sexta-feira, dezembro 09, 2005


Confira o artigo da vice-presidente da UNE e militante da Juventude do PT, Loise Caroline, publicado no Blog do Noblat (http://www.noblat.com.br/) no dia 08/12/2005.

A Fúria Conservadora: Ódio e Inconsistência
Por Louise Caroline


Publicar artigos em um Blog como o do Noblat traz dividendos magníficos devido à repercussão e ao alcance que ele tem. Mas é sobretudo nos comentários dos leitores, principalmente dos anônimos, desprovidos de qualquer compromisso com a preservação da imagem oficial, que se pode colher os dados mais interessantes.
Desde a primeira vez em que o jornalista abriu espaço para a União Nacional dos Estudantes, obviamente representada por um estudante (portanto não-jornalista, não-intelectual, não-parlamentar, não-empresário), muitas foram as reações à altura da fúria conservadora que sempre é externada pelos defensores do status quo, da ordem e dos privilégios.
Pior ainda, sendo o tal estudante militante de esquerda, palavra assustadora à qual se conjuga, rapidamente, nos tais comentários, uma série conhecida: comunista, ultrapassado, baderneiro, oportunista, doido, ladrão e suas variações.
Entretanto, o mais curioso desta específica e da geral “reação” contemporânea, é que, ao contrário da sabedoria e habilidade com que contra-atacou a elite dominante ao longo dos tempos, a atual apresenta um baixíssimo poder argumentativo. Não pela falta de inteligência e informação, visto que a ela continua quase exclusivo o acesso à Educação de qualidade, mas, perceptivelmente, porque se exacerba sua determinação autoritária. Como se apenas lhe bastasse, para derrotar os argumentos divergentes, a exaltação de sua condição superior, intelectual, madura e sóbria.
Um catastrófico desapego à democracia como exercício saudável do embate de idéias! Com a agravante de que à opção por desqualificar em vez de argumentar seguem-se destilações de um ódio profundo. Não basta, à fúria conservadora, defender a manutenção das coisas; é preciso também destruir, desautorizar os que querem a mudança.
É claro que esses comentários preconceituosos a meus insignificantes artigos no Blog do Noblat são apenas um motivo para as manifestações realmente importantes que passaremos a abordar.
Comecemos pelo jornalismo. Neste período de crise política, muitos editoriais poderiam servir de exemplo, mas destaque-se os dois seguintes.
O primeiro, de Miriam Leitão, no Bom Dia Brasil, na manhã em que a Coordenação dos Movimentos Sociais, liderada pela UNE, CUT e pelo MST, organizou vinte mil pessoas na Esplanada dos Ministérios para exigir o combate à corrupção e a Reforma Política. Indignada porque dentre as bandeiras não se levantava a do Impeachment, a jornalista deteve-se a atacar a UNE. Chegando ao cúmulo afirmar que a entidade receberia um milhão de reais do Governo Federal para se calar.
A informação não se sustentou. A origem do dinheiro era de emendas individuais de parlamentares e a não inclinação do povo para o Impeachment do Presidente Lula é hoje tida como fato inquestionável até pelo líder tucano Fernando Henrique Cardoso, que, mais inteligente, não comete a arbitrariedade de dizer que o povo não quer o Impeachment do Presidente porque recebe um “mensalão”.
O segundo editorial que merece lembrança é de Arnaldo Jabor, no Jornal Nacional. Este com muito mais ódio mas também sem lógica argumentativa.
Na seqüência da crise, a mesma Coordenação dos Movimentos Sociais atrelou às outras bandeiras uma que já tremulava desde o início do Governo Lula: a da mudança da Política Econômica.
Jabor só faltou pular na câmera. O Governo Lula explodindo, e os ditos Movimentos Sociais, do PSTU e do PC do B, jurássicos, vêm dizer que o que precisa mudar é a única coisa que está dando certo!
Hoje, a direita, e seu Jabor, que se dizia fonte e guardiã dessa economia, desabona-se a condená-la e alardear o insucesso dela. Pena que seja pela determinação por atacar o Governo em todos os seus aspectos e não defesa de mudanças concretas como um maior controle estatal e uma real distribuição de renda, como é a defesa dos Movimentos.
Mas o fato mais contundente do ódio da elite, este sim impulsionador de artigos, editoriais, protestos, ocupações e da intensificação da luta social no Brasil, é o desfecho da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Terra. Ela deveria apresentar à sociedade brasileira um diagnóstico da situação fundiária no país, mas, em vez disso, transformou-se em um palco para apresentação do ódio à justiça social e para a valorização absoluta da propriedade privada e do latifúndio.
