terça-feira, agosto 18, 2009

Partido Mudo

Lula e o segredo do partido mudo

 

O PT é um partido sem mídia.

O PSDB é uma mídia com partido.

 

Mauro Carrara

 

Poucos homens públicos brasileiros exibem currículo tão desonroso quanto o senador amazonense Arthur Virgílio.

 

Escolha-se uma patifaria qualquer. E logo se encontra o parlamentar como despudorado protagonista de uma façanha nessa categoria.

 

Qualquer “cidadão de bem”, se bem informado, pediria a cassação imediata do embusteiro da floresta. Bastaria que soubesse, por exemplo, como o tucano agiu na CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes para salvar seu comparsa Omar Aziz.

 

Ainda assim, Virgílio mantém-se como interlocutor preferencial da mídia golpista. Com sua cara de gaiato falastrão, posa como paladino da moral e dos bons costumes.

 

Lula o considera um sujeito de má índole e reclama por ter como oponente o mais desqualificado membro da Câmara Alta.

 

Este é apenas um exemplo de como o presidente trava uma luta desigual no campo da informação.

 

Seus principais apoiadores têm sido midiaticamente alvejados, um a um, como patos na esteira da barraca de tiro do parque de diversões.

 

Seus inimigos, no entanto, permanecem incólumes. E, não raro, riem da impotência do partido do presidente, que eles mesmos já apelidaram de “Partido Mudo”.

 

Na recente troca de tiros no Senado, o bandalho-mor acabou recebendo até mesmo o apoio de membros da estulta bancada mudista.

 

Nos corredores da casa, bateu no peito e gargalhou dos submissos adversários.

 

Em recentes episódios, aliás, a oposição pisou sobre um felpudo capacho de senadores da estrela, divididos entre a estupidez e o jogo pessoal de interesses.

 

Do ponto de vista da comunicação, é espantosa a incapacidade dos representantes do partido para propagar qualquer defesa consistente do governo.
 
Ao contrário, muitos procuram adular os agentes de mídia monopolista em busca de um afago de três linhas ou de três segundos.

 

No caso das instâncias diretivas do partido, a situação é ainda pior. A norma é a tímida reclamação infantil ou a omissão completa.

 

O mundo recebeu uma espetacular lição de guerrilha comunicativa durante a campanha de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos.

 

O afro-descendente conseguiu falar “por cima” da grande mídia, utilizando sobretudo os canais da Internet, como blogs, redes sociais e fóruns.

 

Em dado momento, sua relação com boa parte do eleitorado já não era mediada pelos NYT e WP da vida. Sua comunicação se estabelecia à margem dos filtros da grande mídia.

 

No Brasil, entretanto, o Partido Mudo não aprendeu nada com esse exemplo histórico.

 

O PM desconhece a dinâmica do moderno marketing político viral, especialmente no campo das mídias eletrônicas interativas.

 

Acredita que basta manter um sitezinho e postar, de vez em quando, um artigo em defesa do governo.

 

Do alto de sua ignorância arrogante, o PM tolamente crê em canais unidirecionais de comunicação, mesmo com todas as evidências contrárias.

 

Enquanto alguns ideólogos ainda perdem tempo discutindo as razões da implosão da Primeira Internacional, ocorrida há mais de 140 anos, as oposições trabalham diariamente os nichos de formadores de opinião na Internet.

 

Por conta desse descuido tático, por exemplo, José Genoíno caiu inocentemente numa armadilha criada pelos tucanos do programa CQC, liderado pelo transtucano Marcelo Tas, o carequinha da FIESP.

 

 

Os cegos do castelo

 

O dossiê da MTV, em sua versão 2.008, já mostrava que 74% dos jovens utilizavam celulares, inclusive para receber informação.

 

Em cada grupo de 10, pelos menos 8 faziam parte de uma comunidade virtual, como Orkut, Facebook e Myspace.

 

Nesses canais de difusão informativa, a presença organizada do governo e do partido do presidente é praticamente nula.

 

É lá, no entanto, que os “palhaços chiques” do RPNC organizam suas passeatas do Fora Sarney. É lá que difundem diariamente a falsa “ficha de terrorista” de Dilma e fazem ecoar as ideias de Mainardi e Azevedo.

 

Durante anos, cogitou-se da criação de um canal de comunicação de massa, um “UOL do bem”, difusor de informação descontaminada. O projeto, entretanto, nunca saiu do papel.

 

Mas por quê? Afinal, não custa caro. E há gente competentíssima para tocar qualquer ação do gênero. Muitos demitidos das redações por ordem de José Serra...

 

Na verdade, nos círculos de proteção do governo e do Partido Mudo, o tema converteu-se em tabu e, com o tempo, assim se cristalizou.

 

Até as pessoas de bom caráter, agora convertidos em cegos do castelo, fogem do assunto. Desconversam. A norma é bufar, fazer careta e apontar problemas logísticos, técnicos e financeiros.

 

São argumentos convenientes, mas pobres. Afinal, hoje, garotos de 14 anos montam, do dia para a noite, sites de baladas que acusam até 500 mil visitas diárias.

 

Há ainda quem diga que a tal “blogosfera” já é capaz de ocupar esse espaço estratégico, o que se constitui em estupendo equívoco, mesmo que se louve a batalha diária de Azenhas, Rodrigos, Cloaqueiros, Beatrices e outros heróis da resistência.

 

Afinal, nestes dias de bits insanos e errantes, a desconstrução da imagem do governo se faz além dos debates exclusivamente políticos e sociais. A campanha está presente extensivamente em todas as editorias, em tintas ou pixels.

 

Basta clicar, por exemplo, no blog do jornalista esportivo Juca Kfouri, da Folha de S. Paulo. Entre os comentários sobre os gols de Ronaldo e as contratações do Fluminense, há volumoso material destinado a desqualificar o governo Lula, todos os dias, obsessivamente.

 

A ordem nas redações, pois, é ampliar a ação de sabotagem para as outras editorias. Os meninos e meninas que nada leem de política são agora colhidos pela campanha de demonização de Lula e Dilma nas editorias de esportes e artes, bem como nas páginas de “humor”.

 

Um eventual “UOL do bem”, portanto, somente funcionará se compuser um mosaico informativo e opinativo de ampla abrangência temática.

 

Terá de tratar de moda, culinária, saúde e cultura em suas páginas iluminadas, o que parece um “pecado” para certa esquerda decrépita ou conformada.

 

 

Herança de silêncio

 

No árduo trabalho para conduzir o metalúrgico à presidência, seu principal articulador prometeu que o Partido Mudo não invadiria alguns feudos de comunicação.

 

Em troca, as famílias do cartel de comunicação pegariam leve com o candidato.

 

O acordo nunca foi bem cumprido pelos midiocratas. E, em dado momento, o próprio articulador foi triturado por esses interlocutores.

 

Estranhamente, no entanto, os homens de comunicação do governo e do Partido Mudo ainda respeitam essa vergonhosa interdição.

 

O que, afinal, explica a manutenção desse transe? Acorda, zumbi! Fala!

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