A CIA, sucessora do Ofice of Strategic Services (OSS), dedicou-se não apenas à coleta de dados, mas a vários tipos de operações de guerra psicológica e paramilitares, conhecidas como PP ou KUKAGE, que jamais deveriam ser a ela atribuídas ou ao governo dos Estados Unidos e sim a outras pessoas ou organizações[5]. O ex-agente da CIA, Philip Agee reconheceu, em seu livro Inside the Company: Cia Diary, que essas operações são arriscadas porque quase sempre significam intervenção, pois visam a influenciar, por meios encobertos, os assuntos internos de outro país, com o qual os Estados Unidos mantém relações diplomáticas normais, e a técnica consiste essencialmente na “penetration”[6], buscando aliados desejosos de colaborar com a CIA. Daí que a regra mais importante na sua execução é a possibilidade de “plausible denial”, i.e., negar convincentemente a responsabilidade e a cumplicidade dos Estados Unidos com o golpe de Estado, ou outra operação, uma vez que, se fosse descoberto seu patrocínio, as conseqüências no campo diplomático seriam graves.
As operações de guerra psicológica implicam propaganda e divulgação, ou seja, campanha através da media, junto às diversas organizações estudantis, sindicatos, outros grupos profissionais e culturais, bem como junto aos partidos políticos, sem que a procedência das informações possa ser atribuída ao governo americano. Ela é efetivada, muitas vezes, por agentes da CIA, estacionados na Embaixada Americana como diplomatas, ou homens de negócios, estudantes ou aposentados, enquanto as operações paramilitares consistem na infiltração em áreas proibidas, sabotagem, guerra econômica, apoio aéreo e marítimo, financiamentos de candidatos nas eleições, suborno, assassinatos (executive actions) pela Division D, dentro do projeto conhecido como ZR/RIFLE[7], treinamento e manutenção de pequenos exércitos (covert actions) etc[8]. Essas operações tipificam a técnica do golpe de Estado, que a CIA desenvolveu e aplicou no Brasil e em diversos países da América Latina, nos anos 60 e 70 do século XX, radicalizando, artificialmente, as lutas sociais, até ao ponto de provocar o desequilíbrio político e desestabilizar governos (spoling actions), que não se submetiam às diretrizes estratégicas dos Estados Unidos. “In some cases, a timely bombing by a station agent, followed by mass demonstrations and finally by intervention by military in the name of the restoration of order and national unity – revelou Philp Agee, acrescentando que as operações políticas da CIA foram responsáveis por coups, que obedeceram ao mesmo padrão no Irã, em 1953, e no Sudão, em 1958.
Os agentes da CIA e seus mercenários nativos, encarregados de promover “hidden World War Three”[9], executaram no Brasil, desde 1961, as mais variadas modalidades de operações políticas (PP), covert action e spoiling action, engravescendo a crise interna e induzindo, artificialmente, o conflito político à radicalização, muito além dos próprios impulsos intrínsecos das lutas sociais, das quais a comunidade empresarial norte-americana participava como significativo segmento de suas classes dominantes. A técnica consistiu em induzir a radicalização das lutas de classes, mediante a guerra psicológica de atos de provocação, de modo a socavar a base de sustentação social do governo e só lhe restasse a apoio da extrema esquerda. A conseqüência era a sua desestabilização. Como Philip Agee descreveu, essa técnica pode implicar a colocação de uma bomba relógio acertada pelo agente da base, seguindo-se uma demonstração de massa (e.g. Marcha da Família com Deus pela Propriedade) e, finalmente, a intervenção dos militares em nome da restauração da ordem e da unidade nacional.[10]
Por LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA
Doutor em Ciência Política, professor titular de História da Política Exterior do Brasil, na Universidade de Brasília (aposentado), e autor de mais de vinte obras, entre as quais O Governo João Goulart: As lutas sociais no Brasil (1961-1964), cuja 7ª edição revista e ampliada, lançada pela Editora Revan em 2001, Brasil, Argentina e Estados Unidos: Conflito e integração na América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul), De Marti a Fidel: a revolução cubana e a América Latina e Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque).
Leia o texto completo em:
http://www.espacoacademico.com.br/
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Quem são os patrocinadores da ONG INGA? Por que trabalham para esvaziar o governo Lula?
