domingo, setembro 05, 2010

Lula para Serra: eleição a gente ganha na rua convencendo os eleitores




Folha-Globo-Estadão: entenda a gangue dos coronéis

Mauro Carrara

Anote aí: os gordurosos oligarcas que dominaram boa parte da República Velha (1889 – 1930) nunca estiveram fora da cena política brasileira.

Na verdade, esses sesmeiros (ganhadores de terras) já conduziam pequenos reinados locais desde o Século 16, quando iniciaram no Brasil a instalação dos núcleos de produção açucareira.

Essa turma de monarcas tão poderosos quanto incultos obteve suas “patentes” de conveniência por meio da Guarda Nacional, criada em 1831.

A maioria colou no peito o título de "coronel" sem jamais ter movido um dedo em defesa da Constituição ou da integridade do território.

O embuste da Guarda Nacional, aliás, serviu para que esses micro-déspotas iletrados adquirissem autoridade para humilhar, prender, açoitar e matar, desde negros escravizados até filhos de inimigos políticos que ousassem flertar com suas filhas.

O típico coronel brasileiro, pilar do sistema patriarcal, notabilizou-se por distribuir afagos e chibatadas, não na mesma proporção...

No sistema do mandonismo, o líder rural nunca teve qualquer apreço pela democracia, nunca reconheceu o direito do “outro” e nunca compreendeu o sentido da palavra "república".

Esses latifundiários, senhores de engenho ou barões do café, conhecidos por arrotar à mesa e flatular jactantes em público, tinham profundo desprezo por Dom Pedro II, um homem de razão e sensibilidade, que pioneiramente prestava atenção ao meio ambiente, estudava o cosmo com sua luneta e promovia tertúlias com intelectuais do porte de Victor Hugo e Nietzsche.

A sociedade evoluiu, o mundo mudou e os patriarcas tiveram de constituir uma elite de gestores educados, seus representantes na máquina de comando no país.

Afinal, o sistema de exploração não podia terminar. Era necessário um arranjo no código de leis que justificasse, por exemplo, a importação de mão de obra semi-escrava.

Do ponto de vista jurídico e de propaganda, era necessário justificar o sistema que, por exemplo, atirou em senzalas fétidas milhares de imigrantes italianos e japoneses.
 
 
Os feitores de pincenê

A República Velha estabeleceu a ascensão definitiva desses oligarcas cafonas ao poder, dessa vez representados por bacharéis tão empolados quanto submissos.

Teve início, assim, a República da Bucha, numa referência à sociedade secreta Bürschenschaft Paulista, a confraria da camaradagem, da Faculdade de Direito de São Paulo, onde eram formados os representantes da elite política dominante. 

A rigor, o primeiro grupo hegemônico após a deposição de Pedro II foi composto por militares. Tratava-se da República da Espada.

Pouco antes da virada do século, entretanto, tomou corpo a República Oligárquica, que durará até 1930.

Durante os anos da política "café-com-leite", os homens seriam iguais, mas alguns mais iguais do que os outros, e eleições serviriam para legitimar a autoridade dos coronéis.

Os gestores de aluguel, letrados e brilhantinados, curtidos a lavanda, notabilizaram-se por:

- fraudar eleições;

- realizar ações de higienização social nas metrópoles nascentes, com remoção forçada e segregação de pobres e negros;

- fornecer à classe industrial emergente força policial para agredir e deter os porta-vozes dos trabalhadores;

- calar, de fato, a imprensa, especialmente aquela alternativa, ao estilo dos jornais do anarquista Gigi Damiani.

No início do Século 20, os engomados de aluguel impuseram a Lei Adolfo Gordo, criada para desestruturar o movimento operário.

Somente em 1907, botaram fora do país 132 estrangeiros por envolvimento em atividades sindicais.

Nos anos 1920, o governo ampliado da "casa grande" começou a enfrentar um núcleo oposicionista mais organizado e atrevido, algo como uma facção jovem da turma da espada.

Depois das insurreições tenentistas, a vaidade e traição atrapalharam o arranjo oligárquico de 1930, permitindo que Getúlio Vargas subisse ao poder.


