domingo, janeiro 01, 2006



Nós, somos muitos!!!

Queridos!

Eu não penso muito nesses negócios de fim-de-ano, mas, nem que pensasse muito nesses negócios de fim-de-ano, eu conseguiria começar o último dia de 2005 com leitura mais estimulante do que essa msg, do Julio-via-Adauto, para embalar, e chegar, amanhã, ao primeiro dia de 2006.

Isso, porque se vê, nessa msg, que nós já somos um tipo de "NÓS", como se diz em espanhol, "nosotros", uma palavra tão bonito. Tá na cara! Nós reconstruímos, afinal, algum tipo de NÓS.

Não há outra idéia que me encha de mais alegria, hoje, do que essa. Não se trata de ter "esperança" -- pq eu não acredito em esperança, nem gosto de esperança. A esperança é uma "paixão triste", como ensinou Espinoza, e não deve nem ser buscada nem ser cultivada.

Digo é que essa msg me encheu de ALEGRIA. E é alegria mesmo!

Mexplico:

Desde o dia da posse do presidente Lula, eu já sabia que tudo teria de recomeçar ali mesmo, depois da posse do presidente Lula, por NÓS reconstruirmos os grupos orgânicos da luta política, no Brasil. Não falo de "partidos políticos", ainda, porque demora até reconstruir (ou, como no Brasil, CONSTRUIR, afinal, partidos políticos). Falo de reconstruir o que nós tínhamos, na sociedade brasileira: alguma espécie de "instinto" social e político, que se manifestavam em "movimentos" em 64, e que foram triturados pela ditadura e, em seguida, foram reduzidos a pó-de-traque, pelos governos do 'neoliberalismo', de Geisel a FHC. Penso, aqui, em coisas como "o movimento pró legalidade" (do Brizola), nos "grupos dos onze" (idem), nas "Ligas camponesas" e outros desses "movimentos". Esses movimentos NADA tinham a ver com partidos políticos, no Brasil.

Esses grupos e movimentos eram constituídos a partir de solidariedades sociais, históricas, orgânicas, que eram políticas, é claro! Mas que não tinham nenhuma "teoria política" e, portanto, nunca tiveram DISCURSO político.

Quando esses grupos e movimentos e solidariedades sociais "mudas" foram triturados pela ditadura, eles não deixaram NENHUMA memória, senão a que sobrou, difusa, na nossa memória social, no Brasil.

Com a ditadura, essa memória social foi ativamente soterrada. Nem a universidade, no Brasil, cuidou de mantê-la viva. Bem feitas as contas, nem o cinema, nem o teatro, nem a música.

Em 2002, essa memória social difusa, muda, sem discurso social, elegeu o presidente Lula -- e nós nem sabemos dizer exatamente como ou por quê o Brasil elegeu Lula. De garantido, mesmo, só sabemos que, sim, algum Brasil que nós não conhecemos, elegemos o presidente Lula.

A história de trituramento e pulverização de todas as solidariedades políticas orgânicas, no Brasil -- para convertê-las em 'solidariedades' de negócio --, é a história da chamada "redemocratização", que nada teve além de uma 'redemocratização' formal, institucional. A tal 'redemocratização' 'conduzida' por Sarney, não redemocratizou porra nenhuma, no Brasil. A tal de 'redemocratização' à moda Sarney só operou para organizar o que já estava delineado pela e na ditadura.

No dia da posse de Lula, eu VI, afinal, que os governos FHC haviam sido o último capítulo daquela "redemocratização lenta, gradual e segura" -- que quase me matara, que quase me broxara totalmente, e que eu sofrera durante 40 anos. Por isso, claro, eu só chorava, olhando a posse de Lula. E eu batia queixo e suava frio, de medo; de medo, é claro, de que Lula levasse um tiro ali mesmo, no palanque. Hoje eu entendo que o preço que pagamos para que Lula não levasse um tiro ali mesmo, no palanque, foi a tal "Carta aos Brasileiros". (Continuo convencida disso.)

Por tudo isso, eu chorava e suava frio, também, de pura aflição. Por que, ao mesmo tempo em que eu via que a posse de Lula punha fim, pelo menos formalmente, a 40 anos de golpe, no Brasil (o que só conseguimos porque Lula assinou a tal "Carta aos Brasileiros"), eu só pensava: "Mêo! Mêo! Mas... e AGORA?!"

Talvez pareça exagero, dito assim, de repente, mas não é exagero: a verdade é que só quase 4 anos depois da posse de Lula é que eu me convenci, mesmo, de que talvez fosse possível, sim, recomeçar a reconstruir os grupos orgânicos da luta política, no Brasil. E isso aconteceu quando li o slogan da Universidade Nômade: "Lula é muitos". Juro! Tive um calafrio (do bem) na alma, quando li essa frase.

Hoje, já temos alguma coisa feita, aqui, pela Internet, pelo menos. Não é muito, mas o que estamos fazendo é MUITO importante, em primeiro lugar, porque o que nós estamos fazendo está ativando algumas forças que ficaram esquecidas, por muitos anos -- também em nós mesmos. Falo por mim, mas acho que falo, também, por outros, dessas nossas listas.

