sexta-feira, março 17, 2006

Acabou em pizza?



José Dirceu
Ex-Chefe da Casa Civil
A cena é patética. Sem Serra, a cúpula tucana comemorou, mas não parecia a escolha do seu candidato à Presidência da República. Sem discussão programática, sem debates democráticos, consultas ou prévias, o quase ex-governador de São Paulo foi ungido, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o AntiLula.
A escolha de Alckmin é a vitória dos liberais de direita no ninho tucano, com total apoio e cobertura da cúpula pefelista, uma derrota fragorosa para a chamada social democracia tucana. Assim ela foi recebida pelo chamado mercado, e são os serristas que estão espalhando essa pequena verdade, que só não vê quem não quer.
Ficou decidido que tudo continuará como antes, ou seja, continua a hegemonia liberal paulista-fernandista no PSDB, o resto é discurso de campanha. O programa, que já tem seus contornos definidos, dará continuidade aos oito anos de FHC.
De acordo com matéria publicada, no dia 15, no site Carta Maior, uma das principais idéias que orienta o grupo de especialistas, que se vem reunindo com Alckmin para discutir seu programa de governo, é o ''choque de gestão'' com o objetivo de pôr em prática os princípios da eficiência e do combate ao desperdício do Estado. Diz a matéria: ''Reforma trabalhista radical, com corte de encargos e direitos; privatização de todos os bancos estaduais; fusão dos ministérios da Agricultura e da Reforma Agrária; adoção da política de déficit nominal zero; menor peso ao Mercosul e retomada das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca)''. Essas são algumas das idéias defendidas no esboço de um eventual programa de governo.
Não adianta o candidato falar em projeto nacional ou em banho de ética, pois o discurso não bate com a prática e com a realidade histórica. O país não se esqueceu dos oito anos de FHC, época em que falar em desenvolvimento, política industrial e tecnológica, em Estado e planejamento era uma heresia. Projeto nacional era palavrão de dinossauros da esquerda burra, ou o candidato já se esqueceu?
Causa espanto à sociedade ouvir, agora, da boca de um grão-tucano, ungido candidato, que ''dará um banho de ética no Brasil''. Se, de fato, se preocupa com a ética, seria mais eficiente e mais prático começar pelas atuais CPMIs e investigar as denúncias que atingem a oposição e envolvem o senador Antero de Barros, Furnas, o ex-governador Eduardo Azeredo, os fundos de pensão no governo FHC. Ou, ainda, permitir a instalação das CPIs que estão nas gavetas das Assembléias Legislativas de MG, PA, BA e São Paulo. Ou a ética, defendida pelos tucanos, só vale para o governo e a situação?
A desenvoltura tucana, ao falar em ética, só é superada pelo cinismo golpista pefelista que transformou a CPI dos Bingos em instrumento de um complô para derrubar o governo Lula. Aí vale tudo, investigam qualquer notícia ou denúncia, sobre o PT e o governo, não importa que o ato seja ilegal e inconstitucional. Essa farsa só tem tido continuidade porque conta com a cobertura e a cumplicidade, quando não, com o apoio, de certa mídia, a verdadeira tropa de choque das CPMIs, que perdeu a compostura e a vergonha, como nos idos de 61 e 64, e toma partido abertamente, abandonando um dos princípios do bom jornalismo, como o é a apuração isenta dos fatos.
No final da semana passada, assistimos a cenas explícitas de partidarização, falta de imparcialidade no trato da notícia e editorialização do noticiário, começando pelas matérias articuladas com o firme objetivo de atingir o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, tendo, como alvo final, o presidente.
A verdade nua e crua é que Geraldo Alckmin e o PSDB não têm autoridade moral para falar em ética. Nada expressa melhor essa verdade do que a declaração do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Jutahy Magalhães Jr, para justificar o voto tucano pela absolvição do deputado Roberto Brant: ''Caixa dois é crime eleitoral punível com multa pela Justiça, não com perda de mandato''.
A questão que se coloca para o PT e para o governo Lula é responder à movimentação golpista pefelista, lançando um amplo movimento de mobilização da sociedade em apoio a um segundo mandato de Lula, com um programa de desenvolvimento nacional, baseado nas conquistas de seu primeiro mandato.

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