quinta-feira, fevereiro 16, 2006

O imperialismo e Syriana

Em janeiro último, a ex-deputada Elizabeth Holtzman, do Partido Democrata (1973-1981), por Nova York, do Comitê de Justiça da Câmara no processo de impeachment de Richard Nixon, escreveu um longo artigo para a revista The Nation, cujo título elimina dubiedades: “O impeachment de G. W. Bush”.
Sim, despenca a popularidade do psicopata da Casa Branca e a ocupação do Iraque, repudiada, abala a unidade nacional norte-americana. Aqui, é bom recordar: não é possível um império manter por muito tempo múltiplas ofensivas em várias frentes, gerando uma situação que Edward Gibbon (1737-94), em “Declínio e queda do império romano” (Companhia das Letras, 1989), denominou de “extensão militar estratégica excessiva”, a propósito de ser uma das causas principais da débâcle de Roma. [A nosso juízo, inúmeras evidências apontam ocorrer algo similar aos EUA]
Sabe-se que coincidiu com o artigo da ex-deputada, logo na primeira semana daquele mês - numa explosão de violência em torno das “eleições” -, cerca de 120 iraquianos assassinados, além de se registrar incontáveis feridos, em atentados patrocinados pelos rebeldes da insurgência antiocupação; e, em dezembro último, mais de 2.500 cadáveres norte-americanos memorizavam o pânico da derrota no Vietnam. Entretanto, ao defender o impeachment, é no mínimo curioso Holtzman ter “esquecido” que o vice de Bush é Dick Cheney, ex-chefe do Pentágono.
Cheney é conhecido abutre de vidas humanas e destacado mercenário da engrenagem industrial do complexo petróleo-armamentos. Sem qualquer escrúpulo, acaba de se pronunciar abertamente em defesa da violação permanente de toda comunicação privada dos cidadãos norte-americanos, bem como fez lobby público em favor da lei que libera a tortura, pela CIA, naqueles por ela acusados de “terrorismo”.
Cheney, vice de Bush. Bush que dias atrás bradou, histérico: “Nós [os EUA] somos viciados em petróleo!”. “Vício” este que Johm Dimitri Negroponte - veterano facínora, fundador dos “contra” da Nicarágua e nomeado por Bush chefe-geral de todos as agências de espionagem dos EUA – justificou e explicou porque mantê-lo, no dia 2 de fevereiro passado, em depoimento ao Congresso. De acordo com esse bandoleiro yankee e ex-embaixador no México, a ascensão de Andrés López Obrador, forte candidato oposicionista a presidente do da República, significa “ameaça à segurança nacional” dos EUA, em particular ao controle, saque e pilhagem de recursos naturais do país pelo imperialismo - leia-se: o petróleo mexicano!
Pois bem. Quem quiser saber por inteiro qual o significado da frase cínica de Bush; do porque da volúpia pelo “óleo negro”, de Dick Cheney; e os motivos dos arreganhos do verme Negroponte, sobre o povo eo petróleo mexicano, não pode deixar de assistir à grande, crua e atualíssima denúncia dos crimes que perpetram as classes dominantes dos Estados Unidos da América ou do que elas são capazes de fazer com quem não seja subalterno a seus interesses.
Refiro-me a “Syriana – a indústria de petróleo” (EUA, 2005), impressionante filme, excelentemente dirigido pelo norte-americano Stephen Gaghan, bem como muito bem representado, especialmente por George Clooney, Matt Damon, e Jonh Hurt.
O filme faz convergir, entrelaçando paulatinamente, cinco pólos protagônicos: o dos ingentes sofrimentos dos trabalhadores mulçumanos e árabes da indústria petroleira; os dos interesses (em seguida conflitantes) dos aparelhos da CIA; os de um operador-conselheiro financeiro de grandes empresas de energia; os da aliança e luta sem quartel entre grandes chefões do petróleo, do centro do império; e os (combates intestinos) de uma família de Emir, ponta de lança e base das operações no Oriente médio. Bem ao lado, “Syriana” escancara a presença da espionagem e o célere jogo de sabotagem que já vem sendo montado pelo imperialismo norte-americano no Irã dos dias que correm.
Imperdível desmascaramento dos interesses mafiosos que brotam do interior da fratricida concorrência monopolista, comandados pelos barões do petróleo dos EUA, “Syriana” ainda põe a nu as conexões subterrâneas que atam o poder do dinheiro ao do Estado. Onde a tortura e o assassinato são, explicitamente, “naturalizados” como parte constitutiva do ritual da ideologia burguesa contemporânea.

Sérgio Barroso, Médico, mestre em Economia Social e do Trabalho (Unicamp). Membro do Comitê Central desde 1987, atuou na Comissão Sindical Nacional (1984-2003), trabalhando a partir de 2003 na Comissão Nacional de Formação e Propaganda (CNFP). Militante do PCdoB desde 1979, foi membro das diretorias do Sindicato dos Médicos (AL) e da Federação Nacional dos Médicos, da Executiva Nacional da CGT (1986-7), Coordenador Nacional da Corrente Sindical Classista (CSC), e da Executiva Nacional da CUT (1991 a 2000).

http://www.vermelho.org.br/diario/2006/0216/barroso_0216.asp?nome=Sérgio%20Barroso&cod=5383

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