segunda-feira, maio 08, 2006

A tucanaria pefelista e o General Meira Mattos, na Folha de S.Paulo... em 2006! Mas... até quando?! (O Retorno)


Sobre GENERAL MEIRA MATTOS, 8/5/2006, “O estadista e o político”, Folha de S.Paulo, na edição impressa, p.2 e na Internet, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0805200610.htm
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A tucanaria pefelista e o General Meira Mattos, na Folha de S.Paulo... em 2006! Mas... até quando?!

“Fala-se da iminente recaída na barbárie. Mas ela não é iminente, uma vez que Auschwitz foi a recaída; a barbárie subsistirá enquanto perdurarem, no essencial, as condições que produziram aquela recaída. Esse é todo o horror” (ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais. Trad. Maria Helena Ruschel. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1995, p. 104).

O golpismo é a doença infantil de toda e qualquer mídia-empresa cujo partido ou ditador não esteja no poder, em todo o planeta. OK. Mas no Brasil pós-tucanaria, os golpismos da/na mídia de jornalão, estão sendo convertidos em meio de vida pra vários veículos, com destaque para a Folha de S.Paulo, que já é um jornal TOTALMENTE ilegível e chatíssimo.
O jornalismo-empresa no Brasil sempre dependeu do Estado, jamais viveu sem as benesses do Estado, sempre deveu zilhões para bancos (estatais e privados) e, assim, até por estratégia empresarial, habituou-se a mandar no Estado brasileiro. E sempre mandou.
A partir do golpe de 64, tudo se fez, no Brasil, para acertar as regras pelas quais, sim, a mídia-empresa de jornalão, afinal, tornar-se-ia avalista ‘político’ do Estado brasileiro, quando o Estado brasileiro precisasse de avalistas ‘políticos’. Em troca, o Estado brasileiro tornar-se-ia avalista às veras, para os negócios da mídia-empresa, quando a mídia-empresa precisasse de avalista às veras. E ela precisou MUITO, muito freqüentemene, desses avais às veras, em grana, digo, propriamente dita.
Por esses mecanismos de ‘trocar fogo’, quer dizer, trocar avais, durante os governos da tucanaria, a mídia-empresa de jornalão aproveitou-se para endividar-se o mais possível, confiante de que sempre encontraria, baratinho, como garantia, o aval político dos governos tucanos-pefelistas. Assim foi, sem parar um dia, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso. Ao final dos governos de Fernando Henrique Cardoso, a mídia-empresa brasileira devia ZILHÕES a praticamente todos os bancos, inclusive ao BNDES. Devia em dólar e 1 dólar valia 4 reais.
Bom... hoje, ao final do primeiro governo popular no Brasil, em 500 anos, a mídia-empresa brasileira não só não quebrou (e, se dependesse de sua própria competência empresarial, sim, teria quebrado completamente, falida e fracassada), como – e o mais importante – 1 dólar vale 2 reais.
Isso implica dizer que, além de ter sido empresarialmente apoiada e ajudada pelo governo do presidente Lula, como se exige de governos democráticos, a mídia-empresa brasileira viu METADE de sua dívida desaparecer, sumir, evanescer. Ninguém pagou metade de dívida alguma. O que aconteceu é bem fácil de entender.
A administração austera, decente e EFICAZ das contas, no Brasil, no governo Lula, domou a fúria especulativa do dólar-global, acertou as nossas contas externas e internas, e sim, por aí, ajudou MUITO a mídia-empresa, no Brasil, como ajudou (de fato, SALVOU!) todas as empresas de mídia que, ao final dos governos de Fernando Henrique Cardoso estavam em estado TOTALMENTE prefalimentar, porque ESTUPIDAMENTE endividadas em dólar.
Mídia-empresa que fosse eficaz e eficientemente e inteligentemente empresarial (pelo menos isso!), estaria hoje TOTALMENTE feliz da vida, ajudando a fortalecer e reconstruir a democracia brasileira, dentre outras razões porque o governo do presidente Lula ajudou muito, sim, também no plano empresarial, de grana, a mídia-empresa brasileira.
Contudo, não é o que se vê. A mídia-empresa brasileira continua golpista, como já era, ao final do governo Vargas e continuou a sê-lo no governo Juscelino e sempre foi, e como só deixou de ser, no Brasil, no tempo em que, no Brasil, reinaram os golpistas de 64. Ora, todos sabemos que a redemocratização dos anos 80 foi muito precária.
