quinta-feira, janeiro 26, 2006


Um texto lindo e fundamental, como o significado desta imagem. Obrigado Cari, obrigado Bárbara.


Amiga(o)s, companheira(o)s, peço que leiam a análise da Bárbara. É simples o suficiente para clarear o que consideramos, as vezes, problema na argumentação e explicação de "LULA é muitos", e, também na trajetória do PT, como referência à democracia. Quero agradecer a contribuição da Bárbara. Ótimo. Abraço forte e CARInhoso a toda(o)s.

Oi pessoal, já que a conversa ficou meio filosófica, revolvi enviar a resposta que mandei a um amigo, em plena crise (27-09-05), a respeito do que penso do Lula e do PT. Segue:

Oi, amigo, Costumo não me decepcionar com as pessoas porque estou ciente de que são humanas. Por mais incríveis que sejam, sempre cometem profundos erros e enganos. Faz parte. Algumas são mais admiráveis que outras porque têm uma trajetória fantástica, cheia de grandes imprevistos, vividos às vistas do mundo, como acontece com o Lula, por exemplo. Pessoas como ele têm um grande potencial criativo, são seres visionários, que captam o novo em formação na cultura e conseguem materializá-lo no exercício do cotidiano, dando um outro sentido para a História. Mas são humanos também. Trazem em si o velho e o novo da sociedade e, conforme o jogo do momento, atuam espontaneamente num ou noutro registro, surpreendendo os desavisados. A gente dá respostas ao mundo de acordo com a bagagem que tem. Quem não tem capacidade de assimilar os paradigmas nascentes responderá ao mundo com sua bagagem paradigmática da velha ordem instituída. O PT é um partido político absolutamente contemporâneo, não há no mundo outro com esta formatação plural e democrática, por isso as múltiplas brigas constantes em seu próprio quintal, já que os miríades de membros são dotados de voz. É um partido que traz em seu bojo as novas formas de relacionamento firmadas na parceria, na horizontalidade de poder, que ora se formatam na cultura, devido ao desmoronamento da sociedade patriarcal, cujo eixo relacional é constituído a partir da verticalidade, que revela o padrão de dominação-submissão. Ao longo dos últimos séculos, o poder do patriarca foi desmoronando (ainda não se desfez totalmente) e com ele foram desmoronando, aos poucos, digamos que mais rapidamente no decorrer do século XX, todos os valores, instituições, leis e normas construídos sob a Lei do Pai (do Patriarca). Com isso, tanto as pessoas quanto as instituições (e partidos) começaram a ganhar faces inusitadas neste mundão. Nascia o paradigma de parceria -- poder de igualdade entre os seres humanos, homens e mulheres. Ninguém pensou, a priori, na configuração democrática do PT , mas o momento histórico junto com as pessoas "afinadas" com o imaginário emergente de igualdade, já nos anos 70, e que ainda não terminou de se formular (estamos em transição), estavam prontos para receber uma liderança como a do Lula, que expressava (e expressa) plenamente esse novo padrão de poder horizontal (daí o Dirceu dizer, em plena na CPI, que "o Lula é uma dádiva para o Brasil" e o Ciro Gomes, na revista Fórum, de agosto, afirmar: "Lula: não tem outro"). O acaso faz o líder e as forças emergentes se cruzarem para conceber a História. Não se esqueça de que, embora o Lula seja portador da nova ordem simbólica no exercício de sua vida política, carrega em si também o velho padrão (todas as transições são permeadas pelo velho e pelo novo, que se manifestam na trama da cultura, conforme a direção adotada pelo jogo das forças paradigmáticas emergentes ou conservadoras). Ao meu ver, o operário que subiu ao poder, não é o mesmo de que Bakunin falava. Aquele é outro tempo, outro operário e outra História. Lá, o poder patriarcal, em plena vigência, e, portanto, nada transparente, devido à verticalidade de suas instituições autoritárias, não permitiam formas democráticas de atuação, como agora. Quem subia ao poder assumia o lugar do Patriarca e ponto final. Tornava-se Ele Próprio, com suas características intrínsecas: fundamentalista, autoritário, discriminatório, impositivo, excludente, acumulativo (de poder, de dinheiro, de mando, etc.) no topo da pirâmide. Sou "leniente" com o Lula, como você disse, porque, na política, ele é, para mim, a expressão desse poder horizontal nascente no mundo contemporâneo, portador da igualdade entre sexos, da igualdade entre as pessoas, da cidadania, do respeito por todas as diferenças. Por ora, não temos no Brasil ninguém, além do presidente, que possa encarnar essa nova ordem simbólica na liderança da política, que, por VOCAÇÃO PARADIGMÁTICA, já tem gerado e continuará a gerar, o poder horizontal na teia social da nação. Poder este que convive, no contexto mundial da atualidade, com formas brutais do velho patriarcado, manifestado em fundamentalismos políticos e religiosos, ainda resistente em miríades de rincões desta Terra. Acho que o que o Lula representa é muito mais do que as miudezas que a mídia aponta, como o caso da Telemar, ou as passagem de avião que o PT pagou para ele e a família (gente! Todos os presidentes e séquitos até hoje se locupletaram com o dinheiro da Nação e todo mundo achava isso muito normal até chegar a vez do Lula. Não sei quanto ele gasta mas, pela ordem simbólica que representa, deve ser bem menos do que outros presidentes gastaram). Está na cara que o PFL e o PSDB querem sangue mesmo, já estão pegando no miúdo. Tenho até vergonha quando vejo tais mesquinharias em manchetes de jornais. Se isso fosse importante, teríamos de levantar tudo o que fizeram os filhos e parentes dos presidentes anteriores. Fazem isso com o Lula porque ele é flexível e democrata o bastante para permitir tal absurdo. Para permitir até mesmo que o R. Jefferson tenha o desplante de chamá-lo de preguiçoso em pleno Congresso. Pela ordem patriarcal, que ainda vige no núcleo da sociedade, ele deveria ser preso por desacato à autoridade. Lembre-se de que o Lula permitiu conviver as mais disparatadas tendências dentro do PT. Ainda foi ele que em 1999, segundo o Paulo Singer, solicitou ao Antônio Cândido que reunisse os intelectuais brasileiros para discutirem os nortes do partido. Também foi ele que colocou na cabeça o boné dos Sem-Terra, quando já era presidente, assinalando que o havia prometido a eles permanecia em pauta. Valia a palavra do intelectual e do analfabeto. Não estou idealizando. Houve brigas homéricas e muitas rupturas. E tinha que ter.. Há uma nova ordem simbólica despontando na cultura, com base na parceria, e há no Brasil um líder capaz de gerir o país no sentido de fazê-lo funcionar nesse registro paradigmático benfazejo. Torçamos para que as forças paradigmáticas de verticalidade, que produzem fundamentalismo, submissão, corrupção, destruição, que minimizam e alienam as pessoas de si e da sociedade não consigam destruir o único governo até agora capaz de tornar o Brasil uma Nação Cidadã.

Um abraço Bárbara

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