quinta-feira, fevereiro 16, 2006

SOBRE: FOLHA DE S.PAULO, 15/2/2005. “Direita, volver!”. Na edição impressa e na Internet, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1502200606.htm
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Bar é lugar de respeito. (Jornal, também.)
Não sei o que mais surpreende na matéria “Direita, volver!” da Folha de S.Paulo: se a enxurrada de comentários ‘políticos’ à moda D. Hebe; se a evidência de que o jornalismo à moda D. Hebe aparece, aqui, assinado pelo jornalista editor do caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo (não é, pois, bobajol de foca: é bobajol de editor); ou se a espinafração universal dos bares, que esse editor maluco tenta, hoje, em zilhões de linhas e tonterías (como diria o presidente Chavez, sempre preciso).
Esse ‘tom’ de sofá de D.Hebe, pra discutir temas políticos, por mais que hoje apareça mais na Folha de S.Paulo (e até nos editoriais!) do que em outros jornais, já se pode dizer que seja uma espécie de ‘padrão de anti-qualidade’ de praticamente todos os comentários políticos em praticamente toda a mídia impressa (embora não só nela), no Brasil que herdamos, depois de ultrapassados os tristes tempos da “República dos ‘sociólogos’”, de triste memória.
A degradação da qualidade da discussão política, portanto, é parte da herança maldita que recebemos depois que demitimos de Brasília a República dos Professô-Dotô. Assim como já demos jeito em FHC et allii, logo logo daremos jeito, também, no horrendo jornalismo que se faz hoje, no Brasil. É questão de tempo, e chegaremos lá! (Brindemos ao futuro do Brasil, cada vez mais longe desse passado chatíssimo! Bebamos a isso! Cheers!)
Mas, sim, é verdade que, em matéria de jornalismo, e só pra começar, é perfeita sandice escrever que ‘ultimamente’ “passou a ser bacana o sujeito, numa festa ou numa mesa de bar, rodopiar a taça de vinho” e pôr-se a dizer um monte de besteiras. Primeiro, porque festa chata sempre existiu. Segundo, porque tudo depende, sempre, das festas e dos bares que alguém freqüente.
Foca analfabeto que fosse o ‘autor’ dessa besteira, ele já saberia que festa e bar é o seguinte: se estiver chovendo asnices, é só a gente trocar de mesa, de festa ou de bar.
Quem ficar em bar ou festa onde chovam asnices, fica porque tá gostando das asnices, ou porque tenha encontrado público pagante cativo para as suas pessoais asnices. No que me diga respeito, aliás, é melhor mesmo que esse cara fique; mudo-me eu, de bar ou de festa.
De bar e festa, portanto, o editor da Ilustrada que escreveu “Direita, volver!” não entende é naaaaaaaaaaaaada. Tá provado.
Há também, no que a Folha de S.Paulo publicou hoje, além do espinaframento inadmissível de todos os bares e festas, o problema de a matéria inventar notícia.
Eu, que sou especialista em festa e bar, nunca, em toda a minha (longa) vida, jamais pus os pés (e jamais pus a minha grana) em festa ou bar onde alguém que diga as besteiras que a Ilustrada mente que ouviu seja deixado livre e solto para dizer as besteiras que queira, sem, correspondentemente, ouvir o que merece. Nesse caso, portanto, falhou brabamente o jornalista que sequer fingiu que ouviu “o outro lado”, o bar do lado, a festa do outro quarteirão.
Mesmo que, vez ou outra, depois de adiantado em vinhos (e asnices) algum jornalista editor da Folha de S.Paulo se metesse a tentar dizer as besteiras que se lêem hoje na FSP, em bar ou festa das que eu freqüento, ele sempre seria objeto de risadas, primeiro; se insistisse, seria deixado falando sozinho. A festa continuaria em outro bar ou em outra festa. Festa, das que eu conheço, pra quem diga essas besteiras, acabava ali mesmo, na primeira das muitas besteiras que se lêem em “Direita, volver!”.
Outra coisa que jamais aconteceu, em zilhões de bares e festas que eu freqüento, é algum Mainardi ser tratado como “mais cultural”. Nas festas e bares que eu freqüento, todos os Mainardis são chamados por nomes deliberados por consenso democrático (todos podem dar palpite, e a maioria vence) justos e adequados ao personagem, nenhum deles publicável, em se tratando dos Mainardis.
Na última festa onde eu estive, aliás, alguém até disse que achava melhor ninguém mais falar no talzinho, mesmo que para falar muuuuuuuuuuuito mal, como todos, então, estavam fazendo, porque alguém teria ouvido que o talzinho, de pervertido que é, adora ser xingado (por isso, ele fez da provocação doentia o seu meio de vida). E se há coisa que não se faz, nunca, em bar bom, é facilitar a vida de gente pervertida. As perversões sempre arrasam qualquer bar.