“Superou-se o autoritarismo”, como disse Fernando Henrique Cardoso, em discurso famosíssimo, para concluir: “Agora é dar andamento ao MESMO projeto, sem os generais”. Só faltou dizer: “vamos esconder os generais... e segue o bonde. Serei eu, de agora em diante, o general-sociólogo”. Deu no que deu.
Durante todo esse tempo, do golpe ao último dia do governo de FHC, portanto, a mídia-empresa brasileira esteve, também, dentro do Estado brasileiro. Não que tenha sido democraticamente representada lá. Durante os governos do golpe, até o último dia do último governo de Fernando Henrique Cardoso, a empresa-mídia, no Brasil, GOVERNOU.
Portanto, apesar de a mídia-empresa brasileira ter sido salva da bancarrota comercial, fimanceira e empresarial pelos sucessos do governo Lula nesse campo, a mídia-empresa PERDEU poder político, na exata medida em que a sociedade brasileira começou a ser REDEMOCRATIZADA e começou a ser ‘empoderada’, a partir da eleição do presidente Lula.
Por isso – porque perdeu poder político – é que, hoje, a mídia-empresa brasileira continua tão golpista como antes. E já dá sinais de desespero, sim, de total despautério.
Nesse campo, portanto, vê-se bem claramente que a mídia-empresa brasileira ainda está estruturada MUITO menos como empresa comercial que vise ao sucesso empresarial, em boa democracia, e está estruturada muito MAIS, ainda, como um muito autoritário e antiquado INSTRUMENTO de controle político da sociedade. Em outras palavras, é o mesmo que dizer que a mídia-empresa no Brasil ainda não está estruturada, sequer, como empresa que vise ao lucro e à própria preservação. É isso ou, então, a mídia-empresa, no Brasil, ainda quer, apenas, continuar a ser, principalmente, uma espécie de agente privilegiado de controle autoritário e de des-democratização da sociedade brasileira... em pleno século 21! Difícil imaginar erro mais grave, também para os negócios!
O público consumidor de jornalismo, nessas circunstâncias, é claro, passa a fugir desses jornalões-produtos que já nem jornalismo oferecem – e já estão convertidos em peças exclusivamente de propaganda eleitoral antecipada e ilegal. O público consumidor dos produtos-jornalões da mídia-empresa, no Brasil, pode-se dizer, foge deles como a cruz foge do diabo. E os números ‘empresariais’ das empresas de mídia, no Brasil, sobretudo da mídia impressa, despencam. E despencam, sim, e estão totalmente despencados.
Mas... que raio de empresa comercial é essa nossa mídia-empresa, que esquece sua destinação principal – oferecer o jornalismo investigativo, consistente, democrático e útil e imprescindível para a vida democrática, que os consumidores procuram e pelo qual estão dispostos a pagar?!
Que raio de empresa comercial é essa nossa mídia-empresa que, hoje, em pleno século 21, como que se suicida e se autodestrói... investindo em golpismos toscos, que espantam os clientes-leitores-eleitores-consumidores, maltrata o capital dos acionistas e esquece, de vez, como se não lhe dissesse respeito... o interesse mercadológico dos anunciantes?!
Essas reflexões me ocorrem hoje, ao ler a espantosa coluna assinada, hoje, na Folha de S.Paulo, por ninguém menos que o General Meira Matos, 92, esse também, em declarada campanha eleitoral antecipada e ilegal, a pedir votos para os candidatos tucano-pefelistas.
O “publisher” premiado?! O Editor-chefe pirado?!
É preciso ser PERFEITAMENTE doido, como editor-jornalista, ou “publisher” de jornal, no século 21, ou já nada saber nem de jornalismo algum nem de democracia alguma, para investir todas as fichas empresariais na loucura de pensar que os eleitores sejam perfeitos idiotas.
É preciso ser PERFEITAMENTE doido, como editor-jornalista, ou “publisher” de jornal, no Brasil, em 2006, para supor que os leitores brasileiros acreditarão em ‘rodapé biográfico’ que diga, do General Meira Matos, que se trata de “doutor em ciência política e general reformado do Exército, veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra”.
Não que o general Meira Matos não seja isso aí tudo; ele até é. Mas ele não é SÓ isso aí. E, sobretudo, o general Meira Matos NÃO É principalmente isso aí.