(Caia)
No passado se dizia que uma embaixada inglesa era mais perigosa do que mil exércitos. E essas ONGs hoje?
Como saber quantas e quais estão a serviço da espionagem e da sabotagem no Brasil???
(Adauto)
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TUDO, por aqui, é PURA ARAPUCA.
Esse artigo do Prof. Moniz Viana é, mesmo, das coisas mais importantes que eu li, em muito tempo (está tb no livro "O governo João Goulart", outra total preciosidade).
Eu descobri esse artigo, quando eu andava estudando TODOS os organismos que se criaram, nos EUA, depois da II Guerra Mundial, como parte do movimento de PROPAGANDA que se construiu nos EUA, para 'imperializar' o planeta (o FMI [em 1946], o Banco Mundial [1946] e a CIA [1947], dentre outros).
Os historiadores 'brazilianists' são dessa época (e houve equivalentes em todo o planeta, especialmente, naquele momento, em toda a América Latina), e eles tem MUITA IMPORTÂNCIA no trabalho de 'apagar' a CIA dos estudos de história do Brasil contemporânea.
Os primeiros 'brazilianistas' também começaram a formar-se (lá) nessa época, quando as universidades norte-americanas (chamadas, mais adequadamente de "think tanks estratégicos", e operando como braços políticos do projeto imperial dos capitais transnacionais, como sempre foram e ainda são) começaram tb a estudar o então chamado "Terceiro Mundo", com especial atenção à América Latina. Os primeiros brazilianists são desconhecidos para a opinião pública, no Brasil (Charles Wagley e Richard Morse, por exemplo, trabalharam no Brasil desde os anos 40).
Em 1969, eles começaram a aparecer como autores de best-sellers (Skidmore foi o primeiro famoso), e tornaram-se também celebridades 'midiáticas'. Em 1975, a Veja falava em "os historiadores virtuose", "o diligente exército de pesquisadores", e "os bailarinos do brazilianismo". Em 1977, o Jaguar escreveu n'O Pasquim: "De uns tempos para cá, apareceram no Brasil uns seres misteriosos, intitulados "brazilianists", para grande pasmo da população nativa e inveja dos cientistas locais (Jaguar, O Pasquim, 17/11/1977, na Internet, em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/63.pdf)
O que eu acho mais impressionante, em relação ao Prof. Moniz Bandeira, é que ele seja sistematicamente apagado, hoje, na USP, descrito como "um historiador nacionalista, de segunda categoria".
É mais fácil encontrarem-se 12.458 'brazilianistas', nas bibliografias da USP, do que vc encontrar nelas, indicado para os alunos, o trabalho do Prof. Moniz Bandeira.
Vocês sabem: a USP-2006 opera sob a idéia de que 'está provado' de que a CIA não existe e, se existiu, foi agente do petismo internacional, operando contra os governos tucano-pefelistas; e quem discordar disso é porque está doente, com mania "conspiratória" (como o Clóvis Rossi não se cansa de ensinar ao Brasil, todos os dias, em 2006).
CONTUDO, em 1982, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso, fazendo-se de professô-dotô, já 'ensinava' que os brasileiros parássemos, imediatamente, (no tom 'democrático' que sempre lhe foi e é típico), i-me-di-a-ta-mente, já, de "demonizar os brazilianistas". FHC já era, então, o tucano brucutu neoliberal entreguista que sempre foi.
Eu sempre tenho medo de que acordaremos, um belo dia, e veremos os prédios da USP flutuando a três metros do chão, prestes a desabar, como tsunami, sobre a NOSSA CABEÇA, pra acabar, de vez, com a nossa raça.
Assim como temos, 'sociologia' uspeana neoliberal, partidarizada e onguificada, temos também um específico discurso 'histórico' e 'historiográfico', no Brasil, desdemocratizatório, neoliberalizante e onguificante, que (além do mais!) também apagou o Prof. Moniz Viana. Tudo isso, com certeza, para ajudar a apagar, também a CIA.
Não é fácil a vida, na parte globalizada do planeta: TUDO, por aqui, é PURA ARAPUCA.
Muito bem lembrado, Adauto, esse preciosíssimo ensaio do Prof. Moniz Bandeira.
8-) Caia
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