sábado, fevereiro 25, 2012

Ocidente, Liga Árabe...‘amigos’ da Síria?

25/2/2012, Igor Siletsky, The Voice of Russia, Moscou
http://english.ruvr.ru/2012_02_25/66875031/

Ver tambémO exército rebelde pulula de agentes da Al-Qaeda - Pepe Escobar, para Russia Today (entrevista transcrita e traduzida)19/2/2012, em http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/02/gentes-da-al-qaeda-pepe-escobar-o.html



Centenas de apoiadores do presidente Bashar al-Assad da Síria manifestaram-se hoje à frente do hotel, na Tunísia, onde foi inaugurada ontem, 6ª-feira, a Conferência “Amigos da Síria” [Friends of Syria, FOS]. Os manifestantes tentaram invadir o hotel, para protestar contra o apoio ocidental à oposição, na Síria. Representantes franceses disseram na Conferência que reconhecem a legitimidade do Conselho Nacional de Transição, como oposição a Assad. O presidente da Tunísia, Moncef Marzouki, sugeriu que seja garantida imunidade ao presidente Assad e família, com garantia de que não serão processados; e pediu que a Rússia lhes garanta asilo político (Moscou e Pequim boicotaram a Conferência). Segundo o ministro das Relações Exteriores da Rússia, assim como já fizeram no caso da Líbia, os autoproclamados “amigos da Síria” estão criando uma coalizão internacional em apoio a um dos partidos envolvidos no conflito sírio. A reportagem é de Igor Siletsky, do jornal The Voice of Russia.

Parte da oposição síria “doméstica” boicotou a conferência na Tunísia. O chamado Comitê de Coordenação Nacional para Mudança Democrática [orig. National Coordination Committee for Democratic Change] não gostou de os organizadores do fórum os terem ignorado e de terem favorecido o Conselho de Transição Nacional, fundado no exterior e mantido por exilados.

Rússia e China também não participam da conferência; declararam que nenhum fórum terá jamais legitimidade para discutir o futuro de um país, se excluir as autoridades legítimas do país cujo futuro se discute. Para o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Gennady Gatilov, “Discutir a crise na Síria, sem representantes do governo sírio é erro. É claro que os principais atores, o próprio governo sírio, têm de ser ouvidos.”

O grupo “Amigos da Síria” foi instituído pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, depois que Rússia e China vetaram resolução sobre a Síria, na ONU. Um total de 70 países, entre os quais EUA, Grã-Bretanha e países membros da Liga Árabe, apoiaram a iniciativa de Sarkozy. Segundo os organizadores da conferência na Tunísia, o Grupo foi criado para aumentar as pressões políticas e econômicas contra o presidente Bashar al-Assad. No momento, ninguém parece cogitar de intervenção militar, do tipo que se viu contra a Líbia, porque seria difícil de organizar, em primeiro lugar porque não há qualquer mandado da ONU nessa direção; e, em segundo lugar, porque o exército sírio é consideravelmente mais forte em número e armas que o exército líbio, o que criaria dificuldades extras, de consequências imprevisíveis para a região, no caso de a Síria ser invadida por países vizinhos.

Mesmo assim, membros do Conselho de Transição Nacional sírio insistem em ‘convidar’ algum tipo de intervenção externa. Representantes do CTN exigem que os “Amigos da Síria” forneçam armas aos militantes do Exército Síria Livre. Notícias divulgadas pela rede Al Arabiya dizem que o exército da oposição síria está sendo abastecido com armamento leve e equipamento militar que lhe chega do exterior. Grupos armados da oposição a Assad receberam equipamento de comunicação e de visão noturna. Esses suprimentos são enviados do exterior por grupos de exilados sírios. E os mesmos grupos da oposição armada já têm contatos feitos para que lhes sejam enviados equipamentos móveis de defesa antiárea e sistemas de defesa antitanques.

O grupo “Amigos da Síria” tem outros objetivos, além dos anunciados oficialmente. Ainda que não queiram repetir em detalhes o cenário líbio, o ocidente e a Liga Árabe estão claramente repetindo as linhas gerais daquele golpe, diz Irina Zvyagelskaya, do Instituto de Estudos Orientais.

“A oposição síria, embora seja muito dividida, faz exigências duras e semelhantes: todos os grupos querem a saída de Assad, como precondição para o início de conversações. Estão todos convencidos de que conseguirão implantar a sua agenda, e de que conseguirão assumir o poder na Síria sem ter de fazer qualquer concessão, só com imposições e ultimatos. Sem Assad, há risco de a Síria mergulhar em caos ainda pior, que talvez exija interferência externa. E o presidente Assad não está promovendo as mudanças, embora continue a falar delas.”

De fato, o presidente sírio está decidido a promover as reformas, embora seus planos tenham de ser diariamente alterados por ataques e troca de tiros cada dia mais violentos, provocados pela oposição. Nesse domingo, 25 de fevereiro, os sírios votarão em referendo a nova constituição da Síria.

Mas especialistas dizem que nada do que Assad faça deterá a oposição armada contra ele. A porta-voz do Departamento de Estado Victoria Nuland disse, pouco antes de iniciado o fórum dos “Amigos da Síria”, que se os “Amigos” não conseguirem convencer Assad a deixar o poder, os EUA considerarão outras opções, sem descartar a possibilidade de invasão militar.

Segundo o ex-ministro de Informação do Líbano, Michel Samah, o principal objetivo dos chamados ‘amigos da Síria’ é dividir a Síria e provocar uma guerra civil. Há esperança ainda de que, apoiada por Rússia e China, a Síria consiga impedir que EUA e França implantem-se na região. Os chamados ‘amigos da Síria’ acusaram Moscou e Pequim de serem responsáveis pela crise síria; e recomendaram que as duas capitais revisem as posições sobre o assunto.

Essa semana, a ONU nomeou Kofi Annan enviado especial à Síria. Annan conclamou todos os partidos e grupos envolvidos no conflito a cooperar para pôr fim à violência e construir solução pacífica para a crise. A Rússia espera que o trabalho de Kofi Annan consiga levar a alguma solução efetiva para o conflito. Moscou também está preparada para colaborar com a ONU, a União Europeia e a Liga Árabe para que se evite um desastre humanitário e político no Oriente Médio.

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