sábado, novembro 19, 2005



José Dirceu viaja o Brasil em atos de defesa do seu mandato

Cerca de 600 pessoas participaram de um ato em defesa do mandato do deputado federal José Dirceu (PT-SP) no plenário da Câmara dos Vereadores de SP (foto). Manifestos de movimentos populares e cartas de apoio de ministros serão usados como estratégia para tentar sensibilizar o Congresso.

Bia Barbosa - Carta Maior 19/11/2005
São Paulo – Nas próximas semanas, o Congresso Nacional decide se cassa ou não o mandato do deputado federal José Dirceu (PT-SP), envolvido nas denúncias do mensalão. Na reta final antes de seu julgamento, Dirceu tem usado de diversas estratégias na tentativa de manter seu cargo político. Além dos recursos jurídicos, o deputado tem operado muito nos bastidores para conseguir o apoio de políticos, de vereadores e prefeitos a deputados estaduais e federais. Outra estratégia é percorrer o país em atos em defesa do seu mandato que vêm sendo organizados nas grandes cidades. Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília estão na lista. Na noite desta sexta-feira (18), foi a vez de São Paulo. O plenário 1o de Maio, da Câmara dos Vereadores, ficou pequeno para as 600 pessoas que se apertaram para ouvir o discurso de José Dirceu - ele foi o último a falar.

Na platéia, e na mesa da cerimônia, a cúpula petista paulista, incluindo Marta e Eduardo Suplicy. De Brasília, vieram os deputados federais Luiz Eduardo Greenhalgh, Professor Luizinho, Devanir Ribeiro e Ângela Guadagnin, o assessor da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Os ministros Antonio Palocci, da Fazenda, Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, enviaram mensagens de apoio. Assim como o senador Aloísio Mercadante, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, Tarso Genro, e o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile.

A tônica de todas as mensagens era a mesma. Para os petistas, a tentativa de cassação do mandato de José Dirceu é um ato de arbítrio e de revanche política, de busca pela desestabilização do governo Lula e da conseqüente destruição de um projeto de desenvolvimento popular democrático para o Brasil. A Central Única dos Trabalhadores e a União dos Movimentos de Moradia afirmaram que não hesitarão em colocar suas bases nas ruas para defender o mandato de Dirceu.

“O olhar lúcido e independente sobre o processo de cassação do mandato parlamentar de José Dirceu, com suas injustificáveis ilações, faz-nos mergulhar na fragilidade dos mecanismos de contenção dos já conhecidos interesses de determinados grupos sociais na ordem constitucional vigente. O desrespeito ao devido processo legal o alça a mera formalidade, dando contornos ainda mais graves ao que ora se denuncia”, diz o texto do manifesto “Em defesa do mandato de José Dirceu e da Constituição”, lido no plenário pelo jurista Aldo Lins e Silva, que foi advogado de Dirceu em sua juventude.

“Acreditar na democracia é acreditar na complexidade de seus instrumentos de controle, respeitando os caminhos legítimos e recusando soluções que agridam o Estado de Direito. A clara tentativa de controle político da opinião pública acoberta o flagrante desrespeito aos princípios da presunção de inocência e da separação de poderes. (...) E contra isso gritamos. Falaremos sempre, mesmo quando o falar representar um crime. Conclamamos, pois, a Câmara dos Deputados, seus órgãos e os demais Poderes, a defender o mandato do deputado José Dirceu, a reafirmar a crença na manutenção de nosso Estado Social e Democrático de Direito, observando suas regras e respeitando seus limites”, conclui o documento.

O escritor Fernando Morais, que lembrou dos tempos em que sofria a oposição de José Dirceu, fez o discurso mais vibrante. Desde as denúncias do caso Waldomiro, Morais tem trabalhado para que a grande mídia e a opinião pública não façam um julgamento sumário e “sem provas”, segundo ele, do deputado petista. Outro manifesto de apoio, encabeçado por ele e pela escritora Consuelo de Castro – que também participou da cerimônia – e assinado por 107 artistas e intelectuais de diferentes áreas, será enviado esta semana ao Congresso.

“Meu esforço é para impedir que se consuma essa brutalidade contra ele e contra meio milhão de pessoas que votaram nele, entre as quais eu me incluo”, disse o escritor. “Estão tentando derrubar o que ele representa. E quem faz isso são as pessoas condenadas a perder privilégios neste país. Pinçaram o Zé Dirceu porque, na hora em que cortarem a cabeça dele, acaba a crise”, acredita.

“Cassar Zé Dirceu é cassar um pedaço do PT e um pedaço importantíssimo do governo Lula. Não tenhamos ilusões. O ataque não é só a ele, mas é ao projeto que o PT representa”, disse o presidente do partido Ricardo Berzoini. “Essa mobilização é para defender a democracia neste país. E tem gente que se diz de esquerda, mas não é. Orlando Fantazzini e Chico Alencar votaram num relatório pífio e mentiroso do deputado Júlio Delgado. Não são pessoas de esquerda. Fazem isso porque querem os holofotes momentâneos, mas depois vão voltar para o obscurantismo sem sequer ter a tranqüilidade da coerência que nós temos”, atacou Berzoini.

A hora de Dirceu

Aplaudido de pé, o petista foi recebido com o coro: “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”. Falou emocionado, olhando para a mulher e as filhas; defendeu o filho, também envolvido em denúncias de corrupção; lembrou das lutas que travou com alguns presentes. E partiu para o ataque:

“Não é preciso tanques, golpes e ilegalidade; estamos vivendo uma nova tentativa de se evitar que se construa no país um projeto de desenvolvimento nacional, popular e democrático. Agora esta luta está mais sofisticada. Erramos e subestimamos o poder e o efeito gerados quando a mídia joga um papel na luta partidária. O que assistimos não foi a denúncia e a apuração de erros que o PT pode ter cometido e cometeu na campanha. (...) Se trata de retomar, através de outros instrumentos, a luta das forças reacionárias. Eu sou o alvo privilegiado, mas não o único”, disse Dirceu.

Declarou que vai “lutar até o fim” pela defesa de seu mandato, do governo Lula e da militância do PT, para que ela possa “andar de cabeça erguida e colocar a estrela no peito”. Admitiu que é hora de se pensar a médio prazo sem se esquecer da reeleição do presidente Lula.

“Fernando Henrique diz que não temos o que apresentar ao povo brasileiro porque prometemos e não cumprimos. Agora ele quer que esqueçamos o que foi o governo dele... Vamos comparar os governos e, tenho certeza, vamos reeleger o presidente Lula”, disse, apostando numa aliança sólida com o PSB e o PCdoB.

“Estou preparado para o que der e vier. Seja o que for, vou continuar meu trabalho político, com ou sem mandato. E se não for inocentado, podem ter certeza de que, no dia seguinte, serei um de vocês, da militância petista, como sempre fui”, anunciou.

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