Enviado por luisnassif, seg, 24/01/2011 - 10:28
Três ou quatro anos atrás, no Summit de Etanol, fui debatedor de uma mesa que tinha, entre outros, o megaempresário George Soros e Fernando Henrique Cardoso. Um dos temas era a questão do aumento das commodities.
Soros foi objetivo, alertando para o risco da "doença holandesa" - fenômeno em que as exportações de produtos primários crescem tanto, atraem tanto dólares que provocam uma apreciação da moeda local matando a manufatura.
FHC limitou-se a dizer que a alta desmentia a teses cepalina e, especialmente, Celso Furtado - que sempre alertava para a perda nas relações de troca entre países emergentes e desenvolvidos. Era uma bobagem, porque fugia da questão central, que era a promoção do desenvolvimento. Detalhe: naquele mesmo dia saíra um artigo do Ilan Goldjan no Estadão sobre o mesmo tema. FHC se inspirara no artigo para não falar nada.
o limitava-se a repetir o mesmo mantra que em 1980 ouvi de Rosenstein-Rodan, economista ortodoxo que se opunha às teorias industrializantes da Cepal. Ele dizia isso em relação ao aumento dos preços do petróleo. Trinta anos depois, o boom do petróleo não gerou nenhuma nação desenvolvida.
Com o artigo, Ilan tentava rebater os argumentos sobre a necessidade de superar o mercadismo e definir uma vocação clara de desenvolvimento para o país.
Meses atrás conversava com um colega jornalista que fora iludido pela suposta erudição de FHC, assim como eu fui pela do Serra. Descobrimos o truque de ambos. Cada vez que ele (analista político) ou eu (econômico) levantávamos alguma tese diferente, o senador FHC ou o deputado Serra ligava, endossava as ideias e se apresentava como se a ideia já fizesse parte de seu repertório intelectual.
A impressão era das melhores. Além de espicaçar a vaidade de nós, jornalistas, passavam a sensação de que eles eram os "caras", antenados com as novas ideias e novas tendências. Ledo engano! Eram apenas leitores de jornais repetindo ideias interessantes sem sequer assimilá-las, com a mesma profundidade de um comentário de rádio.
Esse vazio intelectual ficou claro em FHC presidente e, em especial, na entrevista que me concedeu e que está no final do livro "Os Cabeças de Planilha". Incapacidade absoluta de enxergar o novo, identificar os fatores portadores de futuro, as grandes linhas que determinam a diferença entre desenvolvimento e estagnação. No Summit, quando me levantei para comentar as apresentações, aliás, ele tentou ironizar me desafiando a fazer a síntese dos "fatores portadores de futuro" - sinal de que havia lido o livro e a crítica pegara no fígado.
Com Serra, essa falta de ideias ficou claro na prefeitura e no governo do Estado, quando não tinha mais o álibi de supostamente ser uma voz dissidente no PSDB fernandista para não se pronunciar. Quando se tornou o protagonista maior do PSDB percebeu-se que não se manifestava por não ter ideias. A campanha eleitoral mostrou de forma dramática sua total incapacidade de assimilar conceitos básicos de modernização desenvolvidos ao longo dos anos 90 e 2000.
É evidente que falta estratégia ao país, que os sucessivos planos de política industrial não chegaram a definir uma mudança de rumo, que o câmbio é um desastre.
Mas FHC sabe disso apenas de orelhada. Deve ter lido algum artigo de Bresser-Pereira antes da entrevista.
Para FHC, Brasil está 'sem estratégia' - politica - Estadao.com.br
Para FHC, Brasil está 'sem estratégia'
Segundo o ex-presidente, País não pode voltar a ser apenas um exportador de commodities, como vem ocorrendo
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
O Brasil não tem estratégia - seja industrial, comercial ou para o câmbio. O alerta foi feito ontem, em Genebra, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para ele, o País não pode voltar a ser apenas um exportador de commodities e deve pensar o que fazer com os recursos da alta atual dos preços dos produtos primários.
"O que tem no Brasil é uma situação delicada. O Brasil está sem estratégia e isso é muito preocupante", afirmou o ex-presidente. "O mundo mudou muito e não temos um plano para enfrentar esse mundo. Vai ser necessário ter uma nova estratégia. Temos de inventar uma estratégia e as políticas consequentes para essas estratégias. Mas não estou vendo nada disso e nem que isso esteja sendo definido."
