quarta-feira, outubro 26, 2005

"O homem da arma de fogo parece, ao menos, um ser civilizado."














É uma argumentação mais ou menos na linha dos porta-vozes do Pentágono, com seus "ataques cirúrgicos" e "efeitos colaterais" sobre a população civil, tudo muito "civilizado", principalmente quando a imprensa censura as imagens dos "efeitos colaterais" em velhos, mulheres e crianças. Na cabeça desse maluco, o ataque nuclear de 1945 deve ter sido o apogeu, o clímax da civilização ocidental, 300 mil pessoas pulverizadas em menos de um segundo, nada de sangue, nada de cadáveres, apenas a sombra em negativo de alguns nas paredes carbonizadas.

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AM

À bala é melhor

Os brasileiros referendaram bem. Plebiscitaram de forma irretocável.
Ficam agora os eternos descontentes se queixando de que as forças políticas do país estão se apartando da sociedade civil. Tolices.
As forças políticas estão com o dedo no gatilho e é babau pra moreno que bobear! Foi uma vitória acachapante e até mesmo apachacante, conforme preferem outros círculos, igualmente armados.
O que falta ao povo que em sua ingenuidade votou "sim" é imaginação. Tirem as armas de fogo e a munição da jogada e a coisa fica feia para valer.
Fui, durante uns poucos meses, repórter policial e posso afirmar de primeira-mão: o morto a facadas é muito mais desagradável do que o morto a tiros.
A coisa é feia mesmo, nem queiram ver. Deveriam botar umas fotos de camaradinhas que bateram com as dez na base da chamada – rá! – arma branca. Feito fazem com maço de cigarro. A mesma aplicação de um visual deveria acompanhar a venda de arma de fogo: fotos de matador e morto.
Uma diferença abissal entre o que subiu de arma branca e o que pediu o boné com arma de fogo. Esses os passivos da história - mas e os ativos? Os que deflagraram o tiro? Os que entraram de navalha? Um mundo os separa.
O homem da arma de fogo (não, não devemos amá-lo, claro; sequer admirá-lo) parece, ao menos, um ser civilizado. O homem da faca, do facão, da navalha, do canivete, do caco de garrafa, da pedra lascada, esse, coitado (sim, não devemos deixar de ter pena de suas vítimas; ainda há coração em nossas vidas), esse, coitado, dizia eu, parece um demônio, um trapo de vida, como queria o saudoso Ary Barroso, que, frise-se, morreu de morte natural em 1968.
Essas considerações vieram-me à mente, por assim dizer, ao saber que o crime com faca, aqui na Inglaterra e no País de Gales, aumentou em 90%, entre os anos de 2002 a 2004, passando a quase 25 mil agressões a "arma branca" entre a população civil (a aristocracia não conta), mas não chegando a 50 mortes por ano. Cortes e cicatrizes apenas. Mas uma feiúra que eu vou te contar!
De qualquer forma, aí está a lição, para quem quiser aprendê-la.
Ivan Lessa

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