A nova cara de velhos marotos

Em 1945, os descendentes dos sesmeiros formam a UDN, o partido golpista por excelência, que tem como artilheiro contratado o sofista-sabotador Carlos Lacerda, não por acaso descendente de Francisco Rodrigues Alves, sesmeiro da cidade de Vassouras.

A elite oligárquica possui terras, controle dos meios de produção agrária, participação acionária em empreendimentos industriais e representantes diplomados.

Ao se reciclar, na década de 1950, ela constitui latifúndios midiáticos. Aprimora o controle de jornais, adquire concessões rádio-televisivas e constitui uma legislação de arame farpado que protege o cartel e impede os movimentos populares de assumir protagonismos no mundo da comunicação.

O jornal O Estado de S. Paulo, o conhecido Estadão, constitui-se num reduto renovado do velho coronelismo, mesmo posando publicamente como paladino liberal.

Em 1962, por exemplo, Júlio de Mesquita Filho, apoia o Golpe Militar e seu diretor Júlio de Mesquita Filho chega a escrever o vergonhoso "Roteiro da Revolução", procurando unir a escória civil udenista à escória do "partido fardado".

A Folha de S. Paulo (Grupo Folha), especialmente via Folha da Tarde, torna-se unidade informal do governo ditatorial, fornecendo até mesmo seus veículos automotores para ações de repressão ao contestadores do regime.

Em 2 de abril de 1964, o jornal O Globo, da família Marinho, comemora o Golpe de Estado. Estampa:

-  "Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada"... "atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso... as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal".

Não é necessário que se conte aqui, mais uma vez, de que forma os coronéis e militares engendraram a fundação da Rede Globo de Televisão, o principal braço de controle midiático das elites e também de lavagem cerebral da população brasileira, função que exerce até hoje.

Chegamos a 2010 e o ímpeto golpista dos velhos coronéis não arrefeceu.

Entrincheirados em seus latifúndios midiáticos, os entusiastas do peido arrogante tentam novamente fraudar a vontade popular. Escarram na lei, definem a "verdade" conveniente e trocam a informação pela panfletagem eleitoreira.

A UDN virou Arena, que se converteu em monstros como o DEM, que por suas vez estabeleceu a filosofia política do novo PSDB, um partido sem programas, sem competências, sem princípios, mas destro nas artes da espetacularização do telecatch político, em que abundam factóides, bufonarias e outros recursos de adulteração da verdade.

O geógrafo francês Pierre Monbeig dizia que São Paulo, na República Velha, era o "governo dos fazendeiros".

Se pudesse analisar a conjuntura de hoje, certamente diria que se trata do "governo dos latifundiários da mídia".

Esses coronéis contemporâneos, controlam quase tudo, da TV aberta à TV fechada, rádios, jornais e portais de Internet.

Nos últimos 15 anos, trataram de demitir os últimos profissionais éticos e substituí-los por capitães-do-mato bajuladores, sabujos que cumprem ordens e realizam diariamente o trabalho imundo de destruição de reputações.

Só isso explica, por exemplo, a presença nas redações de gente inculta e atoleimada como Eliane Cantanhede (a insana irresponsável da febre amarela e da “massa cheirosa”) ou o capo do Instituto Millenium, Eurípedes Alcântara (o lambe-saco de Donald “Tamiflu” Rumsfeld e inventor do Boimate, a maior bobagem já publicada pela imprensa brasileira).

O levante necessário

É urgente, portanto, que se realize uma nova revolução no Brasil, uma revolução em defesa dos direitos do cidadão e da sociedade. Uma revolução pelo direito à voz

Hoje, os representantes dos coronéis trabalham dia e noite pelo Golpe, destruindo reputações, humilhando, estigmatizando, caluniando, difamando, injuriando e adulterando os fatos.

E qualquer dissonância é logo hipocritamente carimbada como "tentativa de cerceamento da liberdade de expressão".

Se de fato é preciso preservar essa liberdade, também é fundamental que ela tenha como hipoteca o respeito à lei, o bom senso e o empenho pelo fornecimento de informação limpa e descontaminada ao cidadão.

Hoje, um operário de boa índole ocupa a cadeira do poder em Brasília, mas fora do Palácio os coronéis continuam a mandar e desmandar, conspirando dia e noite contra o povo e a democracia.

E, se isso é fato, muito se deve a uma esquerda tímida, subserviente e, catastroficamente, sem mídia. 
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