quarta-feira, fevereiro 22, 2006


mídia travestida
Apoio de Bono à Lula irrita imprensa opositora
Por Mônica Simioni

Quem leu a edição do jornal Folha de São Paulo de ontem (21) certamente se assustou com o tom de uma das principais chamadas da capa do jornal: "Bono acredita em duendes progressistas do 3º Mundo". A matéria, assinada pelo editor do caderno Ilustrada, Marcos Augusto Gonçalves, ridiculariza desrespeitosamente as ações do líder do grupo U2, que é um reconhecido militante internacional na luta pela defesa dos direitos humanos.
Mas para Gonçalves, o problema é que Bono é um irritante líder "politicamente correto", que ele mesmo define da seguinte forma: "compulsão de chamar negros de 'afrodescendentes', falar em 'opção sexual', viver em permanente estado de solidariedade às minorias étnicas, colocar a culpa do terrorismo islâmico no Ocidente e recomendar filmes feitos nos cafundós do mundo sobre situações arcaicas e 'humanas'.
Com feroz indiferença e carregado de preconceito de classe, Gonçalves tenta convencer o leitor de tudo isso é falácia. E que, além disso, Bono é um equivocado. "Mal desembarcou no Brasil e já saiu correndo para emprestar seu prestígio a Lula".
Emprestar prestígio? Peraí. Sem dúvida Bono é um super artista pop conhecido mundialmente. Mas foi ele quem pediu um encontro com o presidente da República através do ministro da Cultura Gilberto Gil. Foi na Granja do Torto que Bono afirmou com todas as letras: "É um grande sonho estar aqui". O de conhecer Brasília e o de dialogar com Lula por mais de duas horas. E sim, sobre aquelas questões que não importam.
A empolgação de Bono com o governo brasileiro e seus programas, com destaque para o Fome Zero (que, inclusive, vai receber a doação da guitarra do líder do U2), irritou o editor da Folha. "É um programa possível. Para ter um programa desses, é preciso organização, tem que ter estratégia. Também não pode ser visto como algo só da esquerda. Para acabar com a fome, todos os atores têm que participar", disse Bono à imprensa brasileira, que quase não repercutiu as declarações.
O problema é que esse monte de propaganda do governo brasileiro que o artista irlandês fez - inclusive no show que realizou na última segunda-feira, televisionado pela Rede Globo - coincidem com a divulgação das três últimas pesquisas de opinião consecutivas - Ibope, Datafolha e CNT/Sensus - que registram uma recuperação sólida da avaliação do governo Lula e de liderança inquestionável na disputa presidencial.
Do outro lado, a oposição tem que assistir às trapalhadas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e à intensa e crescente disputa interna entre os tucanos para definir quem disputará contra Lula, se o prefeito José Serra, que prometeu há dois anos que não faria isso, ou se o governador que está lá atrás nas intenções de voto.
"Bono faz parte daqueles formadores de opinião do Primeiro Mundo Maravilha que acreditam em duendes progressistas do Terceiro Mundo. Estão sempre achando que vai brotar algo novo por aqui", diz Gonçalves numa direta referência à nova conjuntura política na nossa América Latina, constituída por governos eleitos democraticamente, essencialmente anti-neoliberais e cujas propostas se fundamentam na construção de alternativas a este modelo. Aí estão inseridos Brasil, Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolívia. E, neste ano marcado por eleições na região, podem ainda surgir novos atores.
O texto de Gonçalves também não é algo novo. É uma típica manifestação do desespero da oposição. Muito comum na imprensa latino-americana. Na Venezuela bolivariana também, onde veículos de imprensa se confundem com partidos políticos, com ausência de ética e profissionalismo, e excesso de características panfletárias.

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