terça-feira, maio 30, 2006
Estão indo para Nova York discutir problemas do Brasil. Curioso, né? Esse é o PSDB.
ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE?
PFL denuncia: “Houve corrupção no governo Alckmin”
Que o casamento PSDB/PFL está em crise não é segredo. Em são Paulo, porém, o aliado de longa data do PSDB, o deputado estadual pelo PFL-SP, José Caldini Crespo, traz a lavanderia para as ruas, expõe a roupa suja e diz que o mal dos tucanos é “a prepotência”. Em sua avaliação, “O PSDB está indo para Nova York discutir o Brasil. Curioso, né?”.
Maurício Reimberg – Carta Maior
SÃO PAULO - “Partido prepotente”, que “não gosta de dividir o poder”. A crítica, vinda do Partido da Frente Liberal (PFL), contém um elemento inusitado. O alvo dos ataques é o PSDB, tradicional aliado político desde 1994.
O deputado estadual José Caldini Crespo (PFL), presidente da Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia Legislativa de São Paulo, afirma que “tucanos xiitas” relutam em aceitar o PFL como “efetivo parceiro”. Crespo é autor do requerimento para a formação de CPI com a finalidade de auxiliar o Ministério Público na investigação de 973 contratos irregulares firmados pela administração estadual entre 1997 e 2005, durante a gestão Covas e Alckmin. Todos os contratos foram considerados irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).
A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Metrô (Companhia do Metropolitano), Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), Desenvolvimento Rodoviário (Dersa), Companhia de Saneamento Básico (Sabesp) e Banco Nossa Caixa (NCNB) foram os setores da administração estadual que mais irregularidades cometeram. Crespo estima que o prejuízo ao tesouro paulista pode chegar a R$ 2 bilhões.
O atrito atingiu o seu ápice após os recentes ataques do PCC, em São Paulo. O atual governador Cláudio Lembo (PFL) reclamou da falta de solidariedade dos tucanos diante dos incidentes. Em entrevista à Carta Maior, Crespo explica a maior crise da história da aliança PSDB-PFL.
CM - O PFL há mais de dez anos tem uma aliança nacional com o PSDB. Só que, na última eleição para a Mesa diretora da Assembléia paulista, o partido se rebelou e elegeu Rodrigo Garcia presidente. Queria que o senhor contasse um pouco dessa mudança. Para onde ela caminha?
CC - Na campanha eleitoral de 1994, quando se elegeu pela primeira vez o governador Mario Covas, o PFL se alinhou ao PSDB. Foi uma aliança absoluta, mas não significa que o PFL tenha a obrigação de estar sempre coadjuvando o PSDB. Na eleição para a mesa diretora da Assembléia, o deputado Rodrigo Garcia lançou-se com nosso apoio. Sofremos todo tipo de retaliações do governo, principalmente do secretário Arnaldo Madeira. Ele cometeu desatinos, um atrás do outro, durante o processo eleitoral. O Palácio nos tratou como subordinados. O deputado Edson Aparecido [o candidato oficial] perdeu por um voto. O PFL, nestes últimos dez anos, ajudou o governo até em momentos de desgaste, mas não fomos reconhecidos. Também percebemos que o PSDB não nos trata como parceiros. Eles não aceitaram a derrota. Que raio de derrota foi essa? Ganhou um deputado da situação, do governo, que era parceiro! E tem feito serviços melhores do que qualquer deputado tucano fez nos biênios anteriores. Nós nos sentimos magoados pela forma prepotente do PSDB, a partir do senhor Madeira, mas também por outro grupo de tucanos. Há tucanos razoáveis e tem tucanos muito xiitas, que não aceitam o PFL como efetivo parceiro.
CM - É o caso de ruptura?
CC - Pelo menos neste ano, não. Nossa insatisfação não é no campo ideológico e programático. O PSDB tornou-se, cada vez mais, um partido que não quer dividir o poder. Quando surgiu um primeiro momento delicado, cadê os tucanos? Sumiram. Covas e Alckmin vinham dizendo que não havia PCC, que era um problema lá do Rio de Janeiro. Se fosse há dez anos atrás, você poderia resolver o problema com menos dificuldades. Esse foi o desabafo do professor Lembo. Quando estávamos ao lado deles, nos desgastando, eles mal agradeceram. Agora, em que poderiam estar do nosso lado, eles desapareceram. Nem telefonema deram. Se os tucanos não tomarem um banho de humildade, a ferida vai aumentar e um dia poderá haver uma ruptura.