Em 2010, diante da alta dos preços de produtos primários, a renda com a exportação agrícola bateu recorde e pela primeira vez em décadas o Brasil vendeu mais commodity do que produtos industrializados. "Nesse momento, isso dá recursos. Mas o que vamos fazer com esses recursos? Qual é a estratégia de desenvolvimento do setor industrial? O que faremos quando os preços internacionais de commodities caírem? Não tenho visto respostas para nada disso", afirmou.
Para Fernando Henrique, o Brasil precisa escolher setores para apostar. "Não dá para apostar em tudo. Quais são os setores que o Brasil, olhando para frente, terá vantagens comparativas? Está faltando tudo isso."
Na avaliação do ex-presidente, a relação com a China é chave e tem de ser repensada. Ao Estado, Fernando Henrique apontou como alguns no governo "pensavam que Pequim seria a salvação do Brasil". "Diziam que a China nos ia salvar. Hoje, vemos que ela produz o efeito positivo e negativo sobre a economia do Brasil. Fez explodir a exportação de commodities. Mas dificulta em parte as manufaturas", alertou. "Não temos uma estratégia para lidar com a China."
Real. Fernando Henrique também alertou que o governo está "visivelmente perdido" sobre o que deve fazer com o câmbio. "Não adianta achar que poderemos intervir. Por quanto tempo? Isso não é sustentável e não temos reservas para isso", disse. "Criticaram muito meu governo por dizer que o real estava sobrevalorizado. E agora?"
Aos jornalistas brasileiros, explicou que a valorização do real não é só do real. "É no mundo todo e é a desvalorização do dólar." Para Fernando Henrique, a disciplina fiscal é algo que não tem como se fugir no governo. "A situação obriga a fazer isso. Mas terá de fazer mais que isso."
Irônico, Fernando Henrique Cardoso diz que vê uma diferença entre os governos Lula e Dilma: "Não preciso ver o Lula todos os dias na televisão." O ex-presidente admite que o estilo de Dilma, por enquanto, tem sido mais "discreto e tecnocrático". "Mas isso não é o importante. O importante é saber o que ela vai fazer", disse.
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Para acompanhar pelo Twitter: http://twitter.com/luisnassif
Segundo o ex-presidente, País não pode voltar a ser apenas um exportador de commodities, como vem ocorrendo
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
O Brasil não tem estratégia - seja industrial, comercial ou para o câmbio. O alerta foi feito ontem, em Genebra, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para ele, o País não pode voltar a ser apenas um exportador de commodities e deve pensar o que fazer com os recursos da alta atual dos preços dos produtos primários.
"O que tem no Brasil é uma situação delicada. O Brasil está sem estratégia e isso é muito preocupante", afirmou o ex-presidente. "O mundo mudou muito e não temos um plano para enfrentar esse mundo. Vai ser necessário ter uma nova estratégia. Temos de inventar uma estratégia e as políticas consequentes para essas estratégias. Mas não estou vendo nada disso e nem que isso esteja sendo definido."
Em 2010, diante da alta dos preços de produtos primários, a renda com a exportação agrícola bateu recorde e pela primeira vez em décadas o Brasil vendeu mais commodity do que produtos industrializados. "Nesse momento, isso dá recursos. Mas o que vamos fazer com esses recursos? Qual é a estratégia de desenvolvimento do setor industrial? O que faremos quando os preços internacionais de commodities caírem? Não tenho visto respostas para nada disso", afirmou.
Para Fernando Henrique, o Brasil precisa escolher setores para apostar. "Não dá para apostar em tudo. Quais são os setores que o Brasil, olhando para frente, terá vantagens comparativas? Está faltando tudo isso."
Na avaliação do ex-presidente, a relação com a China é chave e tem de ser repensada. Ao Estado, Fernando Henrique apontou como alguns no governo "pensavam que Pequim seria a salvação do Brasil". "Diziam que a China nos ia salvar. Hoje, vemos que ela produz o efeito positivo e negativo sobre a economia do Brasil. Fez explodir a exportação de commodities. Mas dificulta em parte as manufaturas", alertou. "Não temos uma estratégia para lidar com a China."
Real. Fernando Henrique também alertou que o governo está "visivelmente perdido" sobre o que deve fazer com o câmbio. "Não adianta achar que poderemos intervir. Por quanto tempo? Isso não é sustentável e não temos reservas para isso", disse. "Criticaram muito meu governo por dizer que o real estava sobrevalorizado. E agora?"
Aos jornalistas brasileiros, explicou que a valorização do real não é só do real. "É no mundo todo e é a desvalorização do dólar." Para Fernando Henrique, a disciplina fiscal é algo que não tem como se fugir no governo. "A situação obriga a fazer isso. Mas terá de fazer mais que isso."