Pesquisa superficial, rápida, feita pela Internet, ensina que o general Meira Mattos é:

(1) autor de:

– “Pensamento Revolucionário Brasileiro” (1964), livro no qual se explicita toda a dita ‘ideologia’ do golpe de 1964; e de
– “Operações na Guerra Revolucionária” (1966), no qual o general ensina a prender-matar-e-arrebentar, dentre outros, O MEU VOTO DEMOCRÁTICO;
– e de “A Doutrina Política da Revolução de 31 de Março de 1964” (1967), cujo título é autoexplicativo.[1]

O general Meira Mattos é também:

(2) Ideólogo que, “na linha de Golbery do Couto e Silva, procura estabelecer uma “geopolítica aplicada” tendo inerente a idéia segundo a qual “as relações geográficas compreendidas devem estar contidas na política do governo”.

Claro que, pra fazer isso, o general professô-dotô tem de estar NO GOVERNO, duela a quién duela. Claro! E para estar no governo, é claro, o general Meira Matos foi muito ativo participante do golpe de 64, como qualquer um aprende, se já não souber, pela Internet.

Evidentemente, os planos do general Meira Mattos previam ele CONTINUAR no governo até o ano de 2000:

(3) “[...]Na linha do então defendido na década de 1970 pelo então presidente Ernesto Geisel – atingir o zénite desse escopo ascencional no deambar do milênio – e fazendo fé nos propósitos orientadores da “Revolução de 1964”, Meira Mattos não deixa de enumerar a estratégia dos meios necessários à consecução desse ambicioso projecto cuja data-limite de execução seria em seu entendimento o ano 2000.”

Os tucanos-pefelistas e o general, na Folha de S.Paulo

Não bastasse, para conhecer o general que, em 2006, recomenda que os brasileiros votemos nos candidatos tucano-pefelistas, o general Meira Matos está sempre de olhos muito atentos ÀQUELE famigerado “Discurso da Despedida do Senado”, de Fernando Henrique Cardoso, de 1994. Mas os democratas ESPINAFRAMOS aquele famigerado discurso de FHC... e o general Meira Mattos A-DO-RA e não se cansa de elogiá-lo. Não bastasse, o general Meira Mattos cita também, como obra-guia, também o discurso de posse de FHC:

(4) “Em sua obra “Brasil – Geopolítica e Destino” (1975), o general Meira Matos fez uma projeção tomando como base o ano 2000, num ciclo de vinte anos. Hoje, deparamo-nos com um pensamento do Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando, em seu discurso de posse afirmou: ‘A realização de um Projeto Nacional consistente de desenvolvimento deve fortalecer-nos crescentemente no cenário internacional’. Isso gerou a necessidade de elaborar um projeto nacional, a longo prazo, que, em última instância, abrangerá um horizonte que se completará por volta de 2020, isto é, vinte e quatro anos, a partir de 1996 e muito próximo do espaço de tempo imaginado por Meira Mattos”.[2]

A Folha de S.Paulo SABE!
Não bastasse tudo isso, a Folha de S.Paulo, ela mesma, SABE muito mais sobre o general Meira Mattos, do que o que publica hoje, no tal “rodapé biográfico”.
Veja-se, por exemplo, a entrevista abaixo, publicada na Folha de S.Paulo, e reproduzida em “Meira Mattos: Memórias do golpe”, Escola Superior de Guerra, em http://www.esg.br/cee/ARTIGOS/meiramattos1.PDF

(5) “O general reformado coordenou o livro "Castello Branco e a Revolução", reeditado pela Biblioteca do Exército na comemoração do centenário oficial do ex-presidente. Meira Mattos falou à Folha na semana passada sobre bastidores do governo Castello.

Meira Mattos - Ficou bem caracterizado que os nossos inimigos queriam fechar a Câmara e criar um Estado sindicalista. Isso tudo promovido com o apoio de gente do governo Goulart. Havia inversão de hierarquia militar em assembléias, o que provocou comoção no Exército. (...)

Folha - Como foi a decisão de fechar o Congresso em 1966?

Meira Mattos - O general-presidente suspendeu os direitos políticos de seis deputados. Aí um grupo de parlamentares resolveu por contra própria ir para o Congresso e abri-lo ilegalmente. Criou-se uma situação de rebeldia. Era um escândalo: o Congresso estava funcionando ilegalmente.

Folha - Como o senhor foi escolhido para liderar a operação?

Meira Mattos - Um assessor do Castello [General Castello Branco] me chamou. Disse que o presidente queria falar comigo no telefone do palácio, porque era o único que tinha misturador de vozes, não podia ser grampeado. Quem atendeu o telefone foi o ministro do Exército, Ademar de Queirós. Disse: "Coronel Meira Mattos, o presidente tem uma missão para o senhor. Esse problema do Congresso não pode continuar. São reuniões ilegais, eles não têm número suficiente para formalizar o fim do recesso. O presidente deseja que se retire aquele pessoal todo que se alojou lá dentro". Eu perguntei: "Quando?" Era noite. Ele disse: "Fica a teu critério, até o amanhecer". Aí, o Ademar de Queirós disse: "O presidente vai lhe dar uma palavra". O presidente disse: "Meira Mattos, você entendeu bem a missão?"Eu disse: "Entendi".
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[1] Essa informação está na Internet, em “Biografia do general Carlos de Meira Mattos”. In MATTOS, Carlos Meira. 1984. Brasil – Geopolítica e Destino. Biblioteca do Exército Editora [co-edição com Livraria José Olympio], Rio de Janeiro, 1975; e “Geopolítica e Trópicos”, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1984, pp. 155-157. Na Internet, em http://www.esg.br/cee/ARTIGOS/meiramattos2.PDF
[2] Está em Roberto Pereira da Silva, sobre MEIRA MATTOS, Carlos, “Brasil: Geopolítica e Destino” (Resenha e Comparação Histórica). Na Internet, em http://www.cepesc.gov.br/cee/Rev31.htm.