CM - O senhor disse que essa ferida foi aberta pela prepotência e pela subordinação.
CC - Mas não a nossa subordinação. Eles nos enxergam como coadjuvantes. Hoje isso ficou mais claro. Somos parceiros do mesmo nível, ou seja, quando as circunstâncias ensejam o PFL ser presidente da Assembléia, eles deveriam ter aceitado isso. Pelo menos uma vez em cinco, desde o início do governo Covas. Eu votei cinco vezes em candidatos tucanos para presidente da Assembléia. Por que um parceiro não poderia ser o presidente? É uma parceria que vai mal.
CM - Há aliança entre o PFL e o PT dentro da Assembléia?
CC - Nunca houve. O PFL de São Paulo segue a orientação nacional. É adversário figadal do PT. O PT votou no Rodrigo Garcia. Não sei se eles tiveram que pedir ordem para a direção nacional. Houve um acordo para a composição da mesa. Não foi uma aliança. O PT, em biênios do PSDB, já fazia parte da mesa, porque é uma grande bancada. O princípio da proporcionalidade é algo a ser observado. O PT participa no segundo cargo, que é o de primeiro secretário. A pergunta poderia ser dirigida ao PT: por que o partido votou no Rodrigo? Nós continuamos adversários, mas soubemos nos unir para evitar o mal maior na ocasião, que seria a eleição do Edson Aparecido.
CM - Em plano nacional, essas mudanças sinalizam que o PFL está buscando um melhor lugar na chapa do PSDB, com o Alckmin, ou existe a possibilidade de se tentar um vôo solo?
CC - A amarração nacional é muito complexa. Pela verticalização, todos os partidos dependem de superar problemas nos Estados também. Em termos da campanha nacional, já está praticamente sacramentado. O José Jorge deverá ser o nosso candidato à vice. Para ganhar ou para perder. Alckmin não vai indo bem nas pesquisas. Ao que tudo indica, vamos perder a eleição presidencial, mas vamos ficar como parceiros. Se o barco afundar, nós vamos afundar junto com Alckmin. Só que a recíproca, infelizmente, não tem sido verdadeira.
CM - O senhor preferiria que o PFL tivesse candidato próprio a presidente?
CC - Sempre acho que é bom, mas estarei na campanha do Alckmin. Ainda não engoli, até hoje, aquela má-fé do Serra contra a Roseana Sarney. Ela seria hoje a presidente do Brasil, não fossem aquelas atitudes. Ela foi inocentada depois de alguns meses. Agora o Serra será o nosso candidato a governador. Tudo bem, política é como as nuvens do céu, a gente tem que se adaptar a isso. Já engoli esse sapo.
CM - Como o PSDB a conseguiu barrar todos os pedidos de CPIs em São Paulo?
CC - O problema deles é a prepotência de boa-fé. Estão no governo a tanto tempo, que se consideram acima de qualquer suspeita. Isso não é verdade. Eles não são melhores que nenhum partido. Sou autor de uma dessas solicitações de CPI. Ela deve ser instalada, doa a quem doer, porque se ela for leviana, a sociedade e a mídia vão perceber, então a própria CPI será condenada. O regimento prevê que só possam existir cinco CPIs simultaneamente. Nós não temos nenhuma! A prepotência do PSDB nestes últimos anos coincide com a eleição do Rodrigo. No governo Covas os tucanos ainda não eram tão prepotentes. Tínhamos algumas CPIs que levantaram suspeitas sobre atitudes deles. Mas essa prepotência aumentou de tal forma, que eles realmente estão acreditando que são melhores do que os outros. Alguém tem de mostrar para eles. Nós estamos tentando, mas eles estão no poder. O Lembo está terminando um governo eleito há três anos atrás. Não seria ético ele fazer uma mudança radical. Equipes de tucanos estão lá, algumas vezes, trabalhando em favor de Alckmin, e não de Lembo.
