quarta-feira, fevereiro 22, 2006


Viagem de Lula semeia universidades federais pelo Sertão

Na pose com os vaqueiros, sorrisos de orelha a orelha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está "de alma lavada", "feliz da vida". Foi o que ele não se cansou de repetir na bateria de discursos que fez nesta terça-feira, em Juazeiro (BA), Petrolina (PE), Arapiraca (AL) e Recife.
Alguns dirão que é porque as pesquisas pré-eleitorais lhe dão vantagem, a oposição não se entende sobre que será seu candidato. Ou porque a visita é ao Nordeste, onde a aprovação do seu governo é mais elevada, as pessoas vão esperá-lo e aplaudi-lo, e os vaqueiros encourados posam com ele para as fotos com um sorriso de orelha a orelha.
Em 2006, 1/5 dos cursos universitários
Mas Lula, o presidente que tem diploma de torneiro-mecânico fornecido pelo Senai, deu outra explicação para a sua ostensiva felicidade. Ele foi a estas cidades, e depois a Parnaíba (PI), Imperatriz (MA) e Marabá (PA), semear universidades federais pelo sertão.
É o que o Palácio do Planalto chamou "viagem temática". O tema é o maior programa de expansão que a rede federal de ensino já teve.
"Nós, ao terminar o ano de 2006, vamos estar construindo um quinto de tudo o que foi feito de curso universitário em toda a história de cursos universitários neste país", afirmou Lula.
"Nós decidimos que não é o jovem que tem que ficar perambulando o Brasil atrás da universidade, é a universidade que tem que ir atrás do jovem brasileiro onde ele está. É por isso que nós decidimos fazer essa quantidade de extensões que estamos fazendo, são 41. São quatro universidades novas, são seis faculdades que estamos transformando em universidade, e são mais 32 escolas técnicas, das quais 25 serão inauguradas até junho deste ano", proclamou.

Um novo mapa das universidades no Brasil
O mapa ao lado indica para onde vão os novos centros de ensino. Os nomes dos lugares dão uma idéia do quanto eles tendem a mudar o cenário da academia. Antes concentrada nas capitais, e em especial no Sul-Sudeste, ela passará a frequentar lugares como Curimataú, no sertão da Paraíba, ou o Vale do Jequitinhonha (MG), ou ainda a região do pampa gaúcho, a mais pobre do Rio Grande do Sul.
Lula manteve a linha de "colher o que plantou", falando mais de realizações que de política. Mas chegou até, por lapso ou esperteza, a dizer que voltaria a Arapiraca, em agosto (quando o novo campus começar a funcionar), para uma festa "se a legislação eleitoral não proibir".
Ao lado do presidente, junto com os prefeitos e governadores, estava o ministro da Educação, Fernando Haddad, e seu antecessor, Tarso Genro — autor do plano de expansão. Estava também Gustavo Petta, presidente da UNE, que segundo Lula "tem sido um baluarte".
Improvisos: toscos? simplórios?
Os improvisos presidenciais, que a oposição rotula de toscos ou simplórios, trataram de capitalizar o que há pouco tempo mal chegava a ser uma reivindicação das cidades visitadas. E foram também vacinando o público para a marcação oposicionista com a baixa escolaridade de Lula.
Ele disse, por exemplo, que uma coisa o inquietou, desde o tempo do Sindicato: "Muitas vezes, uma pessoa que já nasceu com condições de estudar, a quem nunca faltou dinheiro para comprar um caderno, nunca faltou dinheiro para viajar para o exterior para fazer curso de pós-graduação, essa pessoa pode ser muito culta, pode ser muito inteligente, mas essa pessoa não tem a sensibilidade e o sentimento dos outros milhões e milhões de brasileiros que não conseguem chegar à universidade", argumentou, para o aplauso da maioria sem-diploma.
E, em outra fala: "O que nós estamos fazendo? Nós não estamos fazendo nada mais, nada menos do que repartir para o povo pobre o dinheiro que nós arrecadamos dos ricos".
O destino do "companheiro boiadeiro"
Ou então esta tirada, dirigida a Haddad: "Imagine, Fernando, você como Ministro da Educação, poder chegar aqui daqui a dois ou três anos e ver um companheiro com aquela roupa de boiadeiro se formando doutor aqui, na Universidade Federal do Vale do São Francisco. Quem é que disse a ele que o destino lhe reservou montar num cavalo a vida inteira para correr atrás de uma rês perdida pela caatinga afora? Esse, na verdade, é o destino provocado por uma elite que nunca se lembrou dos pobres".
Os campi criados ou consolidados pelo programa do MEC estão em 21 unidades da Federação, quase sempre em áreas carentes em termos econômicos, sociais e educacionais. Com a conclusão do plano de ampliação, em 2008, o Ministério prevê o ingresso anual de 30 mil novos estudantes em cursos de graduação, e um acréscimo de 125 mil matrículas no sistema público federal. Ao todo, serão investidos R$ 592 milhões no programa de expansão.
Com agências
http://www.vermelho.org.br/diario/2006/0222/0222_lulanord.asp

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