sábado, novembro 26, 2005
MÁFIA TUCANA
Nilton Monteiro: Eu, enquanto viver, vou lutar contra esse povo, tenho pavor deles. Não posso nem ouvir falar em PSDB. Considero o PSDB uma grande quadrilha organizada.
“Campanha de Eduardo Azeredo custou mais de R$ 100 milhões”
“Foi uma campanha milionária. Dinheiro de estatais, de empreiteiras, doleiros, corretores de seguro, das privatizações. É por isso que o Azeredo entregou o Estado realmente falido para o Itamar Franco”, declarou o lobista Nilton Monteiro, “bomba-relógio” prestes a explodir no colo do PSDB
Nome bastante temido por integrantes do PSDB que tentam desesperadamente impedi-lo de depor na CPMI dos Correios, Nilton Monteiro, auto-intitulado uma bomba-relógio preste a explodir no colo do ex-presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, concedeu uma entrevista ao HP em que expõe parte da gigantesca gama de informações e documentos que acumulou nos últimos anos da prática de atos ilícitos e caixa 2 na campanha tucana de Minas Gerais, em 1998.
Ressaltando que detém muitos documentos guardados para serem apresentados à CPMI, Monteiro, um lobista conhecido – e ai daqueles que “tucanarem” a ocupação o chamando de empresário – disse que a campanha de Azeredo arrecadou mais de R$ 100 milhões, grande parte oriundos dos cofres públicos, e que pelo menos R$ 4,5 milhões teriam ficado no bolso do ex-governador.
Muitos podem tentar desqualificá-lo, como o ex-tesoureiro de Azeredo, Cláudio Mourão, em depoimento na CPMI. No entanto, as informações até agora passadas por ele mostraram-se todas verdadeiras, em especial, o cheque de R$ 700 mil repassado por Valério para Azeredo quitar uma dívida com Cláudio Mourão. Na CPMI, Mourão também havia afirmado que não havia repassado nenhuma procuração para ele representá-lo, fato desmentido posteriormente por um laudo técnico encomendado pela revista “Istoé”.
ALESSANDRO RODRIGUES
Quanto arrecadou a campanha de Eduardo Azeredo em 1998? R$ 20 milhões ou R$ 53 milhões?
R$ 53 milhões era o que falavam. Mas foi uma campanha milionária, mais de cem milhões de reais. Dinheiro de estatais, de empreiteiras, doleiros, corretores de seguro, das privatizações. Então, é por isso que o Azeredo entregou o Estado, realmente, falido para o Itamar Franco. O Azeredo perdeu a reeleição e não foi por causa de dinheiro. Perdeu sim, por incompetência. Eu não sei como ele chegou a governador.
Qual a tua relação com o tesoureiro de Azeredo, Cláudio Mourão?
Hoje eu vejo que eu fui usado por esse cidadão. Tudo o que ele falou lá na CPI, ele mentiu. Ele estava numa situação delica-díssima, quebrado, esse pessoal não queria nem vê-lo: Clésio Andrade, Walfrido dos Mares Guia. Abandonaram ele. No final da campanha, eles falaram que quem fez o Azeredo perder foi João e Mourão. O João Heraldo hoje é um cidadão que está no Banco Rural. E até hoje não sei por quê não foi investigado. Ele foi um secretário muito forte na Fazenda. Não aparece, mas era o homem das negociatas.
O Mourão atuava só em Minas Gerais?
Mourão trabalhou muito ali no eixo Minas Gerais. Mas era um cidadão viajado. Era um homem de muita confiança. Então ele (Mourão) tinha vários contatos, uma teia. Tinha contato com o Banco Opportunity, com a Elena Landau, com a Cemig, dali saiu dinheiro da campanha, da Telemig saiu dinheiro para a campanha, do BMG saiu dinheiro para a campanha. Tinha ramificação com doleiros fortes no Rio de Janeiro. Alugava avião da Líder. Às vezes via uma determinada pessoa que eu não posso falar ainda. Ficava o avião no hangar, como se fizesse manutenção, mas não era, estavam passando rios de dinheiro, para depois seguir para Belo Horizonte.
Que documentos da campanha de Azeredo o Cláudio Mourão entregou para você?
Ele colocou na minha mão o manuscrito de próprio punho do Walfrido Mares Guia, que ele já divulgou que ele tinha realmente escrito; colocou na minha mão o recibo do Azeredo recebendo 4 milhões e meio; colocou a lista dos deputados e a quantidade de recursos que receberam.
Com os recibos?
Não, recibos não. Só o valor que cada um recebeu. Eu já tinha alguns DOCs. Colocou a relação de despesa que o Pratinha (Marco Aurélio Prata, contador de Marcos Valério) assinou, que tinha 53 milhões de reais que foram gastos pela SMP&B na campanha. Diz que gastaram pouquinho no enduro e o resto foi tudo para a campanha. Me passou a ação que ele tinha contra o Azeredo e o documento que o Azeredo deu plenos poderes para ele. O Azeredo deu muito poder para o Mourão.
Você já afirmou que teve reunido com Marcos Valério e que ele tinha documentos contra tucanos graúdos...
