sexta-feira, dezembro 23, 2005

Exposição Arte de Cuba

Local: CCBB de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília
Data: 30/01/06 a 23/04/06 - SP15/05/06 a 16/07/06 - RJ31/07/06 a 15/10/06 - BrasíliaPatrocinador: Banco do BrasilRealizador: CCBBCoordenador: Rodolfo AthaydeCuradora: Ania RodriguezProdutora Clarice Magalhães

A exposição Arte de Cuba reunirá as mais significativas obras das artes plásticas cubanas do século XX até hoje. Um amplo panorama do movimento modernista cubano, seguido dos representantes das gerações dos anos 60, 70 e 80 e uma rigorosa seleção de obras de artistas cubanos contemporâneos, internacionalmente reconhecidos , formarão o total da mostra.
Ao longo do século XX, a arte cubana viu-se marcada pela experimentação e diversidade das expressões. A curadoria escolheu três linhas temáticas gerais que resumem diversas tendências e a partir delas organiza o conjunto da mostra:
- A busca das raízes da cultura cubana- Experimentação com a linguagem plástica- Compromisso social do artista
Os anos 20 marcam a entrada do modernismo nas artes plásticas cubanas. É um momento de maturidade e coerência coletivas, também marcado pela aparição de importantes individualidades. Junto às preocupações de renovação formal da prática acadêmica, aparece o interesse pela representação da identidade nacional.
No ano 1927, a Exposición de Arte Nuevo resume as novas intenções da arte no período. Um dos artistas participantes dessa mostra, Víctor Manuel, passaria a ser emblemático para a análise do período. A exposição mostrará as obras dos artistas mais significativos dentro desse período de surgimento da arte moderna em Cuba. Todos expressivos da pluralidade desse momento, no qual tendências, estilos e interesses variados determinam a riqueza e fertilidade da época.
A partir da assimilação da linguagem do modernismo europeu, esses artistas constroem um imaginário cubano. A necessidade de representar paisagens, costumes, rostos típicos e expressivos do "cubano" aparece em cada obra. Remontam-se então ao interior cubano e à figura do "guajiro" como arquétipo do autêntico nacional. Nesta tendência se destacam nomes como Gattorno, Abela, Carlos Enríquez, entre outros.
No final dos anos 30 já está consolidada a modernidade plástica em Cuba. Novos artistas integram a cena cultural cubana, unidos na procura de uma expressão cubana dentro da modernidade artística de Ocidente.
Algumas mudanças acont ecem nesses anos. A pintura de tema político e social perde a força de anos anteriores. O "criollismo" interessado em temas rurais se orienta em outras direções, o afrocubanismo vanguardista, expressado na representação de cenas vernáculas, de música e dança, ganha outra dimensão com a aparição de figuras como Wifredo Lam ou Roberto Diago, criadores de novas iconografias, distante de visões pintorescas ou bucólicas.
Wifredo Lam o artista cubano que maior reconhecimento internacional obteve, e é um dos grandes destaques da exposição. Seu contato em Europa com a arte africana, com os cubistas e, de modo mais definitivo, com os surrealistas, o faz voltar os olhos à sua terra na busca das expressões autênticas da ilha.
Sua re-descoberta da poesia interna das manifestações afrocubanas é refletida em obras que sintetizam o que Carpentier chamara de "o real maravilhoso".
Os anos 50 são marcados pelo signo da abstração. Em Cuba, a arte tenta fugir das expressões "locais" que marcaram e identificaram as pretensões de anos anteriores, para assumir uma linguagem internacional, universal. Luis Martinez Pedro, um dos artistas que mais rápido assume a abstração obteve em 1953 é premiado na Bienal de São Paulo. Nesse mesmo ano se cria o grupo Los Once, que trabalhará o expressionismo abstrato e mais tarde o grupo Diez Pintores Concretos.
Desde linguagens diversas, e a partir de perspectivas também diferentes, foram refletidas na arte as mudanças que se iniciaram com o processo revolucionário. Os anos 60 foram de grande liberdade formal e cada artista refletiu ao seu modo a vivência da Revolução, longe de dogmas estéticos ou ideológicos. A linguagem pop, o expressionismo, o hiperrealismo, definem algumas das tendências da época. Destacam-se nesse momento, entre outras, as figuras de Raúl Martinez, Servando Cabrera, Antonia Eiriz.
Com a criação da Escola Nacional de Arte, surge uma nova geração de artistas, cuja produção tem relações diretas com temas tão diversos como as tradições camponesas, o realismo social ou as mitologias afrocubanas. O que une as obras de Pedro Pablo Oliva, Zaida Del Rio, Roberto Fabelo, Tomás Sánchez é aquela perspectiva lírica, intimista, pessoal presente em seus trabalhos.
Mas a arte igualmente foi reflexo das profundas contradições da sociedade e, a partir dos anos 80s, momento em que também ocorre uma revisão dos paradigmas estéticos, assume uma postura crítica ante a realidade. Impõe-se a arte conceitual como meio de estruturar esse discurso comprometido com o questionamento de temas como a emigração, a ideologia ou a iconografia revolucionária.
O âmbito das artes plásticas erige-se como uma área de tolerância, que permite aos artistas tratar livremente temas polêmicos. Em suas instalações, fotografias, gravuras, são recorrentes as representações da ilha, dos heróis, da bandeira, não para cantar as glórias do processo histórico vivido, mas para revistá-lo com olhar crítico.
Hoje, ante um complexo panorama nacional, a arte cubana se debruça ante o dilema de fugir da tentação da crítica banal. Sem perder o sentido reflexivo que sempre acompanhou à criação plástica, os artistas encontram meios mais sutis e universais de expressar suas preocupações, em pro de uma representação de dilemas contemporâneos.

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