sexta-feira, outubro 14, 2005

O Dines chama de pool, eu chamo de máfia.





VAVÁ INÁCIO & ZECA DIRCEU
A volta do abominável "A Pedidos"

Alberto Dines

O expediente não é novo, trata-se da versão modernizada do velho panfletarismo que sempre vigorou em nossa imprensa. O jornal desfechava um ataque e no dia seguinte o reproduzia em outros jornais num canto identificado como "A Pedidos". Criava-se uma bola de neve difícil de enfrentar.

A última aparição de um pool de escândalos data de 1997-98, durante a primeira temporada dos ditos-cujos, e foi introduzida junto com o "jornalismo fiteiro". O jornal "eleito" pelos denunciadores secretos recebia o material e antes de publicar no domingo o redistribuía aos demais, inclusive aos concorrentes. Ninguém se sentia humilhado pelo furo do outro, todos felizes com o escarcéu coletivo. Depois cada um desenvolvia o seu ângulo particular. Trambique pactuado.

A atual temporada começou com uma tabelinha entre Veja e o Fantástico para divulgar o "vídeo da propina" feito por arapongas oficiosos. Mas a Folha de S.Paulo recusou-se a compartilhar as entrevistas de Roberto Jefferson – estava certa, eram exclusivas. A repercussão nos dias seguintes seria livre.

No último fim de semana (8-9/10), o pool foi novamente acionado com duas denúncias simultâneas, ambas na área familiar, departamento de nepotismo: o lobismo envolvendo o irmão do presidente de República, Genival Inácio da Silva, e o apadrinhamento da candidatura de Zeca Dirceu pela máquina comandada por seu pai, o ex-ministro-chefe da Casa Civil.

A matéria sobre as andanças palacianas de Vavá Inácio foi publicada pela Veja no sábado e amplamente difundida pelos jornalões de domingo (fechados no sábado pela manhã). O Estado de S.Paulo deu uma chamada no alto da primeira página e grande matéria em página interna (A 9). Não foi coisa de última hora, tudo indica que a matéria tenha sido "soprada" com a necessária antecedência, na sexta-feira.

Pacto traído

A Folha publicou sua contribuição à denúncia da Veja em página interna (A 11) com bastante visibilidade. Nos dois jornalões paulistas a acusação contra Vavá veio devidamente amparada por declarações de líderes da oposição. Supostamente "soprada" na sexta-feira.

Sem este pool, a matéria de Veja contra Vavá não conseguiria o destaque que ganhou na mídia, na segunda e terça-feira (foi lançada com apenas um rodapé na capa e quatro páginas no miolo). O mesmo aconteceu em maio: se o Fantástico não mostrasse simultaneamente aquela inesquecível imagem de Mauricio Marinho embolsando os 3 mil reais, a repercussão da denúncia da Veja seria bem menor (convém lembrar: a matéria principal daquela edição da revista era a doença do Raul Cortez).

O escândalo da Folha sobre a ajuda federal à candidatura de Zeca Dirceu à prefeitura de Cruzeiro d’Oeste (Paraná) foi fraternalmente compartilhada pelo concorrente, o Estadão (pág. A-9), no mesmo domingo. O Globo aparentemente não participou desta ação entre amigos (os casos não apareceram na edição que circula em São Paulo).

Perguntará o leitor: por que classificar este tipo de confraria como abominável?

O pool compromete os vínculos de confiança entre o leitor e o seu veículo. O leitor supõe que todas as matérias do seu jornal foram devidamente apuradas em sua redação. A republicação de informações alheias é uma traição ao pacto veículo-leitor.

O pool trava a competição e a diversidade informativa, bases do sistema jornalístico democrático. O banquete informativo da sociedade pluralista pressupõe um cardápio variado e, de preferência, conflitante. Caso contrário, estaremos dando razão àqueles que acusam a imprensa nesta crise de transformar-se num partido político.

O partido do "A Pedidos".

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