CONTUDO, se acontecer, em festa boa e bar bom, de alguém se atrever a chamar o talzinho de “mais cultural”, aí, sinto muito ter de dizer, perigas de o tempo fechar, de vez.
Em bar bom, não se admite que ninguém, esteja bêbado ou não (e bêbados sempre são respeitados, como os loucos e as crianças, em bar que se preze), tente armar negociatas pautadas entre políticos salafrários e jornalismos salafrários. Bar é lugar de respeito.
FHC, por exemplo, de há muito que não é tema de conversa em nenhum bar que se preze, por bons motivos históricos. Fiquemos só com o mais importante: porque FHC nunca foi bom de bar.
O bar (como as festas) só tem graça, mesmo, se for comprometidamente democrático. Quanto mais o bar contribuir para uma celebração social democrática, para uma festa social democrática, melhor o bar. Para “merecer um bar”, como dizia o Francisco de Almeida Salles, patriarca dos bares do mundo, “o sujeito tem de ser capaz de sair de sua biografia para entrar na vida, quando adentra o bar”. Taí. FHC não sabe sair de sua biografia, pq FHC não tem vida emocional, pessoal, afetiva. FHC é um currículo acadêmico autista, fechado em si mesmo. FHC é uma caricatura. Caricaturas, em bares, só enchem o saco dos outros. Caricaturas não sobrevivem em bar bom, nem como assunto.
Jornalismo à moda da D.Hebe, ‘ciências sociais’ à moda diabo (e sempre tucanas), ‘literaturas’ de aula zonza (e sempre tucanas) e figurinhas de caricatura como “Primeira Leitura”, “Cebrap”, Marcos Nobre, Reinaldo Azevedo (esqueceram do Eduardinho Graeff?! O Mendonça de Barros?!), João Cezar de Castro Rocha (mas, quem, diabos, é João Cezar de Castro Rocha?!) definitivamente não entram em bar bom e festa boa, das que eu freqüento, nem como assunto. É verdade que, pelo que se lê hoje na FSP, essa malta faz totalmente qualquer negócio, pra ser assunto. Não adianta. Não são.
E vale o inverso: bar bom e festa boa jamais darão muita conversa a gente que confunda “calibre etílico” com “qualquer calibre”: o único “calibre” no qual o Prof. Simonsen sempre deu de dez em mim (pra dar um exemplo personalizado e qualificado pelo qual me responsabilizo totalmente) foi no calibre etílico do uísque que ele consumia. Nada contra o uísque consumido, é claro, nunca! Ruim é misturar uísque em quantidades hecatômbicas e ministério da economia da ditadura, né?!
Quanto a vários dos demais citados, duvido muito que estejam contentes, hoje, com o uso que a FSP (o editor da Ilustrada! O editor!) deu às suas palavras.
A aposta
Por exemplo: agora mesmo, no bar (bom) onde eu estava (o “Platibanda”, na Morato Coelho, na Vila Madalena), rolou uma aposta: alguém lá estará pagando uma rodada de boa e bela cerveja democrática a um outro-lá, se o professor Luiz Felipe de Alencastro Alencastro confirmar, que, sim, ele sabia que suas palavras seriam usadas num texto tão absolutamente fascista, e militante, como esse “Direita, volver!”, de hoje, na Ilustrada da Folha de S.Paulo.
O carinha lá, que propôs a aposta, disse que foi aluno do Prof. Alencastro, em Paris, e que o Prof. Alencastro, naquele tempo, era, sim, senhor, um homem inteligente. Que ele jamais trabalharia para a Folha de S.Paulo se ele soubesse, exatamente, o papel que a FSP está desempenhando, no Brasil, como agente de desdemocratização.
O outro carinha lá, que topou a aposta, disse que, se o Prof. Alencastro não sabe, sequer, o que a Folha de S.Paulo para a qual ele trabalha está fazendo no Brasil, como agente de desdemocratização, (e ele trabalha também no UOL, com a Lilian Witte Fibe), melhor alguém avisá-lo logo. Que onde o Reinaldo Azevedo seja citado lado a lado com o Prof. Alencastro, alguma coisa está brabamente errada, no mínimo, com o jornalismo, mas, provavelmente, com tudo.
Bom... os dois disseram que vão investigar, e semana que vem trazem provas. Ambos concordam que esse negócio de professor é coisa séria, e que ninguém pode deixar barato.
Bar bom e democrático é assim: ninguém mistura. Nunca, com certeza, em bar bom, se misturam itens tão completamente imiscíveis como jornalismo e militâncias de direita.

[assina] Caia Fittipaldi (dos Lingüistas Brasileiros para a Democracia/ Universidade Nômade / Campanha “Nenhum Brasileiro sem Resposta-na-ponta-da-língua, pra Responder à Folha de S.Paulo / Tricoteira Unidas / Mães do Planalto / Gaviões da Fiel) [para vários destinatários, campanhistas e outros]
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