Sou dos que acha que a gente só pode entender o que faz DEPOIS de ter feito. Parece meio doidivanas, mas não é.
Sou das que acha, também, que só se aprende a fazer fazendo. É claro, portanto, que é preciso fazer, primeiro.

Lênin não inventou a revolução russa, nem a aprendeu 'dos livros'. Em ENORMÍSSIMA medida ele, sim, deixou-se levar por ela... e foi arrumando & ajeitando lá o que ele ele pôde, no calor da hora. E sempre, ao mesmo tempo, tanto arrastado pela revolução, quanto arrastando e empurrando a revolução, na unha. Nenhuma revolução jamais aboliu a história.

Nessa parada braba, nós estamos hoje, no Brasil. É tocar pra frente.
Já passamos por momentos muuuuuuuuuuuuuuuuuito mais difíceis do que os que nos aguardam, em 2006.
Não vai ser fácil. Mas -- e é uma ENORME alegria, pra mim, poder constatar isso -- a verdade verdadeira é que nós NÃO MORREMOS, nem broxamos, nem estamos assustados.

Lula é muitos! Que venha, então, esse tal de 2006!

8-) Caia

PS: Estou em pique de Matraga-do-Roberto-Santos (homenagem ao Raul Longo, que, como eu, é apaixonado pelo Roberto Santos): "Até Deus, se vier, que venha armado!" Ou, então: "Prô céu eu vô, nem que seja a porrete!"
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----- Original Message -----
From: jotaamorim
Sent: Friday, December 30, 2005 8:14 PM
Subject: Feliz 2006!!!

Caros Leitores do Curtas e Boas:

“A democracia é para a minoria porque a maioria já tem o poder”.
(Rosa de Luxemburgo)

Gostaria de agradecer a atenção de todos e a oportunidade que tive de conhecer tanta gente bacana em 2005. A idéia do boletim surgiu de um sentimento de injustiça surgido em junho, começo da crise política. De início muita confusão. Aos poucos a cortina da hipocrisia foi caindo e percebemos que o objetivo principal das CPIs instaladas era destruir o PT, o Governo Lula e a esquerda. Todas as manobras midiáticas foram feitas e ainda serão para atingir esses objetivos. Nada de positivo que seja feito pelo atual Governo será a ele creditado ou aplaudido!!! Nada!!! Não há perdão!!! Não há acerto!!! Não há méritos!!! Quando muito, notas de pé de página. O que vimos foi uma sede insaciável de destruição, menosprezo e preconceito. O que é que esse ex-metalúrgico, semi-analfabeto, sem um dedo está fazendo aí? De que “raça” é este partido? Como pode ele atingir tão bons índices (sejam econômicos ou sociais) sem ao menos ter concluído seus estudos? Sem ao menos gostar de ler? (depois de tanto insistirem nisso, comecei a verificar que a grande maioria das pessoas com curso superior que eu conhecia, em julho, não tinham lido sequer um livro!). Enfim, identificamos uma luta que não é nova e pela qual tomei partido!!! Descobrimos quanta falácia nos conceitos de democracia e liberdade de imprensa... Descobrimos o conceito de opinião publicada... Os meios de comunicação já não nos dão informações para que formemos opiniões... Querem que engulamos a opinião publicada goela abaixo!!! Em nome de quê e de quem? Daí, resolvemos divulgar alguns poucos dados, fazer comparações e encontramos um material super rico... Nos surpreendemos com a falha do Governo na área de comunicação!!! Ele não está conseguindo passar para a sociedade os bons números alcançados!!! É lamentável...
De início, apenas alguns amigos recebiam o boletim... Hoje já temos mais de 1.000 em nossa lista!!!
Gostaria de agradecer especialmente ao grande Adauto, do Maranhão, que carinhosamente repassa o Curtas para toda a sua lista e que muito nos incentivou com suas mensagens de apoio...
A incansável guerreira Caia Fittipaldi, cujos textos são verdadeiros torpedos escrachados que muito nos faz rir e pensar...
A Helena Sthephanowitz de Piracicaba, pelas poucas e boas parcerias...
Ao pessoal da Universidade Nômade, especialmente ao Giuseppe Cocco, pelo nível do debate e da fé (Lula é muitos!!!)...
A Ana Maria de Brasília, mãe simbólica de toda a simpatia e militância e que tanto me emociona (beijo grande!!!)
Aos de Recife que também repassam o boletim (citar apenas um seria injusto)!!!
Ao poeta Raul Longo de Floripa pelos elogios e maravilhosos desabafos (em minha próxima visita a Floripa irei conhecer sua pousada)...
Ao grande escritor Miguel do Rosário pela lucidez e fonte de inspiração (obrigado, obrigado, muito obrigado!)...
E, por fim, ao companheiro Douglas, pelo incentivo, pelas intervenções, pela colaboração e por dividir comigo seu raciocínio tão brilhante, tão sereno e tão criador (meu querido, criatividade para mim tem o teu nome!!!)
Que em 2006 nos sintamos motivados com gana, raça e força para a luta que há de vir...
Que os ânimos sejam renovados com a convicção de que o caminho se faz ao caminhar...
Que tenhamos a certeza de que a esperança, definitivamente, é vermelha...
Fraternalmente:
Julio Cesar

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