segunda-feira, dezembro 26, 2005


Quem é o mercado

Os economistas conservadores e a mídia de um modo geral, tratam o mercado como algo impessoal, etéreo, racional e justo. Mas trata-se de um embate ideológico, pois o mercado tem rosto, ele é branco, masculino, concentra-se em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ele estudou em universidades públicas, por “meritocracia” de quem nasceu rico, fez pós-graduação em universidades estadunidenses, preferencialmente em economia e administração.
O mercado é dono dos bancos, das fábricas, dos jornais, das televisões e das empresas em geral. Ele escreve em grandes jornais e revistas paulistas. O mercado tem preferências eleitorais, vota sempre num partido cujo símbolo pertence a fauna brasileira; elegeu o prefeito de São Paulo, e adora o atual governador do estado. O mercado criou verdadeiro terror contra a eleição de Lula em 2002, mas de uns tempos para cá, ele o suporta, rezando para que chegue logo 2006. O que ele não engole é o Partido dos Trabalhadores, essa raça, que eles esperam ficar livres por pelo menos 30 anos.
O mercado se apresenta no rosto de um apresentador notívago, que todo final de noite apresenta um programa de entrevistas na televisão, ele se incorpora nos apresentadores do Jornal Nacional, do Jornal da Record, do Redenews! Ele se manifesta nas crônicas de um ex-cineasta, que sempre malha a esquerda. Quando o governo gasta em programas sociais, o mercado condena, pois é populismo, mas quando o governo paga R$ 180 bilhões de juros num ano, o mercado considera que é racionalidade econômica.
O mercado anda de carro importado, compra na Daslu, mora em grandes casas e apartamentos em áreas consideradas nobres. Para o mercado o Brasil precisa flexibilizar as leis trabalhistas, pois o que segura o crescimento econômico do país são os direitos dos trabalhadores; imagina dar direito para essa gente, que antes de maio de 1888, trabalhava apenas pela comida e por um teto. O mercado tem como ícone, um sociólogo, que apesar de quase ninguém tê-lo lido é bastante comentado.
O mercado criou no Brasil uma das sociedades mais perversas do mundo, para que ele mercado continuasse a ter lucros altos e vivendo bem. Para o mercado, o social é caso de filantropia ou de polícia, as coisas do jeito que estão vão muito bem. A vertente industrial já foi a maior força do mercado, mas agora é o mercado financeiro, esse mesmo que não cria nada, mas num passe de mágica e de juros altos multiplica dinheiro, para ele mercado.
O mercado não entende porque as pessoas se organizam no MST, esse bando de baderneiros, essas pessoas deviam se conformar com as privações que o destino reservou a elas; nesse sentido o mercado concorda com Malthus, economista inglês do século XIX, para quem não adianta fazer nada para ajudar os pobres, o melhor é deixá-los à própria sorte. E o mercado é onipresente e onipotente, pois, por via dos seus representantes está em todo lugar ao mesmo tempo, além de ter muito poder para continuar desfrutando dos benefícios do capitalismo selvagem tupiniquim, sem nenhuma espécie de remorso, pois o mercado não tem sentimentos, e se preciso faz uso de qualquer meio, para manter inalterado o estado de coisas, mesmo dando um golpe num presidente eleito com mais de 52 milhões de votos.

Evaristo Almeida – Mestre em Economia Política – PUC-SP
Novo colaborador do Beatrice

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