CM - Quais as denúncias que justificam a instalação da sua CPI?
CC - Acabei me tornando, em razão da eleição do Rodrigo, o presidente da comissão mais importante da Casa, a Comissão de Finanças e Orçamento. Chegando lá, descobri estantes lotadas de processos do Tribunal de Contas, cuja função é analisar contratos de repartições estaduais. Eram quase mil documentos sobre irregularidades que estavam escondidos. Então, dei parecer em todos eles e os despachei para o Ministério Público, pedindo providências cíveis e criminais cabíveis. Na CDHU, principalmente, estavam as estripulias do senhor Goro Hama. Elas foram tão grandes, que o governador Covas, que o queria tão bem, deu sumiço nele. O Goro Hama não foi punido. Nem sei se ele mora no Brasil ainda. São 973 contratos irregulares levantados pelo TCE. Por que isso nunca veio a público? Porque o caminho eram os contratos irregulares levantados pelo TCE, mas os tucanos sempre mandaram na Assembléia. Não dá pra dizer que foi uma falha. É crime. Há todas as provas, são calhamaços de meio metro de altura, em cada um desses processos.
CM - Há desvio de verbas?
CC - Há superfaturamento e irregularidades na licitação. Algumas vezes, não se fez a licitação como deveria, outras vezes a licitação favorece uma empresa em relação à outra, o que também é crime. Em outros casos você superfatura, há aditivos maiores que 25%. Não sei qual vai ser a atitude do Geraldo Alckmin se a CPI for instalada e chegar nos seus resultados. De duas uma: ou ele assume pra si, ou vai dizer que não sabia de nada, vai colocar a culpa em alguém, o que também é possível. Que o governo dele cometeu crimes, cometeu, tenho certeza disso.
CM - O ex-governo Alckmin foi mal assessorado ou praticou atos de corrupção?
CC - Houve corrupção dentro do governo Alckmin. Pelo menos 973 casos garanto que teve, porque foram os que eu analisei. Agora, se o governador estava envolvido ou não, por enquanto não posso dizer. Por isso estou pedindo uma CPI.
CM - O governador Lembo, em suas últimas declarações, responsabilizou a burguesia paulista, dizendo que ela tem uma parcela de culpa pela recente crise na segurança. O que o senhor acha disso?
CC - Algumas pessoas vêem o governo como uma coisa apartada da sua realidade pessoal. Só que, no caso da criminalidade, ela afeta todos, aqueles que estão colaborando com o governo, e os demais que não estão colaborando. Não se trata de cobrar mais impostos. Todas as classes sociais, inclusive as mais abastadas, devem colaborar um pouco mais com o governo. Por exemplo, se envolvendo no terceiro setor. Não há mais dinheiro público. O terceiro setor é a solução. É aí onde entram as pessoas que o governador chamou de “elite branca”. Que a pessoa da classe A dê uma parte do seu tempo durante a semana colaborando com uma entidade assistencial, seja o Rotary Club, associação de moradores, clube de senhoras...
CM - E o que falta para a elite entrar em novos projetos políticos?
CC - Talvez faltasse um governador com o peso que esse cargo tem, com coragem de falar, até pra tomar porrada. O governador Lembo tomou porrada de algumas pessoas que não entenderam, e de outras que não deram o braço a torcer. Para elas, desde que estejam freqüentando o restaurante Massimo, comendo do bom e do melhor, carro blindado, o resto do mundo que se dane.
CM - O senhor acha que o governador Lembo vai contar com solidariedade do PSDB, daqui em diante, para colocar em prática os seus projetos?
CC - Sim. Sem o PFL, o PSDB não teria ganhado nenhuma eleição nos últimos dez anos, e não vai ganhar as próximas. Sem o PFL de vice do Alckmin ou do Serra, nenhum dos dois ganha. O Alckmin menos ainda, porque não está decolando nas pesquisas. Estaremos com ele para ganhar ou perder. Acho mais provável perder. Vamos afundar junto com Alckmin. Agora, alguns tucanos, que já não ajudavam antes, deram mais uma demonstração da prepotência nos últimos episódios. Estão indo para Nova York discutir problemas do Brasil. Curioso, né? Esse é o PSDB.
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