Apesar da Constituição Federal de 88 atribuir função social à terra, exigir sua produtividade e democratização, dados do Incra informam que 51,4% dos imóveis (133 milhões de hectares) classificados como grande propriedade é improdutivo e que 1,6% dos proprietários de imóveis acima de mil hectares possuem 46,8% da área total de terra no Brasil.
Tais indicadores de concentração de terra e renda são decisivos para a manutenção da miséria e da exclusão em nosso país. Além disso, criam um estado de violência permanente no campo, com 1.400 trabalhadores, sindicalistas, advogados, religiosos e ativistas sociais assassinados nos últimos anos.
Em nome da propriedade privada, improdutiva e concentrada, os ruralistas, liderados pela União Democrática Ruralista, têm criado, por um lado, milícias armadas que matam os sem-terra, e, por outro, um discurso conservador de criminalização dos movimentos camponeses.
O Relator da CPMI da Terra, Deputado João Alfredo (PSOL-CE), ex-advogado do MST, apresentou relatório final que revelava dados até então não comprovados e sempre escondidos por boa parte da mídia brasileira. Por exemplo, que nos últimos dez anos as entidades patronais receberam R$ 1,51 bilhões do Governo Federal e as entidades dos camponeses nem 4% desse montante; e que muitos brasileiros vivem escravizados em vários latifúndios pelo país.
A bancada ruralista, com maioria na CPMI, rejeitou o relatório apresentado, e, em seu lugar, o Deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), parlamentar ligado a UDR, apresentou outro relatório, que simplesmente ignora que exista violência, escravidão ou assassinatos no campo. Diz, entre outras coisas, que o texto do relator ameaçava o direito de propriedade da terra, encaminha o indiciamento de onze pessoas ligadas aos movimentos pela Reforma Agrária, tece centenas de acusações ao MST, e ainda encaminha dois projetos de Lei que tipificam as ocupações de terra, mesmo que improdutivas, como crime hediondo e ato terrorista!
O “Relatório do Ódio”, como ficou conhecido o texto de Lupion, não tem sintonia com a realidade do campo brasileiro nem, tampouco, com a Carta Magna de nosso país. Trata-se de uma demonstração de força, de ameaça, mais uma inconsistência da fúria conservadora. É como um troféu dos ruralistas, após dois anos de duro embate na CPMI. Sabem que os encaminhamentos não têm sentido, não serão efetivados. Mas os apresentam com a mesma vibração que os faz organizar assassinatos de religiosas e camponeses, articular a escravidão de crianças e indígenas.
Por fim, seria impossível não incluir entre as demonstrações de ódio e desconcerto da elite mais uma tentativa de golpe contra a democracia da República Bolivariana da Venezuela promovida pelos partidos ultraconservadores daquele país. Após nove derrotas eleitorais em sete anos para o Presidente Hugo Chávez e seus aliados, após embargos econômicos, Golpe de Estado, um referendum e uma campanha mundial contra o governo popular eleito pelo povo, a novidade dos milionários venezuelanos foi defender a abstenção nas eleições legislativas do último dia 4.
Tenta-se, com isso, criar um falso clima de instabilidade democrática no país e deslegitimar a ampla vitória do Governo, já informada nas pesquisas de opinião.
Com tudo isso, conclui-se com a certeza de que a base de toda essa ação contra Hugo Chávez é a mesma daqueles citados comentários do Blog, dos editoriais de Miriam Leitão e Jabor, e dos resultados da CPMI: a reação, a manutenção do sistema e dos privilégios. A defesa da concentração da renda, da terra, do poder.
Apesar de tanto ódio, os Movimentos Sociais, a esquerda, os camponeses não se assustam. Têm consciência inabalável de que a situação social nesse mundo é de crescente embate ideológico, social, físico.
A diferença é que nós guerreamos com amor à humanidade toda e tendo a consistência histórica ao nosso lado. Porque seja quais forem as mortes, a força, a criminalização e os golpes usados contra os explorados, enquanto houver injustiça as pessoas não aceitarão a ordem, estarão de pé e lutando.
É uma questão de tempo. E de classe.

Louise Caroline é vice-presidente da Uniao Nacional dos Estudantes e militante da Juventude do PT (louiseune@gmail.com)

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