FMI, Malan “não tinha menor idéia do que fazer”. (2)
Entre setembro de 98 e janeiro de 99, Bill Clinton reelegeu Fernando Henrique Cardoso.
Porque foram Bill Clinton e seus Secretários do Tesouro, Robert Rubin e Larry Summers, quem “persuadiram” o FMI a sustentar o Real até que Fernando Henrique fosse reeleito. (3)
Se Fernando Henrique fosse outro, teria saudades de Bill Clinton e não de Carlos Lacerda. Pelo menos por gratidão.
Lacerda foi um golpista.
Ajudou a dar o golpe em Vargas.
Trabalhou todos os dias para dar o golpe em JK, na Radio Globo (foi o que me disse JK, numa entrevista, em 1972).
Ajudou a dar o golpe contra Jango.
Lacerda faria qualquer coisa para tomar o poder.
Não fica bem um presidente eleito duas vezes pelo voto popular prever um “curto-circuito”, quando faltam menos de dois meses para uma eleição. E muito menos sentir saudades de alguém como Carlos Lacerda, “... que tinha essa capacidade de dramatizar e de cobrar. A meu ver, cobrava errado mas tinha conseqüência", disse Fernando Henrique. (4)
Que conseqüência ?, pergunta-se. As cobranças de Lacerda tinham a “conseqüência” de provocar um “curto-circuito” institucional ?
Quer dizer, então, que Fernando Henrique prega o golpe ? O curto-circuito, como conseqüência de uma cobrança à Lacerda ?
É disso o que precisamos ?
Ou de eleições, como aquelas que elegeram Fernando Henrique – e Bill Clinton ?
Clinton, como Fernando Henrique, se elegeu presidente duas vezes. Depois que deixou a presidência instalou uma fundação que tem a finalidade de fazer o bem.
Na ultima viagem que fez à África (5), esteve na África do Sul, com Mandela e Bill Gates, no Lesotho, Nigéria e Libéria para inspecionar investimentos da fundação no combate à AIDs; no Malawi e em Ruanda para ver como estão projetos de desenvolvimento.
Daqui para frente, Clinton pretende dedicar a maior parte do tempo à luta contra o aquecimento da Terra.
Desde que deixou a presidência, não se tem noticia de um ato de Fernando Henrique em beneficio do outro.

Notas:
(1), (2) e (3) - Livro “The Chastening”, de Paul Blustein, editora BBS, 2001, Cap 11 e 12, págs 335 a 369.
(4) – Folha de S. Paulo – pág A6 – 22 de agosto de 2006, “FHC diz que é preciso alguém como Lacerda”
(5) – Jornal Financial Times, - Arts & Weekend – 18 de agosto, 2006, “Charm offensive”

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