terça-feira, março 07, 2006

Algumas perguntas sobre o termo "jornalismo cidadão"

Por Nemo Nox

Está na moda falar em jornalismo cidadão. Uma expressão que, dependendode quem a usa, pode significar desde uma foto capturada num telefonecelular e publicada no weblog do espectador de um show de rock até umjornal online com dezenas de funcionários e um banco de milhares decolaboradores remunerados. Mas, parando para pensar um pouco antes deadotar o termo, talvez não seja má idéia fazer algumas perguntas.Por que jornalismo cidadão? Um jornalismo praticado por cidadãos? E nãosão cidadãos os jornalistas a serviço dos grandes jornais e das redes detelevisão? O que os diferencia, em termos de cidadania, dos outrosjornalistas? Ou seria jornalismo cidadão somente um eufemismo parajornalismo amador? Ou para jornalismo independente de grandescorporações? Onde fica a fronteira que separa o amadorismo doprofissionalismo ou a independência do corporativismo? Quais os fatoresa levar em conta, qualidade, remuneração, certificação, reconhecimentogovernamental, viés político?Cidadania é um conceito ligado a território ou a unidade política. Comoo jornalismo cidadão é exercido principalmente na internet, espaço ondefronteiras e estados possuem importância e significados diferentes, deonde é cidadão o jornalista cidadão? Pode ser cidadão quem não temdireitos políticos (e isto engloba desde os nativos de países sobdomínio de ditaduras e sem os direitos humanos associados à cidadaniaaté imigrantes que adquirem permissão para residir num país mas nãoganham os direitos políticos associados à cidadania)?Algumas vezes o conceito de jornalismo cidadão aparece ligado às idéiasde jornalismo participativo ou jornalismo open source. Não haverá espaçopara o individual no jornalismo cidadão? O repórter que mantém seupróprio site de jornalismo, produzindo conteúdo mas sem abrir espaçopara discussão pública não seria então um jornalista cidadão? E se umamegacorporação produzisse um site jornalístico aberto para comentáriosou mesmo produção original vinda dos leitores, estaria então fazendojornalismo cidadão?A tecnologia finalmente colocou ferramentas de produção e de publicaçãode jornalismo nas mãos da população. Mas se produzir e publicar deixoude ser problema, a questão da comercialização ainda está longe de ficarresolvida. Como obtém remuneração o novo jornalista cidadão? Estácondenado a vagar entre a submissão ao modelo antigo (trabalhando parauma empresa que cuida da comercialização do seu trabalho e lhe remuneracom uma fração do obtido) e o diletantismo das horas vagas (destinando amaior parte do seu tempo e da sua energia para trabalhar em outraatividade que lhe garanta a subsistência)? E até que ponto o fatorremuneração deve ser levado em conta na classificação de um produtojornalístico como jornalismo cidadão? Existe compatibilidade com aprofissionalização plena (obscurecendo um pouco a distinção entrejornalista e jornalista cidadão) ou é inescapável o vínculo com odiletantismo (sugerindo ser o jornalismo cidadão somente um rótulo novopara jornalismo amador)?Acho que são perguntas suficientes para começar a discussão. Alguém temrespostas?

Nemo Nox é blogueiro no Por um Punhado de Pixels e zineiro no Burburinho.
Colaborador de primeira hora da NovaE.
---------------------------------------------------------------------------------------

Comentando...

O que o Beatrice e outros blogs e grupos fazem? Com a internet, o cidadão desqualificado e desrespeitado pela mídia grande está podendo dar o troco. Uma outra questão fundamental para a democracia, nenhum de nós se esconde atrás de uma pseudo-neutralidade, nenhum de nós reinvindica independência, objetividade, distanciamento das questões, das causas e dos embates. Todos são assumidamente parciais, militantes: lulistas, petistas, comunistas, socialistas, anarquistas, ... Quando a mídia grande pretende ser imparcial, objetiva, neutra, independente, ela apenas tenta esconder a sua origem de classe, a imanência do conflito que pressupõe a sua própria existência. Jogo duplo, esconder sua origem e construir uma suposta posição de competência para enunciar a "verdade", o "discurso equilibrado", a "voz da razão".
Jornalismo cidadão??? Para a radicalização da democracia, o melhor mesmo é que cada um diga claramente o nome do seu boi: jornalismo petista, Jornalismo comunista, jornalismo tucano, jornalismo Fiesp, jornalismo Daslu, jornalismo Opus Dei, jornalismo Febraban, ...

Adauto Melo

Grupo Beatrice

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.