terça-feira, outubro 11, 2005

OPUS DEI - A estranha conversão da Folha

Duas estudantes são presas por trocarem "selinho" em um dos Campus da USP

A Folha, como de resto toda a imprensa tucana, não deu nenhum destaque sobre o assunto...

OPUS DEI
A estranha conversão da Folha

Alberto Dines

Supõe-se que uma imprensa democrática deve ser laica e secular. A mídia brasileira não era laica nem secular antes da ofensiva pentecostal – e não é agora, quando a veiculação eletrônica foi tomada de assalto pelas diferentes seitas e confissões cristãs não-católicas.

Mais grave do que isso é o visível crescimento (na realidade, virtual hegemonia) da Opus Dei na grande imprensa brasileira, tanto no âmbito nacional como regional. A Folha de S.Paulo parecia resistir bravamente à dominação, mas capitulou no período que se seguiu à morte do Sumo Pontífice: a Opus Dei começou a ganhar grandes espaços no jornal como aqui já foi registrado [ver remissão abaixo].

A confirmação desta adesão está no longo texto que dominava solene e simbolicamente a página 3 da edição do domingo (8/3), assinado por Javier Etchevarria, prelado da Opus Dei, sob o título "O Novo Papa".

Não se trata de uma questão de fé. Sob o ponto de vista estritamente teológico, a Opus Dei não difere de outras ordens e correntes fundamentalistas católicas. O que interessa à democracia brasileira é que a conversão da Folha ocorre numa esfera que nada tem de religiosa ou espiritual.

Pluralismo e diversidade

A Opus Dei tomou conta da Associação Nacional de Jornais (ANJ), tomou conta da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), montou junto com a Universidade de Navarra uma rede de consultorias internacionais, domina parte da mídia ibérica e, sobretudo, está infiltrada e dá as cartas nas grandes multinacionais espanholas.

Além da sua operosidade na salvação das almas desgarradas, a Opus Dei é um projeto de poder, de dominação dos meios de comunicação. E um projeto desta natureza não é nem poderia ser democrático.

A conversão da Folha é uma opção estratégica, política e ideológica. Empresas privadas têm liberdade para fazê-las. Mas jornais que se pretendem "a serviço do Brasil" deveriam aferrar-se à eqüidistância, ao respeito pelo pluralismo e pela diversidade de opiniões.

Crer é um direito inalienável. Tal como descrer.

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