LUÍS NASSIF
Da decisão sobre a TV digital brasileira participam quatro ministros: um que pensa que manda, o das Comunicações, Hélio Costa; dois que pensam, Sérgio Rezende, do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), e Luiz Fernando Furlan, do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior); e uma que pensa e coordena, Dilma Rousseff, da Casa Civil.Nos últimos anos, uma das grandes conquistas brasileiras foi aprender a negociar o "offset" nas grandes definições de compras ou de padrões definidos pelo governo. Ou seja, os ganhos extras que se obtêm da parte vitoriosa em uma negociação.Pessoas que participam das negociações atribuem a defesa incondicional do padrão japonês pelo ministro Hélio Costa -que tira poder de barganha dos negociadores brasileiros- a pura desinformação. Melhor assim.Em contato com a coluna, representantes do padrão japonês apresentam os seguintes argumentos em defesa de sua tecnologia:1) Em uma banda de 6 MHz, o ISBD (seu sistema) pode ser dividido em 13 segmentos, um para transmissão para aparelhos portáteis e 12 para os mais diversos procedimentos.2) No mesmo canal, pode-se transmitir para o móvel e para o fixo -e aí fica se entendendo melhor a defesa que os radiodifusores fazem do padrão japonês e a telefonia faz do europeu. O europeu DVBH exigiria uma torre de transmissão à parte para transmissão para os móveis. No japonês, o dono da cancela é o radiodifusor; no europeu, um operador neutro. Os japoneses afirmam garantir que, se a opção for por um operador neutro, seu sistema atende da mesma maneira. Bastará reservar uma faixa de 6 MHz que ele cumprirá as mesmas funções do europeu. E os europeus garantem que, quando o padrão for o MPEG4, uma antena apenas será suficiente para as duas transmissões.3.) No Japão, o modelo de negócio que cimentou a parceria entre radiodifusores e telefonia celular foi o seguinte: as imagens são distribuídas gratuitamente, os radiodifusores ganham na publicidade, ao conseguir criar alternativas ao horário nobre. Mas os links para compras interativas passam pelos canais da operadora de celular, ajudando a viabilizar a 3G (telefonia de terceira geração). E as operadoras ajudam a colocar aparelhos subsidiados no mercado.De qualquer modo, dificilmente a programação para o móvel será a mesma para o fixo. No móvel, os programas terão que ser, necessariamente, mais curtos, para se adaptar à condição do telespectador.Nas negociações, foram apresentadas três exigências pelo governo brasileiro:1) O sistema evoluir para o MPEG4, o que, aliás, é a tendência de toda geração nova de digitalização.2)Todo o middleware (os softwares aplicativos) ser desenvolvido no Brasil.3) O Brasil ter assento no Arib, o consórcio montado para definir o padrão japonês.Segundo os japoneses, não haveria problemas com a exportação de televisores para outros países. O que diferenciaria os diversos padrões seria apenas um chip que representaria 10% do custo final do produto (os europeus falam em 30%). Mudando o chip, pode-se vender para qualquer país do mundo. Essa opinião não é compartilhada pelos defensores do modelo europeu, pelo CPqD e pelos fabricantes.
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