Jornal Nacional: Dilma ri!
O Limpinho reproduz tex-to publicado no blog Escre-va, Lola, escreva.
O Jornal Nacional de sexta, dia 14, lá pelas 21 horas, cometeu uma manipulação grosseira. Eu não vi porque mal vejo TV, mas li reclamações aqui e ali (ne-nhum post em blog) e minha mãe veio me falar disso ontem [15/1/]. Parece que foi assim: o JN dedicou a maior parte de sua duração à tragédia causada pelas chuvas e pelos desliza-mentos de terra no Rio.
Foram longos minutos com muito choro, inclusive com muito sensacionalismo, com repórteres fazendo aquelas perguntas pertinentes de sempre: “Como você se sente ao ver sua família inteira morta?”. Um desespero só. Aí, no meio do nada, o JN corta para falar de uma reunião ministerial de Dilma para aumentar o salário mínimo e para liberar dinheiro para as prefeituras atingidas pelas enchentes (veja aqui). No momento em que a narração em off da repórter começa a dizer “O problema com as enchentes ocupou boa parte da reunião ministerial”, a imagem que ocupa a tela passa a ser a presidenta gargalhando. Como se ela estivesse, obviamente, rindo da tragédia. Como se alguém pudesse rir de uma tragédia dessas.

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Uma imagem dessas (risos no meio da tragédia) cairia mal a qualquer governante, até aos mais risonhos, como Lula. Mas em Dilma fica pior e a Globo sabe disso. Quantas vezes, na campanha eleitoral, o JN sele-cionou alguma imagem de Dil-ma sorrindo? Vou chutar que nenhuma, porque uma Dilma gargalhante se chocaria contra o que a oposição dizia da can-didata – que era durona, fria, mandona. Meio Greta Garbo, sabe? Greta, um dos ícones da história do cinema, nunca ria em seus filmes. E sua persona não era diferente: ela raramente aparecia sorrindo nas fotos. Daí que, para divulgar a comédia Ninotchka, os produtores colocaram nos pôsteres a chamada “Garbo laughs!” (Garbo ri!), como se fosse um fato inédito e de relevância mundial.
É parecido com o que a Globo fez com a presidenta. Só faltou a legenda “Dilma laughs!”. Pois é, acabada a campanha, perdidas as eleições (para eles), a campanha continua. Ano passado tivemos o espetáculo das capas da Veja e sua atribuição relativa de culpa (a equação é simples; aprendam, crianças: enchente em São Paulo é culpa da chuva; enchente no Rio é culpa do governo). Mal posso esperar algum desastre aéreo para ver a risada da Dilma tomar novamente o Jornal Nacional.