sábado, outubro 08, 2005
WANDULA Muito além de qualquer possibilidade
Pop de câmara? Pós-rock? Experimental? Minimalista? Erudito? Muitas são as facetas do Wandula, que iniciou suas atividades em 1999 e vem chamando a atenção de público e crítica. Muitas vezes o meio é mais importante que o fim, o processo vale mais do que o resultado. A experiência em si é mais importante do que tudo. Abonico R. Smith decifra o mistério que faz crescer o séquito em torno deste inusitado grupo. Muitas vezes o meio é mais importante que o fim, o processo vale mais do que o resultado. Não se sabe onde se quer chegar, tudo é meio intutivo. A experiência em si é mais importante do que tudo. Assim é o Wandula, grupo de Curitiba que há algum tempo vem chamando a atenção por sua identidade musical deveras particular. Pop de câmara? Pós-rock? Experimental? Minimalista? Erudito? Muitas são as facetas do Wandula, grupo que iniciou suas atividades em 1999, quando o tecladista/pianista Marcelo Torrone resolveu explorar sonoridades diferentes daquela que costumava fazer no Plêiade, formação de indie rock de raízes britânicas hoje temporariamente inativa. Depois de desenvolver um disco solo - o CD Pianoworks, de tiragem limitadíssima - ele chamou seu companheiro de banda, o vocalista Claudio Pimentel para fazer um novo trabalho. Paralelamente, ele ensaiava com Edith de Camargo, suíça radicada na capital paranaense, músicas de Marlene Dietrich em troca do acompanhamento dela em suas novas experiências sonoras. Depois de um estalo, Torrone juntou tudo em um bolo só e trouxe Edith e Claudio para um mesmo núcleo. Assim surgiu o Wandula (diminutivo do nome próprio Wanda em polonês), com um único propósito na cabeça: explorar todas as possibilidades que um instrumento pode oferecer, sem precisar ser um expert. Torrone assumiu os teclados e o piano. Cláudio deixou a guitarra de lado para se dedicar exclusivamente ao violão de doze cordas. E Edith é um caso à parte. Além da intimidade com o piano - responsável por sua introdução ao mundo da música, ainda pequena, na Europa - ela flutua com máxima desenvoltura por acordeón, escaleta e vibrafone, instrumentos com os quais teve contato após passar a freqüentar o Conservatório de MPB na cidade que adotou. Como se não bastasse, às vezes assume o microfone e - em alguns idiomas - faz os curitibanos terem certeza de que é possível estar à frente de uma nova diva musical. Durante dois anos, o trio se esmerou para conceber o primeiro álbum, batizado simplesmente de Wandula e lançado sob o selo Gramofone no primeiro semestre de 2002. No período final das gravações, Lúcia Valeska (que nasceu na Alemanha, veio morar ainda pequena em Brasília e foi colega de escola do curitibano Dinho, vocalista do Capital Inicial) tornou-se a quarta integrante por causa da necessidade do uso de um instrumento mais grave - embora não tenha havido tempo suficente para o acréscimo do cello em algum arranjo. Wandula, o disco, viu a luz do sol no último mês de março e aos poucos foi chamando a atenção para o grupo. Em julho, eles foram convidados pela produção do Festival de Inverno de Antonina para um concerto na igreja da cidade. Jornalistas especializados de todo o país também começaram a descobrir o grupo, maravilhados. Diversidade O que faz o Wandula ser tão interessante assim é justamente a infinita combinação de possibilidades. Arranjos têm como base pianos, acordeón, violão e cello (os três primeiros nem sempre tocados pela mesma pessoa), mas a porta não está fechada para nada. "Quero tocar tudo o que puder. Gosto de brincar um pouquinho com timbres. Não sou pianista nem acordeonista. É só o encantamento com o instrumento", explica Edith. Sobre o fato da instrumentação ser acústica, ela justifica que nada foi intencional. "Aconteceu. Eram os instrumentos que tínhamos à disposição." Se há uma autodefinição para a música do grupo, a palavra é "wandulesca". "Usamos elementos da música pop. O violão do Cláudio e os compassos 4/4, por exemplo. Mas também usamos acordes enriquecidos por dissonâncias", conta Torrone. A faixa de abertura do álbum, "Paisagem Progressiva # 1", ainda vai além. "Aqui usamos elementos do minimalismo repetitivo", conta o músico. "Optamos por densidade e texturas, não o virtuosismo". No arranjo ainda há o uso de ruídos (como trens, pessoas e locuções em uma estação) e a inversão de acordes do violão. Nos shows, Lúcia desenha com o cello uma segunda melodia inexistente no disco. Para Torrone, o Wandula também procura abrir um grande leque de possibilidades com relação aos idiomas. Músicas são batizadas e cantadas em português, inglês, francês e até polonês. "Não gostamos de nos prender a algo. Usamos o exemplo do Cocteau Twins, cuja vocalista, Elizabeth Fraser, distorce sonoridades e inventa novas línguas". Dois exemplos desta multiplicidade são as músicas "Lovetears" e "Wymborska". Esta foi extraída de um poema em polonês. Já a primeira. devidamente elevada à condição de principal música do repertório, é uma poderosa balada ao piano, composta por Edith ao volante de seu carro, em pleno trânsito de Curitiba. "Já veio na cabeça, melodia, letra, tudo", conta. Os versos são em inglês e Edith não vê muitas explicações para eles. "Falo apenas de sentimentos. Lágrimas de amor e nuvens de verão [referência ao início da composição, "Lovetears and summer clouds]. Gosto muito de usar idéias não muito construídas. Muitas vezes é melhor não dizer nada e deixar que cada um faça seu próprio entendimento". Para ouvir de joelhos.
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