31/1/2012, Mark Weisbrot, Guardian, UK
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2012/jan/31/american-democracy-promotion-rings-hollow
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2012/jan/31/american-democracy-promotion-rings-hollow
Não consegui não rir, ao ver o International Republican Institute (IRI) apresentado na imprensa internacional como “organização que promove a democracia”[1]. O IRI voltou agora às manchetes, porque o governo militar do Egito incluiu alguns de seus agentes numa lista de pessoas proibidas de deixar o país, o que significa que permanecem no Egito, e poderão ter sua vida e suas atividades investigadas e talvez sejam processados[2]. É quase inacreditável que haja jornalistas e editores ou tão crédulos ou tão mal informados. Se eu descrevesse o Center for Economic and Policy Research[3] como “organização de magia que converte sucata em ouro”, será que, dia seguinte, minhas palavras estariam nas manchetes, como descrição padrão do Centro onde trabalho?
O IRI é o braço internacional do Partido Republicano dos EUA.
Quem tenha estômago para assistir aos debates entre candidatos Republicanos, dificilmente acreditará que o IRI, do mesmo partido, algum dia promoveu ou promoverá alguma democracia.
Basta examinar o histórico dos movimentos do IRI, para saber do que se trata: em 2004, o IRI teve atuação destacada no golpe que derrubou o governo democraticamente eleito do Haiti[4]. Em 2002, o presidente do IRI celebrou publicamente o golpe militar (de curtíssima duração) que derrubou o governo democraticamente eleito da Venezuela[5]. E o IRI também atuava com grupos e indivíduos envolvidos no golpe.
Em 2005, o IRI esteve envolvido num esforço para modificar a legislação eleitoral no Brasil, para enfraquecer o Partido dos Trabalhadores, PT, partido do então presidente Lula da Silva[6].
Quem tenha estômago para assistir aos debates entre candidatos Republicanos, dificilmente acreditará que o IRI, do mesmo partido, algum dia promoveu ou promoverá alguma democracia.
Basta examinar o histórico dos movimentos do IRI, para saber do que se trata: em 2004, o IRI teve atuação destacada no golpe que derrubou o governo democraticamente eleito do Haiti[4]. Em 2002, o presidente do IRI celebrou publicamente o golpe militar (de curtíssima duração) que derrubou o governo democraticamente eleito da Venezuela[5]. E o IRI também atuava com grupos e indivíduos envolvidos no golpe.
Em 2005, o IRI esteve envolvido num esforço para modificar a legislação eleitoral no Brasil, para enfraquecer o Partido dos Trabalhadores, PT, partido do então presidente Lula da Silva[6].
Mais recentemente, em 2009, houve um golpe militar contra o governo democraticamente eleito de Honduras. O governo Obama fez o que pôde para favorecer o golpe e os golpistas[7], e apoiou “eleições” em novembro de 2009, para legitimar o governo dos golpistas. O resto do mundo – até a Organização dos Estados Americanos (OEA), pressionada pelas democracias sul-americanas – recusou-se a enviar observadores para emprestar legitimidade àquelas eleições. Houve repressão antes das eleições[8]: violência policial, ataques contra a mídia independente e o exílio forçado de opositores políticos, entre os quais o presidente democraticamente eleito.
Mas o IRI e o National Democratic Institute (NDI) – organização semelhante ao IRI, mas do Partido Democrata dos EUA – lá estavam, em Honduras, para legitimar a eleição-farsa. Ninguém precisa acreditar em mim. Aqui vai o que disse a USAID, agência do Departamento de Estado dos EUA e principal mantenedora e financiadora das atividades do IRI e do NDI, sobre o que foram fazer em Honduras (pdf[9]):
“A ausência da OEA e de outros grupos reconhecidos de observadores internacionais tornou ainda mais significativo, aos olhos da comunidade internacional, o trabalho de avaliação e observação realizado pelas nossas organizações NDI e IRI. A validação de um processo eleitoral livre, justo e transparente é forte argumento de apoio ao novo governo. […] A “convalidação” internacional pelo NDI e a “observação” pelo IRI, embora não preencham todos os padrões aceitos, alcançaram, pelo menos em parte, o impacto desejado.”
