terça-feira, março 21, 2006

Alckmin, candidato dos grupos financeiros


Jasson de Oliveira Andrade

Os serristas reclamavam que Alckmin não recebia críticas da mídia. Por esse motivo era bem avaliado. Afirmavam ainda que o mito de bom administrador era apenas mito e não a realidade. Escolhido como candidato dos tucanos à presidência contra, principalmente, Lula, o Chuchu, como ficou conhecido, continua a ser badalado pela imprensa escrita e falada. A mídia não o critica. Pelo contrário, o endeusa. De agora em diante, ele se tornará conhecido, principalmente nos programas políticos. Aí os eleitores vão conhecer a verdadeira face dele e não apenas essa vendida pela imprensa.
Um jornal de Mogi Guaçu, em Editorial, comentando a escolha de Alckmin, diz que, “ao contrário de Lula, (Alckmin) não está com o nome vinculado a qualquer esquema de corrupção”. Não é bem assim. O governador, por ter maioria na Assembléia, conseguiu impedir as CPIs que iriam vasculhar a corrupção em seu governo. São cerca de 69. Um número enorme. Enquanto no governo federal temos três CPIs, no governo do Estado nenhuma.Entretanto, na campanha, as acusações impedidas de serem investigadas e não comentadas na mídia serão conhecidas no Brasil. Os escândalos abafados serão expostos. Existem denúncias gravíssimas. Não irei expô-las, porque o espaço é pequeno e terei que tratar de outros assuntos. Relatarei apenas uma. Na Folha (16/3), essa notícia do jornalista José Ernesto Credendio: “Relatório da Controladoria Geral da União apontou que o governo de São Paulo fez compras com preços superfaturados e firmou contratos irregulares com verba repassada pela União para a aquisição de merenda escolar e a distribuição de material didático. O órgão ainda levantou indícios de irregularidades em licitações feitas pelo Estado”. O governo estadual contestou as acusações. O mesmo jornal guaçuano publicou artigo do deputado Romeu Tuma Júnior, deputado estadual (PMDB-SP), filho do senador alckmista Romeu Tuma (PFL), sob o título “A quem interessa a manutenção dos caça-níqueis?”. Após dizer que o governador vetou projeto dele – já aprovado pela Assembléia Legislativa – que proibia a máquinas caça-níqueis em bares e restaurantes do Estado, o deputado afirmou: “Ao dizer não ao projeto que proíbe os caça-níqueis, Alckmin volta a dar carta branca para os empresários do jogo, os contraventores, tradicionais financiadores de campanhas eleitorais.” Romeu Tuma Júnior finaliza assim o seu artigo: “Alckmin prova que não tem compromissos com combate à corrupção, à degradação familiar, nem com a violência doméstica e segurança pública. Azar do Brasil. Essas pessoas, que são vítimas da contravenção, com certeza não pensarão duas vezes na hora de decidir em quem votar”. O senador Mercadante leu o artigo na CPI dos Bingos, cobrando: “Esta CPI investiga tudo menos os bingos e caça-níqueis. Vamos fazer esse debate, tomar posição, ou a CPI vai fingir que não está vendo?” Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o ACM, bateu-boca com Mercadante. Como a oposição tem maioria na CPI dos Bingos, o assunto morreu. Eles agora estão interessados com o caseiro que acusou Palocci, inclusive em casos íntimos, tornando-se o grande herói da oposição!
O conservadorismo de Alckmin faz com que ele tenha o apoio dos empresários, principalmente dos banqueiros. O ex-deputado Emerson Kapaz, que é a “ponte” entre Alckmin com o empresariado, ofereceu em agosto um jantar para o governador e 15 empresários de peso. Segundo a Folha (19/3), “à mesa, representantes de vários setores da economia, desde os banqueiros Roberto Setúbal (Itaú), Fábio Barbosa (ABN Amro Real) e Pedro Moreira Salles (Unibanco) até João Pedro Gouveia Vieira, presidente do Conselho de Administração do Grupo Ipiranga”. Nesse jantar não poderia faltar João Roberto Marinho (vice-presidente das Organizações Globo). Em declaração à Folha, Kapaz disse o óbvio: o “problema de Alckmin na campanha não será financeiro”. Não se deve esquecer que a filha do governador foi gerente da Daslu, a loja preferida pelos milionários. Como se diz na gíria: Alckmin está com tudo e não está prosa!
O tino administrativo de Geraldo Alckmin também é contestado. Miriam Leitão, no artigo “PSDB improvisa e atropela eleições” (Diário de S.Paulo,19/3), constatou: “A idéia é que Geraldo Alckmin soube continuar o ajuste fiscal de Mário Covas, mas não tem sabido como dar o passo seguinte. Não soube o que fazer com os R$ 9 bilhões que tem em caixa. Fez coisas como vender ações da Nossa Caixa e pôr os R$ 700 milhões em caixa sem um projeto de uso do dinheiro”. Essa atitude de Alckmin me fez lembrar de um prefeito de Mogi Guaçu, que também guardou o dinheiro arrecadado. Depois, o prefeito que o substituiu gastou, com muitas obras, esse dinheiro guardado e ficou com a fama de bom administrador. Pelo menos soube aplicar bem o dinheiro avidamente guardado!
No mesmo artigo, Miriam Leitão abordou um tema que será problemático para Alckmin: “As sucessivas rebeliões da Febem [e agora de presídios] produziram imagens dramáticas e histórias trágicas que certamente serão usadas contra ele. A operação Daslu pode se transformar em outra arma a ser explorada politicamente”. É verdade. Acabou a moleza que a mídia lhe deu. O chuchu de agora em diante será apimentado!

JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu