terça-feira, outubro 25, 2005

Sobre evidências irrefutáveis

Seguindo a lógica da Folha, seria o caso de perguntar porque a mesma Folha nunca defendeu a queda de FHC durante o célebre episódio das fitas na privatização do sistema Telebrás. É a própria voz de FHC que está nas gravações onde ele é mencionado como sendo a "bomba atômica" para a solução dos impasses nos arranjos dos operadores da tucanada. Também, seguindo a lógica das evidências irrefutáveis, posso concluir que como toda a imprensa calou ao mesmo tempo sobre esse e outros episódios da era FHC, deve ter sido por que foi devidamente comprada pelo esquema tucano, e o valor da transação deve ter sido bem interessante, visto que até hoje ainda cobre a publicação de editoriais contra Zé Dirceu, LULA e o PT.

IRREFUTÁVEL É A PILANTRAGEM E A CARA DE PAU DESSA IMPRENSA TUCANA.

AM
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Segue artigo da Vereadora Soninha do PT/SP:

“Evidências irrefutáveis” de que talvez, quem sabe...ou não...

A Folha de hoje, em editorial, cita o texto do relator da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, Júlio Delgado (PSB-MG), dizendo que ele “é bem fundamentado e convincente ao defender a cassação do mandato do petista”. E reproduz um trecho: “A lógica humana nos permite, através do acúmulo de evidências irrefutáveis, afirmar que Dirceu tinha poderes para ser o autor intelectual de todo este esquema ou, pelo menos, poderes suficientes para impedir que tais práticas prosperassem", escreve Delgado, sintetizando seu voto. Cristaliza a convicção, que também é a desta Folha, que o mandato de deputado federal de José Dirceu deve ser cassado pela Câmara”.

Bom, meio mundo (ou quem sabe 90% dele) tem certeza de que José Dirceu deve ser cassado. Mas se esse texto do relator serve para convencer alguém, ele só me deixa com dúvidas! Vamos lá: ele fala que “a lógica humana permite, através do acúmulo de evidências irrefutáveis”. Bom, se há um acúmulo de evidências irrefutáveis, não precisaria nem citar a lógica humana, né? Mas... Quais são, hein, as evidências irrefutáveis?

Não se trata – juro – do velho discurso da “falta de provas” para eximir alguém de culpa. Mas falando sério, são evidências de que? Do tal do “mensalão”, que só o Roberto Jefferson disse que era assim e assado (e foi cassado, entre outras coisas, porque acusou pra cima e pra baixo e não há uma prova de que tal “mensalão” tenha acontecido)? E evidências irrefutáveis? Preciso ler o relatório completo para ver quais são, talvez elas estejam todas lá e eu esteja gastando tempo à toa, mas me parece mais uma questão de convicção pessoal (ou “lógica humana”) do que de acúmulo de evidências irrefutáveis...

Ainda mais se seguirmos o texto do relator, quando ele mesmo responde à minha pergunta “evidências de que?”: (seriam) evidências de que Zé Dirceu “tinha poderes para ser o autor intelectual de todo este esquema”. Peraê, peraê... Ou você tem evidências de que ele foi “O AUTOR intelectual de todo o esquema”, ou não tem evidência de nada. Evidência de que “tinha poderes para ser” é o fim da picada!

E o próprio relator pondera em seguida: Dirceu tinha “poder para ser”, “ou ao menos poder suficiente para impedir”. Como assim, “ou ao menos”??? Ele não tinha “evidências irrefutáveis”? Como uma evidência “irrefutável” -- de que ele tinha “poder para ser o autor” -- vira algo que pode ser contestado na mesma frase? “Ou ao menos”....

Olha, posso até concordar com o “ou ao menos”. Na verdade, eu poderia dizer que, se o Ministro José Dirceu não teve, como alega, participação em um mega-esquema irregular de financiamento de campanhas, fornecimento de garantias indevidas e outras barbaridades que aconteceram, ele deveria ter tomado conhecimento do esquema (como algo adquire tal vulto e passa despercebido); se não tomou, falhou no exercício de suas funções. Faltou controle, fiscalização, acompanhamento do que se passava na relação governo/ partidos/ Congresso.

Mas dizer que “há evidências irrefutáveis de que ele tinha poder para ser o autor”, tão peremptoriamente quanto parece, e depois fazer a ressalva “ou ao menos para impedir” -- o que é, na prática, admitir que NÃO HÁ EVIDÊNCIA IRREFUTÁVEL COISÍSSIMA NENHUMA DE QUE ELE TENHA SIDO O AUTOR INTELECTUAL DE QUALQUER NEGÓCIO. É condenar, sim, Zé Dirceu antecipadamente. Que paga, antes de tudo, pela imagem que se construiu de que ele era o homem que “mandava prender e mandava soltar” no governo, com poderes absolutos, irrestritos, universais. O que simplesmente não é verdade.

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