quinta-feira, dezembro 08, 2005


‘Agora estou mais orgulhoso do PT’

As denúncias de corrupção, a prática confirmada de caixa dois nas campanhas eleitorais do PT e a cassação de petistas, iniciada com a do ex-ministro José Dirceu, não diminuíram a admiração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por seu partido. Em entrevista ontem a três emissoras de rádio, ele disse que o PT não poderia ter adotado o esquema de caixa dois porque o partido foi criado para combater esse tipo de crime, mas afirmou:
— Não pense que fiquei inibido de ser petista. Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso — acrescentando que o partido tem de pagar pelos erros que cometeu.
O presidente minimizou as denúncias contra Dirceu e voltou a defendê-lo, afirmando que perdeu o mandato sem provas de qualquer delito e que o levaria para seu palanque eleitoral. Lula repetiu que até agora não foi provada a existência do mensalão, apesar das confirmações dos pagamentos regulares a partidos aliados, e disse que o PT foi prejudicado com a denúncia:
— Quem fez isso praticou um erro abominável contra a história do PT, que agora vai amargar muitos anos para recuperar a sua história política e a sua credibilidade.
O presidente reafirmou que ainda não decidiu se será candidato e condenou o instituto da reeleição. Sobre a política de juros, disse que o mercado é que vai determinar, porque não se baixa juros por decreto. Os principais trechos da entrevista:
JOSÉ DIRCEU: “Qual a acusação que foi provada contra o José Dirceu, que justificou a cassação dele? Não foi provado que tinha o mensalão. Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque nada foi provado contra ele. Vamos esperar, então, que se prove se houve delito.”
TERCEIRO TURNO: “Não disse para ninguém que sou candidato. Não sei se o Serra será o candidato de lá, não sei se serei o candidato de cá. Eu estou vendo gente aí, de candidato, para tudo quanto é lado. Já tem mais candidato do que eleitor.”
REELEIÇÃO: “Estou com a consciência bem tranqüila com relação a isso. Não tenho pressa. Sou contra a tese da reeleição, votei contra na Constituição de 1988. Acho que foi um desatino ter diminuído o mandato de cinco para quatro anos, com medo de eu ganhar as eleições em 1994. Não ganhei as eleições e aí, em 1996, aprovaram a reeleição. O Brasil poderia ter um mandato de cinco anos sem reeleição porque quem está presidindo não ficaria preocupado em fazer negociações para se reeleger.”
CAIXA DOIS: “Houve um crime eleitoral de caixa dois, já provado na CPI, ninguém nega isso, e há, inclusive, quem assumiu a responsabilidade. É um fato sui generis na História da humanidade: alguém praticar corrupção com dinheiro emprestado, pagando juros. O PT está numa encalacrada, porque está devendo muito nos bancos. Não sei como o PT vai resolver esse problema. Está na mão, agora, da nova direção do partido. Pago 10% do que ganho todo mês para ajudar meu partido e sempre foi assim.”
TRAIÇÃO: “Não citei nome de traidor. Disse que tinha havido traição, que me sentia traído porque o PT nasceu para combater essa prática política. Disse que me senti traído porque acho que companheiros adotaram, na política do PT, práticas que não eram condizentes com a história do PT. A direção do PT não tinha por que me comunicar o que estava fazendo nas eleições.”
ORGULHO PETISTA: “Não pense que fiquei inibido de ser petista não. Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso. Também não somos infalíveis, cometemos erros e temos de pagar e pagar forte, porque a sociedade precisa nos cobrar sistematicamente, de forma implacável, para a gente ser uma referência ética. Eu quero estar junto de todos aqueles que estiverem dispostos a isso.”
POLÍTICA CAMBIAL: “Temos que esperar e torcer por um ajuste no câmbio feito pelo próprio mercado, pela nossa relação comercial. Não vamos desvalorizar o dólar, o real, por decreto. Já foi feito e não deu certo.”
TAXA DE JUROS: “A média de juros nesses 36 meses de governo é praticamente a metade da média dos últimos 15 anos no Brasil. É uma média razoavelmente pequena, com picos de juros altos, como foi agora. Estamos com 18%, estávamos com 19,75%, estamos com 19% e vamos caindo.” (na verdade, a selic está em 18,5%)
SUPERÁVIT: “Os juros vão cair e, na medida que caírem, a gente vai poder crescer mais; na medida que a gente crescer mais, aumentar o PIB, a gente até pode ter um superávit menor. Mas essas coisas não serão decididas em função do ano eleitoral.”
BOLSA FAMÍLIA: “Atacaram o Bolsa Família como nunca: é ‘proselitismo, é uma coisa assistencialista’... Ora, é assistencialista para quem se levanta de manhã e tem café na mesa para tomar, almoça todo dia, janta e ainda deixa comida no prato. Mas para milhões de pessoas que não têm um prato de comida, o Bolsa Família é, na verdade, quase um milagre.”
OPOSIÇÃO: “Nós remamos para a frente, eles remam para trás. É um jogo, o PT fez isso e não tem do que se queixar. Se você encontrar um petista lamentando: ‘a oposição está batendo’, não leve muito em conta, porque eles têm de aprender a apanhar, bateram a vida inteira. Temos que apanhar. Não temos que nos queixar. Da minha parte não tem queixa.”
OPOSIÇÃO 1: “Quando eu era oposição no Congresso Nacional, era uma oposição de esquerda mais light do que a oposição de direita feita a mim. Em determinados momentos, o setor de direita parece muito mais raivoso do que a esquerda foi.”
MENSALÃO: “Quando se levantou a questão do mensalão eu, intimamente, dizia: quero saber como é que vão provar mensalão, porque a história de que tem deputado que faz votação por coisas, isso é desde que foi proclamada a República do Brasil. Entretanto, ninguém nunca provou.”
VALERIODUTO: “Não sei quem sabia. O Delúbio assumiu a responsabilidade pela parte do PT, pela parte que ele fez.”
REFORMA POLÍTICA: “A prática política só vai mudar quando mudar a legislação eleitoral, com partidos mais fortes e fidelidade partidária. Enquanto não se fizer a reforma partidária, vamos ter problemas eleitorais.”
FOGO AMIGO: “Não existe fogo amigo. O dia em que você tomar uma queimada vai perceber que não tem fogo amigo. Mesmo que seja sua esposa que te queime, você vai sentir dor.”
GOVERNO DIVIDIDO: “O presidente não tem ala. No governo passado uma das figuras importantes do partido que governava vivia fustigando o ministro da Fazenda (referência a José Serra). Quem não está com a responsabilidade de pôr o guizo no pescoço do gato tem mais facilidade para dizer as coisas. Não está dividido porque não tem duas políticas econômicas, não tem dois comandos. Chamei a atenção do ministro Paulo Bernardo quando ele falou de uma política de ajuste fiscal de longo prazo antes de se transformar em política de governo. Nenhum ministro pode pensar uma coisa e sair falando.”
RESPONSABILIDADE: “Isso aqui é uma tonelada e meia de responsabilidade a cada segundo. Quando a gente chega, percebe que precisa mediar mais as palavras, a gente precisa fazer as coisas com a precisão de um relógio de muita qualidade. Precisa saber o tamanho do passo que vai dar.”

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