Sabe-se lá o que o IRI está fazendo agora no Egito. Mas sabe-se o que os EUA fizeram no Egito, ao longo de décadas: apoiaram uma ditadura brutal, até que as multidões nas ruas sugeriram fortemente que Washington não conseguiria impedir que Mubarak fosse derrubado, ano passado, por um movimento democrático real e popular.
Essas organizações, o IRI do Partido Republicano e o NDI do Partido Democrata dos EUA integram a National Endowment for Democracy, organização dedicada a atividades que “muitas delas” são “clandestinamente financiadas pela CIA” – como escreveu o Washington Post, quando a NED estava sendo criada no início dos anos 1980s. Algumas vezes, essas organizações apoiam a democracia, mas na maioria dos casos, não; e não raramente trabalham contra a democracia. Não porque sejam organizações inerentemente ‘do mal’, mas por causa da posição dos EUA no mundo. O governo dos EUA, mais que qualquer outro governo contemporâneo, governa um império. Por sua própria natureza, impérios têm a ver com manter o poder e controlar povos em terras distantes. Esses objetivos dos impérios muito frequentemente estarão em conflito com as aspirações democráticas e os anseios por autodeterminação dos diferentes povos.
Em nenhum outro ponto do mundo isso é hoje mais visível que no Oriente Médio, onde a política de sucessivos governos dos EUA, de colaborar com Israel e negar os direitos nacionais dos palestinos, continua a pôr os EUA em aberta oposição às populações locais. Resultado disso, Washington teme a democracia no Oriente Médio, porque ela fatalmente gerará governos eleitos que cerrarão fileiras com os palestinos e contra as ambições dos EUA na região (contra, por exemplo, a construção de bases militares e a permanência, lá, de exércitos norte-americanos). Mesmo no Iraque, onde Washington não se cansa de repetir que derrubou um ditador sanguinário, o povo teve de continuar resistindo aos exércitos de ocupação, até haver eleições e, afinal, conseguir expulsar de lá os soldados dos EUA.
Cria-se assim um círculo vicioso, no qual ditadores odiados apoiam as políticas dos EUA e, por sua vez, são apoiados pelos EUA, o que só faz aumentar a animosidade regional contra os EUA. Em alguns casos, essa animosidade levou a ataques terroristas contra instituições e cidadãos norte-americanos, o que foi então rapidamente usado pelos governantes para justificar longas guerras ou guerras intermináveis (por exemplo, no Iraque e no Afeganistão). Pesquisa de opinião pública árabe, realizada pela universidade de Maryland e pela Zogby International, e que incluiu o Egito, pedia que os respondentes citassem “dois países que mais o ameaçam diretamente”: 88% citaram os EUA; 77%, Israel; só 9% citaram o Irã.
Outro efeito danoso do patrocínio que os EUA garantem à “promoção da democracia” é que ajuda governos que nada desejam além de reprimir e fazer calar movimentos locais autênticos, eles, sim, pró-democracia. A maioria dos governos repressivos no Oriente Médio e no Norte da África, sempre que precisaram deslegitimar a oposição, acusaram-na de cumplicidade com Washington, acusação muitas vezes sem qualquer fundamento, mas nem por isso menos desmoralizante.
Aqui em Washington, poucos parecem dar-se conta de que os grupos que “promovem a democracia” custeados pelo governo dos EUA já não têm qualquer credibilidade, em praticamente todo o planeta. Mas é fato, e acontece mesmo quando um ou outro grupo não esteja trabalhando ativamente contra algum governo democrático.
Sempre que se cogitar de cortar gastos públicos nos EUA, boa ideia será começar por cortar o financiamento, com dinheiro público, a grupos e ONGs [e a blogueiras fascistas] dedicados a “promover a democracia” onde não fazem falta nem são bem-vindos.
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Sempre que se cogitar de cortar gastos públicos nos EUA, boa ideia será começar por cortar o financiamento, com dinheiro público, a grupos e ONGs [e a blogueiras fascistas] dedicados a “promover a democracia” onde não fazem falta nem são bem-vindos.
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