O Marcos Valério disse que tinha documentos contra o Fernando Henrique, contra o Serra. Disse assim: Olha Nilton, com aquela pilha eu arrebento a República.
Ele deu a entender que tinha operado dinheiro para a campanha nacional do PSDB?
Foi praticamente isso que ele disse.
Em 2002?
Sim. Disse que tinha vários políticos a nível nacional, não só de Minas Gerais.
O Marcos Valério repassou algum dinheiro para Cláudio Mourão este ano?
Eu já cheguei a presenciar um pagamento de 350 mil reais com vários cheques da SMP&B para o Mourão. A secretária da SMP&B entregou o envelope para ele, por volta de julho. Nós estávamos num carro, aí ela chegou com o envelope. O Cláudio Mourão estava sentado ao lado do Cleiton e eu estava atrás. Aí ele olhou o cheque e disse: graças a Deus agora...
Quando isso aconteceu?
Agora, em maio ou julho. Foi em julho. É, nós tivemos lá no Marcos Valério em 9 de julho. Foi julho mesmo.
Esse dinheiro foi para ele (Mourão) tirar o processo contra o Azeredo?
Foi, totalmente. Lógico que foi para retirar o processo. Ele teve que tirar porque ia chegar num momento que teria que acostar documentos nessa ação. E as provas também eram contra ele. Então ele quis ganhar um tempo. Tirou o advogado Carlos Henrique e colocou o advogado do Clésio (Andrade). Mas eu já tinha os documentos. Aí eu entreguei os documentos para a imprensa. Voou tucano para tudo que é lado. Eles gostam de meter o pau nos outros e esquecem que têm o telhado de vidro.
Você chegou a conversar com o Azeredo sobre o caso?
Cheguei. Depois ele me pressionou, disse que eu estava com documentos que não podiam ficar nas minhas mãos, que ele iria me interpelar, que eram documentos particulares da campanha, que não sabia porque eu estava com isso.
Ele admitiu que conhecia o esquema de caixa 2?
Ele sabia de tudo. O Cláudio falou comigo que ele (Azeredo) sabia de tudo que acontecia. Agora diz que não sabe. O interessante é que o Cláudio mudou muito. Agora assumiu todo o compromisso, porque ele é doido. Mudou a história porque recebeu dinheiro. O dinheiro comprou o silêncio dele. Hoje ele está um homem abonado, tranqüilo.
Quando você conversou com o Azeredo, ele se negou a fazer o acordo?
O Azeredo falou que não devia nada ao Cláudio Mourão.
Ele falou que já havia repassado os R$ 700 mil para ele?
Falou para mim. Foi onde eu descobri que tinha uma ação que o Cláudio Mourão entrou cobrando cerca de R$ 1,5 milhão do Azeredo. Aí eles chegaram num acordo e o Azeredo pagou R$ 700 mil para o Mourão com o cheque do Valério. O Azeredo falou: “Nilton, ele fez um recibo para mim, que ele não pode me cobrar. Eu não devo mais nada para esse cidadão”. “E outra coisa, Nilton: os carros que ele ficou, não eram dele. Ele tinha que ter vendido, entregado e pronto”. Ali é uma quadrilha. Ali é um roubando o outro.
Você está guardando alguma carta na manga contra os tucanos para a CPI?
Eu não sei, né...eu sou uma pessoa... do silêncio, né. Eu sou imprevisível (risos). Mas eu tenho muito fogo para esse povo. Não brinquem comigo. Eu já venho há 6 meses abastecendo a imprensa. E tudo provado. Prepare-se que eu vou pegar gente grande. Não termino o meu trabalho só com o Azeredo. O Azeredo é peixe pequeno. Eu acho que ele tem que ser cassado mesmo. Eu só peço Justiça. Acho que tem que ser feita Justiça.
Você acha que vai ser chamado para depor?
Eu que denunciei o negócio da Cemig. Os jornais sempre tentaram me desqualificar. Não tenho medo da Justiça, não devo à Justiça. Pelo contrário, eles é que devem ter medo da Justiça. Eu, enquanto viver, vou lutar contra esse povo, tenho pavor deles. Não posso nem ouvir falar em PSDB. Considero o PSDB uma grande quadrilha organizada. Pior que essa máfia italiana. Se o presidente quisesse, muitos deles estariam na cadeia hoje. Não teria chance pra eles.
E onde deve ser investigado?
Eu acho que se for fazer uma varredura, por exemplo, no sistema Lloyd do Brasil, o que a quadrilha do PSDB, a organização criminosa fez na Lloyd, é um negócio de fazer horror, medo. Acabaram com os nossos navios, venderam a preço de banana. Foi dali que saiu parte do dinheiro da reeleição do Fernando Henrique Cardoso, com o Eduardo Jorge. É ali que está toda a estripulia. Aguarde que vai vir chumbo grosso, mesmo. O PSDB fez muito mais do que isso, o PFL também. Detonei a maior quadrilha do PSDB e PFL no Espírito Santo. Acabei com eles lá.
Hora do Povo
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