terça-feira, janeiro 18, 2011

MAIS UM CRIME DA GLOBO

Jornal Nacional: Dilma ri!

O Limpinho reproduz tex-to publicado no blog Escre-va, Lola, escreva.

O Jornal Nacional de sexta, dia 14, lá pelas 21 horas, cometeu uma manipulação grosseira. Eu não vi porque mal vejo TV, mas li reclamações aqui e ali (ne-nhum post em blog) e minha mãe veio me falar disso ontem [15/1/]. Parece que foi assim: o JN dedicou a maior parte de sua duração à tragédia causada pelas chuvas e pelos desliza-mentos de terra no Rio.

Foram longos minutos com muito choro, inclusive com muito sensacionalismo, com repórteres fazendo aquelas perguntas pertinentes de sempre: “Como você se sente ao ver sua família inteira morta?”. Um desespero só. Aí, no meio do nada, o JN corta para falar de uma reunião ministerial de Dilma para aumentar o salário mínimo e para liberar dinheiro para as prefeituras atingidas pelas enchentes (veja aqui). No momento em que a narração em off da repórter começa a dizer “O problema com as enchentes ocupou boa parte da reunião ministerial”, a imagem que ocupa a tela passa a ser a presidenta gargalhando. Como se ela estivesse, obviamente, rindo da tragédia. Como se alguém pudesse rir de uma tragédia dessas.

Para quem acredita na velha ladainha da neutralidade dos telejornais, este exemplo (e é apenas um exemplo entre tan-tos outros) deveria servir para mostrar que tudo é manipu-lação. A escolha dessa imagem, no meio de uma reportagem cheia de choro, contrasta com a cara de velório do apresen-tador e da repórter, e de tudo que veio antes e que virá a seguir no telejornal. E ela não está lá à toa. Ela quer passar uma mensagem: a de que Dilma é uma insensível, capaz de rir de 600 mortos. E também a de que um governo, de que o Estado, não faz nada além de rir da miséria alheia, enquanto a iniciativa privada é que realmente se preocupa com o povo, com suas campanhas de caridade à la Criança Esperança.

Clique na imagem para ampliá-la.
Uma imagem dessas (risos no meio da tragédia) cairia mal a qualquer governante, até aos mais risonhos, como Lula. Mas em Dilma fica pior e a Globo sabe disso. Quantas vezes, na campanha eleitoral, o JN sele-cionou alguma imagem de Dil-ma sorrindo? Vou chutar que nenhuma, porque uma Dilma gargalhante se chocaria contra o que a oposição dizia da can-didata – que era durona, fria, mandona. Meio Greta Garbo, sabe? Greta, um dos ícones da história do cinema, nunca ria em seus filmes. E sua persona não era diferente: ela raramente aparecia sorrindo nas fotos. Daí que, para divulgar a comédia Ninotchka, os produtores colocaram nos pôsteres a chamada “Garbo laughs!” (Garbo ri!), como se fosse um fato inédito e de relevância mundial.

É parecido com o que a Globo fez com a presidenta. Só faltou a legenda “Dilma laughs!”. Pois é, acabada a campanha, perdidas as eleições (para eles), a campanha continua. Ano passado tivemos o espetáculo das capas da Veja e sua atribuição relativa de culpa (a equação é simples; aprendam, crianças: enchente em São Paulo é culpa da chuva; enchente no Rio é culpa do governo). Mal posso esperar algum desastre aéreo para ver a risada da Dilma tomar novamente o Jornal Nacional.