Irônico, Fernando Henrique Cardoso diz que vê uma diferença entre os governos Lula e Dilma: "Não preciso ver o Lula todos os dias na televisão." O ex-presidente admite que o estilo de Dilma, por enquanto, tem sido mais "discreto e tecnocrático". "Mas isso não é o importante. O importante é saber o que ela vai fazer", disse.
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24/01/2011
24/01/2011
Estadão viaja para ouvir o servilismo de FHC a Hilary Clinton, e esquece de perguntar: O quê FHC foi fazer na Suíça?
"Graças ao Estadão", ficamos sabendo que Fernando Henrique Cardoso, estava em Genebra, terra de bancos com contas secretas que agasalharam fortunas constituídas de roubos, desde nazistas da II Guerra até ditadores e políticos corruptos, como o recente caso de políticos do PSBD paulista, com contas bloqueadas por propinas recebidas da Alstom.
A notícia que teria algum interesse, o Estadão simplesmente "esqueceu de perguntar":
O quê FHC foi fazer na Suíça?
Sem essa pergunta, a "entrevista" não passou de uma encenação para FHC tentar "gerar fatos" para manter a oposição "viva", através do que ele mais sabe fazer: expor sua inveja de Lula e seu servilismo aos EUA, país que o financia desde a década de 60. Ultimamente ele ganhou uma "boquinha" na Universidade de Brown, daquele país.
Como pode o ex-presidente demo-tucano, cujo governo ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás e colocou tanques de guerra para reprimir uma greve de petroleiros - que evitou a privatização da Petrobras - dizer que o Brasil retrocedeu na agenda dos direitos humanos? No governo Lula não teve nada parecido com estes dois episódios.
Essa conversa de FHC é puro lobby estadunidense para pressionar o Brasil, por fazer uma política independente em relação ao Irã, em todo o Oriente Médio e na América Latina, não submissa aos EUA.
O ex-presidente demonstra todo seu servilismo ao dizer que concorda com Hilary Clinton, quando disse que o Brasil foi "ingênuo" com o Irã, e mostra toda sua pequeneza ao dizer que o Brasil "nao tem cacife para jogar aquele jogo". Ingênuo seria votar na ONU de acordo com as armadilhas dos EUA para repetir o que fez com o Iraque e colocar de volta no Irã um governo submisso, como era Reza Palhevi.
Por fim o ex-presidente provoca gargalhadas, mesmo na turma de pijama do Itamaraty que tirava os sapatos em seu governo, quando diz que se o Brasil se "comportasse bem" rezando pela cartilha de Hilary Clinton, conquistaria um aval dos Estados Unidos para ter um lugar permanente no Conselho de Segurança, com a Índia.
Ora, FHC tem todos os defeitos, menos ser tão burro assim. Todo mundo sabe que o aceno para a Índia é para atazanar a China, a potência mundial que ultrapassará a hegemonia dos EUA neste século.
Índia e China tem disputas até de fronteiras na região do Himalaia e, ao lado do Japão, enfrenta oposição da China para seu ingresso no Conselho de Segurança.
FHC sabe que os EUA, por vontade própria, jamais irão avalizar o Brasil ter poder de veto no Conselho de Segurança. Eles não dividem o poder por livre e espontânea vontade, muito menos com países que sejam dóceis e servis. A Índia, durante anos, desobedeceu tudo o que os EUA não queria que eles fizessem, desde não assinar o TNP e fazer a bomba atômica, até manter uma grande proximidade com Moscou na época da União Soviética. Só tem agora o "aval" dos EUA porque cresceu, apareceu, e compartilha interesses com os EUA na contenção do poder da China.
Para o Brasil conquistar uma vaga permanente no Conselho precisará do apoio da maioria do resto do mundo, e os EUA terão que engolir. É assim que funciona, e é assim que o governo Lula fez, e que Dilma continuará fazendo. Não adianta tirar os sapatos, não adianta entregar as riquezas nacionais submetendo-se ao neoliberalismo do Consenso de Washington, não adianta se humilhar, como fez FHC, assinando o TNP sob pressão estadunidense, sem exigir, nem conquistar nada em troca. Nada disso, trouxe "aval" daquele país.
O resto da entrevista é um festival de besteiras, também ecoando, um pouco mais sutilmente, o discurso de Hilary Clinton, contra Chavez, contra Lula e contra a Bolívia.
É deplorável que um ex-presidente brasileiro se comporte como se fosse um funcionário do terceiro escalão do departamento de estado dos EUA, repetindo o que o primeiro escalão daquele país quer que seja dito.